Pressionado por todos os lados, Netanyahu endurece
discurso
O ambiente mais
tranquilo em que Benjamin Netanyahu esteve nos últimos dias parece ter sido o
centro cirúrgico onde foi submetido a uma cirurgia de hérnia. Tanto partidários
quanto opositores se encontram em um lugar comum e atiçam a fervura do
primeiro-ministro de Israel num caldeirão explosivo — duplamente
pressionado pela antecipação de eleições gerais e pela crise deflagrada em sua
coligação extremista pelo recrutamento de ultraortodoxos ao serviço militar.
Multidões se aglomeram
desde domingo (31) do lado de fora do Parlamento, em Jerusalém, exigindo a
saída do premiê, por gerir mal a guerra contra o Hamas e abandonar os reféns em
Gaza.
Os bairros religiosos
da cidade registraram um protesto menor, mas muito significativo
porque ameaça diretamente romper a aliança de Netanyahu com seus parceiros
ultraortodoxos.
Na semana passada,
o Supremo Tribunal suspendeu os subsídios que mantinham os judeus
ultraortodoxos em escolas religiosas em vez de servirem nas Forças
Armadas, alimentando a frustração deste setor da sociedade com o
primeiro-ministro.
Este foco de tensão
permanente na sociedade israelense, entre os grupos seculares e os religiosos,
se acirrou com as benesses concedidas pelo governo aos ultraortodoxos.
Os protestos massivos
contra Netanyahu ocorrem durante a mais longa guerra israelense desde a sua
independência e que até agora ajudou-o a manter-se no comando do país. Famílias
dos reféns mudaram a agenda central das manifestações semanais e exigem também
a renúncia do primeiro-ministro.
Era tudo o que ele não
precisava, numa altura em que Israel se isolou internacionalmente e virou
alvo de ataques antissemitas. “Como qualquer ditador assustado, Netanyahu
recorreu à tática habitual de acusar os seus oponentes políticos de ajudarem o
inimigo”, ponderou o colunista Yossi Verter, do “Haaretz”.
O premiê sustenta
que os protestos servem apenas ao Hamas e que as eleições paralisarão o
país e interromperão as negociações para o retorno dos reféns.
“Esta é uma mentira
descarada e cínica (especialmente quando se trata de alguém que arrastou Israel
a quatro eleições em dois anos)”, escreveu Verter, para quem Netanyahu está
interessado apenas na própria sobrevivência política, a qualquer preço.
O retorno de multidões
em Israel pedindo a renúncia do premiê — interrompido pelo massacre do Hamas no
sul do país e pela guerra contra o Hamas em Gaza — é um fator desestabilizador
para Netanyahu. Ele já começou a jogar contra isso, endurecendo o discurso.
Ainda no hospital,
avisou que agiria imediatamente à aprovação de uma lei controversa,
que permite ao governo fechar temporariamente meios de comunicação
estrangeiros no país.
O premiê copia os
modelos ditados por Vladimir Putin, na Rússia, e Viktor Orbán, na Hungria,
cerceando a liberdade de imprensa em nome da segurança nacional. É assim que
agem os autocratas.
¨ Ataque israelense ao consulado do Irã na Síria: que
consequências podem surgir no horizonte?
O presidente iraniano
Ebrahim Raisi classificou anteriormente o ataque como um "crime
injusto" cometido pelo Estado judeu, advertindo que tal ação "não
ficará sem resposta". A Rússia, por sua vez, condenou o ataque aéreo como
"completamente inaceitável".
Há pelo menos três
fatores principais que provam que o ataque aéreo de Israel a uma missão
consular iraniana na Síria, na segunda-feira (1º), é uma violação flagrante do
direito internacional, disse o ex-subsecretário-geral da ONU e ex-vice-ministro
das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ordzhonikidze, à Sputnik.
Em primeiro lugar,
"é um ataque no território de um Estado vizinho, com o qual, aliás, Israel
não está em guerra, por isso pode ser considerada uma ação agressiva do Estado
judeu", disse Ordzhonikidze.
Em segundo lugar,
acrescentou, "Israel lançou o ataque a um edifício que está sob imunidade
diplomática e consular".
Por último, mas não
menos importante, "Tel Aviv eliminou um general que servia como
funcionário do governo, o que significa que o Estado judeu realmente conduziu
um ato terrorista", segundo o ex-vice-ministro das Relações Exteriores da
Rússia.
"Israel atacou
essencialmente dois países, a Síria e o Irã, com este único ataque. Isso está
repleto de perigo no sentido de que se tornará um bumerangue e poderá
eventualmente se transformar em uma bola de neve, em um grande confronto",
alertou Ordzhonikidze.
