5 perguntas e respostas sobre caso de
boxeadora argelina no centro de debate sobre gênero
A peso meio-médio
Imane Khelif, da Argélia, uma das duas boxeadoras envolvidas em uma polêmica
sobre gênero na Olimpíada de Paris-2024, garantiu ao menos a medalha de bronze
ao avançar para as semifinais no sábado (3/8).
Além dela, Lin
Yu-ting, peso-pena de Taiwan, também assegurou pelo menos a medalha de bronze
ao vencer sua oponente nas quartas de final no domingo (4/8).
Ambas foram
autorizadas a competir nos Jogos Olímpicos, apesar de terem sido
desqualificadas do Campeonato Mundial do ano passado por não atenderem aos
requisitos de elegibilidade de gênero.
A semifinal de Khelif
será contra a tailandesa Janjaem Suwannapheng na terça-feira (6/8), enquanto
Lin enfrentará a turca Esra Yildiz Kahraman na quarta-feira (7/8).
A argelina virou o
centro das atenções de uma polêmica sobre gênero quando derrotou a italiana
Angela Carini nas oitavas de final.
A luta terminou em 46
segundos após o abandono por parte de Carini, com críticas ao Comitê Olímpico
Internacional (COI) por permitir a inscrição de uma boxeadora que antes foi
considerada incapaz de atender aos critérios de elegibilidade de gênero.
Carini disse que
encerrou a luta para "preservar sua vida", mas depois pediu desculpas
à oponente argelina por não apertar sua mão ao fim da luta.
"Sinto muito pela
minha adversária também. Se o COI disse que ela pode lutar, eu respeito essa
decisão", afirmou Carini.
Carini lamentou não
ter cumprimentado Khelif depois da luta.
"Não era algo que
eu pretendia fazer", disse Carini. "Na verdade, quero pedir desculpas
a ela e a todos os outros. Fiquei com raiva porque minhas Olimpíadas viraram
fumaça."
Ela acrescentou que,
se encontrasse Khelif novamente, a "abraçaria".
Já Khelif, após sua
vitória, disse: "Estou aqui pelo ouro — luto com todo mundo."
A Associação
Internacional de Boxe (IBA), que antes foi a organizadora do boxe olímpico, tem
feito críticas à decisão do COI de permitir que as duas atletas competissem.
A seguir, a BBC
esclarece algumas questões sobre o assunto.
·
1 - Qual sexo consta
na certidão de nascimento de Khelif? Ela nasceu biologicamente masculina ou
feminina?
Khelif sempre competiu
na divisão feminina e é reconhecida pelo COI Internacional como uma atleta
feminina.
"A boxeadora
argelina nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher,
lutou boxe como mulher, tem um passaporte feminino", disse o porta-voz do
COI, Mark Adams, na sexta-feira.
"Este não é um
caso envolvendo transgênero. Houve alguma confusão de que, de alguma forma,
seria um homem lutando contra uma mulher. Este não é o caso. Sobre isso, há
consenso, cientificamente: este não é um homem lutando contra uma mulher."
Khelif falou sobre sua
experiência de crescer como uma menina na Argélia e o preconceito que enfrentou
jogando futebol ao lado de meninos.
"Não deixe que os
obstáculos entrem em seu caminho, resista a quaisquer obstáculos e
supere-os", disse ela em março de 2024. "Meu sonho é ganhar uma
medalha de ouro."
"Se eu ganhar,
mães e pais poderão ver até onde seus filhos podem ir. Eu particularmente quero
inspirar meninas e crianças que são desfavorecidas na Argélia."
Não há nenhuma
indicação de que Khelif não se identifique como mulher.
·
2 - Como é a carreira
dela no boxe até o momento?
Khelif luta boxe há
oito anos.
A argelina fez sua
estreia no cenário amador mundial aos 19 anos, quando ficou em 17º lugar no
Campeonato Mundial de 2018. Um ano depois, Khelif ficou em 19º no Campeonato
Mundial Feminino de Boxe.
Ela fez sua estreia
olímpica nos Jogos de 2020 em Tóquio. Lutando
na divisão leve de 60 kg, Khelif foi derrotada por 5 a 0 nas quartas de final
pela medalhista de ouro da Irlanda, Kellie Harrington.
