sábado, 11 de março de 2023


 Com recursos sofisticados, empresa israelense influenciou 33 eleições pelo mundo

Empresa israelense apelidada de "Team Jorge" tentou influenciar dezenas de eleições em diversos países por meio de hacking, sabotagem e disseminação de desinformação, e em muitas delas teve sucesso, de acordo com uma investigação publicada por consórcio de jornalistas.

A empresa – chefia por Tal Hanan, um ex-membro dos serviços de segurança israelenses – teria influenciado pelo menos 33 eleições em todo mundo, mas com foco especial em países da África, e também em outros locais como México e Espanha.

A investigação foi realizada por um consórcio de jornalistas de diversos veículos, incluindo o The Guardian, Le Monde, Der Spiegel e El Pais na Espanha, sob a direção da organização sem fins lucrativos Forbidden Stories, com sede na França.

Você deve estar se perguntando: Quem são eles? A identidade de Jorge, cujo nome verdadeiro é Tal Hanan, um ex-oficial das forças especiais israelenses que se cerca de ex-oficiais da inteligência israelense e spin doctor. Ele negou "qualquer ação errada".

Os jornalistas investigativos apelidaram a empresa, que não tem existência legal, de "Team Jorge" ao seguir o pseudônimo de um dos seus responsáveis, Tal Hanan, que tem 50 anos. "Team Jorge" é composta, assim como a antiga profissão de Hanan, de ex-membros dos serviços de segurança israelenses.

Para conduzir a investigação, três jornalistas se passaram por clientes e encontraram com Hanan. Durante as conversas, um dos principais serviços oferecidos é um sofisticado pacote de software, Advanced Impact Media Solutions, ou Aims.

Ele controla um vasto exército de milhares de perfis falsos de mídia social no Twitter, LinkedIn, Facebook (plataforma proibida na Rússia por extremismo) Telegram, Gmail, Instagram (plataforma proibida na Rússia por extremismo) e YouTube. Alguns avatares ainda têm contas da Amazon com cartões de crédito, carteiras bitcoin e contas Airbnb. Com essa estrutura, a empresa afirma ter "atuado em 33 campanhas eleitorais em nível presidencial", segundo a mídia.

"Agora estamos envolvidos em uma eleição na África […] temos uma equipe na Grécia e uma equipe nos Emirados Árabes Unidos […]. [Concluímos] 33 campanhas presidenciais, 27 das quais foram bem-sucedidas", disse Hanan a um dos jornalistas disfarçados, acrescentando que estava envolvido em dois "grandes projetos" nos EUA, mas alegou não se envolver diretamente na política americana, reporta o The Guardian.

Em mais de seis horas de reuniões gravadas secretamente, Hanan e sua equipe falaram sobre como poderiam coletar informações sobre os rivais, inclusive usando técnicas de hacking para acessar contas das plataformas mencionadas acima. Eles se vangloriavam de plantar material em agências de notícias legítimas, que são então amplificadas pelo software de gerenciamento de bots Aims.

Na África, por exemplo, o time entrou em ação e hackeou conselheiros políticos próximos ao presidente do Quênia, William Ruto, na corrida para a eleição do ano passado, uma investigação pode revelar.

A interferência não impediu que Ruto vencesse a votação, mas a revelação destaca os riscos crescentes representados pelo envolvimento de maus atores e agentes pagos nos relativamente novos sistemas e instituições democráticas em toda a África.

No México, a empresa teria atuado em favor de Tomás Zerón, ex-funcionário do governo investigado pelo desaparecimento de 43 estudantes em 2014, afirma a mídia.

Na Espanha, o Team Jorge teria influenciado um referendo (não reconhecido pelo governo espanhol) organizado pelos separatistas catalães em 2014. Para suas atividades, a empresa desenvolveu "durante seis anos uma plataforma digital", a AIMS, que lhe permitia criar inúmeras contas falsas nas redes sociais e, sobretudo, ativá-las e alimentá-las, explica o coletivo.

As revelações do Team Jorge podem causar constrangimento para Israel, que tem sofrido crescente pressão diplomática nos últimos anos devido à exportação de armas cibernéticas que prejudicam a democracia e os direitos humanos.

 

Ø  Como a nova ordem geopolítica consolida as parcerias estratégicas entre Brasil e Rússia?

 

Em entrevista à Sputnik Brasil, o presidente da Câmara Brasil–Rússia de Comércio explicou como os fertilizantes russos se tornaram a porta de entrada para a consolidação de parcerias estratégicas entre Brasília e Moscou, apesar do conflito na Ucrânia e da tentativa de isolamento da Rússia comandada pelos EUA e seus aliados na Europa.

