domingo, 26 de março de 2023

Com Lula, Brasil deve assumir papel mais relevante no Brics

Enquanto presidente viaja à China, Dilma assume a presidência do banco do bloco multilateral. Segundo especialistas, país deve buscar recuperar protagonismo após isolamento diplomático durante o governo Bolsonaro.A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, marcada para este fim de semana, terá como uma das principais pautas a retomada das discussões em torno do grupo Brics, que conta, além de Brasil e China, com Rússia, Índia e África do Sul.

Na agenda de Lula está uma visita à instituição financeira do bloco multilateral, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), em Xangai, cujo comando passará do atual presidente, o brasileiro Marcos Troyjo, indicado por Jair Bolsonaro, para a ex-presidente da República Dilma Rousseff.

A movimentação do governo Lula pela troca na presidência do banco dos Brics, no meio do mandato de Troyjo (a presidência rotativa do NDB cabe ao Brasil até 2025), evidencia a preocupação da gestão petista em garantir o alinhamento político no coração financeiro do Brics. Além disso, remete à importância dada pelo Planalto ao grupo multilateral.

Segundo especialistas ouvidos pela DW Brasil, esses movimentos estão ligados à tentativa de o Brasil recuperar protagonismo nas relações internacionais, área que foi negligenciada durante os anos Bolsonaro, o que também refletiu dentro da posição do país dentro do Brics.

Além disso, em meio às tensões entre os países-membros, com Rússia em guerra e rusgas entre Índia e China, um dos objetivos do governo Lula também é contribuir para retomar a relevância do bloco.

•        A volta do Brasil ao cenário internacional

Criado em 2009, o grupo multilateral veio em resposta ao colapso financeiro nos Estados Unidos, ocorrido um ano antes. O objetivo era buscar novos espaços de cooperação fora da tutela americana, como ocorre em outros organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Segundo Célio Hiratuka, professor de Economia e coordenador do grupo de estudos Brasil-China da Unicamp, o Brics cumpre com a expectativa de o Brasil retomar um papel mais ativo internacionalmente, após o isolamento empreendido pelo governo Bolsonaro.

"Por mais que tenham aspectos de divergência entre os países-membros, como Índia e China, há pontos de convergência quando todos se colocam como possíveis demandadores de novos espaços na economia global que não estão colocados nos organismos multilaterais mais tradicionais, onde esses países do Brics tinham um papel marginal", afirma Hiratuka. "O Brasil não vai abrir mão de usar esse espaço como instrumento importante."

Institucionalmente, o principal feito do Brics foi a criação do NDB, em 2014, voltado para o financiamento de projetos de infraestrutura. Desde 2015, o banco dos Brics já investiu US$ 4 bilhões em projetos no Brasil. "Ele é sem dúvida nenhuma a maior realização do agrupamento político, e a importância que o governo Lula tem dado a isso é grande, tanto que indicou a Dilma para ocupar o cargo da presidência", afirma Lucas Pereira Rezende, professor do departamento de Ciência Política da UFMG.

"É preciso buscar financiamento e, em um mundo sob tensão como é hoje, diferente de 20 anos atrás, é preciso pragmatismo. É preciso ir onde está a oportunidade, por isso essa busca do fortalecimento do banco dos Brics é muito importante", explica Rezende. Além dos cinco países do bloco, o NDB também admitiu recentemente a entrada de Bangladesh, Uruguai, Emirados Árabes e do Egito como membros.

•        Protagonismo da China

Nos últimos anos, no entanto, uma conjuntura de fatores acabou por diminuir a sinergia entre os membros do Brics, seja por causa de tensões entre os próprios membros quanto por razões exógenas ao bloco: a invasão da Ucrânia pela Rússia, crises políticas na África do Sul e no Brasil e conflitos territoriais entre Índia e China.

Para Evandro Menezes de Carvalho, professor de direito internacional e coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da FGV Rio, o país asiático tem sido praticamente o único a propor agendas dentro do Brics. "Os Brics têm sido carregados nos últimos anos pela China. Enquanto a China tiver interesse, os Brics vão junto", ressalta o jurista.

"Quando os Brics começaram, a China ainda não tinha todo esse protagonismo que tem hoje", acrescenta Hiratuka, da Unicamp. "Mas a volta do interesse do Brasil pode ser, sim, algo que volte a dar um pouco mais de ímpeto aos Brics."

Uma das plataformas defendidas pela China para os Brics é a ampliação dos membros, com a inclusão de Argentina e Irã. A movimentação, que não tem tanto apoio dos outros quatro países, vai ao encontro do interesse chinês de aumentar a influência tanto dentro do bloco quanto fora dele.

