quarta-feira, 3 de abril de 2024

Pressionado por todos os lados, Netanyahu endurece discurso

O ambiente mais tranquilo em que Benjamin Netanyahu esteve nos últimos dias parece ter sido o centro cirúrgico onde foi submetido a uma cirurgia de hérnia. Tanto partidários quanto opositores se encontram em um lugar comum e atiçam a fervura do primeiro-ministro de Israel num caldeirão explosivo — duplamente pressionado pela antecipação de eleições gerais e pela crise deflagrada em sua coligação extremista pelo recrutamento de ultraortodoxos ao serviço militar.

Multidões se aglomeram desde domingo (31) do lado de fora do Parlamento, em Jerusalém, exigindo a saída do premiê, por gerir mal a guerra contra o Hamas e abandonar os reféns em Gaza.

Os bairros religiosos da cidade registraram um protesto menor, mas muito significativo porque ameaça diretamente romper a aliança de Netanyahu com seus parceiros ultraortodoxos.

Na semana passada, o Supremo Tribunal suspendeu os subsídios que mantinham os judeus ultraortodoxos em escolas religiosas em vez de servirem nas Forças Armadas, alimentando a frustração deste setor da sociedade com o primeiro-ministro.

Este foco de tensão permanente na sociedade israelense, entre os grupos seculares e os religiosos, se acirrou com as benesses concedidas pelo governo aos ultraortodoxos.

Os protestos massivos contra Netanyahu ocorrem durante a mais longa guerra israelense desde a sua independência e que até agora ajudou-o a manter-se no comando do país. Famílias dos reféns mudaram a agenda central das manifestações semanais e exigem também a renúncia do primeiro-ministro.

Era tudo o que ele não precisava, numa altura em que Israel se isolou internacionalmente e virou alvo de ataques antissemitas. “Como qualquer ditador assustado, Netanyahu recorreu à tática habitual de acusar os seus oponentes políticos de ajudarem o inimigo”, ponderou o colunista Yossi Verter, do “Haaretz”.

O premiê sustenta que os protestos servem apenas ao Hamas e que as eleições paralisarão o país e interromperão as negociações para o retorno dos reféns.

“Esta é uma mentira descarada e cínica (especialmente quando se trata de alguém que arrastou Israel a quatro eleições em dois anos)”, escreveu Verter, para quem Netanyahu está interessado apenas na própria sobrevivência política, a qualquer preço.

O retorno de multidões em Israel pedindo a renúncia do premiê — interrompido pelo massacre do Hamas no sul do país e pela guerra contra o Hamas em Gaza — é um fator desestabilizador para Netanyahu. Ele já começou a jogar contra isso, endurecendo o discurso.

Ainda no hospital, avisou que agiria imediatamente à aprovação de uma lei controversa, que permite ao governo fechar temporariamente meios de comunicação estrangeiros no país.

Netanyahu nomeou a rede al-Jazeera como “porta-voz do Hamas” e anunciou que usaria a nova lei para bloquear as transmissões e atividades em Israel.

O premiê copia os modelos ditados por Vladimir Putin, na Rússia, e Viktor Orbán, na Hungria, cerceando a liberdade de imprensa em nome da segurança nacional. É assim que agem os autocratas.

¨      Ataque israelense ao consulado do Irã na Síria: que consequências podem surgir no horizonte?

O presidente iraniano Ebrahim Raisi classificou anteriormente o ataque como um "crime injusto" cometido pelo Estado judeu, advertindo que tal ação "não ficará sem resposta". A Rússia, por sua vez, condenou o ataque aéreo como "completamente inaceitável".

Há pelo menos três fatores principais que provam que o ataque aéreo de Israel a uma missão consular iraniana na Síria, na segunda-feira (1º), é uma violação flagrante do direito internacional, disse o ex-subsecretário-geral da ONU e ex-vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ordzhonikidze, à Sputnik.

Em primeiro lugar, "é um ataque no território de um Estado vizinho, com o qual, aliás, Israel não está em guerra, por isso pode ser considerada uma ação agressiva do Estado judeu", disse Ordzhonikidze.

Em segundo lugar, acrescentou, "Israel lançou o ataque a um edifício que está sob imunidade diplomática e consular".

Por último, mas não menos importante, "Tel Aviv eliminou um general que servia como funcionário do governo, o que significa que o Estado judeu realmente conduziu um ato terrorista", segundo o ex-vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia.

"Israel atacou essencialmente dois países, a Síria e o Irã, com este único ataque. Isso está repleto de perigo no sentido de que se tornará um bumerangue e poderá eventualmente se transformar em uma bola de neve, em um grande confronto", alertou Ordzhonikidze.

