quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A VIOLÊNCIA É SÓ A FÍSICA: e as outras?

Hoje, o tema que mais preocupa está relacionado com a violência urbana. Esta violência que faz que com as pessoas saibam a hora que estão saindo de casa, mas não tem certeza se irá retornar ou em que estado retornará.
Deve-se entender a violência não apenas pelo ângulo de sua definição sociológica, ou seja, como um comportamento de alguém com objetivos de causar ferimentos a outros, ou causar prejuízos materiais. A violência não é tão simples assim. Deve-se ir mais ao fundo do problema.
Tudo aquilo que impede o livre arbítrio do próximo, também são atos de violência. Ou não é violência alguém impedir ou desrespeitar a liberdade do outro? Não será violência, os gestores públicos por falta de sensibilidade, impedir a acessibilidade das pessoas que possuam algum tipo de deficiência física, negando-lhes o direito de ir e vir? E a educação pública que aí está não é um ato de violência, quando impede o jovem da classe pobre e da periferia qualquer oportunidade de melhorar de vida? E a saúde pública oferecida? Não é um ato de violência? Ou a pessoa por ser pobre tem que ser humilhada?
A violência não deve ser analisada apenas pelo ângulo da agressão física ao outro, como não deve ser considerado ato normal o abuso sexual, o desrespeito, a humilhação, o desprezo e menosprezo, a homofobia, o assédio moral, pedofilia, o abuso psicofísico, a discriminação social e racial, entre outros.
Este conjunto de ações, em escala maior ou menor, são formas de violência que a sociedade impõem e não devemos aceitar, sob pena de sermos coniventes e colaboradores da sua difusão.
Existe violência maior que a imposta pela sociedade, do que a de milhões de brasileiro que sequer tem o direito de se alimentar? Esta violência não é bem maior do que a física que todos tememos?
E a imposição por parte da elite e da sociedade, de impedir que milhares de jovens, oriundos de famílias pobres ou indigentes, possam ascender socialmente, ou de ter uma perspectiva de um futuro mais digno, ao lhe negar o mínimo direito, como uma educação pública de qualidade? E seus direitos são negados, não por falta de capacidade destes jovens, mas são negados por terem nascido em uma família marcada, como o ferro que marca o boi, para ser excluída. Também não é um tipo de violência?
Diante desta imposição, muitos dos jovens são forçados a entrar na marginalidade, pois assim a sociedade teria estabelecido, ao determinar que eles não pudessem e não devessem ter uma melhoria de vida ou uma ascensão social, por menor que seja o degrau a ser atingido.
Portanto, esta juventude colocada à margem, sem direito a sonhar, impedidas de melhorar de vida, perdem a noção e o limite do ato de violento e, não estando estruturada, passam a não medir as conseqüências dos seus atos, ficam sem saber lidar com seus sentimentos de revolta interior.
São frutos de lares desestruturados e não encontram onde se amparar, pois, talvez, a escola pública fosse esta válvula de escape, mas como ela hoje está organizada, está tão ou em pior estado do que os lares em que nasceram. Os poucos que nelas conseguem entrar e permanecer, o fazem na expectativa de encontrar um ambiente aprazível, esperam ali realizar amizades sadias, e se defrontam com um quadro bastante diferente, onde muitas vezes as relações são ditadas por grupos, cujas condutas na sua grande maioria estão diretamente relacionadas ao mau comportamento e a violência como forma de demonstrar a força de sua liderança.
Esta relação passa a ser um estímulo para o envolvimento com gangues, drogas, violência sexual, prostituição, delitos e agressões físicas.
Esta juventude que aí está independente da classe social a que pertença, vive diariamente em constante desafio e ameaça. Portanto, é fundamental que os governantes saiam da indiferença e procurem estabelecer políticas públicas, que incluam os valores sociais e familiares favoráveis ao desenvolvimento e ao enfrentamento dos problemas ora vivenciados pelos jovens, entre elas: a pobreza e indigência de grande parte da população; a gritante e vergonhosa desigualdade social; o desemprego e a falta de oportunidades para os jovens; as disputas por espaços; a concorrência desleal praticada; o almejo pela riqueza sem medir as conseqüências, entre tantos outros.