Ela então se tornou a
primeira boxeadora argelina a ganhar uma medalha no Campeonato Mundial, ficando
com a prata em 2022 após perder a final para a irlandesa Amy Broadhurst, que
agora representa a Grã-Bretanha.
Em seguida, Khelif
venceu o Campeonato Africano de 2022 e os Jogos do Mediterrâneo de 2022.
Em 2023, ela ganhou o
ouro nos Jogos Árabes na divisão de 66 kg e garantiu sua vaga nos Jogos de 2024
ao derrotar Alcinda Panguana, de Moçambique, na final do torneio de
qualificação para as Olimpíadas Africanas no Senegal.
Até o momento, Khelif
lutou 51 vezes em sua carreira, vencendo 42 e perdendo nove. Seis dessas
vitórias foram por nocaute.
·
3 - Por que a vitória
de Khelif contra Carini foi controversa?
A vitória de Khelif
gerou controvérsia e críticas após Carini perder em apenas 46 segundos de luta.
A boxeadora italiana
disse ter abandonado a luta para "preservar sua vida". Depois, pediu
desculpas à oponente.
Muitas das críticas
decorrem da desqualificação de Khelif no Campeonato Mundial de 2023 em Nova
Déli, Índia.
Ela falhou em um teste
de elegibilidade de gênero conduzido pela Associação Internacional de Boxe
(IBA) horas antes de seu confronto pela medalha de ouro contra a chinesa Yang
Liu.
A argelina
inicialmente apelou da decisão ao Tribunal Arbitral do Esporte, mas depois
desistiu da apelação durante o processo.
A IBA, chefiada pela
Rússia, disse que Khelif "não atendeu aos critérios de elegibilidade para
participar da competição feminina, conforme definido e disposto nos
regulamentos da IBA".
De acordo com os
regulamentos da IBA: "Os boxeadores competirão contra boxeadores do mesmo
gênero, ou seja, mulheres contra mulheres e homens contra homens, conforme as
definições dessas regras".
A IBA define uma
mulher ou menina como "um indivíduo com cromossomos XX" e homens ou
meninos como "um indivíduo com cromossomos XY".
A IBA negou que os
níveis de testosterona de Khelif tenham sido testados.
Em uma entrevista com
o editor de esportes da BBC, Dan Roan, na quinta-feira, o presidente-executivo
da IBA, Chris Roberts, disse que cromossomos XY foram encontrados nos testes de
Imane Khelif e de Lin Yu-ting.
Mas Roberts disse que
havia "diferentes questões envolvidas nisso" e, portanto, o órgão não
poderia se comprometer a definir Khelif como "biologicamente
masculino".
O COI levantou dúvidas
sobre a precisão dos testes.
"Não sabemos qual
era o protocolo, não sabemos se o teste foi preciso, não sabemos se devemos
acreditar no teste", disse o porta-voz do COI.
"Há uma diferença
entre um teste ser realizado e aceitarmos a precisão ou mesmo o protocolo do
teste".
A BBC, até o momento,
não conseguiu determinar em que consistiam os testes de elegibilidade.
·
4 - O que mudou na
regulamentação e governança do boxe olímpico desde a decisão da IBA?
Ao contrário dos Jogos
anteriores, o boxe nas Olimpíadas de Tóquio foi organizado pelo COI, e não pela
IBA.
O COI suspendeu a IBA
em 2019 devido a preocupações com suas finanças, governança, ética, arbitragem
e julgamento.
Por não ter cumprido
as reformas exigidas estabelecidas pelo COI, a IBA foi destituída de seu status
como órgão regulador mundial do esporte em 2023.
Essa decisão foi
mantida em abril de 2024 pelo Tribunal Arbitral do Esporte após um recurso.
A decisão do COI de
destituir a IBA de seu status ocorreu quatro meses após o órgão desqualificar
Khelif e Lin Yu-ting do Campeonato Mundial de 2023.
Em 2021, o COI lançou
uma campanha sobre "Justiça, Inclusão e Não Discriminação com Base na
Identidade de Gênero e Variações Sexuais".
O documento estabelece
dez princípios - não regras - para os órgãos nacionais seguirem ao selecionar
atletas para os Jogos.