O temor levantado em recente estudo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), que indica que as entregas de fertilizantes ao mercado brasileiro, no acumulado de janeiro a novembro de 2022, sofreram uma redução de 11,3%, "não é razão para se preocupar".

Quem garante é Gilberto Ramos, presidente da Câmara Brasil–Rússia de Comércio, Indústria e Turismo. Em conversa com a Sputnik Brasil, ele apontou que o mercado global de fertilizantes sofre alterações naturais em razão das muitas variantes logísticas externas, embora, no caso do Brasil, o abastecimento esteja devidamente garantido.

Isso foi possível, segundo ele, graças aos esforços de governos e empresários para expandir o comércio e as relações bilaterais entre os dois países, um deles feito em 16 de fevereiro de 2022 (há cerca de um ano) pelo então presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em visita à Rússia. Na ocasião, dezenas de documentos sigilosos foram assinados.

Além disso, a confirmação da nomeação da ex-presidente Dilma Rousseff para o banco do BRICS é um bom indicativo de que o fortalecimento desses laços continuará. Afinal, como apontou Gilberto Ramos, "Dilma tem uma visão desse bloco muito mais profunda" que o atual presidente da instituição financeira.

De acordo com ele, ao se analisar o comércio entre Brasília e Moscou, estimativas feitas no âmbito do Ministério da Economia apontam que "o potencial para [...] investimentos entre os dois países poderá chegar a mais de US$ 100 bilhões (aproximadamente R$ 519 bilhões) dentro dos próximos cinco a sete anos".

'O céu é o limite'

Embora as relações entre Moscou e Brasília tenham começado há muito tempo, a visita de Bolsonaro à Rússia em meio à escalada de tensões com a Ucrânia abriu uma nova etapa dessa aproximação, e daí em diante, apontou Gilberto Ramos, "o céu é o limite".

O presidente da Câmara Brasil–Rússia de Comércio relembrou que na época o Brasil conseguiu acordos para importar "fertilizantes, como ureia e cloreto de potássio, em função de tratativas feitas no mais alto nível".

"De lá para cá, chegaram dezenas de navios com produtos russos e belarussos. Esse movimento [...] [fez com] que 71% das importações brasileiras da Rússia [em 2022] fossem de fertilizantes, com uma corrente comercial que bateu recordes, chegando a cerca de US$ 7 bilhões [aproximadamente R$ 36 bilhões]", disse ele.

Como se sabe, a Rússia é o principal fornecedor dos fertilizantes usados na agricultura brasileira, que por sua vez é o motor da economia brasileira. Com o conflito na Ucrânia, a rota comercial que ligava a Rússia ao Brasil precisou ser reinventada, em meio à disparada do custo do frete e dificuldades de logística.

No entanto, após a visita de Bolsonaro e os acordos que foram assinados, os portos brasileiros nunca viram "tantos navios com as cores da Rússia atracarem à nossa costa, a maior parte carregada de fertilizantes", disse Gilberto Ramos.

Traduzindo esses tratados que nunca vieram à público em números, Moscou passou do 12º para o 5º lugar no ranking de parceiros comerciais do Brasil, apenas atrás de Alemanha, Argentina, Estados Unidos e China.

Conforme explicou Gilberto Ramos, "tudo isso foi facilitado a partir de operações logísticas que foram criadas, especialmente para embarques do porto de Murmam [cidade russa]. Além disso, existem empresas russas trabalhando em outros lugares do mundo que buscam alternativas para essas questões logísticas".

"A chave do sucesso de nossa atuação conjunta transcende simples acordos bilaterais ou áreas de livre comércio, pois está fundamentada na interação de investimentos e no desenvolvimento de tecnologias comuns, [com] [...] soberania e economicidade voltadas ao benefício das populações gigantescas que representam os seus integrantes."

25)   A nova ordem geopolítica ajudou Brasil e Rússia?

Além de contratos que foram assinados, principalmente para a abertura de "canais de fornecimento e logísticos, não apenas para fertilizantes, como também para combustível [...] e derivados de petróleo", a visita de Jair Bolsonaro à Rússia teve um peso simbólico.

Ela mostrou que o comércio global poderia migrar da dolarização para novas formas de pagamento, sobretudo na esteira das novas tecnologias bancárias que permitem transferências que fogem ao controle dos EUA. E mais: com a reformulação nas cadeias de abastecimento, novos atores geopolíticos, a partir dos novos blocos de poder, naturalmente ascenderiam.

