5 momentos-chave do debate entre Kamala e
Trump
Donald Trump e Kamala Harris se
enfrentaram ferozmente na noite de terça-feira (10/9) em seu primeiro debate antes
da eleição presidencial de
novembro.
O duelo de 90 minutos,
organizado pela rede americana ABC News, na Filadélfia, foi marcado por uma
saraivada de ataques pessoais, enquanto eles discutiam sobre aborto, imigração e política
externa.
A seguir, confira
cinco momentos-chave do debate:
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1. 'Prazer em vê-la'
Ao saírem dos
bastidores, Kamala Harris atravessou o palco em direção a Trump, enquanto ele
se aproximava do púlpito.
"Kamala
Harris", ela disse, oferecendo um aperto de mão, já que os dois estavam se
encontrando pela primeira vez. "Vamos ter um bom debate."
"Prazer em vê-la.
Divirta-se", respondeu o ex-presidente republicano.
Foi o primeiro aperto
de mão em um debate presidencial em oito anos
Harris,
vice-presidente dos EUA, passou a maior parte do debate olhando diretamente
para seu oponente, muitas vezes com um sorriso astuto, rindo alto ou balançando
a cabeça incrédula, enquanto ele respondia às perguntas.
A tela dividida
mostrou Trump olhando principalmente para a frente enquanto ela falava,
balançando a cabeça de vez em quando.
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2. 'Estou falando
agora'
Harris, que é
democrata, partiu para a ofensiva desde o início, provocando o adversário
republicano e atacando-o por suas condenações criminais e a
forma como lidou com a pandemia de covid-19.
Ele desviou o assunto
repetidamente para inflação e imigração, vulnerabilidades políticas de Harris,
argumentando que o governo Biden-Harris havia "destruído" o país — e
a rotulou de "marxista".
Harris zombou do
tamanho da plateia em seus comícios. "As pessoas começam a sair dos
comícios dele mais cedo por exaustão e tédio", ela disse.
Trump rebateu:
"As pessoas não vão aos comícios dela. Não há razão para ir."
Em dado momento,
quando Harris interrompeu Trump, ele disse: "Estou falando agora. Isso soa
familiar?" Ele estava se referindo a uma resposta que ela deu em um debate
vice-presidencial, em 2020, contra Mike Pence.
Mais tarde, enquanto
Harris falava por cima dele, Trump disse: "Silêncio, por favor."
Em determinado
momento, Harris zombou do louvor dele por ditadores "que comeriam você
vivo".
Trump, enquanto isso,
alegou que o presidente dos EUA, Joe Biden, não gosta de Harris.
"Ele a odeia", afirmou. "Não suporta ela."
O ex-presidente também
culpou a retórica democrata acalorada pela tentativa de assassinato contra
ele em julho, cujos motivos são desconhecidos.
"Provavelmente
levei um tiro na cabeça por causa das coisas que disseram sobre mim", ele
disse.
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3. 'Eles estão comendo
os cachorros'
Nas horas que
antecederam o debate, as redes sociais estavam repletas de relatos de alegações
infundadas — repetidas por JD Vance, companheiro de chapa de Trump, de que
migrantes haitianos em Springfield, no Estado de Ohio, estavam roubando animais
de estimação e comendo os bichos.
Apesar de autoridades
da cidade terem dito à BBC que não há relatos confiáveis para respaldar essas alegações, Trump levantou o assunto no debate.
"Eles estão
comendo os cachorros, estão comendo os gatos, estão comendo os animais de
estimação das pessoas que vivem lá. É uma vergonha", afirmou.
"Por falar em
extremo...", disse Harris sobre o adversário.
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4. Verificação de
fatos sobre aborto feita por moderador
Alguns dos ataques
mais agressivos de Harris contra Trump aconteceram quando eles entraram em um
confronto sobre o aborto, uma das principais questões para os democratas desde
que a Suprema Corte dos EUA anulou o direito constitucional ao procedimento em 2022.
