Há
que se resistir ao desejo fácil, quase atávico, de ‘julgar’, como gosta grande
parte da ‘imprensa processante’.
De
um entrevero entre um soldado da PM, Luis Paulo Mota Brentano, e um surfista,
Ricardo dos Santos (foto), um morreu por tiros. E não foi o profissional de
segurança.
Agora
a praticamente única tese de defesa que sobra ao PM é alegar ‘legítima defesa’.
Pode ser. Mas é uma tarefa bem difícil.
A
legítima defesa, bastante mal compreendida, não requer o que muitos acham: que
o agressor esteja ‘armado’. Requer basicamente duas coisas: agressão injusta e
uso moderado dos meios necessários. Mas repare, agressão é agressão.
Num
paralelo, o famoso pintor Iberê Camargo interveio numa briga de casal no Rio,
em Botafogo, em 1980 e, agredido matou a tiros um engenheiro muito mais jovem e
muito mais forte do que ele. Foi absolvido. Iberê já era um velho senhor, além
de artista. Não se sabe por que andava armado.
O
caso do PM e do surfista é bem diferente. Não há diferença de idade, o soldado
não é nada franzino, é um profissional de polícia, pertencente não a uma
polícia de investigação, mas à PM que é especializada em confrontos urbanos.
Possui técnicas de defesa pessoal. Além do mais, utiliza arma como modo
profissional de vida, 24 horas do dia, ou seja, fica muito difícil sustentar
que teria “perdido a cabeça”.
Quem
anda armado sabe que tem que aprender, até, a ouvir desaforos e xingamentos. Se
for usar a arma para isso sairá matando pessoas. Um uso bestial da arma.
Para
piorar a situação do policial, no dia do evento, segundo a perícia, o
PM ingeriu quantidade significativa de álcool.
A
tese da legítima defesa é possível, mas no caso se mostra bastante difícil por
todos os fatores envolvidos.
Para
o ‘consumo’ da sociedade surgem depoimentos de colegas do policial dizendo
que ele era um bom profissional e depoimentos de surfistas famosos e amigos
dizendo que Ricardinho era uma pessoa maravilhosa. Mas para a justiça e para a
tese de legítima defesa não bastam apenas alegações e uma versão agora muito
bem trabalhada, com um réu com cara de bom moço. Uma vida foi tirada. E tirada
por um policial. Aí está o absurdo e a infâmia social.
Policiais
não existem para se envolver em confusões e matar pessoas, mas para retribuir
ao salário que recebem da sociedade. E protegê-la, acima de qualquer valor, mas
principalmente protegê-la da própria fúria pessoal que, com uma arma na
cintura, mata.
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