sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Suspensão de ajuda a agência da ONU pode ser “sentença de morte”, dizem palestinos

Enquanto vários países ocidentais, como os Estados Unidos, o Reino Unido e a Alemanha, anunciam uma pausa no financiamento da principal agência de ajuda da ONU em Gaza, os palestinos que vivem em condições terríveis alertam que isso poderá ser uma “sentença de morte”.

“Esta decisão significa matar-nos, matar o ser humano. Esta é uma sentença de morte. Esta é a única coisa da qual vivemos, e você quer cortá-la?” Suhaila Nofal, uma civil deslocada, implorando misericórdia “para Gaza e seu povo”.

O anúncio sobre a pausa no financiamento veio depois de Israel ter acusado alguns funcionários da Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA) de envolvimento nos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro.

A agência demitiu vários funcionários após as denúncias, que não foram divulgadas. Até o momento, não está claro se os fundos serão redirecionados através de outras organizações.

Um vídeo da CNN de Deir Al-Balah, no centro de Gaza, mostra centenas de palestinos deslocados abrigados em uma escola administrada pela UNRWA.

Outro palestino, Um Mohammad Al Khabbaz, destacou as suas condições de vida.

“Vejam como vivemos – debaixo da chuva e no meio do fogo. Os nossos filhos estão doentes e nós estamos deslocados. Não temos vida”, disse ele. “Não há segurança nas escolas. Estão todas sujas e não há água. Sem contar as pessoas que perdemos”.

“O que resta para as pessoas se interromperem a ajuda? As pessoas morrerão”, acrescentou.

·        Pelo menos metade dos principais doadores da UNRWA suspendem financiamento

Pelo menos metade dos principais doadores governamentais da UNRWA, a agência de ajuda humanitária da ONU à Palestina, anunciaram que suspenderão o financiamento à organização depois de Israel ter alegado que alguns dos seus funcionários estiveram envolvidos no ataque de 7 de outubro.

<<< Quem suspendeu os fundos

10 dos 20 principais doadores governamentais da UNRWA em 2022 estão entre aqueles que anunciaram que estão suspendendo os fundos: Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Canadá, Holanda, Reino Unido, Itália, Austrália, França e Japão.

<<< Decisão pendente

A Comissão Europeia disse na segunda-feira (29) que determinará as próximas decisões de financiamento após uma investigação sobre as alegações, acrescentando que nenhum financiamento adicional era devido à UNRWA até o final de fevereiro.

<<< Quem continuará a financiar

Quatro dos 20 principais doadores da UNRWA – Noruega, Arábia Saudita, Turquia e Espanha – anunciaram que continuariam os pagamentos à agência.

Suécia, Dinamarca, Bélgica, Kuwait e Qatar são os cinco restantes da lista dos vinte maiores doadores da UNRWA. Eles não anunciaram se irão interromper ou continuar o financiamento.

·        ONU diz que não poderá ajudar Gaza após fevereiro se financiamento não for retomado

A agência para refugiados palestinos das Nações Unidas (UNRWA) disse nesta segunda-feira (29) que não será capaz de continuar as operações em Gaza e em toda a região após o final de fevereiro se o financiamento não for retomado.

Vários países, incluindo Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, interromperam o financiamento da agência de ajuda humanitária após alegações de que 12 funcionários da UNRWA estavam envolvidos nos ataques do Hamas em 7 de outubro no sul de Israel.

“Se o financiamento não for retomado, a UNRWA não poderá continuar seus serviços e operações em toda a região, inclusive em Gaza, após o final de fevereiro”, disse um porta-voz da agência.

·        União Europeia continuará financiando agência da ONU em Gaza, apesar de “graves acusações”

A União Europeia continuará financiando a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), apesar do que chamou de alegações muito “graves” contra vários funcionários do órgão.

Em comunicado de imprensa nesta segunda-feira (29), o bloco disse que seu chefe de política externa, Josep Borrell, manteve uma chamada com o secretário-geral da ONU, António Guterres, “para discutir a situação no Oriente Médio, incluindo alegações muito graves contra vários membros da UNRWA”.

Vários países da União Europeia, incluindo França, Itália, Alemanha, Romênia e Países Baixos, optaram por suspender temporariamente o financiamento individual à UNRWA.

Isso acontece após Israel acusar, na semana passada, que vários funcionários da agência estariam envolvidos no ataque do Hamas em 7 de outubro.

O comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, afirmou no sábado (27) que a mais alta autoridade investigativa da ONU já tomou medidas e que uma revisão independente por especialistas externos será realizada em breve.

Ele acrescentou que a UNRWA tomou “medidas imediatas” ao rescindir contratos de funcionários suspeitos de estarem envolvidos no ataque de 7 de outubro.

No comunicado de imprensa da UE, Borrell elogiou as “medidas rápidas e decisivas” tomadas pela agência quando recebeu as acusações relativas aos seus funcionários.