Contudo, para Menezes de Carvalho, é possível que o Brasil apoie o ingresso dos outros países justamente para sair da "inércia" e "passividade" que marcou a atuação do país durante o governo Bolsonaro.

"O Brasil verá que diplomaticamente não prejudica [no caso da Argentina]. Tem outros países não democráticos que querem entrar no bloco, não tem problema, mas é bom que outros países democráticos entrem", opina o professor da FGV.

"Mas tenho para mim que a diplomacia brasileira não vê com bons olhos esse movimento, porque talvez prefira essa posição de exclusividade latino-americana, porque, no âmbito do Brics, o Brasil se reúne todo ano com dois países que são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU [China e Rússia] e com três potências atômicas [China, Rússia e Índia]."

Segundo Hiratuka, se o Brasil tiver um esforço de negociação grande, é possível que o grupo atual seja mantido, sem novos membros no Brics. "Acredito que a China não bateria o pé, porque poderia significar um esvaziamento no outro sentido, de afastar Brasil e Índia, porque interessa para esses dois países a manutenção de certo equilíbrio dentro do grupo", diz o professor da Unicamp.

Maior espaço político

Por outro lado, Menezes de Carvalho diz que pouco foi feito, além do NDB, para que houvesse uma formalização do Brics. "Acho que é o caso de o Brasil propor uma institucionalização do Brics, formalizando uma organização internacional simplificada, com secretaria administrativa simples para coordenar todas as atividades existentes, o andamento das iniciativas", destaca ele. O Brics, lembra Menezes, não possui nem mesmo um site oficial.

Ele lembra que é também importante, no atual contexto internacional, que o Brics recupere a agenda original: um protagonismo maior dos países em desenvolvimento no âmbito político internacional, com demandas como a inserção de outros países do bloco como membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, por exemplo.

"Na origem, o Brics surgiu como uma plataforma visando uma reforma da ONU, do FMI, do Banco Mundial e agora recentemente da OMC. É uma plataforma reformista, que toma uma direção dos países em desenvolvimento", afirma. "Essa agenda é importante, assim como o olhar para outros temas. Mas o bloco está se tornando uma organização de difícil acesso, e isso é ruim para ela, pois erode a credibilidade que ela tinha", conclui.

 

       Brasil e China negociam fundo bilateral de investimento verde

 

Os governos do Brasil e da China negociam a criação de um fundo bilateral de investimento verde, para financiar e subsidiar o desenvolvimento de indústrias verdes e de energia renovável nos dois países, cujo pontapé inicial pode ser anunciado durante a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, na próxima semana.

"Eu não sei se vai ser possível anunciar, porque essas coisas são complexas, mas a ideia é que se possa ter um fundo bilateral", disse à Reuters o embaixador Celso Amorim, assessor especial da Presidência. "É um fundo dos dois lados (chinês e brasileiro) para investimentos nessa área."

Fontes que acompanham as negociações explicam que o fundo foi proposto pelo governo brasileiro e a ideia deve constar de uma declaração bilateral sobre o meio ambiente, mesmo que o mecanismo em si possa não ser anunciado ainda.

A intenção é que o fundo bilateral, de acordo com uma das fontes, envolva o aporte de recursos públicos e privados que irá ser usado para alavancar investimentos em novas tecnologias verdes, subsidiar indústrias limpas e energia renováveis nos dois países e também em outros países em desenvolvimento.

Segundo uma das fontes, apesar da proposta ser brasileira, as negociações andaram porque há uma receptividade do lado chinês, interessado também nas questões relativas às mudanças climáticas.

"Há vários acordos. Sei que tem um acordo sobre energia renovável, certamente vai ter uma declaração importante sobre outros aspectos do clima", disse Celso Amorim.

A declaração poderá ser a base de um acordo mais amplo, de atuação em fóruns internacionais, acordos bilaterais de cooperação em áreas relativas ao tema e também o fundo binacional.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, que fará parte da delegação de Lula, disse que o novo fundo em discussão será usado para recuperar florestas e desenvolver uma economia mais sustentável, incluindo a produção de hidrogênio verde.

"Há uma expectativa de que possamos ter ali uma agenda que é estratégica para o mundo em relação à questão da mudança do clima, que é hoje sem dúvida um dos maiores desafios da humanidade", disse Marina à Reuters.