É o caso da Turquia, como aponta Gilberto Ramos. Segundo ele, Ancara "tem ajudado bastante no trabalho dos operadores logísticos russos e brasileiros", assim como o Oriente Médio, "para a formulação de empreendimentos".

Essa demanda contínua, que se traduz no aumento das exportações e relações entre os países, deve ganhar sobrevida com a chegada de Dilma Rousseff à presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do BRICS.

Para Gilberto Ramos, os eventuais novos membros do BRICS serão fundamentais para a criação de novas operações logísticas que integrem as balanças comerciais de Moscou e Brasília, sobretudo a partir do financiamento de projetos de infraestrutura.

"Existe essa possibilidade de mais mudança com a chegada da Dilma, sobretudo [...] [pela] retomada de investimentos. O que eu vejo também é que existe [a partir destas plataformas, como o BRICS] uma contraforça à perda da efetividade da Organização das Nações Unidas [ONU]", disse ele.

26)   O papel do BRICS

Em seguida ele apontou que os novos parceiros do BRICS, alinhados com a comunidade euro-asiática, "podem modelar as novas relações globais". Um exemplo claro é a situação da "Arábia Saudita, que está desdolarizando a sua economia e negociando com a China em yuans".

Em recente artigo para a Associação Financeira e Empresarial de Cooperação Euro-Asiática (FBA EAC, na sigla em inglês), Gilberto Ramos defendeu a "necessidade do estabelecimento de filiais de bancos e agentes financeiros" da Rússia e de outros países asiáticos "tendo em vista o suporte imediato aos projetos de investimentos em áreas sensíveis".

Ele explica que o papel do banco do BRICS "tem ficado aquém do enorme potencial e das oportunidades existentes nos países-membros, e ainda mais com a iminente entrada de novos membros na versão estendida do BRICS+".

Segundo previsões dos organismos econômicos e financeiros internacionais, até 2030 o produto interno bruto (PIB) dos países do BRICS e da Eurásia será superior ao dos EUA e da União Europeia juntos.

Diante desse quadro, "é natural que sobrevenham discussões sobre a criação de novas plataformas que facilitem as transações transnacionais em moedas correntes de cada país, baseadas em plataformas de blockchains, cifras, algoritmos e criptos".

 

Ø  Apesar de apelo de Lula, EUA não reconheceriam China como mediadora na Ucrânia, diz analista

 

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, conclamou a China a participar mais ativamente da mediação do conflito ucraniano. Mas será que Pequim quer assumir esse papel? E os países da OTAN reconheceriam a China como mediadora responsável?

No final de março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve viajar a Pequim para se reunir com seu homólogo chinês, Xi Jinping. O brasileiro, no entanto, decidiu não esperar a visita para conclamar a China para colocar fim ao conflito ucraniano.

A proposta de Lula de formar um grupo de países para mediar o conflito contaria com a participação ativa de seus colegas chineses. Durante coletiva de imprensa ao lado do chanceler alemão Olaf Scholz, em 31 de janeiro, Lula citou Pequim nominalmente.

"Nós queremos propor um G20 para debater o conflito Rússia-Ucrânia", disse Lula na ocasião. "O Brasil está disposto a dar uma contribuição, e acho que a China joga um papel importante [...] para a gente tentar criar um clube [...] das pessoas que querem construir a paz no planeta."

Em 18 de fevereiro, durante entrevista à jornalista Christiane Amanpour, Lula disse que "no caso da Rússia e da Ucrânia, é preciso ter alguém que fale em paz. É preciso ter interlocutores para tentar conversar com as partes".

"Esse é o meu compromisso: eu agora vou visitar a China em março, e vou conversar muito com o presidente chinês sobre o papel que eles têm pra jogar na questão da paz", disse Lula. "Eu quero falar em paz com Putin, com Biden e com Xi Jinping", declarou Lula.

A convocação da China pelo presidente brasileiro é clara. Agora, será que Xi Jinping tem interesse em assumir esse papel e atuar como mediador do conflito ucraniano?

Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil acreditam que a China tem interesse no fim do conflito ucraniano e não agiria contra a iniciativa de Lula de formar um grupo de países para debater a paz.

"Recorde-se que o presidente Xi Jinping já declarou que a China está disposta a desempenhar um papel construtivo na solução do conflito", disse o coronel da reserva e mestre em ciências militares, Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, à Sputnik Brasil. "A influência econômica e energética sobre a Rússia, além das boas relações econômicas com a Ucrânia, conta a favor."

O especialista ainda nota que a China tem bom trânsito entre os países do chamado Sul Global, "o que também a fortalece como mediadora".

