terça-feira, 6 de agosto de 2024

Denúncia contra o Exército diz que oficiais viajam aos EUA para cursos que existem na modalidade a distância

Denúncia recebida pela Revista Sociedade Militar diz que o Exército Brasileiro estaria realizando gastos desnecessários ao enviar oficiais superiores para os Estados Unidos para realização de cursos relacionados a acidentes com aeronaves.

O denunciante, que solicitou o direito de anonimato, argumenta que o Exército tem optado por enviar oficiais superiores para cursos de segurança de vôo na Califórnia, nos Estados Unidos no Southern California Safety Institute, mesmo quando os mesmos cursos estão disponíveis no Brasil, gratuitamente, através do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA).

Ele destaca ainda que os cursos realizados no exterior são caros e têm uma carga horária muito inferior àqueles similares ministrados pelo CENIPA e, em alguns casos, são oferecidos de forma online, o que eliminaria a necessidade de deslocamento para os Estados Unidos e os altíssimos custos associados à viagem, hospedagem, diárias etc.

“Para minha maior surpresa, chegou ao meu conhecimento, que neste ano, serão enviados mais 6 ou 5 oficiais superiores (pilotos) para realizarem cursos no instituto, que totaliza mais ou menos com diárias e passagens, somando o envio de 2023 e o deste ano, 2024, aproximadamente 500 mil reais gastos em cursos que estão sendo realizados presencialmente, mas que poderiam ser realizados no formato online…”

Os cursos são também oferecidos na modalidade online

“estaria enviando oficiais superiores para os Estados Unidos para realizarem cursos na Califórnia, o que me causou estranheza, pois o CENIPA forma tais profissionais sem custo algum para a União. E além do CENIPA ainda existe a possibilidade da realização de cursos nesta área no ITA (pós graduação e mestrado), que é uma instituição de reconhecimento mundial… os cursos em questão, são oferecidos pelo Southern California Safety  Institute, e que são oferecidos na modalidade presencial ou totalmente a distância. <https://scsi-inc.com/2024-Course-Schedule> … ”

Segundo informado no e-mail recebido, um dos cursos realizados no exterior é o curso de investigação de acidentes aeronáuticos CIAA que possui inclusive carga horária dez vezes inferior ao curso de investigação do CENIPA. “Tal situação pode ser comprovada comparando-se o currículo co CIAA ministrado no Brasil…”, diz a informação.

Os currículos dos cursos realizados no Brasil comparados com os realizados no exterior

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Questionado pela Revista Sociedade Militar sobre a quantidade de militares enviados para realização dos cursos, quantos seriam enviados nos próximos anos e os motivos para que os cursos não fossem realizados no Brasil, já que os currículos dos cursos seriam homólogos ou proporcionam a mesma capacitação no Brasil, na Força Aérea Brasileira e teriam, segundo a denúncia recebida: “conteúdo considerado até mais extenso que o AAI realizado no SOUTHERN CALIFORNIA SAFETY INSTITUTE”, o Exército Brasileiro a princípio se negou a prestar esclarecimentos completos, informando apenas que teria enviado 5 militares para realizar os referidos cursos, ignorando as outras questões colocadas.

<><> Resposta inicial: 

“… o Gabinete do Comandante do Exército (Gab Cmt Ex) informou que 5 (cinco) militares realizaram os seguintes cursos no Southern California Safety Insitute, no período em comento: Investigação de Acidentes de Helicópteros, Operational Risk Management, Helicopter Accident Investigation, Aircraft Accident Investigation e Unmanned Aerial Systems. Por fim, eventual recurso deve ser dirigido ao Chefe do Estado-Maior do Exército.”

<><> Resposta completa: 

Após questionamento então dirigido ao Chefe do Estado Maior do Exército, que é o General de Exército Richard Fernandez Nunes, a força reformulou a resposta e explicou que – entre outros motivos – a interação proporcionada por um curso presencial garante ao militar a oportunidade de “interagir com instituições civis e militares de diversos países… adquirindo, dessa forma, inclusive em oportunidades de convívio extracurriculares, conhecimentos e experiências que não seriam alcançados na modalidade de ensino à distância”.

Sobre os currículos homólogos e a possibilidade de realização dos cursos no Brasil, o Exército explica que apesar de possuirem nomenclaturas semelhantes, os cursos ministrados pela Força Aérea Brasileira contariam com diferenças curriculares significativas: “… os cursos e estágios de Segurança de Voo, ministrados pela FAB, possuem nomenclaturas semelhantes, mas contam com diferenças curriculares consideráveis em relação àqueles realizados no exterior ”.