"Não é preciso
abandonar sua fé ou crenças profundas para concordar que o governo — e Donald
Trump, certamente — não deveria dizer a uma mulher o que fazer com seu
corpo", disse Harris.
Ela afirmou que Trump
"assinaria uma proibição do aborto" se fosse reeleito — e citou
Estados conservadores que proíbem o procedimento, embora permitam algumas
exceções.
Trump, para quem a
questão representa um risco político, rebateu: "O que ela diz é uma
mentira absoluta. Não sou a favor de uma proibição do aborto."
Ele reiterou que apoia
exceções para casos de estupro, incesto ou quando a vida da mãe está em risco.
Em dado momento, o
ex-presidente alegou que alguns bebês estavam sendo submetidos a
"execuções" após o nascimento.
Um dos moderadores da
rede ABC News, que produziu o debate, intercedeu para verificar os fatos,
dizendo: "Não há nenhum Estado neste país onde seja legal matar um bebê
depois que ele nasce".
·
5. Políticas?
Trump disse que Harris
não tinha políticas, acusando-a de copiar algumas de suas próprias ideias na
campanha — e afirmou que ele "iria enviar a ela um boné Maga (sigla em
inglês para "Tornar a América Grande Novamente", lema da campanha de
Trump)", ao mesmo tempo em que argumentava que ela não seria diferente do
presidente Biden.
"Ela não tem
política", afirmou.
"Lembre-se disso,
ela é o Biden", acrescentou ele, em outro momento.
Harris respondeu:
"Claramente, eu não sou Joe Biden".
Trump, que enquanto
era presidente tentou derrubar o Obamacare, foi questionado sobre qual seria
seu plano agora para substituir o chamado "Affordable Care Act", lei
que tornou os planos de saúde mais acessíveis.
Ele disse que tinha
"conceitos de um plano" que seria "algo melhor", se for
eleito.
Em relação à economia,
tema que as pesquisas de opinião mostram
que favorece Trump, Harris afirmou repetidamente: "Eu tenho um
plano".
Ao descrevê-la como
uma liberal radical, Trump respondeu: "Ela tem um plano para tirar
financiamento da polícia. Ela tem um plano para confiscar as armas de todo
mundo. Ela tem um plano para proibir o fracking (técnica de
extração de petróleo e gás) na Pensilvânia, e em todos os outros lugares."
Harris negou tudo
isso, e mencionou que possui uma arma.
¨ Quem ganhou o debate?
Donald Trump e Kamala Harris realizaram
na terça-feira à noite na Filadélfia o primeiro debate entre ambos na campanha eleitoral para a presidência dos EUA.
Logo no começo, eles
apertaram as mãos — mas o clima amistoso acabou ali.
Em 90 minutos
inflamados, Harris tirou o ex-presidente
do sério com ataques pessoais que tiraram seu foco e aumentaram a temperatura
deste embate, que era muito aguardado por todos.
Suas provocações sobre o
tamanho das multidões nos seus comícios, seu comportamento durante a invasão ao
Capitólio, em Washington, e críticas de ex-integrantes de seu governo à
campanha deixaram Trump na defensiva.
O padrão que se viu no
debate foi de Harris provocando seu rival republicano a fazer defesas demoradas
sobre seu comportamento e comentários passados. Ele aceitou isso, subindo de
tom e balançando a cabeça.
Os americanos deveriam
ir a um comício de Trump, Harris disse em uma pergunta sobre imigração, porque
os eventos são esclarecedores. "As pessoas começam a ir embora mais cedo
por exaustão e tédio", ela disse.
Essa provocação deixou
o ex-presidente claramente abalado, e ele passou a maior parte da sua resposta
— para uma pergunta que deveria ter sido um dos seus pontes fortes junto ao
eleitorado — defendendo o tamanho de seus comícios e diminuindo os eventos dela.
Trump depois se
envolveu em uma longa resposta sobre uma notícia que foi desmentida de que
imigrantes do Haiti na cidade de Springfield, no Ohio, estavam roubando e
comendo animais de estimação dos seus vizinhos.
