terça-feira, 6 de agosto de 2024

Eleições municipais: governo Lula concentra embate com bolsonarismo em oito capitais

Integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliam que a força do bolsonarismo será testada principalmente em oito capitais na disputa das eleições municipais deste ano.

Interlocutores de Lula acreditam que essas cidades serão uma espécie de plebiscito entre Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para eles, esses municípios darão uma amostra se o presidente está conseguindo ganhar força nesses territórios com as políticas sociais e econômicas.

Os assessores do atual presidente, porém, reforçam que apesar do simbolismo, o reflexo desses resultados não deve impactar nas eleições presidenciais em 2026.

Os oito municípios são considerados “testes” porque são locais em que:

  • ou Bolsonaro teve votação expressiva,
  • ou os candidatos têm padrinhos políticos ligados a Bolsonaro
  • ou pelo tamanho do eleitorado.

<><> Aliados

Apesar de, em diversas capitais, o PT lançar candidatos próprios da legenda em diversos locais, há alianças desenhadas para possíveis segundos turnos contra candidatos bolsonaristas.

No Sudeste, esses embates são citados em São Paulo e no Rio de Janeiro.

No caso da capital paulista, o fato de o candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) ter “abraçado” o bolsonarismo na campanha é um dos pontos citados para a atenção. Lá, a disputa pelo lado governista será feita com Guilherme Boulos (PSOL).

Já a capital fluminense é considerada simbólica por ser o “berço” do bolsonarismo. Lá, Bolsonaro escolheu o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O PT optou por apoiar o atual prefeito carioca, Eduardo Paes (PSD), que lidera as pesquisas no momento.

·        Embates diretos

No Nordeste, Recife, Teresina e Fortaleza terão embates diretos com candidatos de Bolsonaro.

Na capital do Piauí, o PT tenta eleger Fábio Novo. O embate com o bolsonarismo será com Silvio Mendes (União), que é apoiado pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro.

Em Fortaleza, o principal apoio do bolsonarismo será para o deputado federal André Fernandes (PL). O PT deve oficializar a candidatura de Evandro Leitão (PT), presidente da Assembleia Legislativa, neste sábado (3).

Já no Recife, Lula apoia João Campos (PSB) à reeleição, enquanto Gilson Machado, ex-ministro do Turismo de Bolsonaro, será o representante da oposição.

·        Vitória expressiva de Bolsonaro

No Norte, os estados da região amazônica recebem atenção dos petistas.

Auxiliares de Lula apontam a votação expressiva de Bolsonaro em Rio Branco no primeiro turno do pleito de 2022 como um ponto de teste para os petistas. Na última eleição, o ex-presidente conseguiu 64,03% dos votos enquanto Lula 26,3%.

O atual prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom, é do PL. Já o PT não terá candidatos próprios, mas se aliou na chapa de Marcus Alexandre (MDB).

·        Fator COP

Outra capital considerada importante é Belém, cidade sede da COP30, a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2025. Os petistas consideram que uma vitória seria simbólica já que o evento vai trazer a pauta ambiental para a Amazônia.

Outro ponto é que governos municipal e federal coincidentes seriam importantes para a promoção da própria COP.

Em Belém, o PL deve lançar o deputado federal Delegado Éder Mauro. Já o PT está de olho nos apoios para a candidatura à reeleição de Edmilson Rodrigues (PSOL) e à candidatura pelo MDB de Igor Normando para barrar o candidato de Bolsonaro.

·        Reflexos da calamidade

No Sul, Porto Alegre é um ponto de atenção. As fortes chuvas que afetaram o Rio Grande do Sul fizeram com que o governo apostasse em políticas sociais específicas e direcionasse orçamento emergencial para a reconstrução do estado em meio à calamidade.

O PT deve tentar a prefeitura com a deputada federal Maria do Rosário. O atual prefeito e candidato à reeleição, Sebastião Mello (MDB), é alinhado ao bolsonarismo.

¨      Bolsonaro estará no palanque de 6 governadores aliados

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estará no mesmo palanque de governadores aliados em 6 capitais nas eleições municipais deste ano, mas em campanhas diferentes dos nomes escolhidos por dois “presidenciáveis” do seu campo político.

Em Rio Branco, Campo Grande, São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Florianópolis os candidatos apoiados pelos respectivos governadores serão os mesmos do ex-presidente.

Um caso que desagradou aliados locais foi o de Campo Grande, onde Bolsonaro atuou para que o PL apoie o tucano Beto Pereira em vez de lançar candidatura própria.

