terça-feira, 2 de abril de 2024


 Megaprotesto em Israel contra Netanyahu revela forte divisão política

As profundas divisões políticas de Israel estão de volta.

As diferenças foram deixadas de lado durante algum tempo, à medida que o choque e a unidade nacional se seguiram aos ataques de 7 de outubro perpetrados pelo Hamas.

Mas, seis meses depois, milhares de manifestantes estão novamente nas ruas.

A guerra reforçou a determinação em destituir o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Em Jerusalém, a polícia usou uma substância fétida, disparada de canhões de água, para afastar os manifestantes que bloquearam o Begin Boulevard, a principal rodovia norte-sul da cidade.

Slogans já desgastados, que exigem a demissão de Netanyahu e eleições antecipadas, foram amplificados por outras frases mais atualizadas, que apelam a um acordo imediato para libertar os cerca de 130 reféns israelenses ainda detidos em Gaza. Um número desconhecido desses indivíduos é dado como morto.

O grande receio dos familiares e amigos, bem como dos manifestantes, é que muitos outros morram à medida que a guerra se arrasta sem acordos.

No domingo à noite (31/3), enquanto milhares de pessoas lotavam as amplas avenidas ao redor do parlamento israelense, Katia Amorza — que tem um filho prestando serviços no Exército de Israel que faz operações em Gaza — deixou o megafone de lado por um momento.

"Estou aqui desde as oito da manhã. E agora estou dizendo a Netanyahu que ficaria feliz em pagar uma passagem só de ida, de primeira classe, para ele sair e não voltar mais."

"Estou dizendo a ele para também levar consigo, uma por uma, todas aquelas pessoas que ele colocou no governo, o pior que temos em nossa sociedade."

Durante o protesto, um rabino atravessou a rua e passou por Katia. Era Yehudah Glick, que faz campanha para judeus poderem orar na área que os israelenses chamam de Monte do Templo, o local em Jerusalém que abriga al Aqsa, a terceira mesquita mais sagrada do Islã.

Glick acredita que os manifestantes esqueceram que o verdadeiro inimigo é o Hamas, e não o primeiro-ministro Netanyahu.

"Acho que ele é muito popular. E é isso que irrita essas pessoas. Acho que elas não estão dispostas a perdoar o fato de que há tanto tempo se manifestam contra ele e ele ainda está no poder."

"E peço-lhes que venham e demonstrem, falem alto e claro o que sentem, mas tenham cuidado para não cruzar a linha muito tênue entre a democracia e a anarquia", alertou ele.

Os manifestantes, ao lado de críticos de Netanyahu em outros países, acreditam que os inimigos da democracia já estão no governo israelense, uma coligação que depende do apoio de partidos judeus ultranacionalistas.

Entre eles está o partido Sionismo Religioso, liderado pelo ministro das Finanças Bezalel Smotrich.

Um dos deputados da legenda, Ohad Tal, disse que era "ingênuo" acreditar que qualquer coisa que não fosse mais pressão militar sobre o Hamas libertaria os reféns.

"Você não acha que o Hamas trará de volta tão facilmente os reféns em um acordo, libertará todo mundo, e então nos permitir matar todos os terroristas... Não é tão simples", raciocinou ele.

"Se houvesse um botão para apertar, trazer de volta todos os reféns e deixar tudo bem, todo israelense apertaria esse botão. Mas as coisas não são tão fáceis quanto você imagina."

Benjamin Netanyahu costumava dizer que era o único que poderia manter o país seguro. E muitos israelenses acreditaram nele.

Ele disse que poderia administrar os palestinos, estabelecer os judeus nas terras ocupadas que eles desejam, sem oferecer concessões e sem fazer os sacrifícios necessários para um acordo de paz.

Mas tudo mudou em 7 de Outubro do ano passado, quando o Hamas invadiu e fez um ataque surpresa.

Muitos israelenses consideram Netanyahu responsável pelas falhas de segurança que permitiram ao Hamas atacar Israel com efeitos tão devastadores.

Ao contrário dos chefes de segurança, que rapidamente emitiram declarações em que admitem terem cometido erros, o primeiro-ministro nunca assumiu qualquer responsabilidade.