Se a investigação concluir que as acusações de Israel são verdadeiras, Borrell disse que os responsáveis deveriam ser “responsabilizados”.

O diplomata pontuou a Guterres durante a teleconferência nesta segunda-feira que a União Europeia “continuará inabalável a sua ajuda essencial aos palestinos em Gaza” como um dos “maiores doadores” ao enclave.

Embora os compromissos de financiamento da UE para a UNRWA já tenham sido finalizados, as futuras decisões de financiamento serão determinadas pelo resultado da investigação, acrescentou o comunicado de imprensa.

 

Ø  O que sabemos sobre as alegações de Israel contra funcionários da ONU em Gaza

 

A principal agência da ONU em Gaza está em crise depois de Israel ter acusado alguns dos seus funcionários de envolvimento nos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro do ano passado.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) demitiu vários funcionários na sequência das alegações, que não foram tornadas públicas.

Na sequência das alegações de Israel, o principal doador da UNRWA, os Estados Unidos, e um número crescente de países suspenderam o financiamento à organização, que emprega cerca de 13 mil pessoas em Gaza, à medida que o desastre humanitário aumenta no enclave palestino sitiado.

>>> O que sabemos sobre o caso:

·        O que é a UNRWA?

A UNRWA foi criada pelas Nações Unidas após a guerra árabe-israelense de 1948 para fornecer assistência humanitária aos palestinos deslocados.

A organização caracteriza os refugiados palestinos como quaisquer “pessoas cujo local de residência normal era a Palestina durante o período de 1 de junho de 1946 a 15 de maio de 1948, e que perderam a casa e os meios de subsistência como resultado da Guerra de 1948”.

Os que se enquadram nessa definição são agora 5,9 milhões, constituídos em grande parte por descendentes dos refugiados originais. Israel rejeitou a possibilidade de permitir que os palestinos deslocados voltassem para casa, argumentando que a medida mudaria o caráter judaico do país.

Desde a sua criação, a Assembleia-Geral das Nações Unidas – um órgão de votação de todos os Estados membros – renovou repetidamente o mandato da UNRWA. A agência prestou ajuda a quatro gerações de refugiados palestinos, de acordo com o seu website, abrangendo educação, cuidados de saúde, infraestruturas de campos, serviços sociais e assistência de emergência, inclusive em tempos de conflito.

Pelo menos 152 funcionários da UNRWA foram mortos em Gaza desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, segundo a agência.

·        Quais são as acusações?

Os detalhes permanecem escassos. Nem Israel nem a UNRWA especificaram a natureza do suposto envolvimento de funcionários da UNRWA nos acontecimentos de 7 de outubro. Uma autoridade israelense disse à CNN na sexta-feira (26) que Israel compartilhou informações sobre 12 funcionários supostamente envolvidos nos ataques de 7 de outubro, tanto com a UNRWA quanto com os EUA.

O chefe da Diretoria de Inteligência Militar de Israel, major-general Aharon Haliva, se reuniu com funcionários do alto escalão dos EUA na sexta-feira e deu “nomes específicos e a quais organizações eles estão afiliados, seja Hamas ou Jihad Islâmica Palestina ou outros, e o que exatamente eles fizeram em 7 de outubro”, disse a autoridade israelense. “Mostramos a eles que tínhamos informações sólidas provenientes de fontes diferentes”.

Um responsável israelense familiarizado com a forma como a informação foi recolhida disse que esta foi retirada de computadores e documentos do Hamas confiscados durante as operações em Gaza e de interrogatórios de detidos e alegados terroristas.

Autoridades israelenses dizem que alguns dos agressores que foram mortos ou detidos em 7 de outubro tinham documentos de identidade da UNRWA. A CNN não viu as identificações ou outras informações de inteligência.

O comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, disse ter recebido “informações sobre o alegado envolvimento de vários funcionários”. Para proteger a capacidade da agência de prestar assistência humanitária em Gaza, ele decidiu “rescindir imediatamente os contratos desses funcionários e iniciar uma investigação a fim de estabelecer a verdade”, disse em nota.

Qualquer funcionário da UNRWA que esteja envolvido em atos de terrorismo “será responsabilizado, inclusive através de processo criminal”, acrescentou.

Em nota no domingo (28), o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que nove dos 12 funcionários da UNRWA no centro das acusações foram demitidos. Um outro estava morto e as identidades de outros dois ainda estavam “sendo esclarecidas”.

“Qualquer funcionário da ONU envolvido em atos de terrorismo será responsabilizado, inclusive através de processos criminais”, disse Guterres, acrescentando que uma revisão independente será realizada em breve.

Além do alegado envolvimento dos funcionários no ataque de 7 de outubro, as Forças de Defesa de Israel alegaram no sábado (27), em nota à CNN, que as instalações da UNRWA foram utilizadas para “fins terroristas”.

