Biofármacos: o que são e para que servem?
Os biofármacos são
remédios produzidos por meio da biossíntese em células vivas. Ou seja, o
princípio ativo da produção dos compostos químicos é os seres vivos com grande
atividade biológica.
Também chamados
de medicamentos biológicos, a produção desses compostos acontece via
processos biotecnológicos. Geralmente, ela é feita por meio da manipulação de
moléculas de proteína de tamanho relativamente grande e muito complexas.
Apesar de conhecidas
há muito tempo, as técnicas para a criação de biofármacos são
relativamente novas e seguem em evolução.
<><> Qual
foi o primeiro biofármaco?
O primeiro fármaco
produzido com engenharia sintética foi a insulina recombinante humana, em 1982.
Fármacos produzidos através da biologia
sintética são feitos através da inserção de
genes pré-determinados em bactérias, células animais ou vegetais.
Os biofármacos atualmente
representam uma revolução no tratamento de doenças e estão disponíveis em
diversas funções. Alguns exemplos incluem fatores de crescimento, insulina,
citocinas e anticorpos monoclonais. Eles são usados para tratamento ou
prevenção de doenças como Alzheimer, doenças autoimunes, câncer, diabetes, hepatite, artrite reumatoide e muitas outras.
O Brasil,
apesar do potencial, ainda precisa de muito investimento em tecnologia para
alavancar a inovação e pesquisa farmacêutica relacionadas aos biofármacos.
<><> Qual
a diferença entre biofármaco e fármaco?
A principal diferença
entre os fármacos, que são medicamentos obtidos de formas comuns, e
os biofármacos é a origem. A origem do primeiro tipo é sintética e a
do segundo é um processo biológico. Os medicamentos tradicionais são geralmente
compostos por pequenas moléculas de uma quantidade baixa de átomos. Além disso,
eles têm uma estrutura química bem conhecida e que pode ser copiada sem
problemas.
Já
os biofármacos são feitos por grandes moléculas complexas e por
milhares de átomos, e não é possível que haja uma cópia idêntica deles. Eles
não podem ser ingeridos, pois seriam destruídos pelo sistema digestivo.
Portanto, são injetáveis ou inaláveis. Suas fórmulas são instáveis e podem
sofrer alterações devido às condições de conservação e armazenamento.
<>< Como são
feitos os biofármacos?
As proteínas são, em
sua maioria, produzidas por técnicas de DNA recombinante. Certos organismos
vivos são geneticamente reprogramados para produzirem uma proteína que
queremos.
Em laboratórios, os
organismos vivos que recebem o DNA recombinante podem ser plantas, animais,
bactérias e são chamados de sistemas de expressão. Na produção
de biofármacos, existe a expressão “o processo é o produto”, pois é no
processo de produção que a qualidade é assegurada. Pequenas variações resultam
em grandes alterações no resultado final. Por isso, as etapas do processo são
tão importantes e nunca resultam em produtos idênticos.
Por exemplo: o
hormônio de crescimento usado para tratar o nanismo é muito específico, o que
significa que o hormônio de origem animal não serve para humanos. Então,
durante muitos anos, pacientes utilizavam material retirado de cadáveres. No
entanto, a produção era baixa e a demanda e preços muito altos, além de que seu
uso estava relacionado a graves efeitos colaterais neurológicos.
Depois de poucos
meses, a indústria farmacêutica disponibilizou o primeiro hormônio de
crescimento recombinante produzido em culturas de bactérias. Este foi o segundo
produto farmacêutico produzido por DNA recombinante. E, além disso, ele também
é um grande exemplo de como a biotecnologia pode atender rapidamente às necessidades que surgem.
<><>
Biossimilares
Medicamentos
biológicos e biossimilares não são a mesma coisa. Os biossimilares são cópias
autorizadas dos produtos biológicos que foram comparados em questões de
qualidade, segurança e eficácia. Os medicamentos convencionais são fáceis de
replicar (o que dá origem aos chamados medicamentos genéricos). Isso porque
eles têm uma estrutura conhecida e bem definida, ao contrário de medicamentos
biológicos, que dependem de seres vivos.
Assim como acontece
com os genéricos, quando a patente de um biofármaco expira, podem ser feitas
cópias legais, que são chamadas de biossimilares. Todos são comercializados
apenas após aprovação do órgão regulador. Mas não confunda: biossimilares não
são genéricos, a regulação de cada um é diferente.
Para os genéricos, não
há necessidade de novos testes de eficácia e de segurança, pois são idênticos
aos de medicamentos de referência. Apenas a absorção e disposição da substância
ativa diferem. Já no caso de biofármacos, que não são totalmente iguais,
existe a necessidade de novas demonstrações clínicas e agências reguladoras,
como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
¨ Penicilina: o que é e para que serve?