Quando questionado sobre a razão pela qual pensa que Israel realiza tais ações, Ordzhonikidze argumentou que Tel Aviv tem a certeza de que permanecerá impune, ou seja, está confiante na sua impunidade.

"Acredito que esta é a autoconfiança de um poder que não tem motivos sérios. Eles não deveriam pensar assim. Afinal, as suas propriedades e os seus cidadãos poderiam ser atacados, não apenas em Israel, mas também em terceiros países [como um resultado de uma possível retaliação]", observou o ex-subsecretário-geral da ONU.

Insistindo na razão pela qual os países ocidentais ainda não sancionaram Tel Aviv pelo ataque, Ordzhonikidze sugeriu que o Ocidente está atualmente tentando "formular" a sua posição e que a reação nula poderia ser irrelevante e poderia significar "o mais flagrante encobrimento de ações agressivas".

No geral, o Ocidente coletivo costumava fechar os olhos a toda e qualquer ação de Israel porque "a Europa Ocidental não tem uma política externa independente" e "eles se alinham em sincronia com o comando de Washington", de acordo com o diplomata russo.

Na noite de segunda-feira, o Ministério da Defesa sírio relatou um ataque aéreo da Força Aérea israelense ao Consulado-Geral do Irã em Damasco, que matou pelo menos 11 pessoas. O número de mortos inclui sete oficiais do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) do Irã, entre eles o general Mohammad Reza Zahedi, comandante da Força Quds do IRGC na Síria e no Líbano, e o seu subcomandante, Mohammad Hadi Hajizadeh.

O presidente iraniano Ebrahim Raisi advertiu que "o regime sionista [Israel] deve ter em mente que não será capaz de alcançar os seus objetivos sinistros com medidas tão desumanas" e que Teerã responderá na mesma moeda.

O Ministério das Relações Exteriores russo afirmou que Moscou condena "fortemente" o ataque à missão consular iraniana na Síria, o que é absolutamente "inaceitável".

¨      EUA 'desconheciam' planos de Israel para atingir o consulado do Irã em Damasco, diz mídia

Os Estados Unidos informaram o Irã que Washington "não tinha envolvimento" ou conhecimento prévio de um ataque mortal israelense a uma instalação diplomática iraniana na capital síria, informou o Axios nesta terça-feira (2), citando autoridades norte-americanas não identificadas familiarizadas com o assunto.

Na segunda-feira (1º), Israel realizou um ataque aéreo ao edifício do Consulado-Geral do Irã em Damasco, destruindo o edifício. O Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) confirmou que o ataque israelense ao edifício do Consulado-Geral iraniano em Damasco matou dois generais do IRGC e cinco oficiais.

Os EUA "não tiveram envolvimento no ataque [israelense] e não sabíamos disso com antecedência", disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional ao portal de notícias.

Washington afirmou ainda que "comunicou isso diretamente ao Irã", disse um alto funcionário dos EUA, citado pela apuração.

Israel teria notificado a administração do presidente dos EUA, Joe Biden, "alguns minutos antes de sua força aérea conduzir o ataque", mas não pediu luz verde aos EUA. Israel não informou aos EUA que estava planejando bombardear um prédio no complexo da embaixada iraniana, disse a mídia.

A ex-subsecretária de Assuntos Políticos dos EUA, Victoria Nuland, disse que Washington deveria estar preocupado com as possíveis consequências do ataque israelense ao edifício do Consulado-Geral do Irã em Damasco, acrescentando que o incidente poderia levar a uma nova escalada na crise no Oriente Médio.

 

Ø  'Acontece em guerras', diz Netanyahu sobre ataque que matou 7 de ONG de chef condecorado por Obama

 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reconheceu nesta terça-feira (2) que o ataque que matou sete membros da ONG World Central Kitchen na Faixa de Gaza partiu do Exército israelense.

"Infelizmente, no último dia houve um caso trágico em que as nossas forças atingiram involuntariamente pessoas inocentes na Faixa de Gaza. Acontece em guerras, e estamos verificando até o fim, estamos em contato com os governos, e tudo faremos para que isso não aconteça novamente", declarou o premiê.

O ataque ocorreu na segunda-feira (1º). A organização, criada nos Estados Unidos pelo chef espanhol José Andrés, famoso nos EUA, havia levado uma carga de alimentos por navio ao território palestino horas antes do bombardeio.