Já em Goiânia e Belo Horizonte os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil) e Romeu Zema (Novo) não chegaram a um consenso com Bolsonaro e o PL.

Na capital goiana, Bolsonaro vai apoiar o ex-deputado Fred Rodrigues (PL). Já Caiado estará ao lado do ex-deputado Sandro Mabel (União Brasil).

Em Belo Horizonte, o ex-presidente lançou Bruno Engler (PL), enquanto Zema vai apoiar Mauro Tramonte (Republicanos).

 

¨      Casal Bolsonaro tenta reverter insucesso como cabo eleitoral

Longe do Planalto e circulando o país, o casal Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro busca reverter a imagem do passado de cabo eleitoral de insucesso. Diferentemente da última eleição municipal, em 2020, quando Bolsonaro estava na Presidência da República, o ex-presidente está mais ativo nas eleições para prefeito neste ano e atuante, viajando em campanha para seus aliados. Também diverso de quatro anos atrás, o ex-chefe do Executivo trocou as lives pedindo votos para seus aliados pelas ruas, em carreatas e manifestações.

Forte exemplo dessa nova postura ocorreu ontem (3/8), durante a convenção do MDB que oficializou a candidatura do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, à reeleição. O evento, no estacionamento da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), contou com a presença de Bolsonaro, do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), do ex-presidente Michel Temer (MDB) e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Com posição de destaque no palanque da convenção, Bolsonaro defendeu Nunes como seu nome para a capital paulista e disse que o prefeito já provou suas qualidades durante o mandato. "A todos vocês de São Paulo, o momento não é para pedir, pedir vai ser daqui a alguns dias, mas confiem na gente, façam as comparações, vejam o que tem para frente para escolher, não há menor dúvida que o Ricardo Nunes é nome adequado e justo para São Paulo. Vocês com toda certeza terão uma administração aperfeiçoada e obviamente melhorada com ele à frente da prefeitura."

O ex-presidente quer melhorar o desempenho como cabo eleitoral. Em 2020, ele fez campanha nas suas "lives eleitorais" para 58 candidatos e abriu espaço para os postulantes em transmissões de sua mesa no Alvorada, usando estrutura do governo. Ele exibia santinhos com o nome do candidato e seu número. Usava até o intérprete de libras oficial para esse fim. Cada transmissão durava entre 40 minutos a uma hora.

Era procurado por muitos simpatizantes que eram candidatos, mas dizia que não dava para fazer campanha para todos. "Não dá para citar todo mundo. Sei que tem gente brava comigo por aí. Dos 500 mil candidatos a vereadores, acredito que 10%, uns 50 mil, me apoiam. Não dá para falar de todo mundo. Tem gente que diz que não votará mais em mim. Paciência", chegou a afirmar em uma dessas lives.

Desses 58, Bolsonaro pediu votos para 15 candidatos a prefeito e 43 vereadores. Conseguiu eleger cinco prefeitos e 10 vereadores apenas. Algumas das vezes, sequer conhecia para quem fazia campanha. Seus ministros, filhos e assessores encaminhavam seus "peixes" para ele fazer propaganda. "Esse é peixe de quem?", perguntava Bolsonaro no meio da transmissão.

Michelle fez uma participação mais discreta que o marido, na campanha de 2020, mas teve seus preferidos, para quem fez propaganda. A então primeira-dama apoiou, ao menos, quatro candidatos a vereador naquele pleito e nenhum deles foi eleito. O mais conhecido deles foi o ex-ginasta Diego Hypolito, do PSB, candidato em São Paulo. Hoje comentarista de ginástica nas Olimpíadas de Paris, Hypolito era próximo do casal Bolsonaro e posta fotos com ambos. Na disputa, porém, obteve 3.783 votos, tendo sido o 202º mais votado.

Neste ano, Michelle assumiu outro protagonismo. Com a derrota de Bolsonaro na tentativa de sua reeleição e a condição de inelegível até 2030 do ex-presidente, a ex-primeira-dama se tornou uma liderança proeminente na direita do país. Seu nome é cotado para disputar a Presidência da República e está sempre inserida nas pesquisas de opinião.

Michelle hoje preside o PL Mulher e está empenhada em eleger o maior número de candidatas mulheres país afora. Nesse ativismo, o casal Bolsonaro apareceu nesta semana pregando em vídeos e mensagens contra proximidade e alianças do PL com o PT nas coligações eleitorais.