A penicilina é
um importante antibiótico, descoberto por Alexander Fleming, em 1928. Sua
descoberta representou um enorme avanço para a ciência. Isso porque
a penicilina foi o primeiro antibiótico realmente eficaz contra bactérias e hoje, além de ser o mais antigo, é o antibiótico mais
comumente usado em todo o mundo.
Muitos estudiosos
afirmam que a penicilina foi descoberta acidentalmente. No entanto,
apesar de sua descoberta ter sido um efeito do acaso, foi realizada dentro de
uma pesquisa que tinha como propósito a busca por uma solução contra as
bactérias, que causavam infecções com alta taxa de mortalidade na época.
<><> Como
a penicilina foi descoberta?
O médico e
bacteriologista Alexander Fleming, que trabalhava no St. Mary’s
Hospital, em Londres, foi quem descobriu a penicilina, o que lhe rendeu um
prêmio Nobel.
Foi retornando das
férias que ele notou algo diferente nas culturas de
bactérias que ele havia feito, semanas antes, para analisar seu
desenvolvimento.
Observando as culturas
de estafilococos, uma bactéria encontrada na pele humana, causadora de graves
infecções, Fleming notou que algumas das culturas foram contaminadas por fungos. Isso se transformou em mofo e em suas proximidades, as
bactérias não se desenvolviam.
A partir daí, o
cientista isolou e analisou o mofo, identificando-o como pertencente ao
gênero Penicillium Notatum. Esse é o mesmo tipo de mofo que se
desenvolve em pães, frutas ou queijo, quando passam da validade.
Fleming produziu um
extrato a partir do mofo e passou a chamar seu agente ativo de penicilina.
Ele também testou sua eficácia contra outros tipos de bactérias e comprovou o
seu efeito antibacteriano.
No entanto, Fleming
não conseguiu isolar e estabilizar a substância, transformando-a em
algo realmente útil na prática, o que gerou pouco interesse na comunidade
científica da época. Sendo assim, sua pesquisa foi posta de lado e somente em
1939 – dez anos depois – outros dois cientistas retomaram a investigação.
<><>
Howard Florey e Ernst Chain
Howard Florey e Ernst Chain, estudaram exaustivamente a penicilina e fizeram
inúmeros experimentos até que, em 1941, injetaram a substância purificada em um
paciente, que apresentou melhora, mas faleceu posteriormente, pois a quantidade
de medicação foi muito baixa.
Outros experimentos em
humanos foram realizados e, a partir daí, foi reconhecido o valor terapêutico
da penicilina no tratamento de infecções causadas por
bactérias.
Enquanto isso,
acontecia a 2ª Guerra Mundial e o interesse pela sua produção em larga escala
aumentava, pela necessidade de ter um antibiótico para uso nos soldados feridos
em batalha.
A partir de sua
entrada na guerra, ainda em 1941, os Estados Unidos assumiram toda a produção de
penicilina em larga escala, numa cooperação anglo americana bem sucedida. Em
setembro de 1943, os Estados Unidos possuíam um estoque suficiente para toda a
demanda das forças armadas aliadas.
<><> Quais
doenças são tratadas com penicilina?
Com o decorrer dos
anos, os estudos avançaram e novos antibióticos foram desenvolvidos, por conta das novas doenças (ou suas
mutações) que foram surgindo. A família das penicilinas é
composta por penicilinas naturais, semissintéticas ou
sintéticas.
Esses antibióticos são
aplicados para tratar de diversas doenças. Alguns exemplos estão listadas
abaixo:
- Bacteremia, que é a presença de bactérias no sangue.
Infecções pós-parto, cirurgias, queimaduras, infecções de
pele, diabetes mellitus,
aplicação de drogas intravenosas, HIV, traumas contusos e o uso de
corticosteróides são fatores que podem levar à bacteremia, por meio da
bactéria Streptococcus pyogenes;
- Infecções vaginais, como vaginose bacteriana, sífilis,
infecções neonatais, endocardite e infecção do trato urinário, causados
pela bactéria Streptococcus agalactiae;
- Infecções respiratórias, meningite e infecções sistêmicas,
causadas pela bactéria Streptococcus pneumoniae. No entanto,
em várias partes do mundo, essa bactéria tem apresentando resistência
à penicilina.
<><> Como
certas bactérias se tornam resistentes à antibióticos?
A Organização Mundial
da Saúde (OMS) chamou a
atenção para o aumento de bactérias resistentes aos antibióticos, e o potencial
ameaçador que isso representa para a saúde em todo o mundo. Isso porque, quanto
maior a resistência de uma bactéria à um antibiótico, menor é sua eficácia no
trato de infecções.