Segundo a ONG, entre os mortos há três cidadãos do Reino Unido, um da Austrália, um dos Estados Unidos, um da Polônia, e um palestino.

A World Central Kitchen é uma das mais atuantes em Gaza e, há duas semanas, envio o primeiro navio com ajuda humanitária ao território, em uma parceria com a ONG Open Arms, que resgata migrantes naufragados no mar Mediterrâneo. A WCK disse que vai pausar as operações de ajuda na região.

Os dois veículos que transportavam as vítimas e que foram atingido tinham no teto o logo e o nome da ONG desenhados (veja imagem acima) e circulava sozinho em uma via de uma área sem conflitos. Em comunicado, a World Central Kitchen frisou que os carros eram blindados e estavam identificados.

Após o episódio, o Ministro da Defesa de Israel anunciou que abrirá uma sala de situação para coordenar a distribuição de ajuda humanitária em Gaza em conjunto com "grupos internacionais".

As Forças Armadas de Israel também emitiram uma nota nesta terça admitindo a culpa e afirmando que o ataque foi um "trágico resultado" de um bombardeio israelense. Em mensagem de vídeo nesta terça-feira (2), o porta-voz do Exército disse ter ligado para o chef espanhol José Andrés para expressar "os mais profundos sentimentos".

O chef espanhol José Andrés afirmou que a ONG perdeu "diversas irmãs e irmãos em um ataque das Forças de Defesa de Israel na Faixa de Gaza". "É uma tragédia. Trabalhadores de organizações humanitárias e civis nunca deveriam ser um alvo. Nunca", disse Andrés.

O chef espanhol é famoso nos Estados Unidos por atuar em diversos programas de TV, realizar trabalhos de distribuição de comida e ter sido condecorado pelo ex-presidente dos EUA Barack Obama com uma medalha de serviços humanitários do governo norte-americano.

“Este não é apenas um ataque contra a World Central Kitchen, é um ataque a organizações humanitárias que se apresentam nas situações mais terríveis, em que os alimentos são usados ​​como arma de guerra. Isso é imperdoável, disse o CEO da ONG, Erin Gore.

·        Resposta é 'insuficiente', dizem EUA

O caso gerou repercussão também entre líderes e autoridades mundiais.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, chamou a resposta de Israel de "insuficiente" e disse que a World Central Kitchen "estava fazendo um trabalho extraordinário" em Gaza. "Os funcionários de organizações de ajuda humanitária têm de ser protegidos", afirmou.

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, afirmou estar "chocado" com o ataque. Já o premiê espanhol, Pedro Sánchez, se disse "horrorizado", e o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, cobrou de Israel explicações -- uma das vítimas era uma funcionária australiana da ONG.

·        Entrega de alimentos

Embarcações atracam em estrutura flutuante com ajuda humanitária transportada por navio de ONG espanhola, que chegou na Faixa de Gaza em 15 de março de 2024. — Foto: Forças Armadas de Israel

Os funcionários da ONG haviam acabado de levar comida e outros itens de ajuda humanitária ao norte da Faixa de Gaza, onde a população está à beira de uma crise de fome. Imagens em vídeo gravadas em um hospital na cidade de Deir al-Balah, na Faixa de Gaza, mostram que alguns deles estavam com itens de proteção que tinham o logotipo da ONG.

Nesta semana, a World Central Kitchen enviou um navio com cerca de 400 toneladas de comida e itens de ajuda humanitária à Faixa de Gaza. O carregamento foi organizado pelos Emirados Árabes Unidos e deve chegar na semana que vem à costa de Gaza.

No mês passado, a ONG enviou a primeira entrega, com 200 toneladas e que reabriu a rota marítima a Gaza, que estava fechada por determinação de Israel.

A ONU tem uma agência especializada em atender os palestinos que atua na Faixa de Gaza, mas Israel proibiu essa entidade de fazer entregas no norte do território. Outros grupos de ajuda afirmam que enviar comboios de caminhões para o norte tem sido muito perigoso devido à falta de garantia de segurança por parte do exército.

·        Campanha militar em hospital

O ataque aconteceu horas depois de as forças de Israel finalizarem um período de duas semanas de ações militares no hospital Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza. O hospital ficou destruído, e uma parte do prédio foi reduzida a cinzas.

Os militares afirmaram ter matado 200 militantes do Hamas durante a permanência no hospital, mas as principais agências de notícias não conseguiram confirmar se todos realmente pertenciam ao grupo terrorista.

O governo local, controlado pelo Hamas, disse ter retirado corpos de civis dos destroços.

 

Fonte: g1/Sputnik Brasil

 

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