Suspensão
de ajuda a agência da ONU pode ser “sentença de morte”, dizem palestinos
Enquanto
vários países ocidentais, como os Estados Unidos, o Reino Unido e a Alemanha,
anunciam uma pausa no financiamento da principal agência de ajuda da ONU em
Gaza, os palestinos que vivem em condições terríveis alertam que isso poderá
ser uma “sentença de morte”.
“Esta
decisão significa matar-nos, matar o ser humano. Esta é uma sentença de morte.
Esta é a única coisa da qual vivemos, e você quer cortá-la?” Suhaila Nofal, uma
civil deslocada, implorando misericórdia “para Gaza e seu povo”.
O anúncio
sobre a pausa no financiamento veio depois de Israel ter acusado alguns
funcionários da Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras aos Refugiados
da Palestina no Médio Oriente (UNRWA) de envolvimento nos ataques terroristas
do Hamas em 7 de outubro.
A agência
demitiu vários funcionários após as denúncias, que não foram divulgadas. Até o
momento, não está claro se os fundos serão redirecionados através de outras
organizações.
Um vídeo
da CNN de Deir Al-Balah, no centro de Gaza, mostra centenas de palestinos
deslocados abrigados em uma escola administrada pela UNRWA.
Outro
palestino, Um Mohammad Al Khabbaz, destacou as suas condições de vida.
“Vejam
como vivemos – debaixo da chuva e no meio do fogo. Os nossos filhos estão
doentes e nós estamos deslocados. Não temos vida”, disse ele. “Não há segurança
nas escolas. Estão todas sujas e não há água. Sem contar as pessoas que
perdemos”.
“O que
resta para as pessoas se interromperem a ajuda? As pessoas morrerão”,
acrescentou.
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Pelo menos metade dos principais doadores
da UNRWA suspendem financiamento
Pelo menos
metade dos principais doadores governamentais da UNRWA, a agência de ajuda
humanitária da ONU à Palestina, anunciaram que suspenderão o financiamento à
organização depois de Israel ter alegado que alguns dos seus funcionários
estiveram envolvidos no ataque de 7 de outubro.
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Quem suspendeu os fundos
10 dos 20
principais doadores governamentais da UNRWA em 2022 estão entre aqueles que
anunciaram que estão suspendendo os fundos: Estados Unidos, Alemanha, Suíça,
Canadá, Holanda, Reino Unido, Itália, Austrália, França e Japão.
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Decisão pendente
A Comissão
Europeia disse na segunda-feira (29) que determinará as próximas decisões de
financiamento após uma investigação sobre as alegações, acrescentando que
nenhum financiamento adicional era devido à UNRWA até o final de fevereiro.
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Quem continuará a financiar
Quatro dos
20 principais doadores da UNRWA – Noruega, Arábia Saudita, Turquia e Espanha –
anunciaram que continuariam os pagamentos à agência.
Suécia,
Dinamarca, Bélgica, Kuwait e Qatar são os cinco restantes da lista dos vinte
maiores doadores da UNRWA. Eles não anunciaram se irão interromper ou continuar
o financiamento.
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ONU diz que não poderá ajudar Gaza após
fevereiro se financiamento não for retomado
A agência
para refugiados palestinos das Nações Unidas (UNRWA) disse nesta segunda-feira
(29) que não será capaz de continuar as operações em Gaza e em toda a região
após o final de fevereiro se o financiamento não for retomado.
Vários
países, incluindo Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, interromperam o
financiamento da agência de ajuda humanitária após alegações de que 12
funcionários da UNRWA estavam envolvidos nos ataques do Hamas em 7 de outubro
no sul de Israel.
“Se o
financiamento não for retomado, a UNRWA não poderá continuar seus serviços e
operações em toda a região, inclusive em Gaza, após o final de fevereiro”,
disse um porta-voz da agência.
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União Europeia continuará financiando
agência da ONU em Gaza, apesar de “graves acusações”
A União
Europeia continuará financiando a Agência das Nações Unidas para os Refugiados
Palestinos (UNRWA), apesar do que chamou de alegações muito “graves” contra
vários funcionários do órgão.
Em
comunicado de imprensa nesta segunda-feira (29), o bloco disse que seu chefe de
política externa, Josep Borrell, manteve uma chamada com o secretário-geral da
ONU, António Guterres, “para discutir a situação no Oriente Médio, incluindo
alegações muito graves contra vários membros da UNRWA”.
Vários
países da União Europeia, incluindo França, Itália, Alemanha, Romênia e Países
Baixos, optaram por suspender temporariamente o financiamento individual à
UNRWA.
Isso
acontece após Israel acusar, na semana passada, que vários funcionários da
agência estariam envolvidos no ataque do Hamas em 7 de outubro.
O
comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, afirmou no sábado (27) que a
mais alta autoridade investigativa da ONU já tomou medidas e que uma revisão
independente por especialistas externos será realizada em breve.
Ele
acrescentou que a UNRWA tomou “medidas imediatas” ao rescindir contratos de
funcionários suspeitos de estarem envolvidos no ataque de 7 de outubro.