Isso enfureceu as milhares de pessoas que bloquearam as ruas de Jerusalém na noite do último domingo (31/3).

Os israelenses devem ter pelo menos 40 anos de idade para se lembrarem de uma época em que Benjamin Netanyahu não era uma figura dominante na política do país.

Depois de emergir como um porta-voz eloquente de Israel nas Nações Unidas, o primeiro mandato dele como primeiro-ministro ocorreu após uma vitória estreita em 1996, com uma plataforma que se opunha ao processo de paz estabelecido nos Acordos de Oslo.

Tal como o atual plano americano para estabelecer a paz no Oriente Médio, os Acordos de Oslo foram construídos em torno da ideia de que permitir aos palestinos estabelecerem um Estado independente ao lado de Israel era a única esperança de colocar um fim a um século de conflitos entre árabes e judeus pelo controle da terra entre o rio Jordão e o Mar Mediterrâneo.

Netanyahu tem sido um oponente consistente de um Estado palestino. Ele rejeitou com desdém a estratégia dos EUA de apoio à independência palestina como parte de um "grande acordo" para refazer o Oriente Médio.

Os críticos dizem que a rejeição estridente de Netanyahu aos planos do presidente americano Joe Biden para a administração de Gaza após a guerra é uma ferramenta para garantir o apoio contínuo da direita radical de Israel.

Um dos manifestantes do lado de fora do Knesset, o Parlamento israelense, foi David Agmon, um militar aposentado do Exército israelense. Ele dirigia o gabinete do primeiro-ministro quando Netanyahu foi eleito pela primeira vez.

"Essa é a maior crise desde 1948. Vou lhe contar uma coisa: fui o primeiro chefe de gabinete de Netanyahu em 1996, então o conheço. Depois de três meses, decidi sair. Porque percebi quem ele é: um perigo para Israel."

"Ele não sabe tomar decisões, tem medo, a única coisa que sabe fazer é falar. E, claro, vi as mentiras que ele conta e como depende da esposa."

"Depois de três meses, eu disse: Bibi (apelido do primeiro-ministro), você não precisa de ajudantes, você precisa de um substituto. E fui embora."

Enquanto os manifestantes ainda estavam nas ruas, Netanyahu descartou eleições antecipadas e repetiu a determinação em montar uma nova ofensiva contra as forças do Hamas em Rafah, na Faixa de Gaza.

O histórico de Netanyahu como sobrevivente político significa que, mesmo que os adversários concretizem o desejo de eleições antecipadas, o seu grupo com cada vez menos seguidores devotos acredita que ele ainda poderá vencer.

Os israelenses não estão divididos sobre a destruição do Hamas. Esse objetivo de guerra ainda conta com um apoio esmagador.

Mas a forma como a guerra é conduzida — e o fracasso em resgatar ou libertar todos os reféns — colocam Benjamin Netanyahu sob pressão para dar um fim ao governo.

 

Ø  EUA temem que Israel use seus dados de inteligência contra civis em Gaza, diz mídia

 

O jornal norte-americano Wall Street Journal detalhou o relacionamento de inteligência entre os dois países, incluindo as dúvidas que a Casa Branca enfrenta em meio ao conflito.

Fontes nos EUA temem que a inteligência compartilhada com Israel esteja sendo usada para atingir civis e infraestrutura em meio à ação militar na Faixa de Gaza, escreve no domingo (31) o jornal norte-americano Wall Street Journal (WSJ).

A mídia escreve que os EUA e Israel assinaram um memorando secreto que expande o compartilhamento de inteligência com Tel Aviv após o ataque ao país do Oriente Médio em 7 de outubro pelo Hamas palestino.

"Entre as preocupações está o fato de haver pouca supervisão independente para confirmar que a inteligência fornecida pelos EUA não está sendo usada em ataques que resultem em mortes de civis ou danos à infraestrutura desnecessários", indicaram as fontes.