Questionada sobre essa afirmação, a agência disse à CNN: “Não temos mais informações sobre isso no momento. O Gabinete de Serviços de Supervisão Interna (o órgão de supervisão interna da ONU) analisará todas essas alegações como parte da investigação que o comissário-geral da UNRWA solicitou que realizassem”.

Em um comunicado no sábado, o Hamas criticou a decisão de rescindir os contratos dos funcionários e acusou Israel de tentar minar a UNRWA e outras organizações que prestam ajuda humanitária em Gaza.

·        Como é o relacionamento de Israel com a ONU?

As relações de Israel com a ONU atingiram uma baixa histórica nos últimos meses.

Funcionários do alto escalão da ONU têm criticado fortemente a conduta de guerra de Israel em Gaza, que matou mais de 26 mil palestinos, de acordo com a autoridade de saúde dirigida pelo Hamas no território. Enquanto isso, os diplomatas israelenses ficaram irritados com os apelos da ONU por um cessar-fogo.

Em dezembro, diplomatas israelenses atacaram quando o secretário-geral da ONU, António Guterres, invocou uma ferramenta diplomática raramente utilizada para levar o conflito ao Conselho de Segurança da ONU. Em uma carta ao conselho de 15 membros, Guterres instou o órgão a “pressionar para evitar uma catástrofe humanitária” e a se unir em um apelo a um cessar-fogo humanitário total.

O embaixador de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, que argumentou que um cessar-fogo “cimenta o controle de Gaza pelo Hamas”, criticou Guterres pela medida, observando que as recentes guerras na Ucrânia, no Iêmen e na Síria não provocaram a mesma resposta.

As alegações israelenses contra a UNRWA na sexta-feira ocorreram no mesmo dia em que o tribunal superior da ONU ordenou que Israel agisse imediatamente para evitar o genocídio em Gaza.

A UNRWA tem sido alvo de críticas israelenses há muito tempo. Israel acusou a agência da ONU de incitamento contra Israel, o que a UNRWA nega. Em 2017, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tentou desmantelar o órgão da ONU, dizendo que este deveria ser fundido com a principal agência da ONU para os refugiados.

Em novembro, um jornalista israelense afirmou na plataforma X das redes sociais que um dos sequestradores em Gaza era professor de uma escola gerida pela UNRWA. Esse relatório foi divulgado pelos meios de comunicação israelenses, o que levou a agência da ONU a pedir uma “parada imediata” na divulgação de “alegações infundadas” sobre a organização.

A UNRWA negou repetidamente as alegações de que a sua ajuda está sendo desviada para o Hamas ou de que ensina o ódio nas suas escolas, e questionou “a motivação daqueles que fazem tais afirmações”. A agência condenou o ataque do Hamas em 7 de outubro como “abominável”.

·        Como o mundo reagiu?

Vários países ocidentais anunciaram a suspensão do financiamento da UNRWA na sequência das alegações. O Departamento de Estado dos EUA disse na sexta-feira que “interrompeu temporariamente o financiamento adicional” para a agência.

Austrália, Canadá, Reino Unido, Itália, Alemanha, Suíça, Finlândia e Holanda seguiram o exemplo. O Japão disse na segunda-feira (29) que suspendeu o financiamento “por enquanto”. Mas outros países, incluindo a Irlanda e a Noruega, disseram que continuariam a financiar a UNRWA.

O governo da Noruega disse no sábado que “a situação em Gaza é catastrófica e a UNRWA é a organização humanitária mais importante lá. O apoio internacional à Palestina é necessário agora mais do que nunca”.

Em nota no domingo, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, instou os países que suspenderam o financiamento à UNRWA a reconsiderarem. “Essas posições, se mantidas, puniriam desproporcionalmente milhões do nosso povo sem justa causa”, disse Abbas, segundo a WAFA, a agência oficial de notícias palestina.

Abbas acusou Israel de agir com hostilidade contra a agência da ONU, dizendo: “Funcionários do governo israelense expressaram abertamente que não haveria papel para a UNRWA, revelando o verdadeiro motivo por trás dessa campanha”.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, sugeriu na sexta-feira que Israel tentará impedir a UNRWA de operar na Gaza do pós-guerra.

O chefe da UNRWA, Lazzarini, descreveu as suspensões de financiamento como “chocantes” e instou os países doadores a reconsiderarem. Tais decisões ameaçam a ajuda humanitária da organização a milhões de pessoas, alertou.

O financiamento tem sido há muito um desafio para a UNRWA e a suspensão dele por parte dos principais financiadores – ainda que breve – levanta questões sobre como o órgão será capaz de continuar a ajudar as pessoas em Gaza, em meio a receios crescentes de fome.

Anteriormente, os EUA cortaram totalmente o apoio à UNRWA sob a presidência de Donald Trump, antes de serem restaurados sob o governo Joe Biden.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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