O governo brasileiro vem colocando a questão ambiental entre suas principais prioridades na agenda internacional, inclusive na captação de recursos para combate ao desmatamento. No caso da China, também um país em desenvolvimento, não há expectativa de doações para mecanismos como o Fundo Amazônia --até porque o país não costuma trabalhar com doações a fundo perdido, e também tem suas próprias questões climáticas para resolver.

O fundo, no entanto, poderia ajudar a captar investimentos privados, de empresas internacionais dispostas a investir no setor.

Desde o início do ano, o governo brasileiro já recebeu 3,3 bilhões de reais de doações, com o descongelamento de recursos da Noruega e da Alemanha, suspenso durante o governo de Jair Bolsonaro.

França, Alemanha, Reino Unido e União Europeia também já sinalizaram que podem contribuir. Já os Estados Unidos, durante a visita de Lula aos Estados Unidos, sinalizou com um aporte imediato de 50 milhões, mas depois recuou para tentar conseguir um valor mais substancial, mas que requer a aprovação pelo Congresso.

 

       Países asiáticos crescem e China cai na balança com o Brasil

 

O saldo comercial do Brasil com países do Sul e do Sudeste asiático cresceu 129% desde 2019, último ano antes da pandemia de covid-19. A lista traz Bangladesh, Índia, Indonésia e Malásia, economias emergentes da região.

Naquele ano, a balança comercial com os 4 países deu superavit de US$ 1,4 bilhão. Em 2020, o saldo positivo foi de US$ 3,6 bilhões –alta de 157%.

A alta se deu enquanto houve queda de 8% na balança comercial com a China, maior parceiro econômico do Brasil, nos últimos 4 anos. Apesar disso, os negócios com os chineses têm dado superavit.

Em 2022, as exportações para o gigante asiático superaram as importações em US$ 28,7 bilhões. Houve recorde em 2021, com saldo positivo de US$ 43,4 bilhões, considerando valores corrigidos pela inflação.

O último deficit foi registrado em 2008: US$ 3,5 bilhões.

•        Lula na China

No domingo (26.mar.2023), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viaja à China na tentativa de reaproximar o Brasil do seu maior parceiro na economia. O desafio é conseguir a abertura dos chineses à compra de produtos de maior valor agregado.

O saldo na balança comercial entre os 2 países tem o histórico de superavit, com destaque para os últimos 7 anos. 

A soja é o produto que lidera as vendas para os chineses. Em 2022, o volume negociado foi de US$ 31,8 bilhões, o que representa 36% de tudo o que foi vendido para o país asiático.

O minério de ferro aparece em 2º, com US$ 18,2 bilhões, enquanto o petróleo cru surge em 3º (US$ 16,5 bilhões).

A carne bovina também ocupa espaço relevante: rendeu US$ 8 bilhões para o Brasil no ano passado. Na 5ª feira (23.mar), a China anunciou a retomada das importações do produto.

A exportação de carne bovina brasileira para o país asiático estava suspensa desde 22 de fevereiro. A decisão havia sido tomada pelo governo Lula depois da confirmação de um caso do “mal da vaca louca” registrado no Pará –confirmado depois como sendo atípico.

Em contrapartida, válvulas e tubos são os produtos mais importados pelo Brasil, somando US$ 7 bilhões.

•        Comércio com a China dá maior saldo para o Brasil há 7 anos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viaja à China no domingo (26.mar.2023) na tentativa de reaproximar o Brasil do seu maior parceiro na economia. O desafio é conseguir a abertura dos chineses à compra de produtos de maior valor agregado.

O saldo na balança comercial entre os 2 países tem o histórico de superavit, com destaque para os últimos 7 anos. O recorde se deu em 2021, quando as exportações brasileiras superaram as importações com a China em US$ 43,4 bilhões –considerando valores corrigidos pela inflação.

Naquele ano, as vendas para o gigante asiático atingiram US$ 94,9 bilhões, o melhor resultado de toda a série histórica, iniciada em 1997. O último deficit foi registrado em 2008, ainda no 2º mandato presidencial de Lula: US$ 3,5 bilhões.

De 2012 a 2015, os melhores resultados foram obtidos no comércio com a Holanda. Nesse período, a balança com os chineses também seguiu positiva para o Brasil.

•        Soja lidera vendas para a China

O maior valor nas exportações brasileiras para os chineses corresponde à soja. Em 2022, o volume negociado foi de US$ 31,8 bilhões, o que representa 36% de tudo o que foi vendido para o país asiático.

O minério de ferro aparece em 2º, com US$ 18,2 bilhões, enquanto o petróleo cru surge em 3º (US$ 16,5 bilhões).