Elas explicaram ao WSJ que a comunidade de inteligência dos EUA desenvolveu no início das hostilidades na Faixa de Gaza regras para o compartilhamento de inteligência com Israel, mas, em última instância, os decisores políticos da Casa Branca determinam se há uma violação. As agências de inteligência dos EUA estão recolhendo exemplos de possíveis violações das leis de guerra por ambos os lados em Gaza como parte de um relatório quinzenal sobre incidentes militares.

Segundo o WSJ, os EUA compartilham com os serviços de segurança israelenses a chamada inteligência pura, como vídeos ao vivo de drones de reconhecimento. Os dados visam encontrar líderes do movimento palestino Hamas, e também os reféns mantidos pelo movimento.

Além disso, Israel estaria obrigado a garantir que a inteligência dos EUA não será usada de forma a resultar em "baixas civis" ou danos à infraestrutura civil.

"Ao mesmo tempo, Israel é responsável por confirmar sua conformidade e, em alguns casos, o faz verbalmente [...] É difícil entender como a inteligência fornecida pelos EUA é usada depois de combinada com os próprios dados de Israel", disseram as fontes ao jornal norte-americano.

 

Ø  Parlamento de Israel aprova lei que permite ao governo de Netanyahu fechar a Al Jazeera; EUA tratam medida como 'preocupante'

 

O Knesset, o Parlamento de Israel, aprovou nesta segunda-feira (1º) uma lei que permite ao governo fechar a rede de TV Al Jazeera no país. O projeto contou com 71 votos a favor e 10 contra, segundo o jornal israelense "Haaretz".

Antes mesmo da votação, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu havia afirmado, por meio do porta-voz de seu partido, o Likud, que "tomará medidas imediatas para fechar a Al Jazeera, de acordo com o procedimento estabelecido na lei".

A Al Jazeera é uma rede de TV com sede no Catar, que recebe financiamento direto do regime de Doha, embora afirme manter independência editorial.

Israel já havia acusado a emissora de provocar agitação contra o país entre os telespectadores árabes.

A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse que a lei é "profundamente preocupante". Os Estados Unidos são os maiores aliados de Israel.

Procurados pela agência Reuters, o principal escritório da emissora em Israel e o governo do Catar não responderam imediatamente a um pedido para comentar a fala do premiê. A Al Jazeera já acusou Israel de atacar deliberadamente os seus escritórios e seu pessoal, incluindo jornalistas da emissora em Gaza.

Autoridades israelenses reclamam há muito tempo da cobertura da Al Jazeera, mas não chegaram a tomar ações, cientes do financiamento do Catar aos projetos de construção palestinos na Faixa de Gaza – vistos por todas as partes como um meio de evitar o conflito.

·        Rodadas de negociações em Doha

Desde a guerra em Gaza, que eclodiu em 7 de outubro, com assassinatos e sequestros cometidos pelos combatentes do Hamas, que controla o território, Doha tem mediado negociações de cessar-fogo. Em novembro do ano passado, Israel recuperou alguns dos reféns durante trégua negociada por meio dessas conversas.

No entanto, as negociações sobre uma segunda proposta de trégua parecem não levar a lugar algum. Em janeiro, Netanyahu apelou publicamente para que Doha impusesse mais pressão ao Hamas para que este acatasse as condições de Israel. O Catar abriga o gabinete político do grupo e várias autoridades graduadas do Hamas.

Questionado se a ameaça contra a Al Jazeera poderia fazer parte de tal pressão, um porta-voz do governo israelense, Avi Hyman, não respondeu diretamente, embora tenha descrito a emissora como "empenhada em divulgar propaganda durante muitos e muitos anos".

O ministro das Comunicações de Israel acusou a emissora em 15 de outubro de incitação pró-Hamas e de expor as tropas israelenses a emboscadas. A Al Jazeera e o governo de Doha não responderam a essas alegações.

No mês seguinte, Israel pareceu poupar a rede do Catar, ordenando, em vez disso, o fim das transmissões locais de um canal libanês pró-iraniano menor, Al Mayadeen.

O projeto de lei que deverá ser ratificado nesta segunda-feira foi aprovado em primeira leitura no Knesset, o Parlamento israelense, em fevereiro passado.

 

Fonte: BBC News Brasil/Sputnik Brasil/g1

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