<<<< A resposta completa do Exército Brasileiro enviada à Revista Sociedade Militar

…  No corrente ano, 2024, há previsão de envio de 5 (cinco) militares para realização de cursos voltados para a Segurança de Voo no Instituto de Segurança do Sul da Califórnia (Southern California Safety Institute – SCSI, em inglês), sendo 2 (dois) para a Investigação de Acidentes Aeronáuticos (Aircraft Accident Investigation – AAI, em inglês) e 3 (três) para os Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (Unmanned Aircraft Systems – UAS, em inglês). Para o próximo ano, 2025, há previsão para 4 (quatro) militares, sendo 2 (dois) para cada curso mencionado.

Os cursos podem ser ministrados pelo SCSI em duas modalidades distintas: ensino à distância (EaD) ou de forma presencial. O Exército Brasileiro (EB) opta pela modalidade presencial, pois, assim como outros órgãos e agências, incluindo o próprio Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) da Força Aérea Brasileira (FAB), o EB a vê como o método mais vantajoso. A seguir, elenca-se algumas justificativas:

– em Segurança de Voo, o intercâmbio e a troca de conhecimentos e experiências entre entidades correlacionadas, como as dispostas no sítio de internet da própria instituição, é fundamental para incrementar a prevenção de acidentes aeronáuticos no país. O militar designado tem a oportunidade de interagir com instituições civis e militares de diversos países, como a National Transportation Safety Board (NTSB) norte americana, Organização de Aviação Civil Internacional (OACI), Força Aérea Americana, entre outras, adquirindo, dessa forma, inclusive em oportunidades de convívio extracurriculares, conhecimentos e experiências que não seriam alcançados na modalidade de ensino à distância;

– em ambos os cursos, como pré-requisito, o militar a ser designado deverá já ter formação prévia em curso ministrado pelo CENIPA. Para o AAI, o oficial piloto, ou seja possuidor do Curso de Piloto de Aeronaves, deverá já ter realizado o Curso de Investigação de Acidentes Aeronáuticos (CIAA), enquanto que, para o UAS, como não existe ainda similar no país, o militar designado deverá estar em função diretamente atrelada aos Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (SARP) e possuir, no mínimo, o Curso de Gestão da Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CGPAA), sendo Elemento Credenciado em Prevenção (EC-Prev). Portanto, os militares que realizam os cursos no SCSI já realizaram seus similares no país ou possuem credenciamento na área de Segurança de Voo. Desta forma, o objetivo principal é fazer com que esses militares complementem, ampliem ou consolidem conhecimentos, agregando novas experiências que contribuirão para aprimorar competências exigidas para o desempenho de seus cargos. É importante salientar que os cursos e estágios de Segurança de Voo, ministrados pela FAB, possuem nomenclaturas semelhantes, mas contam com diferenças curriculares consideráveis em relação àqueles realizados no exterior;

– no caso do AAI, a segunda semana de curso conta com uma parte prática em sítio de destroços de aeronaves, o que é de suma importância para o aluno, pois integra e consolida todos os conhecimentos teóricos previamente adquiridos. Nesta ocasião, o militar tem a oportunidade de interagir com os demais integrantes de seu grupo de trabalho, realizando o intercâmbio de conhecimentos e técnicas de abordagem durante uma Ação Inicial. Além disso, realiza visita a laboratórios técnicos de análise de componentes e exames de materiais, incrementando sobremaneira sua cultura aeronáutica, atualizando-se no que há de mais moderno na investigação de acidentes, e adquirindo ensinamentos que serão essencialmente empregados durante o estudo de uma ocorrência real;

– a modalidade presencial permite a abordagem e o desenvolvimento do chamado “currículo oculto”, caracterizado pelas interações durante as atividades curriculares e extracurriculares, enquanto a modalidade de EAD geralmente dificulta ou impede o desenvolvimento de conhecimento não integrante do currículo formal; e no caso específico do UAS, como dito anteriormente, não existe curso similar no Brasil. Logo, é fundamental a aquisição do conhecimento para o desenvolvimento e implantação do conjunto normativo de segurança na utilização do espaço aéreo, pelos nossos militares especialistas em Segurança de Voo, haja vista que esses modernos equipamentos, atualmente, estão sendo testados e experimentados doutrinariamente pelo Exército Brasileiro.