No
comunicado de imprensa da UE, Borrell elogiou as “medidas rápidas e decisivas”
tomadas pela agência quando recebeu as acusações relativas aos seus
funcionários.
Se a
investigação concluir que as acusações de Israel são verdadeiras, Borrell disse
que os responsáveis deveriam ser “responsabilizados”.
O
diplomata pontuou a Guterres durante a teleconferência nesta segunda-feira que
a União Europeia “continuará inabalável a sua ajuda essencial aos palestinos em
Gaza” como um dos “maiores doadores” ao enclave.
Embora os
compromissos de financiamento da UE para a UNRWA já tenham sido finalizados, as
futuras decisões de financiamento serão determinadas pelo resultado da
investigação, acrescentou o comunicado de imprensa.
Ø
O que sabemos sobre as alegações de Israel
contra funcionários da ONU em Gaza
A
principal agência da ONU em Gaza está em crise depois de Israel ter acusado alguns dos seus
funcionários de envolvimento nos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro do ano passado.
A Agência
das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente
(UNRWA) demitiu vários funcionários na sequência
das alegações, que não foram tornadas públicas.
Na
sequência das alegações de Israel, o principal doador da UNRWA, os Estados Unidos, e um número crescente
de países suspenderam o financiamento à organização, que emprega cerca de 13
mil pessoas em Gaza, à medida que o desastre humanitário
aumenta no enclave palestino sitiado.
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O que sabemos sobre o caso:
·
O que é a UNRWA?
A UNRWA
foi criada pelas Nações Unidas após a guerra árabe-israelense de 1948 para
fornecer assistência humanitária aos palestinos deslocados.
A
organização caracteriza os refugiados palestinos como quaisquer “pessoas cujo
local de residência normal era a Palestina durante o período de 1 de junho de
1946 a 15 de maio de 1948, e que perderam a casa e os meios de subsistência
como resultado da Guerra de 1948”.
Os que se
enquadram nessa definição são agora 5,9 milhões, constituídos em grande parte
por descendentes dos refugiados originais. Israel rejeitou a possibilidade de
permitir que os palestinos deslocados voltassem para casa, argumentando que a
medida mudaria o caráter judaico do país.
Desde a
sua criação, a Assembleia-Geral das Nações Unidas – um órgão de votação de
todos os Estados membros – renovou repetidamente o mandato da UNRWA. A agência
prestou ajuda a
quatro gerações de refugiados palestinos, de acordo com o seu website,
abrangendo educação, cuidados de saúde, infraestruturas de campos, serviços
sociais e assistência de emergência, inclusive em tempos de conflito.
Pelo menos
152 funcionários da UNRWA foram mortos em Gaza desde o início da guerra entre Israel e o Hamas,
segundo a agência.
·
Quais são as
acusações?
Os
detalhes permanecem escassos. Nem Israel nem a UNRWA especificaram a natureza
do suposto envolvimento de funcionários da UNRWA nos acontecimentos de 7 de outubro. Uma autoridade israelense disse à CNN na
sexta-feira (26) que Israel compartilhou informações sobre 12 funcionários
supostamente envolvidos nos ataques de 7 de outubro, tanto com a UNRWA quanto
com os EUA.
O chefe da
Diretoria de Inteligência Militar de Israel, major-general Aharon Haliva, se
reuniu com funcionários do alto escalão dos EUA na sexta-feira e deu “nomes
específicos e a quais organizações eles estão afiliados, seja Hamas ou Jihad Islâmica Palestina ou
outros, e o que exatamente eles fizeram em 7 de outubro”, disse a autoridade
israelense. “Mostramos a eles que tínhamos informações sólidas provenientes de
fontes diferentes”.
Um
responsável israelense familiarizado com a forma como a informação foi
recolhida disse que esta foi retirada de computadores e documentos do Hamas
confiscados durante as operações em Gaza e de interrogatórios de detidos e
alegados terroristas.
Autoridades
israelenses dizem que alguns dos agressores que foram mortos ou detidos em 7 de
outubro tinham documentos de identidade da UNRWA. A CNN não
viu as identificações ou outras informações de inteligência.
O
comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, disse ter recebido “informações
sobre o alegado envolvimento de vários funcionários”. Para proteger a
capacidade da agência de prestar assistência humanitária em Gaza, ele decidiu
“rescindir imediatamente os contratos desses funcionários e iniciar uma
investigação a fim de estabelecer a verdade”, disse em nota.
Qualquer
funcionário da UNRWA que esteja envolvido em atos de terrorismo “será
responsabilizado, inclusive através de processo criminal”, acrescentou.
Em nota no
domingo (28), o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que nove dos
12 funcionários da UNRWA no centro das acusações foram demitidos. Um outro
estava morto e as identidades de outros dois ainda estavam “sendo
esclarecidas”.
“Qualquer
funcionário da ONU envolvido em atos de terrorismo será responsabilizado,
inclusive através de processos criminais”, disse Guterres, acrescentando que
uma revisão independente será realizada em breve.
Além do
alegado envolvimento dos funcionários no ataque de 7 de outubro, as Forças de
Defesa de Israel alegaram no sábado (27), em nota à CNN, que as
instalações da UNRWA foram utilizadas para “fins terroristas”.