Se dizem que debates
são vencidos ou perdidos pelo candidato que mais aproveita os temas no qual é
forte — e se defende ou evita temas nos quais é fraco — então o debate da noite
de terça-feira favoreceu a vice-presidente.
Uma pesquisa da CNN
com pessoas que assistiram ao debate mostrou que Harris teve um desempenho
melhor. Casas de aposta também mostraram isso.
Esse retrato pode ser
temporário, mas a tática de Harris de colocar Trump na defensiva ficou clara
logo cedo no debate, em perguntas sobre economia e aborto.
Pesquisas de opinião
indicam que os americanos estão descontentes com a forma como o governo de Joe
Biden — do qual Harris faz parte — lidou com inflação e a economia.
Mas Harris virou a
mesa e discutiu propostas de Trump de aumento generalizado de tarifas, que ela
apelidou de "imposto de vendas de Trump", e falou sobre o Projeto
2025, um polêmico plano conservador independente para um futuro governo
republicano.
Trump voltou a se
distanciar do projeto e defendeu seu plano de tarifas, observando que o governo
Biden manteve muitas das tarifas que herdou de Trump. Os pontos levantados pelo
ex-presidente eram válidos, mas impediram que Trump atacasse Harris em tópicos
como inflação e preços dos consumidores.
Sobre aborto, Trump
defendeu seu histórico sobre o assunto, dizendo que americanos em todos os
espectros políticos queriam que a decisão histórica Roe v Wade que protegeu
direitos a aborto fosse revertida — algo que pesquisas de opinião não
confirmam. Ele teve dificuldades de esclarecer sua posição e sua resposta foi
confusa em alguns momentos.
Já Harris aproveitou a
oportunidade para fazer um apelo pessoal emocionado a famílias que enfrentam
gravidezes com complicações e que não puderam receber aborto e cuidados em
Estados onde isso foi proibido — os Estados com "proibições de Trump ao aborto",
nas palavras dela.
"É um insulto às
mulheres da América", disse.
Foi uma mensagem
cuidadosamente feita em um tema em que Harris possui ampla vantagem em cima de
Trump.
Em diversas ocasiões
ao longo da noite, Harris colocou Trump na defensiva com alfinetadas e
provocações que ele poderia ter ignorado, mas parece ter se sentido obrigado a
rebater.
Em um determinado
momento, Harris foi questionada sobre posições liberais que ela possui, como no
caso da extração de petróleo por fracking, que ela adotara em sua campanha
fracassada de 2019 nas primárias democratas e acabou abandonando
posteriormente. Ela continuou sendo questionada e acabou respondendo que não
recebia esmolas de seu pai rico.
Novamente, o
ex-presidente mordeu a isca. Em vez de seguir atacando a vice-presidente por
sua mudança de postura — um claro ponto de fraqueza — ele começou sua resposta
falando sobre a "fração mínima" de dinheiro que recebeu de seu pai.
Sobre a retirada do
Afeganistão, outro ponto de fraqueza para Harris, a vice-presidente mudou de
assunto para as negociações de Trump com autoridades do Talebã e seu convite a
eles para ir a Camp David. Esse padrão se repetiu ao longo da noite e deu certo.
Republicanos já estão
reclamando do que chamaram de favorecimento dos moderadores do debate — os
jornalistas David Muir e Linsey Davis, da rede ABC — à vice-presidente. Ambos
retrataram Trump com checagem de dados durante o debate.
Mas no fim da noite,
foram as respostas de Trump e seu ímpeto de morder todas as iscas jogadas por
Harris que marcaram o debate.
E isso era visível no
rosto dos dois candidatos. Sempre que seu rival estava falando, Harris exibia
uma expressão de perplexidade ou incredulidade. Já Trump fazia cara feia.
Até agora, a campanha
de Harris tem hesitado em aceitar um outro debate. Mas depois deste debate,
eles pediram quase que imediatamente a realização de outro debate antes de
novembro.
Isso por si só já
mostra o quanto os democratas acharam que a noite foi de Harris.
Fonte: BBC News Mundo
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