"O PL Mulher, na pessoa de sua presidente nacional, vem por meio desta nota reforçar a decisão adotada pelo Partido Liberal, que proíbe qualquer tipo de coligação com partidos de esquerda. As razões para essa decisão são óbvias. Para exemplificar, basta ver o que está acontecendo na Venezuela e quais partidos brasileiros estão se manifestando favoráveis àquele regime ditatorial. Não queremos que o Brasil tenha esse mesmo destino", foi o manifesto de Michelle.

<><> Virada de chave

Nesta eleição, o comportamento do casal é outro. Bolsonaro tem participado diretamente das articulações das chapas, apoiando e vetando nomes, gravando muitas mensagens por onde passa aos aliados e participando de atos e carreatas. Essa mobilização visa também mantê-lo em evidência, ainda que dificilmente reverta a condição de inelegível para uma "revanche" contra Luiz Inácio Lula da Silva daqui a dois anos.

A família Bolsonaro tem repetido que 2026 começa agora. Um bordão que vale, na verdade, para todos os espectros da política. Os prefeitos e vereadores que serão eleitos neste ano são futuros cabos eleitorais dos futuros postulantes ao Palácio do Planalto, aos governos dos estados e ao Congresso Nacional e Assembleias Legislativas.

Bolsonaro tem a missão de manter a direita com representatividade e, no campo eleitoral, eleger mais prefeitos significa, por exemplo, ter uma bancada forte no Senado em 2026, um objetivo declarado desse grupo, hoje minoria naquela Casa.

Desde o início do ano, Bolsonaro já visitou cerca de 20 cidades, entre os principais colégios eleitorais do país. Esteve em São Paulo, Rio e Belo Horizonte. A estimativa do PL de conquista de prefeituras depende do interlocutor. O presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto, já falou em 1,5 mil prefeitos eleitos pela legenda. Bolsonaro, mais comedido, estima entre 500 e 1 mil.

 

¨      Bolsonaro condena alianças PL/PT nas eleições e pede que coligações sejam desfeitas

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou de um vídeo ao lado do deputado federal Zucco (PL-RS), em que condena as alianças firmadas entre seu partido e legendas de esquerda em alguns municípios visando as eleições deste ano. Bolsonaro afirmou que essas coligações contrariam os princípios do grupo político e precisam " deixar de existir".

Para o ex-mandat ário, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, não tem qualquer responsabilidade sobre as alianças entre espectros políticos contraditórias. "O meu acordo, tudo o que eu acertei lá atrás com o presidente do partido, o Valdemar, está sendo cumprido. Agora, o que acontece? Nós vamos ter mais de 2 mil candidatos a prefeito pelo Brasil e também centenas de candidatos a vereador. Em alguns municípios estão aparecendo agora, como se estivessem incubadas, o PL se coligando com partidos como o PT, PCdoB e PSOL", disse Bolsonaro.

Por isso, ele pede que os políticos municipais desfaçam os acordos com a esquerda e sigam as orientações do partido. "Quero dizer a vocês que, já acertado, como lá atrás, estamos fazendo cumprir agora que essas coligações têm que deixar de existir. O que é mais grave? Mesmo deixando de existir, fica essa mácula dessas pessoas que estavam pensando apenas nelas para chegar ao poder e que se exploda o resto", disse.

Bolsonaro ainda alertou que ele deve apoiar candidaturas adversárias em municípios onde não for possível desfazer as coligações entre o PL e legendas de esquerda. "Já está definindo que nós estamos, além de desfazendo isso aí onde foi feito, você eleitor fica ligado, onde não for possível desfazer, nós vamos fazer campanha para o outro lado. Ver um bom candidato de outro partido e fazer campanha nesse sentido", alertou.

Também o PL Mulher, que é uma ala do Partido Liberal comandada pela ex-primeira-dama do Brasil Michelle Bolsonaro, divulgou uma nota oficial nesta quarta-feira, 31, proibindo qualquer tipo de aliança com legendas de esquerda.

"As razões para essa decisão são óbvias. Para exemplificar, basta ver o que está acontecendo na Venezuela e quais partidos brasileiros estão se manifestando favoráveis àquele regime ditatorial. Não queremos que o Brasil tenha esse mesmo destino!", disse o comunicado. A primeira-dama ainda anunciou um canal oficial para receber "denúncias" de coligação entre as duas legendas.

 

Fonte: CNN Brasil/Correio Braziliense

 

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