Deve-se ressaltar que a previsão da realização dos referidos cursos será considerada dentre várias outras ações na área de capacitação, envolvendo outros nichos de atividades, quando então a instituição atribuirá a respectiva prioridade a cada iniciativa de capacitação, posicionando-a dentre as demais. Assim, embora o Exército Brasileiro apresente parecer favorável à execução dos cursos em comento, a sua realização dependerá de análise futura.

Outro aspecto julgado importante é que a capacitação de pessoal que atua na Segurança de Voo tem o objetivo de tornar as ações da Aviação do Exército o mais seguras possíveis, recomendando os melhores esforços institucionais para atingir esse intento. Neste contexto, a consequência de não ter os quadros adequadamente preparados poderá ser inaceitável, pois um acidente aéreo provoca danos, por vezes irreparáveis às vidas humanas e a materiais de alto valor agregado.  Brasília, DF, 1º de agosto de 2024.

 

¨      Mensageiro exclusivo do Exército, EBChat representa autonomia tecnológica ou risco à democracia?

O Exército Brasileiro criou um aplicativo de mensagens seguro para uso exclusivo de membros da Defesa, o EBChat. Ouvidos pela Sputnik Brasil, especialistas apontam que ainda que seu desenvolvimento seja importante para mitigar a dependência de empresas externas, dado o histórico das Forças Armadas, há alguns riscos envolvidos.

Assim como o Telegram e o WhatsApp (mensageiro da Meta, empresa cujas atividades são proibidas na Rússia por serem consideradas extremistas), o EBChat é um aplicativo de mensagens instantâneas.

Só que, de maneira geral, não é qualquer um que pode utilizá-lo. Seu uso está restrito a membros da Defesa brasileira. É possível baixá-lo nos aparelhos celulares Android e iOS, mas para criar uma conta é preciso vincular o número de telefone com um e-mail @eb.mil.br ou "outro domínio associado à comunidade da defesa brasileira", informa o site do aplicativo.

Criado pelo Centro de Desenvolvimento de Sistemas do Exército, o EBChat tem seu código baseado no Signal, "um dos mensageiros mais seguros", afirma Guilherme Neves, professor da pós-graduação em cibersegurança e da graduação em engenharia da computação do Ibmec Rio de Janeiro.

Assim como sua contraparte internacional, o EBChat não armazena as mensagens trocadas pelos usuários em seu servidor. Elas são criptografadas de ponta a ponta, de modo que não seja possível lê-las durante a transmissão. O único caso possível de armazenamento dentro da base de dados do EBChat é quando o destinatário está off-line, como ao desligar o telefone. Nessa ocasião, a mensagem fica guardada até que ele fique on-line.

"O detalhe é que o EBChat não é armazenado no servidor do Signal, ele é armazenado no servidor próprio do Exército."

Neves afirma que o uso de uma ferramenta autônoma para comunicação já está prevista na Estratégia Nacional de Defesa (END) do país, que diz ser essencial para "eliminar ou mitigar a dependência de fornecedores externos".

"Imagina se tivéssemos toda a mensageria focada no WhatsApp ou em qualquer outro software que rode em servidores estrangeiros. Se entrarmos em conflito com uma dessas nações, elas simplesmente desligam o meu serviço, e ficaríamos no escuro."

Dessa forma, explica o professor do Ibmec, fica garantida a confidencialidade e a independência de "infraestruturas, tecnologias e serviços de outras nações".

O aplicativo não é uma novidade das Forças Armadas do Brasil, afirma Guilherme Thudium, professor do Instituto de Ciência Política (Ipol) da Universidade de Brasília (UnB), que destacou que vários países têm adotado sistemas parecidos.

Um exemplo é a Alemanha, que "não deixa de investir em sistemas militares de comunicação segura, como é o caso da Encrypted Mobile Communication Solution (Emcos)".

Sistemas próprios de comunicações criptografadas tampouco são uma exclusividade das forças armadas mundo afora, diz o cientista político.

"Muitos tomadores de decisão mundo afora fazem uso de sistemas de comunicação criptografados e independentes das big techs, que detêm o monopólio das redes sociais."

·        Sigilo para quê?

Que nações espionam umas às outras não é nenhum segredo. No entanto, em 2013, o ex-agente da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden chocou o mundo ao revelar como os Estados Unidos usam de suas empresas de tecnologia (as big techs) para vigiar as comunicações globais.