A resistência é um
processo que ocorre devido às alterações genéticas naturais dos patógenos, os
agentes infecciosos. No entanto, isso tem se tornado um problema, devido a
velocidade com que tem ocorrido, graças à intervenção humana. O uso indevido e
indiscriminado de antibióticos e outros antimicrobianos tem acelerado o
surgimento e a propagação de bactérias, fungos, vírus e parasitas resistentes às medicações.
É importante ressaltar
que esses medicamentos são utilizados não apenas para o tratamento, prevenção
ou controle de infecções em humanos, mas também em animais e plantas.
<><> Uso
indiscriminado de antibióticos na agropecuária
De acordo com Ana
Navarrete, coordenadora do Programa de Saúde do Instituto Brasileiro de Defesa
do Consumidor, em entrevista para o Jornal da USP, o uso de antibióticos na pecuária pode causar sérios danos à
saúde humana. Além disso, pode causar impactos ao meio ambiente e ainda,
acelerar a resistência de bactérias aos antibióticos, graças ao uso excessivo e
desnecessário na criação de animais.
Segundo Navarrete, uma
vez aplicados nos animais, os antibióticos “atuam sobre algumas espécies de
bactérias, enquanto permitem que as resistentes à medicação se multipliquem”.
Além de entrarem na cadeia alimentar, “por meio dos dejetos, essas bactérias
se espalham no solo, na água e nas plantas e chegam às pessoas não só através
do consumo de carne, mas também de água ou vegetais”.
<><>
Infecções resistentes aos medicamentos
Um relatório,
publicado em 2022, descreve a situação como alarmante. A bactéria Escherichia coli é citada por ter apresentado uma taxa de 42% de
resistência ao antibiótico cefalosporina de 3ª geração, em 76 países. Essa bactéria é conhecida por
causar doenças no intestino e infecções urinárias e é apenas um dos exemplos.
A geração do
antibiótico remete à sua potência. Tecnicamente, um antibiótico de 3ª geração é
mais potente e deveria agir contra bactérias resistentes às primeiras gerações,
inclusive.
A OMS também argumenta
que infecções resistentes aos medicamentos afetam também a saúde do planeta.
Além de atingir os animais e as plantas, reduzem a produtividade agrícola e
ameaçam a segurança alimentar.
De acordo com as
projeções, até 2035 a tendência é que a resistência de bactérias, vírus, fungos
e parasitas aos antimicrobianos, em geral, aumente ainda mais. Isso reforça a
necessidade cada vez maior por um gerenciamento rigoroso no uso de medicamentos, bem como a mudança de
comportamento nas práticas de prescrição, evitando o uso desnecessário dos
mesmos.
Ainda assim, talvez
algumas soluções para esses problemas também estejam em mais estudos e novas
descobertas.
<><>
Fungos oceânicos e a penicilina do futuro
A revista
científica Frontiers in Science publicou, no início de 2024,
um vasto estudo sobre o DNA do oceano, realizado por um grupo de cientistas de diferentes
nacionalidades.
Foram coletadas 2102
amostras, em diferentes profundidades do oceano, ao redor do mundo. Com uma
tecnologia chamada KMAP, foi possível escanear a sequência de DNA de cada
amostra, identificando 317.5 milhões de conjuntos de genes.
Segundo o estudo, o
catálogo pode ajudar nas pesquisas relacionadas ao aquecimento
global, à poluição oceânica e no desenvolvimento de inovações na medicina e
outras indústrias, com aplicações na área da biotecnologia.
Pouco mais de 56% dos
conjuntos, catalogados na zona mesopelágica, representam fungos. Essa é a região que vai de 200 m até 1000
m de profundidade, abaixo da superfície. Também conhecida como zona
crepuscular, não apresenta luz suficiente para que exista fotossíntese e é uma das regiões menos conhecidas do planeta.
A pesquisa destaca a
importância que os fungos representam no microbioma oceânico e
ainda sugere que isso pode trazer consequências importantes para inovações
científicas. Um outro estudo recente
mostrou que os fungos, presentes na zona crepuscular, são os principais
responsáveis pela degradação de proteínas nos oceanos.
Ainda, um pesquisador
do Instituto de Oceanografia da Universidade da Califórnia afirma que,
assim como a penicilina foi obtida a partir de fungos, pode-se
esperar descobertas semelhantes a partir de estudos com os fungos oceânicos.
Ele reforça que a zona crepuscular é um ambiente hostil e que, ali, os fungos
devem apresentar adaptações únicas.
Essas possíveis
adaptações elevam o potencial de descobertas de novas propriedades bioquímicas,
que poderão ser aplicadas com fins medicinais no futuro.
Fonte: eCycle
Nenhum comentário:
Postar um comentário