O COI disse que
"apoia a participação de qualquer atleta que tenha se qualificado e
cumprido os critérios de elegibilidade para competir nos Jogos Olímpicos,
conforme estabelecido por sua IF [Federação Internacional]. O COI não
discriminará um atleta que tenha se qualificado por meio de sua IF, com base em
sua identidade de gênero e/ou características sexuais".
·
5 - Quais testes são
realizados no boxe?
Em 2019, o COI delegou
a responsabilidade pela organização e gestão do controle de doping nas
Olimpíadas à Agência Internacional de Testes (ITA).
O COI disse que adotou
uma "política de tolerância zero" para qualquer pessoa encontrada
usando ou fornecendo produtos de doping.
Os testes incluem
determinar os níveis de testosterona de um atleta, mas não se reduzem a isso.
"Há muitas
mulheres com níveis mais altos de testosterona do que os homens", disse o
presidente-executivo da IBA, Roberts.
"Portanto, a
ideia de que um teste de testosterona é a bala de prata não é verdade."
·
O que as pessoas têm
dito
# "É
importante poder competir em igualdade de condições e, do meu ponto de vista,
não foi uma disputa equilibrada", -
Primeira-ministra italiana Giorgia Meloni.
# "Acho
que isso prejudicou o boxe olímpico em um momento crucial em que seu futuro
ainda está sendo discutido. É um desastre absoluto", Steve Bunce, comentarista do 5 Live
# "Se
você tem um boxeador que supera em muito a força de outro com base em critérios
de elegibilidade e testes, isso sugere que essa pessoa não é adequada para
estar na categoria feminina da competição", Chris Roberts, CEO da IBA
# "Eu
recomendaria que tentássemos tirar a guerra cultural disso e realmente
abordássemos as questões e as pessoas e pensássemos sobre as pessoas envolvidas
e o dano real que está sendo causado pela desinformação", Mark Adams, porta-voz do COI.
# "Foi
uma exibição incrivelmente desconfortável pelos 46 segundos que durou e sei que
há muita preocupação em relação às competidoras sobre se estamos encontrando o
equilíbrio certo não apenas no boxe, mas também em outros esportes", disse Lisa Nandy, Secretária de Estado da Cultura, Mídia e
Esporte do Reino Unido.
¨ Lutadora argelina sobre polêmica: "Sou mulher e continuarei
mulher"
A lutadora de boxe
Imane Khelif falou, pela primeira vez, sobre a polêmica em relação ao seu
gênero nas Olimpíadas de Paris-2024. Em declaração dada após vencer a húngara
Anna Luca Hamori, no sábado (3/8), Imane afirmou ser mulher.
“Quero dizer ao mundo
inteiro que sou mulher e continuarei mulher. Eu dedico esta medalha ao mundo e
a todos os árabes. E digo a vocês, vida longa à Argélia”, pontuou Imane.
As redes sociais e
alguns veículos de imprensa do mundo colocaram em pauta o gênero de Imane na
quinta-feira (1º/8), após a argelina vencer a italina Angela Carini, que
desistiu da luta após 46 segundos.
A polêmica de gênero
se baseou em um teste feito por Imane em 2023, para participar do Mundial de
Boxe. A Associação Internacional de Boxe (IBA, em inglês), organizadora do
evento, desclassificou a argelina por não passar em um “teste de gênero” feito
pela instituição. Outra boxeadora também foi reprovada e também compete em
Paris-2024: trata-se da taiwanesa Lin Yu-ting.
Não há explicação da
IBA sobre como o teste é feito. A instituição diz que o método é “confidencial”
e se limitou a dizer que Imane tem “vantagens comparadas com as outras
competidoras”.
O Comitê Olímpico
Internacional (COI) falou sobre o assunto e disse que um teste de testosterona
não é o ideal para comprovar o gênero de um atleta.
“O teste de
testosterona não é um teste perfeito. Muitas mulheres podem ter níveis de
testosterona iguais ou semelhantes aos dos homens, embora ainda sejam
mulheres", disse Mark Adams, porta-voz do COI, sobre o episódio de Imane e
Lin Yu-ting.
Além disso, o COI
afirmou que a IBA não é mais um órgão reconhecido como competente pelo comitê
desde 2023. O motivo é que a IBA apresentou falhas recorrentes relacionadas à
integridade e transparência da associação. A instituição chegou a ser acusada
de manipulação de resultados e corrupção.
