Os
Jogos Olímpicos terminaram em clima de euforia e orgulho nacionalista, tendo
começado em um ambiente de pessimismo e depressão. E nada poderia ser mais
emblemático: a seleção de futebol conquistou uma medalha de ouro inédita,
vencendo a partida final contra a Alemanha, que nos havia aplicado aquele
traumático e inesquecível 7 a 1 na Copa do Mundo de 2014. Muitos viram nessa
vitória uma “vingança”... Enfim, lavamos a alma: mostramos ao mundo que, aos
trancos e barrancos, no final dá tudo certo, pois Deus é brasileiro e o
jeitinho é a marca nacional...
Nestes
dias, em que todos os olhares estavam voltados para o Rio de Janeiro, o Senado
aprovou o relatório de Antonio Anastasia (PSDB-MG) – homem de confiança de
Aécio Neves, candidato derrotado nas eleições de 2014 – que recomenda a
destituição da presidente Dilma Rousseff. O processo deve ser concluído na
semana que vem – mas o resultado, desfavorável à petista, já há muito é
conhecido. O presidente interino, Michel Temer, que ausentou-se da festa de
encerramento dos Jogos Olímpicos para não correr o risco de ser vaiado
novamente, como aconteceu na cerimônia de abertura, vai assumir o restante do
mandato, ocupando assim um lugar que por mérito próprio nunca alcançaria.
Quando
vibrávamos a cada uma das 19 medalhas ganhas nas Olimpíadas, Temer era acusado
formalmente por Marcelo Odebrecht, dono da empreiteira que leva seu nome, de
ter recebido, em maio de 2014, R$ 10 milhões, via caixa dois, para o PMDB,
partido do qual era presidente. Ele já havia sido arrolado na denúncia de outro
envolvido na Operação Lava Jato, o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado,
que responsabilizou-o pelo pedido, em 2012, de R$ 1,5 milhão destinados ao
então candidato à prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita, hoje vice na chapa
do petista Fernando Haddad, que disputa a reeleição.
Aliás,
enquanto permanecíamos em frente aos aparelhos de televisão acompanhando o
desempenho de atletas de países que nem desconfiávamos que existiam em
modalidades esportivas que sequer tínhamos ouvido falar, os candidatos a
prefeito e vereador já estavam nas ruas, avenidas, vielas e becos suando a
camisa em busca de votos. São quase 16 mil concorrentes a cerca de 5,5 mil
vagas de prefeito e mais de 450 mil disputando em torno de 58 mil cadeiras de
vereador - a maioria com certeza imbuída não dos mais altos sentidos cívicos de
prestação de serviços à comunidade, mas apenas interessados nos vencimentos
mensais e nos benefícios indiretos que exercer o cargo implica...
Em
São Paulo, a maior cidade do Brasil, o prefeito ganha R$ 24 mil e os vereadores
R$ 15 mil por mês. No entanto, como o limite para o salário de prefeito, não
importa o tamanho do município, é o valor do salário de um ministro do Supremo
Tribunal Federal (R$ 33,7 mil), há políticos em pequenos lugarejos recebendo
mais até que o prefeito de São Paulo. No caso dos subsídios aos vereadores há
complexos limitadores, mas, só para termos uma ideia, Natal (RN) paga aos seus
legisladores os mais altos vencimentos entre todas as capitais, R$ 17 mil por
mês.
C.S.,
taxista que faz ponto próximo à minha casa, me disse certa vez, referindo-se ao
período eleitoral: “Lá vêm os políticos atrás do meu voto. Eles só se lembram
de mim nesta época do ano”. E eu tive que advertir que também ele só se
lembrava dos políticos nesta época do ano. Nós não exercemos o direito de
escolher nossos representantes – nós nos livramos de um aborrecimento. No dia
seguinte à eleição, nem recordamos mais do nome do candidato no qual votamos. E
assim vamos vivendo neste que não é um país, mas um ajuntamento de pessoas que
nem mesmo interesses gerais convergentes possuem.
Viva as delações e todo seu legado para o país!!
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