Já se tornou rotineiro e até cansativo, jogar a culpa da violência unicamente às drogas, sem se analisar os demais fatores citados anteriormente. Ora, é preciso que se entenda que o uso da droga pela juventude, principalmente, é muitas vezes uma espécie de fuga. É a forma encontrada para fugirem da fome ou de não sentirem fome, pois muitos sabem que ao chegar em casa nada encontrarão para se alimentar; para fugir da vergonha da miséria e da humilhação em que vivem; por falta de uma escola digna que lhes dê o amparo e sirva de bússola para seu futuro; enfim, pra fugirem do destino que a sociedade lhes impôs.
Tudo isto, é um somatório de motivos que os levam a entrar neste mundo sem volta. Alguns entram para o crime para manter o vício e poder honrar os compromissos com os traficantes; outros morrem em brigas ou por débitos com o tráfico.
Assim, ao analisar a violência, é preciso que cada um o faça analisando que parcela de culpa tem e qual a sua contribuição, por colocarem estes jovens neste beco sem saída, que os levam a acreditar que ao entrar no mundo das drogas o fizeram na certeza de ser o melhor para eles, independente se neste mundo cão em que se envolveram, seja necessário matar para sobreviver.
Afinal, o que se está fazendo de prático, para mudar este rumo e abrir novas perspectivas para os jovens? Que ações estão sendo tomadas e praticadas na busca de uma solução e concretização dos problemas, das influências sociais e na formação da personalidade desta juventude que aí está?
E ainda mais: será que é só o jovem da classe pobre e da periferia, excluído pela sociedade, que faz o uso da droga e da violência? E aqueles da alta e média classe social, que não tem problemas de ordem financeira, que surgiram de famílias socialmente estruturadas, porque será que usam drogas e fazem o uso da violência, como temos visto cotidianamente? Como justificar? Será que é por que estão isento de punição por parte da nossa Justiça?
Portanto cabe a todos nós uma parcela de culpa. E aos governantes, através dos órgãos envolvidos com a questão, cabe pesquisar e buscar investigar a fundo as causas, pois o tema é complexo, não é tão simples como alguns parecem achar e colocar toda a culpa na droga. Pois, em razão da falta de políticas públicas para a inclusão e reinserção destes jovens na sociedade, serão forçados a circularem dentro do ambiente da violência e ou das drogas.
E para que estes jovens se sintam protegidos e que possam ser reinseridos na sociedade, é necessário que lhes sejam oferecidos escolas públicas de qualidade, que passem valores morais e contribuam para a formação de suas personalidades em ambientes físicos dignos; que tenham acesso ao serviço de saúde pública que não os humilhem, como os oferecidos nos dias de hoje; que os dirigentes públicos e políticos dêem bons exemplos, diferente do que hoje acontece; que seja oferecida condições a estas famílias de ter uma alimentação adequada e de qualidade.
É claro que não cabe unicamente ao Estado a responsabilidade da diminuição da violência e das desigualdades sociais. A sociedade tem que dá sua parcela de contribuição de forma que se possa mudar a realidade de hoje e o quadro estrutural familiar existente, que somado ao uso das drogas tem sido fortes fatores e geradores de atos infracionais.
Enquanto a sociedade não entender que todos fazemos parte de um mesmo conjunto e que somos responsáveis por todas as mazelas existentes, e que somos nós que construímos a sociedade que queremos, cabendo a todos a responsabilidade pela violência que hoje estamos a assistir, com certeza este quadro não mudará.
Portanto a solução está em nossas mãos, não transfiramos a responsabilidade para os outros. Haja hoje, que os resultados serão colhidos no futuro.

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