Por outro lado, a neutralidade da posição chinesa em relação ao conflito ucraniano pode ser contestada pelos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Para Gomes Filho, o estabelecimento de uma "amizade sem limites" entre China e Rússia no início de 2022 seria um indicativo de que Pequim é aliada de Moscou.

"A mediação, para ter maior possibilidade de êxito, deve ser feita por um ator que conte com a confiança e o respeito das partes em disputa. Para isso, é fundamental que seja reconhecido como uma parte neutra", notou o especialista.

O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Bruno Hendler, concorda, e diz que a China pode não ser vista como uma mediadora em potencial pelos países da OTAN.

"Os falcões americanos sempre verão a China como uma ameaça desestabilizadora, como o emergente revisionista", lamentou Hendler.

No entanto, no contexto regional chinês, "sabemos que os EUA geram muito mais caos no sistema do que a China", considerou o professor.

"Na região da Ásia-Pacífico, o adulto na sala é a China. A visita de Nancy Pelosi a Taiwan, os exercícios na Coreia do Sul, o rearmamento do Japão com apoio dos EUA – esses elementos mostram que a instabilidade tem sido causada muito mais pelo hegemon em declínio do que pela potência em ascensão."

Ao contrário dos EUA, que, segundo o jornalista Jamil Chade, não receberam bem os planos de Lula para mediar o conflito na Ucrânia, Pequim não atuaria contra uma ação brasileira para negociar, acredita Hendler.

"Mas acredito que quando Lula fala sobre o papel da China como mediadora, ele tenha muito mais interesse em reposicionar o Brasil na arena global, do que em mudar o comportamento da China ou dos EUA", considerou Hendler. "É para apontar que o Brasil está de volta como um mediador responsável."

Relações Brasil-China

A visita de Lula a Pequim, marcada para a segunda quinzena de março, atende a convite do governo chinês. Desde a posse do mandatário brasileiro a China demonstra interesse em estreitar o relacionamento bilateral: o vice-presidente chinês, Wang Qishan, comandou a maior delegação internacional presente na posse de Lula, em 1º de janeiro.

A China é o maior destino das exportações brasileiras, com envios que totalizaram US$ 89,4 bilhões (cerca de R$ 462 bilhões) em 2022. Já o Brasil é o principal destino internacional de investimentos chineses: só em 2021, mais de US$ 5,9 bilhões (cerca de R$ 31 bilhões) foram investidos em mais de 28 projetos no Brasil.

Para a professora da Escola de Assuntos Internacionais da Universidade O.P. Jindal, na Índia, Karin Costa Vazquez, a parceria estratégica com a China deve ir além da questão comercial e a incluir temas como governança global, desenvolvimento sustentável, ciência e tecnologia.

"Existem algumas vertentes que eu acredito que podem ser as principais dessa nova parceria estratégica do Brasil e da China", disse Costa Vasquez à Sputnik Brasil. "Nossas relações precisam ser reconstruídas e adensadas."

A primeira vertente é a econômica-comercial, na qual são necessários esforços "para promover a diversificação e agregação de valor das exportações brasileiras para a China".

"Precisamos reativar fundos chineses para expansão da capacidade produtiva do Brasil", notou a especialista. "Anunciado em 2015, o fundo Brasil-China de US$20 bilhões (cerca de R$ 103 bilhões) ainda não financiou nenhum projeto e está parado por questões burocráticas."

Além disso, Pequim e Brasília têm interesses comuns na área de desenvolvimento sustentável e transição energética. Segundo a especialista, os países poderiam estabelecer um mercado comum de comercialização de créditos de carbono.

"Em 2021, a China lançou o mercado nacional de carbono, cobrindo mais de 80% das emissões de CO2 do país", disse Costa Vazquez. "O Brasil e a China podem desenvolver tecnologias e direcionar investimentos para projetos de sequestro de carbono nos países amazônicos."

Outra vertente da renovação da parceria estratégica seria a governança global, na qual Brasil e China estão empenhados no fortalecimento do multilateralismo.

Os países poderiam "explorar a criação de uma Aliança para a Erradicação da Fome e da Pobreza, aproveitando a experiência do Brasil e da China [...] e a importância da potência agrícola latino-americana para a segurança alimentar da China e do mundo".

Para a especialista, "o importante é aproveitar a liderança nacional e internacional de Lula para restaurar e ampliar a parceria estratégica para além da nossa tradicional pauta econômica e comercial", concluiu.

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, deve visitar a China na segunda quinzena de março, de acordo com o Itamaraty. Durante a visita, realizada a convite do governo chinês, Lula deve se reunir com o presidente do país, Xi Jinping.

 

Fonte: Sputnik Brasil

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