O homem mais
poderoso da Câmara dos Deputados começa a dar sinais de enfraquecimento após
denúncia de cobrança de propina investigada pela Operação Lava-Jato; os antigos
parceiros já evitam ser associados ao seu nome, o próprio partido se opôs ao
rompimento com o governo e a sociedade civil se mobiliza para pedir a derrubada
do parlamentar
Os sete
sinais de que o poder de Cunha está ruindo:
1-
Operação Lava-Jato
Em novo
depoimento, o empresário Júlio Camargo, delator na Operação Lava Jato, acusou
Eduardo Cunha de exigir o pagamento de propina de US$ 5 milhões. A notícia caiu como uma
bomba no Congresso durante essa semana e abalou a imagem e a força política do
presidente da Câmara. O ex-consultor do grupo Toyo Setal disse ter repassado o
dinheiro por pressão de Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no
esquema de desvio de recursos da Petrobras. Para apressar o pagamento,
Cunha teria articulado a apresentação de requerimentos, na Câmara, contra o
próprio Camargo e contra uma empresa do grupo Toyo Setal.
2- Perda de apoio
2- Perda de apoio
A denúncia
de corrupção envolvendo Cunha, no foco da operação policial de maior destaque
no país, fez com que antigos parceiros recuassem. Conhecido pelo poder de articulação
e de influência dentro da Casa, o peemedebista passou a ser evitado por muitos
parlamentares, sob o risco de terem seus nomes associados às irregularidades.
As manobras regimentais, antes realizadas com facilidade, passarão a ter menos
adesão a partir de agora e o raio de atuação ficará mais restrito. O próprio
Cunha, provavelmente, deverá fugir dos holofotes.
3-
Peixes pequenos
Quem
acompanhou a coletiva de imprensa em que Eduardo Cunha anunciou o fim das
relações com o governo de Dilma Rousseff sentiu falta das figuras graúdas da
Câmara, que sempre fizeram questão de posar ao lado do homem mais poderoso da
Casa. Desta vez, os únicos que se prestaram a esse papel foram os deputados
Hildo Rocha (PMDB-MA), Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), Édio Lopes (PMDB-RR)
e André Moura (PSC-SE), de pouca expressão entre os parlamentares.
4-
"Posição pessoal"
O anúncio de
que, a partir desse momento, ele romperia com o governo e passaria à oposição
não surtiu efeito nem dentro do próprio partido. Em nota, o PMDB afirmou que a
decisão se trata de uma “posição pessoal” e não representa uma convicção da
legenda. De acordo com o comunicado, esse tipo de postura só pode ser tomada
“após consulta às instâncias decisórias do partido: comissão executiva
nacional, conselho político e diretório nacional”. Cunha alega
estar sendo vítima de um complô entre o governo federal e o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, para incriminá-lo e diz que defenderá o afastamento
definitivo do PMDB durante um congresso interno, realizado em setembro.
5-
Teoria conspiratória
Ao defender
a ideia de que há um grupo conspirando para derrubá-lo do poder, sobraram
críticas até para o juiz Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato na
primeira instância. Cunha
chegou a afirmar que o magistrado “pensa que é o dono do país”. “Acha que é o
dono do Supremo Tribunal Federal, do Superior de Tribunal de Justiça. Vamos
entrar com uma reclamação no Supremo”, anunciou. Em nota, a 13ª Vara Criminal
Federal de Curitiba, da qual Moro é titular, declarou que não cabe ao Juízo
“silenciar testemunhas ou acusados na condução do processo”.
6-
Risco de impeachment
Logo após as
denúncias, os deputados Silvio Costa (PSC-PE) e Ivan Valente (PSOL-RJ) vieram a
público, nesta sexta-feira (17), para cobrar o afastamento do peemedebista do
comando da Casa enquanto a Operação Lava-Jato não for concluída. Costa, que é um dos
vice-líderes do governo na Câmara, disse que vai fazer uma consultoria jurídica
para avaliar a possibilidade de pedir o impeachment de Cunha. Pela
legislação, os presidentes da República, do Senado e da Câmara podem ser
afastados do cargo, por meio desse procedimento, se tiverem cometido crime de
responsabilidade, como atentar contra a probidade da administração, os direitos
políticos dos cidadãos ou a lei orçamentária.
7-
Mobilização popular
Às 20h25 de
hoje [17], Eduardo Cunha fará um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e
TV durante cinco minutos para falar sobre as atividades realizadas na Câmara. A previsão é que ele
aborde alguns projetos polêmicos, como os que tratam da redução da maioridade
penal e do financiamento empresarial de campanhas. A notícia não passou
despercebida nas redes sociais e já está sendo organizado um protesto para esse
horário. O evento “Barulhaço no
Pronunciamento de Eduardo Cunha”, divulgado no Facebook, já conta
com 60 mil pessoas confirmadas, que prometem usar apitos e panelas para fazer
barulho durante a fala de Cunha. Segundo os organizadores, a manifestação é
também contra o fundamentalismo religioso, o machismo e a homofobia presentes
nos discursos do deputado.
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