Esse fato apenas reforça a necessidade de as Forças Armadas brasileiras terem um aplicativo seguro para realizar suas comunicações e se proteger de vazamentos e acessos por backdoors. "Muitos assuntos de Estado são sensíveis, especialmente os militares e os diplomáticos, e não devem ser publicizados", afirma Thudium.

De acordo com o pesquisador, cada vez mais se propaga na Defesa o conceito de "guerra cognitiva", na qual a informação e a comunicação se tornam "elementos cada vez mais fundamentais no modo de fazer a guerra".

Nesse sentido, a criação do EBChat é um avanço de "autonomia e soberania" das Forças Armadas e do país.

Contudo Adriana Marques, professora de defesa e gestão estratégica internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), contesta que ainda que o sigilo seja algo necessário às forças, ainda deve haver uma supervisão do poder civil.

Historicamente no Brasil e no restante da América Latina, as forças armadas se envolveram em uma série de mudanças forçadas de governos e tentativas de minar o poder democrático eleito, como exemplificado em casos recentes no país e na vizinha Bolívia.

No caso do Brasil, onde, segundo investigações, uma suposta articulação de golpe teria sido tramada por membros do alto escalão das Forças Armadas e do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), muitas das comunicações entre os indivíduos foram encontradas pela Polícia Federal no histórico das conversas de WhatsApp. Sem esse registro, "não teríamos como identificar esses golpistas", afirma Marques. "Por isso que é importante que haja transparência."

"É um problema eles desenvolverem essas atividades sem a devida supervisão civil, sem que as autoridades políticas estejam supervisionando o que está sendo feito."

Segundo a pesquisadora, já há instituições aptas a realizar essa supervisão. No Executivo há o Ministério da Defesa, enquanto no Legislativo ambas as casas, Câmara dos Deputados e Senado Federal, possuem suas comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional.

"Por que esse aplicativo está sendo utilizado agora e para que ele vai ser utilizado? Em que condições ele vai ser utilizado?", questiona Marques. "O Executivo e o Legislativo têm prerrogativas de atuar nesse sentido."

¨      Para comprar equipamentos, Defesa quer vender terrenos, mas Congresso está de olho em mansões de comandante e clubes

A Defesa está estudando alternativas para contornar o menor orçamento disponível nos últimos 10 anos e continuar investimento em equipamentos, como, por exemplo, no Programa de Desenvolvimento de Submarinos da Marinha.

A situação já era delicada, mas ficou ainda mais sensível após anúncio de corte de R$ 675,7 milhões da pasta anunciado no último dia 30 de julho pela equipe econômica do governo, liderada pela ministra do Planejamento Simone Tebet.

Uma das soluções apontadas, segundo reportagem da revista Veja deste sábado, 3 de agosto, é a venda de terrenos e imóveis de propriedade da União que são usados pelas Forças Armadas. De acordo com a SPU (Secretaria de Patrimônio da União) existem, atualmente, mais de 35 mil imóveis em posse dos militares.

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Entre esses imóveis há quarteis e bases militares, mas também mansões luxuosas de comandantes, clubes e estacionamentos.

A ideia das Forças é que os próprios militares indiquem quais locais são prioritários ou de interesse e, com isso, entrem na lista de venda ou concessão. Todo o recurso proveniente deve retornar para o orçamento do próprio Ministério da Defesa para investimentos em projetos estratégicos. Considerando uma venda média de 50 imóveis, R$ 4,5 bilhões de recursos extras por ano devem ingressar na pasta.

Entretanto, ainda segundo a Veja, o Congresso está mesmo de olho nas terras “privilegiadas” das Forças. Recentemente, o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e o ministro da Defesa José Múcio Monteiro teriam se reunido para discutir o assunto. 

Um dos articuladores da proposta ouvido por Veja afirma não ter dúvidas de que a proposta desencadeará em disputa por terras classificadas como “vantajosas demais” pra estar nas mãos dos militares. Um deles disse à reportagem:

“O comandante da Marinha tem uma casa em um morro de Salvador com uma baita vista. Há essa necessidade?”.

Caciques do Congresso também defendem o desalojamento de alguns comandos militares do centro do país para serem realocados em pontos de fronteira. Porém, a medida não deve acontecer num curto prazo.

 

Fonte:  Revista Sociedade Militar/Sputnik Brasil

 

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