Quando questionado
sobre a razão pela qual pensa que Israel realiza tais ações, Ordzhonikidze
argumentou que Tel Aviv tem a certeza de que permanecerá impune, ou seja, está
confiante na sua impunidade.
"Acredito que
esta é a autoconfiança de um poder que não tem motivos sérios. Eles não
deveriam pensar assim. Afinal, as suas propriedades e os seus cidadãos poderiam
ser atacados, não apenas em Israel, mas também em terceiros países [como um
resultado de uma possível retaliação]", observou o ex-subsecretário-geral
da ONU.
Insistindo na razão
pela qual os países ocidentais ainda não sancionaram Tel Aviv pelo ataque,
Ordzhonikidze sugeriu que o Ocidente está atualmente tentando
"formular" a sua posição e que a reação nula poderia ser irrelevante
e poderia significar "o mais flagrante encobrimento de ações
agressivas".
No geral, o Ocidente
coletivo costumava fechar os olhos a toda e qualquer ação de Israel porque
"a Europa Ocidental não tem uma política externa independente" e
"eles se alinham em sincronia com o comando de Washington", de acordo
com o diplomata russo.
Na noite de
segunda-feira, o Ministério da Defesa sírio relatou um ataque aéreo da Força
Aérea israelense ao Consulado-Geral do Irã em Damasco, que matou pelo menos 11
pessoas. O número de mortos inclui sete oficiais do Corpo de Guardiões da
Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) do Irã, entre eles o general
Mohammad Reza Zahedi, comandante da Força Quds do IRGC na Síria e no Líbano, e
o seu subcomandante, Mohammad Hadi Hajizadeh.
O presidente iraniano
Ebrahim Raisi advertiu que "o regime sionista [Israel] deve ter em mente
que não será capaz de alcançar os seus objetivos sinistros com medidas tão
desumanas" e que Teerã responderá na mesma moeda.
O Ministério das
Relações Exteriores russo afirmou que Moscou condena "fortemente" o
ataque à missão consular iraniana na Síria, o que é absolutamente
"inaceitável".
¨ EUA 'desconheciam' planos de Israel para atingir o consulado do
Irã em Damasco, diz mídia
Os Estados Unidos
informaram o Irã que Washington "não tinha envolvimento" ou
conhecimento prévio de um ataque mortal israelense a uma instalação diplomática
iraniana na capital síria, informou o Axios nesta terça-feira (2), citando
autoridades norte-americanas não identificadas familiarizadas com o assunto.
Na segunda-feira (1º),
Israel realizou um ataque aéreo ao edifício do Consulado-Geral do Irã em
Damasco, destruindo o edifício. O Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica
(IRGC, na sigla em inglês) confirmou que o ataque israelense ao edifício do
Consulado-Geral iraniano em Damasco matou dois generais do IRGC e cinco
oficiais.
Os EUA "não
tiveram envolvimento no ataque [israelense] e não sabíamos disso com
antecedência", disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional ao
portal de notícias.
Washington afirmou
ainda que "comunicou isso diretamente ao Irã", disse um alto
funcionário dos EUA, citado pela apuração.
Israel teria
notificado a administração do presidente dos EUA, Joe Biden, "alguns
minutos antes de sua força aérea conduzir o ataque", mas não pediu luz
verde aos EUA. Israel não informou aos EUA que estava planejando bombardear um
prédio no complexo da embaixada iraniana, disse a mídia.
A ex-subsecretária de
Assuntos Políticos dos EUA, Victoria Nuland, disse que Washington deveria estar
preocupado com as possíveis consequências do ataque israelense ao edifício do
Consulado-Geral do Irã em Damasco, acrescentando que o incidente poderia levar
a uma nova escalada na crise no Oriente Médio.
Ø 'Acontece em guerras', diz Netanyahu sobre ataque que matou 7 de
ONG de chef condecorado por Obama
O primeiro-ministro
de Israel, Benjamin Netanyahu, reconheceu nesta
terça-feira (2) que o ataque que matou sete membros da ONG World Central Kitchen
na Faixa de Gaza partiu do Exército israelense.
"Infelizmente, no
último dia houve um caso trágico em que as nossas forças atingiram
involuntariamente pessoas inocentes na Faixa
de Gaza. Acontece em guerras, e estamos
verificando até o fim, estamos em contato com os governos, e tudo faremos para
que isso não aconteça novamente", declarou o premiê.
O ataque ocorreu na
segunda-feira (1º). A organização, criada nos Estados Unidos pelo chef
espanhol José Andrés, famoso nos EUA, havia levado uma carga de alimentos por
navio ao território palestino horas antes do bombardeio.
Segundo a ONG, entre
os mortos há três cidadãos do Reino Unido, um da Austrália, um dos Estados
Unidos, um da Polônia, e um palestino.