Questionada
sobre essa afirmação, a agência disse à CNN: “Não temos mais
informações sobre isso no momento. O Gabinete de Serviços de Supervisão Interna
(o órgão de supervisão interna da ONU) analisará todas essas alegações como
parte da investigação que o comissário-geral da UNRWA solicitou que
realizassem”.
Em um
comunicado no sábado, o Hamas criticou a decisão de rescindir os contratos dos
funcionários e acusou Israel de tentar minar a UNRWA e outras organizações que
prestam ajuda humanitária em Gaza.
·
Como é o
relacionamento de Israel com a ONU?
As
relações de Israel com a ONU atingiram uma baixa histórica nos últimos meses.
Funcionários
do alto escalão da ONU têm criticado fortemente a conduta de guerra de Israel
em Gaza, que matou mais de 26 mil palestinos, de acordo com a autoridade de
saúde dirigida pelo Hamas no território. Enquanto isso, os diplomatas
israelenses ficaram irritados com os apelos da ONU por um cessar-fogo.
Em
dezembro, diplomatas israelenses atacaram quando o secretário-geral da ONU,
António Guterres, invocou uma ferramenta diplomática raramente utilizada para
levar o conflito ao Conselho de Segurança da ONU. Em uma carta ao conselho de
15 membros, Guterres instou o órgão a “pressionar para evitar uma catástrofe
humanitária” e a se unir em um apelo a um cessar-fogo humanitário total.
O
embaixador de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, que argumentou que um
cessar-fogo “cimenta o controle de Gaza pelo Hamas”, criticou Guterres pela
medida, observando que as recentes guerras na Ucrânia, no Iêmen e na Síria não
provocaram a mesma resposta.
As
alegações israelenses contra a UNRWA na sexta-feira ocorreram no mesmo dia em
que o tribunal superior da ONU ordenou que Israel agisse imediatamente para
evitar o genocídio em Gaza.
A UNRWA
tem sido alvo de críticas israelenses há muito tempo. Israel acusou a agência
da ONU de incitamento contra Israel, o que a UNRWA nega. Em 2017, o
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tentou desmantelar o órgão da
ONU, dizendo que este deveria ser fundido com a principal agência da ONU para
os refugiados.
Em
novembro, um jornalista israelense afirmou na plataforma X das redes sociais
que um dos sequestradores em Gaza era professor de uma escola gerida pela
UNRWA. Esse relatório foi divulgado pelos meios de comunicação israelenses, o
que levou a agência da ONU a pedir uma “parada imediata” na divulgação de
“alegações infundadas” sobre a organização.
A UNRWA
negou repetidamente as alegações de que a sua ajuda está sendo desviada para o
Hamas ou de que ensina o ódio nas suas escolas, e questionou “a motivação
daqueles que fazem tais afirmações”. A agência condenou o ataque do Hamas em 7
de outubro como “abominável”.
·
Como o mundo reagiu?
Vários países ocidentais anunciaram a suspensão do
financiamento da UNRWA na sequência das
alegações. O Departamento de Estado dos EUA disse na sexta-feira que
“interrompeu temporariamente o financiamento adicional” para a agência.
Austrália,
Canadá, Reino Unido, Itália, Alemanha, Suíça, Finlândia e Holanda seguiram o
exemplo. O Japão disse na segunda-feira (29) que suspendeu o financiamento “por
enquanto”. Mas outros países, incluindo a Irlanda e a Noruega, disseram que
continuariam a financiar a UNRWA.
O governo
da Noruega disse no sábado que “a situação em Gaza é catastrófica e a UNRWA é a
organização humanitária mais importante lá. O apoio internacional à Palestina é
necessário agora mais do que nunca”.
Em nota no
domingo, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, instou os países
que suspenderam o financiamento à UNRWA a reconsiderarem. “Essas posições, se
mantidas, puniriam desproporcionalmente milhões do nosso povo sem justa causa”,
disse Abbas, segundo a WAFA, a agência oficial de notícias palestina.
Abbas
acusou Israel de agir com hostilidade contra a agência da ONU, dizendo:
“Funcionários do governo israelense expressaram abertamente que não haveria
papel para a UNRWA, revelando o verdadeiro motivo por trás dessa campanha”.
O ministro
das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, sugeriu na sexta-feira que
Israel tentará impedir a UNRWA de operar na Gaza do pós-guerra.
O chefe da
UNRWA, Lazzarini, descreveu as suspensões de financiamento como “chocantes” e
instou os países doadores a reconsiderarem. Tais decisões ameaçam a ajuda
humanitária da organização a milhões de pessoas, alertou.
O
financiamento tem sido há muito um desafio para a UNRWA e a suspensão dele por
parte dos principais financiadores – ainda que breve – levanta questões sobre como o órgão será
capaz de continuar a ajudar as pessoas em Gaza, em meio a receios crescentes de fome.
Anteriormente,
os EUA cortaram totalmente o apoio à UNRWA sob a presidência de Donald Trump,
antes de serem restaurados sob o governo Joe Biden.
Fonte: CNN
Brasil
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