• O que se sabe sobre a polêmica de gênero
com boxeadoras nas Olimpíadas
O boxe feminino nas
Olimpíadas de Paris 2024 está envolvido em uma polêmica sobre a elegibilidade
de duas atletas.
A argelina Imane
Khelif, de 25 anos, e a taiwanesa Lin Yu-ting, de 28 anos, já garantiram pelo
menos a medalha de bronze, mas ambas foram desqualificadas do Campeonato
Mundial do ano passado.
A Associação
Internacional de Boxe (IBA), que supervisionou o evento de 2023, afirmou que as
boxeadoras falharam nos testes de elegibilidade de gênero.
Na próxima
segunda-feira (5/8), a IBA realizará uma coletiva de imprensa para explicar
detalhadamente os motivos das desqualificações.
O Comitê Olímpico
Internacional (COI) expressou dúvidas sobre a confiabilidade dos testes e
sugeriu que a situação pode ser uma "guerra cultural às vezes
politicamente motivada".
Em junho de 2023, o
COI retirou da IBA seu status de órgão dirigente mundial do esporte devido a
preocupações com sua administração.
A seguir, perguntas e
respostas sobre o caso.
• O que é a IBA?
A IBA (Associação
Internacional do Boxe, na sua sigla em inglês), anteriormente conhecida como
AIBA, foi formada em 1946 como um órgão de governança mundial para o boxe
amador.
O COI reconheceu a IBA
como a entidade dirigente do esporte até 2019.
• Por que o COI parou de reconhecer a IBA?
Em 2019, o COI
suspendeu a IBA devido a problemas de governança e alegações de corrupção.
Isso levou à ameaça de
exclusão do boxe dos Jogos Olímpicos a partir de 2028.
• Quais foram as preocupações com a IBA?
Em 2018, a IBA baniu o
ex-presidente CK Wu e o ex-diretor executivo Ho Kim por "negligência grave
e má gestão financeira".
Wu, que havia liderado
a IBA por 11 anos, foi suspenso provisoriamente em outubro de 2017 e
substituído por Gafur Rakhimov, descrito pelo Departamento do Tesouro dos EUA
como "um dos principais criminosos do Uzbequistão".
Em 2020, Umar Kremlev,
da Rússia, foi eleito presidente.
Em 2022, uma
investigação independente revelou uma "cultura histórica de manipulação de
combates" e outras questões sérias de governança e ética.
• Quem é o atual presidente da IBA, Umar
Kremlev?
Kremlev, com laços
próximos ao Kremlin e apoio do gigante energético russo Gazprom, foi reeleito
em maio de 2022 sem oposição.
No entanto, o Tribunal
Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês) posteriormente concluiu que Boris
van der Vorst, um candidato rival, foi impedido injustamente de se candidatar,
mas a proposta de nova eleição foi rejeitada pelos delegados da IBA.
O COI expressou
"grande preocupação" com a situação.
• Qual foi o contexto do Campeonato
Mundial de Boxe da IBA em 2023?
O Campeonato Mundial
de 2023 ocorreu em dois países: o evento feminino foi realizado na Índia em
março e o masculino no Uzbequistão em abril e maio.
Dezenove países,
incluindo Grã-Bretanha e EUA, boicotaram os eventos após a IBA permitir que
boxeadores russos e bielorrussos competissem sob suas bandeiras, contrariando a
orientação do COI após a invasão da Ucrânia.
Kremlev criticou
severamente os boicotes.
• O que aconteceu com Khelif e Lin nos
Mundiais de 2023?
No Campeonato Mundial
de 2023, Khelif competiu na categoria meio-médio e Lin na categoria peso-pena.
Horas antes de
disputar a medalha de ouro contra a chinesa Yang Liu, a IBA disse que Khelif
havia sido reprovada no teste de elegibilidade de gênero.
Khelif havia derrotado
Janjaem Suwannapheng, da Tailândia, na semifinal, Navbakhor Khamidova, do
Uzbequistão, nas quartas de final, e Azalia Amineva, da Rússia, na rodada
anterior.
Como resultado da
desqualificação de Khelif, a russa Amineva, de 21 anos, teve a única derrota em
sua carreira de 22 lutas removida de seu currículo.
No mesmo Campeonato
Mundial de 2023, Lin perdeu a medalha de bronze da IBA.
A IBA disse que as
boxeadoras "não cumpriram os critérios de elegibilidade para participar da
competição feminina, conforme estabelecido e disposto nos regulamentos da
IBA".
• O que sabemos sobre os testes?
Não se sabe exatamente
o que consistiam os testes de elegibilidade, nem como foram supervisionados.
O CEO da IBA, Chris
Roberts, afirmou que cromossomos XY masculinos foram encontrados nos dois
casos.
Ele disse que havia
"diferentes vertentes envolvidas nisso" e, portanto, o órgão não
poderia se comprometer a se referir às boxeadoras como "biologicamente
masculinas".
O COI levantou dúvidas
sobre a precisão e o protocolo dos testes.
"Não sabemos qual
foi o protocolo, não sabemos se o teste foi preciso, não sabemos se devemos
acreditar no teste", disse o porta-voz do COI, Mark Adams.
"Há uma diferença
entre a realização de um teste e se aceitamos a precisão ou mesmo o protocolo
do teste."
• Qual foi a reação do COI e da IBA aos
testes de 2023?
Em um comunicado na
quinta-feira (1/8), o COI disse que Khelif e Lin foram "vítimas de uma
decisão repentina e arbitrária da IBA".
"Perto do final
do Campeonato Mundial da IBA em 2023, elas foram repentinamente
desclassificadas sem qualquer processo devido", disse o COI.
"Segundo as atas
da IBA disponíveis em seu site, essa decisão foi inicialmente tomada somente
pelo secretário-geral e CEO da IBA. O conselho da IBA só a ratificou depois e
só posteriormente solicitou que um procedimento a ser seguido em casos semelhantes
no futuro fosse estabelecido e refletido nos regulamentos da IBA. As atas
também dizem que a IBA deve 'estabelecer um procedimento claro sobre testes de
gênero'.
"A atual agressão
contra essas duas atletas se baseia inteiramente nessa decisão arbitrária, que
foi tomada sem nenhum procedimento adequado — especialmente considerando que
essas atletas competem em competições de alto nível há muitos anos¬.
"Tal abordagem é
contrária à boa governança."
A IBA insistiu que sua
decisão era "necessária para manter o nível de justiça e a máxima
integridade da competição".
E acrescentou em uma
declaração no início desta semana: "As atletas não passaram por um exame
de testosterona, mas foram submetidas a um teste separado e reconhecido, no
qual os detalhes permanecem confidenciais. Este teste indicou conclusivamente que
ambas as atletas não atendiam aos critérios de elegibilidade necessários e
foram consideradas como tendo vantagens competitivas sobre outras competidoras
femininas."
A IBA disse que Lin
não recorreu da decisão da IBA para o CAS, enquanto Khelif retirou o recurso,
"tornando assim as decisões juridicamente vinculativas".
• O que aconteceu com a IBA após o
Campeonato Mundial de 2023?
Em junho de 2023, 69
das 70 federações olímpicas votaram para retirar da IBA seu status.
Antes da votação, o
presidente do COI, Thomas Bach, disse: "Não temos um problema com o boxe.
Não temos um problema com os boxeadores".
"Os boxeadores
merecem totalmente ser governados por uma federação internacional com
integridade e transparência."
Em resposta, a IBA
acusou o COI de cometer um "erro tremendo" e comparou a ação às ações
da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.
Um comunicado da IBA
dizia: "Implementamos com sucesso todas as recomendações descritas pelo
COI em seu plano de ação".
"Apesar dos
desafios, a IBA continua comprometida com o desenvolvimento do boxe e a
organização de torneios oficiais e campeonatos mundiais de boxe no mais alto
nível".
"Não podemos
ocultar o fato de que a decisão de hoje é catastrófica para o boxe global e
contradiz flagrantemente as alegações do COI de agir no melhor interesse do
boxe e dos atletas."
O CAS rejeitou um
apelo da IBA contra a decisão.
• Um novo órgão dirigente para o boxe
olímpico?
Um novo órgão, World
Boxing, foi criado em abril de 2023.
Entre os cinco
compromissos, a nova organização afirma que irá "manter o boxe no centro
do movimento olímpico" e "garantir que os interesses dos boxeadores
sejam priorizados".
Um dos principais
objetivos é manter o boxe como esporte olímpico após ter sido provisoriamente
excluído dos Jogos de 2028 devido aos problemas da IBA.
No entanto, a
organização ainda está em discussões com o COI para obter reconhecimento como o
órgão dirigente mundial do esporte.
Ela é apoiada por
representantes do Reino Unido, Alemanha, Países Baixos, Nova Zelândia,
Filipinas, Suécia e Estados Unidos.
A IBA afirmou
anteriormente que "condena fortemente" a criação de uma organização
"dissidente", acrescentando que "iniciou uma série de ações para
proteger sua autonomia como órgão dirigente oficial mundial".
• Como o boxe olímpico tem sido governado
em meio a tudo isso?
Ao contrário das
edições anteriores, o boxe nos Jogos Olímpicos de Tóquio foi organizado pelo
COI, e não pela IBA.
Em 2019, o COI delegou
a responsabilidade pela organização e gestão do controle de doping nos Jogos
Olímpicos à Agência Internacional de Testes (ITA).
O COI afirmou que
adotou uma "política de tolerância zero" para qualquer pessoa que for
encontrada usando ou fornecendo produtos de doping.
Os testes incluem, mas
não se limitam, à determinação dos níveis de testosterona de um atleta.
• Qual é a posição do COI sobre a
elegibilidade para o esporte feminino?
No final de 2021, o
COI emitiu novas orientações sobre atletas trans no esporte feminino.
Isso colocou a
responsabilidade nas federações individuais para determinar os critérios de
elegibilidade em seu esporte.
O framework surgiu
após os Jogos de Tóquio 2020, quando a levantadora de peso Laurel Hubbard se
tornou a primeira atleta trans a competir nas Olimpíadas em uma categoria de
gênero diferente da que nasceu.
Embora o COI tenha
afirmado que não deve haver suposições de que um atleta trans tenha
automaticamente uma vantagem injusta em eventos femininos, emitiu um documento
de 10 pontos que esperava que cada esporte aplicasse antes de Paris 2024.
Desde então, muitos
esportes proibiram mulheres trans de participar do esporte feminino, como
atletismo, natação e ambos os códigos de rúgbi.
No entanto, as regras
foram aplicadas de forma diferente, então há esportes em que mulheres trans ou
atletas com Transtornos do Desenvolvimento Sexual (DDS) podem competir.
O boxe é um desses
esportes, já que o COI, que tem supervisionado o boxe olímpico, não atualizou
as regras de critérios de elegibilidade desde Tóquio 2020.
O COI disse que
"apoia a participação de qualquer atleta que tenha se qualificado e
atendido aos critérios de elegibilidade para competir nos Jogos Olímpicos,
conforme estabelecido por sua IF (federação internacional). O COI não
discriminara um atleta que tenha se qualificado por sua IF, com base em sua
identidade de gênero e/ou características sexuais."
• Como os resultados dos testes de Khelif
e Lin vieram à tona?
Ambos os casos foram
noticiados no ano passado em torno do Campeonato Mundial, embora não amplamente
na Europa ou nos EUA devido aos boicotes ao evento.
O COI incluiu os
detalhes no portal de informações da mídia antes de Paris 2024, embora isso
tenha sido posteriormente removido.
Dada a maior atenção
ao esporte feminino e aos atletas trans ou pessoas com DDS, a mídia destacou a
afirmação do COI de que atletas que haviam falhado nos testes estavam prestes a
competir na divisão feminina.
Desde então, o COI
insistiu que as boxeadoras eram "nascidas mulheres e criadas como
mulheres", mas a IBA continuou insistindo que seus testes sugerem que a
elegibilidade delas para o boxe feminino está em questão.
• O que vem a seguir?
A IBA realizará uma
coletiva de imprensa na segunda-feira para fornecer mais detalhes sobre os
testes do Campeonato Mundial de 2023.
Khelif e Lin devem
disputar suas lutas de semifinal na terça (6/8) e quarta-feira (7/8),
respectivamente, com possibilidade de avançar para conquistar a medalha de
ouro.
Fonte: BBC News Brasil/Correio
Braziliense
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