A World Central
Kitchen é uma das mais atuantes em Gaza e, há duas semanas, envio o primeiro navio com ajuda humanitária ao
território, em uma parceria com a ONG Open Arms, que
resgata migrantes naufragados no mar Mediterrâneo. A WCK disse que vai
pausar as operações de ajuda na região.
Os dois veículos que
transportavam as vítimas e que foram atingido tinham no teto o logo e o nome da
ONG desenhados (veja imagem acima) e circulava sozinho em uma via de uma
área sem conflitos. Em comunicado, a World Central Kitchen frisou que os carros
eram blindados e estavam identificados.
Após o episódio, o
Ministro da Defesa de Israel anunciou que abrirá uma sala de situação para
coordenar a distribuição de ajuda humanitária em Gaza em conjunto com
"grupos internacionais".
As Forças Armadas de
Israel também emitiram uma nota nesta terça admitindo a culpa e afirmando
que o ataque foi um "trágico resultado" de um bombardeio israelense.
Em mensagem de vídeo nesta terça-feira (2), o porta-voz do Exército disse ter
ligado para o chef espanhol José Andrés para expressar "os mais profundos
sentimentos".
O chef espanhol José
Andrés afirmou que a ONG perdeu "diversas irmãs e irmãos em um ataque das
Forças de Defesa de Israel na Faixa de Gaza". "É uma tragédia.
Trabalhadores de organizações humanitárias e civis nunca deveriam ser um alvo.
Nunca", disse Andrés.
O chef espanhol é
famoso nos Estados Unidos por atuar em diversos programas de TV, realizar
trabalhos de distribuição de comida e ter sido condecorado pelo ex-presidente
dos EUA Barack Obama com uma medalha de serviços humanitários do governo
norte-americano.
“Este não é apenas um
ataque contra a World Central Kitchen, é um ataque a organizações humanitárias
que se apresentam nas situações mais terríveis, em que os alimentos são usados como arma de guerra. Isso é imperdoável”, disse o CEO da ONG, Erin Gore.
·
Resposta é 'insuficiente', dizem EUA
O caso gerou repercussão
também entre líderes e autoridades mundiais.
O secretário de Estado
dos Estados Unidos, Antony Blinken, chamou a resposta de Israel de
"insuficiente" e disse que a World Central Kitchen "estava
fazendo um trabalho extraordinário" em Gaza. "Os funcionários de
organizações de ajuda humanitária têm de ser protegidos", afirmou.
O primeiro-ministro
britânico, Rishi Sunak, afirmou estar "chocado" com o ataque. Já o
premiê espanhol, Pedro Sánchez, se disse "horrorizado", e o
primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, cobrou de Israel explicações
-- uma das vítimas era uma funcionária australiana da ONG.
·
Entrega de alimentos
Embarcações atracam em
estrutura flutuante com ajuda humanitária transportada por navio de ONG
espanhola, que chegou na Faixa de Gaza em 15 de março de 2024. — Foto: Forças
Armadas de Israel
Os funcionários da ONG
haviam acabado de levar comida e outros itens de ajuda humanitária ao norte da
Faixa de Gaza, onde a população está à beira de uma crise de fome. Imagens em
vídeo gravadas em um hospital na cidade de Deir al-Balah, na Faixa de Gaza,
mostram que alguns deles estavam com itens de proteção que tinham o logotipo da
ONG.
Nesta semana, a World
Central Kitchen enviou um navio com cerca de 400 toneladas de comida e itens de
ajuda humanitária à Faixa de Gaza. O carregamento foi organizado pelos Emirados
Árabes Unidos e deve chegar na semana que vem à costa de Gaza.
No mês passado,
a ONG enviou a primeira entrega, com 200 toneladas e que reabriu a rota marítima a Gaza, que estava fechada
por determinação de Israel.
A ONU tem uma agência
especializada em atender os palestinos que atua na Faixa de Gaza, mas Israel
proibiu essa entidade de fazer entregas no norte do território. Outros grupos
de ajuda afirmam que enviar comboios de caminhões para o norte tem sido muito
perigoso devido à falta de garantia de segurança por parte do exército.
·
Campanha militar em hospital
O ataque aconteceu
horas depois de as forças de Israel finalizarem um período de duas semanas de
ações militares no hospital Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza. O hospital
ficou destruído, e uma parte do prédio foi reduzida a cinzas.
Os militares afirmaram
ter matado 200 militantes do Hamas durante a permanência no hospital, mas as
principais agências de notícias não conseguiram confirmar se todos realmente
pertenciam ao grupo terrorista.
O governo local,
controlado pelo Hamas, disse ter retirado corpos de civis dos destroços.
Fonte: g1/Sputnik
Brasil
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