A carne bovina também ocupa espaço relevante: rendeu US$ 8 bilhões para o Brasil no ano passado. Na 5ª feira (23.mar), a China anunciou a retomada das importações do produto.

A exportação de carne bovina brasileira para o país asiático estava suspensa desde 22 de fevereiro. A decisão havia sido tomada pelo governo Lula depois da confirmação de um caso do “mal da vaca louca” registrado no Pará –confirmado depois como sendo atípico.

Em contrapartida, válvulas e tubos são os produtos mais importados pelo Brasil, somando US$ 7 bilhões.

 

       China compra 70% da soja e 63% do minério de ferro exportado pelo Brasil

 

Principal parceira comercial do Brasil, a China é destino de mais um quarto das exportações totais brasileiras, respondendo por mais de 90 bilhões de dólares em 2022, com commodities como soja, petróleo e minério de ferro dominando as vendas externas ao país asiático.

O Brasil tem saldo positivo em cerca de 30 bilhões de dólares no comércio com os chineses, metade do total do superávit da balança comercial brasileira.

Os números salientam a importância da China para o comércio exterior brasileiro, mas também a dependência do Brasil da demanda chinesa por matérias-primas, enquanto o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta abrir mais mercados com uma viagem oficial na próxima semana a Pequim e Xangai.

* Em 2022, as exportações brasileiras para a China (incluindo Hong Kong e Macau) somaram 91,26 bilhões de dólares, de um total recorde exportado pelo Brasil de 335 bilhões de dólares para todos os destinos, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

* Soja, carne bovina, celulose, açúcar, carne de frango, algodão e carne suína são sete das dez mercadorias mais exportadas pelo Brasil à China, rendendo aos exportadores brasileiros cerca de 48 bilhões de dólares em 2022.

* Os embarques de petróleo e minério de ferro do Brasil para a China somaram quase 35 bilhões de dólares em 2022, montante este que adicionado às principais exportações agropecuárias ao país asiático se aproxima de 83 bilhões de dólares.

* Das exportações totais do agronegócio do Brasil, que somaram 159 bilhões de dólares em 2022, a participação dos embarques aos chineses somou 50,8 bilhões de dólares, ou fatia de aproximadamente 32%, segundo o Ministério da Agricultura.

* A soja lidera a pauta de exportação do Brasil, com receitas de 46,5 bilhões de dólares em 2022, enquanto a China respondeu por mais de 31,8 bilhões de dólares, ou mais de 68% do total, de acordo com dados do governo brasileiro. Em 2022, com impulso de preços elevados, foi a maior faturamento da história com embarques da oleaginosa, com alta de 17% sobre 2021, segundo o Ministério da Agricultura.

* Depois da soja, o petróleo foi o produto mais vendido pelo Brasil ao exterior (42,5 bilhões de dólares) em 2022, sendo que quase 40% ou 16,5 bilhões de dólares vieram da China.

* O minério de ferro é o terceiro principal produto de exportação do Brasil no geral e também para os chineses, com um total de 28,9 bilhões de dólares, enquanto a China comprou o equivalente a 18,2 bilhões de dólares ou cerca de 63%.

* O crescimento dos volumes exportados para a China também demonstra a importância do país asiático para o comércio do Brasil. Em dez anos, os embarques de soja brasileira aos chineses mais que dobraram, de 22,88 milhões de toneladas para 53,6 milhões de toneladas.

* Os embarques de petróleo brasileiro para a China aumentaram mais de 300% em dez anos, para 26,99 milhões de toneladas em 2022, segundo dados da Secex.

* As exportações de minério de ferro do Brasil para a China somaram 236,9 milhões de toneladas em 2022, crescimento de quase 40% em dez anos.

* Mas são as exportações de carne bovina que tiveram um dos maiores crescimentos em dez anos por produto: uma disparada de 7.140%, para 1,2 milhão de toneladas, versus apenas 17,1 mil toneladas em 2012, com os maiores avanços ocorrendo nos últimos anos, à medida que as chineses buscaram carnes alternativas à suína e mudaram alguns hábitos alimentares.

* Mais da metade da exportação de carne bovina do Brasil foi direcionada à China em 2022, com a receita gerada pelas vendas aos chineses somando quase 8 bilhões de dólares, de um total de aproximadamente 13 bilhões de dólares.

* A exportação de celulose, algodão e carne suína do Brasil para a China também responde por grande parte do total embarcado pelo país ao exterior.

 

Fonte: ISTOÉ Independente/Poder 360/Reuters

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário