Ricardo Nêggo Tom: PT - Partido Teocrático
Depois de Lula ter
sancionado o dia da pastora e do pastor evangélico, e do PT ter criado uma
cartilha ensinando aos correligionários sobre como lidar com os evangélicos, o
partido decide lançar uma série de vídeos com petistas evangélicos visando
fortalecer as candidaturas municipais. Sob o título de “Testemunhos de fé e
luta”, o projeto pretende conectar a ideologia do partido ao segmento
religioso, mostrando aos fiéis que o partido dos trabalhadores tem tudo a ver
com a fé evangélica e sua pauta segue os ensinamentos cristãos. Até concordaria
com a associação, se a maioria dos evangélicos brasileiros seguissem, de fato,
os ensinamentos de Cristo. Algo que, infelizmente, não ocorre.
É lamentável constatar
que o maior partido político brasileiro esteja abrindo mão de suas raízes
ideológicas por questões eleitoreiras, buscando se aliar ao imperialismo
religioso e adaptando-se ao capitalismo do qual a igreja dita cristã passou a
ser um de seus braços mais fortes. O apocalipse da esquerda se avizinha, e
haverá choro e ranger de dentes quando o projeto de poder evangélico se
estabelecer por completo na sociedade brasileira. Pode não parecer, mas ainda
se faz necessário lembrar o que o binômio igreja-estado já provocou na história
da humanidade. E agora estamos falando de uma igreja muito mais articulada
politicamente, com a presença legítima de seus nefastos líderes nos parlamentos
e nas cortes de justiça do país.
O Estado laico está
cada vez mais sendo desrespeitado, e o retrocesso político e social é
galopante. Tanto, que em pouco tempo poderemos estar nos referindo ao PT como
um partido de direita e defensor do estado teocrático. O viés identitário grita
nesses acenos do PT aos evangélicos. Há quem interessaria esta mudança? Estaria
Lula pretendendo ser o líder do ecumenismo político brasileiro? Se for esta a
sua intenção, está faltando acenar com a mesma vontade para outras religiões
cujos adeptos também votam. Aliás, foram os adeptos das outras religiões e os
não religiosos que o elegeram em 2022. A depender da maioria dos evangélicos,
já estaríamos vivendo o nosso conto da Aia, tendo Bolsonaro como comandante,
Damares Alves como a madre superiora das mulheres parideiras da nação e a
bandeira nacional com a inscrição: “Segura na mão de Deus e vai”. Um slogan até
atrativo, não fosse os interesses espúrios dos escolhidos pelo “deus” dessa
corja fascista.
Ao invés de disputar o
diálogo nas periferias, onde a igreja evangélica, a milícia e o tráfico já
governam juntos em algumas comunidades, o PT e a esquerda preferem se render a
este triunvirato quase institucional, fortalecendo o projeto de poder teocrático
e ajudando a viabilizar a teologia do domínio na sociedade. Sem falar no
aparelhamento que as igrejas vêm fazendo com as forças de segurança em alguns
Estados. São Paulo é um exemplo, onde a Universal de Edir Macedo promove
reuniões de aconselhamento espiritual para policiais militares, e as forças de
segurança realizam atividades da corporação dentro das instalações da igreja.
Estamos assistindo a um experimento social diabólico que destruirá por completo
o tecido social brasileiro. A República Brasileira de Gilead é logo ali,
liderada por extremistas religiosos sob a ideologia salvadora e redentora de
todo pecado e corrupção que a esquerda produziu no país.
Eu já escrevi em outra
oportunidade que o próximo golpe contra a democracia será evangélico e terá os
militares apenas como força auxiliar do projeto de “restauração da pátria em
nome de Deus” E será deflagrado numa “Marcha para Jesus” que, por coincidência,
cairá no dia da pastora e do pastor evangélico. Não subestimem os roteiristas
da realidade que muitos não querem ou fingem não enxergar. Há quem creia que o
aumento do número de evangélicos no país, se deve ao fato de que as pessoas
estão buscando a Deus. Não quero entrar no mérito pessoal da proposição, mas é
importante considerar que a maioria esmagadora das pessoas que buscam uma
igreja, o faz por algum tipo de necessidade ou carência social, pessoal, e,
sobretudo, financeira. A teologia da prosperidade não teria seduzido tantos
fiéis se eu estivesse errado.
Ninguém buscaria se
converter a uma igreja evangélica se tudo estivesse indo bem, se tivesse
emprego, se não faltasse comida na mesa, se o dinheiro estivesse dando para
sobreviver dignamente, se a saúde estivesse em dia, se a educação fosse
eficiente e libertadora, se a segurança fosse garantida, se a cultura e o lazer
fossem acessíveis a todos ou se a justiça social fosse a norma diretriz da
sociedade em que vivesse. Não que a igreja, embora prometa, possa lhes dar tudo
isso, até porque, tem muita gente na igreja evangélica que não tem emprego,
educação, saúde, segurança e, principalmente, dinheiro. Uma prova que o pecado
a ser combatido é o capitalismo que produz desigualdade e favorece a uns
poucos. Entre esses poucos, os empresários da fé, que aumentam o seu patrimônio
a cada ovelha que passa a fazer parte do seu rebanho e a contribuir fielmente
com o dízimo. O verdadeiro imposto do pecado.
Precisamos de mais
politização e menos evangelização, para que as pessoas possam identificar por
elas mesmas quais propostas políticas lhe proporcionariam ter vida plena e
abundante. Fé em Deus, ainda que seja importante para o fortalecimento
existencial e espiritual dos indivíduos, não é política pública e sem ações
afirmativas não vai mudar a situação social daqueles que mais precisam. Os mais
pobres são aqueles que mais depositam em Deus a esperança de terem uma vida
melhor, e se isso não ocorre, é porque talvez Deus não possa estar acima de
nação nenhuma, se os seres humanos responsáveis por as governar não estiverem
alinhados, de fato, com a sua justiça e com o amor que ele tem igualmente para
com todos. Olhem para os principais líderes evangélicos do Brasil e me digam
qual deles tem esse compromisso com a sociedade?
Jesus Cristo não se
preocupou em acenar aos poderosos e nem fez questão de número de seguidores.
Seu ato de fé foi um testemunho político, inclusivo e revolucionário. Foi
traído por muitos que o bajulavam e se aproveitavam de sua bondade. Foi
crucificado e morreu defendendo a sua ideologia de combate ao projeto de poder
político e religioso de sua época. Alguém precisa avisar a Lula que o servo não
é maior do que o seu senhor. Se nem Cristo agradou a todos, porque ele acha que
agradaria? Precisamos mesmo é do Lula do velho testamento do PT. Este sim,
poderia nos trazer a salvação. Volta, Lula!
• Política e vaidades. Por Inez Lemos
Infelizmente fazemos
política com o melhor e o pior de nós. Deslizamos na esteira da condição humana
junto aos sintomas, traços que adquirimos ao longo da vida - frustrações,
ressentimentos, orgulho, inveja, ciúmes, vaidades, maledicência.
Como seria bom se
antes, todos que se propõem a se candidatar a um cargo político, o fizessem
após alguns anos de análise. Evitaríamos muitos crimes, assassinatos,
corrupções, desastres ambientais, entre outras tragédias.
Há muito presenciamos
brigas, disputas, puxadas de tapetes, traições entre partidos. Direita contra
esquerda, normal. Mas há também esquerda contra outra ala dentro do mesmo
partido. Quiçá de um partido contra outro do mesmo campo político.
E meio à guerra, temos
a militância tentando compensar as falhas, suturar os buracos - fracassos. A
hora é de tratarmos as feridas narcísicas e seguir ampliando o campo
democrático popular.
Enquanto isso, a
direita avança, ganha espaço e estabelece estratégias, pois a ela interessa
apenas conquistar o poder para continuar defendendo seus interesses, sempre do
Capital contra o Trabalho. O velho Marx deve estar em seu túmulo se destroçando
de angústia.
Perdemos a prefeitura
de BH, que era uma cidade petista, por conchavos - alianças para garantir voos
mais altos. Depois, o governo de estado. Pimentel não consegue se reeleger, o
lado contrário cruzou os braços. Em seguida veio o golpe da presidenta Dilma.
Muitos de seu próprio partido apoiaram e contribuíram para sua derrubada.
Agora, o partido segue
com poucos quadros, muitos envelheceram, outros tentam recuperar, se jogam e
lutam para se imporem como novas lideranças. Mas é visível o distanciamento dos
movimentos sociais. A população mais vulnerável, grande parte, foi cooptada
pela teocracia. Baita pedra no caminho progressista.
Importante é
assumirmos que o momento é de união da esquerda em torno de um mal maior. O
fascismo bate à nossa porta. Temos que reforçar a proteção.
As alianças, muitas
vezes, são mal necessário. Lula jamais gostaria de ter que se aliar com União
Brasil, entre outros. Mas e aí, José?
Política se faz com a
realidade que se impõe. Às vezes ela nos força a darmos os anéis para não
perdermos os dedos. Dizem que não devemos cutucar a onça com a vara curta.
No momento, frente à
eleição para a prefeitura em BH, há divergências contra o tamanho da vara que a
esquerda construiu para enfrentar ameaças de duas onças que nos espreitam. Uns
acreditavam que conseguiríamos delas nos livrarem aliando-nos apenas com o
campo progressista, outros temiam e até sugeriram ampliar o leque. Agora, que
fazer?
Recuo estratégico?
Talvez.
Quem sabe Lula esteja
se precavendo para 2026, ao evitar sua presença na campanha de Rogério Corrêa
em BH. Ter que adular animais menos perigosos por medo do futuro. As feras
estão soltas. Pode precisar do apoio do candidato do PSD, que tenta a reeleição.
• Marçal, lulodependência, reconstrução do
PT: a entrevista de José Dirceu a Mônica Bergamo
Repercute nas redes
sociais uma entrevista em vídeo que o ex-ministro José Dirceu concedeu à
jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. Aqui destacamos três pontos
sensíveis da entrevista que você precisa saber:
1- A PROJEÇÃO DE PABLO
MARÇAL
Dirceu foi instado a
comentar o fenômeno Pablo Marçal. Para Dirceu, o ex-coach tem condições de se
projetar como liderança nacional, mas no momento é um problema maior para a
direita e extrema-direita do que para a esquerda, porque Marçal, comum estilo diferente,
divide o eleitorado bolsonarista.
“Essa direita que
estamos vendo agora tem um elemento religioso neopetencostal, e tem um elemento
incorporado pelas classes populares, que é o do liberalismo econômico,
anti-Estado, anti-imposto, que Marçal representa bem.”
“Marçal é um problema
para a extrem-direita mais do que para nós [da esquerda]. Ele vai dividir o
bolsonarismo. Ele é jovem, veio da pobreza, conhece e viveu na periferia. Nada
disso é Bolsonaro. Bolsonaro capiturou uma agenda religiosa e uma agenda da direita
liberal, que apoiou ele. Bolsonaro era um sindicalista militar, só defendia a
agenda militar e a Ditadura Militar, não tinha nada dessa linguagem que ele
adotou que repete muito do trumpismo.O Marçal, não: ele é criação desse momento
que estamos vivendo.”
“Marçal vai sair
candidato a presidente. Ele não tem partido e vai ter que decidir se vai ser
uma liderança sem partido ou vai ser adotado por algum.”
2 – LULODEPENDÊNCIA
Bergamo também tocou
na entrevista em um ponto sensível para o PT: a aparente dificuldade de forjar
e projetar lideranças nacionais como Lula. A jornalista chamou de
“lulodependência”.
Dirceu respondeu que o
PT está criando lideranças, e citou como exemplo o ministro da Fazenda Fernando
Haddad, Rafael Fonteles no Piauí, Camilo Santana que está no governo. Para
Dirceu, o PT ainda não consolidou novas lideranças com projeção nacional porque
enfrentou desafios maiores, como ter passado os últimos anos sob repressão.
“Qual é a
circunstância história dessa situação do PT? Nós passamos 7 anos reprimidos.
Nós enfrentamos Mensalão e depois a Lava Jato, em que nós quase perdemos o
registro do PT e Lula foi processado, condenado e preso. E não podíamos sair na
rua com os simbolos do PT, fomos segregados socialmente. Isso tem um custo. (…)
Nós erramos, mas o fato histórico é que houve repressão ao PT.”
3 – RECONSTRUÇÃO DO PT
Dirceu falou que Lula
é candidato à reeleição em 2026 com chances de ganhar porque a economia
brasileira vai crescer ainda mais, mas que o PT precisa aproveitar o ano que
vem, quando haverá eleições para seus cargos internos, para renovar a direção e
levar novas lideranças para a cúpula com a missão de “reconstruir” o partido.
“Quem tem
representação nacional, base social e memória história dos trabalhadores que
continuam voltando nas bandeiras progressistas, é o PT. Tem que reconstruir,
como estamos reconstruindo o Brasil, o PT. Na minha opinião, é que o PT tem
oportunidade, no ano que vem, de fazer um balanço dos últimos 20 anos, de
eleger nova direção e se renovar. Por isso começamos a discutir uma nova
candidatura de um líder do PT como o Edinho, que representa um pouco do momento
que o PT está vivendo.”
“O que outros partidos
de direita estão fazendo? Consolidando seus partidos com movimentos de
mulheres, de jovens, com institutos de pensamento e pesquisa, formação
política, com sedes. E nós precisamos voltar a fazer isso.”
Fonte: Brasil
247/Jornal GGN
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