Posse de
Lewandowski reforça aliança política entre Lula e STF
A posse de
Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça reforça a aliança política entre o
Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.
Lewandowski
sempre foi o ministro mais próximo do presidente Lula e tem uma extensa lista
de decisões favoráveis ao petismo durante os 18 anos em que ficou no STF.
Três
exemplos: a defesa da tese da votação em separado da perda de mandato de Dilma
Rousseff e da inabilitação para exercer funções públicas por oito anos; o voto
para absolver o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino; e
decisões favoráveis a Lula na Lava Jato.
Após a
queda de Dilma, a prisão de Lula, a pressão por uma “Lava Toga” e o avanço da
operação para expoentes da direita brasileira, a divisão entre entre
garantistas, tendo Lewandowski como um dos líderes, e punitivistas, ala
liderada por Luis Roberto Barrosos, foi diminuindo. E o combate a Jair
Bolsonaro reunificou a Corte.
Hoje, o
Palácio do Planalto e o STF têm no bolsonarismo um inimigo em comum e é esse
motor do alinhamento político que se vê desde a posse de Lula em janeiro de
2023. O casamento é de conveniência. Interessa a Lula uma oposição frágil e ao
STF a manutenção do poder supremo conquistado nos últimos anos.
Isso
explica também porque a Corte ajuda tanto o governo a garantir o equilíbrio de
suas finanças.
Como
a CNN mostrou em dezembro, só em 2023 houve decisões favoráveis à
equipe econômica que, somadas, chegam a meio trilhão de reais. Em 2024, os
julgamentos previstos podem dobrar esse valor. Um país quebrado ajudou Dilma a
cair, e o Palácio do Planalto e o STF sabem disso.
Lewandowski
do lado do governo agora e o seu sucessor no STF, Flavio Dino, já são desde já
os curadores dessa relação entre os dois Poderes.
Mas ela só
será efetiva mesmo se apresentar resultados concretos. E aí entra o grande
desafio de Lewandowski e por que não do governo Lula até 2026: liderar um plano
de segurança pública, a maior preocupação dos brasileiros segundo todas
pesquisas, e a área apontada nesses mesmos levantamentos como a mais crítica do
governo federal.
No
entanto, o nomeado por Lewandowski para ocupar a Secretaria Nacional de
Segurança Pública, Mario Sarrubbo, adiou para março sua posse em Brasília. Como
mostrou a CNN nesta quarta-feira, o principal motivo foi cuidar da
sua transição no Ministério Público de São Paulo.
Segurança
é competência dos estados também, mas cabe a Brasília liderar o processo. Nesse
sentido, serão os indicadores de criminalidade no país até 2026 o termômetro
certo para medir o sucesso ou não de sua gestão. E para compreender se sua
nomeação para o principal ministério da Esplanada tem objetivo técnico ou se,
afinal, se trata de mais um movimento de alinhamento político entre o Palácio
do Planalto e o STF.
Ø
Lewandowski cita infiltração do crime em
órgãos públicos e fala em aprofundar aliança com estados e municípios
Durante
cerimônia de posse nesta quinta-feira (1º), em Brasília, o novo ministro da
Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, citou a infiltração do crime
organizado em órgãos públicos e defendeu aliança entre os entes federativos
como uma das soluções a serem adotadas por sua gestão.
“Já há
notícias de que, tal como ocorre em outras nações, o crime organizado começa a
infiltrar-se em órgãos públicos, especialmente naqueles ligados à segurança e a
multiplicar empresas de fachada para branquear recursos obtidos de forma
ilícita. Isso lhes permite expandir a sua ação deletéria sob territórios cada
vez maiores, dificultando o seu controle por parte das autoridades estatais”,
afirmou.
O ministro
dedicou boa parte de seu discurso falando sobre ações relacionados à segurança
pública — classificada por ele como “uma das maiores preocupações da cidadania”
atualmente — e o combate às organizações criminosas.
Lewandowski
salientou que “não há soluções fáceis para tais problemas”, mas defendeu ação
conjunta com estados e municípios.
“É preciso
aprofundar as alianças com estados e municípios, que, constitucionalmente,
detém a responsabilidade primária pela segurança pública nas respectivas
jurisdições. É preciso superar a fragmentação federativa e estabelecer um
esforço nacional conjunto para neutralizar as lideranças das organizações
criminosas e confiscar os seus ativos, porque elas não podem sobreviver sem
recursos”, disse.
Na
avaliação do novo chefe da pasta, o “combate à criminalidade e à violência,
para ter êxito, precisa ir além de uma permanente e enérgica repressão
policial, demandando a execução de políticas públicas que permitam superar esse
verdadeiro apartheid social que continua segregando boa parte
da população brasileira”.
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-ministro da Justiça Flávio
Dino também discursaram no evento. Outras autoridades, como o vice-presidente
Geraldo Alckmin (PSB), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, compuseram
a mesa.
·
Enfrentar organizações criminosas e
política prisional: os desafios de Lewandowski
Com um
estilo mais discreto do que seu antecessor, o ministro da Justiça, Ricardo
Lewandowski assume o cargo com desafios importantes: enfrentar as organizações
criminosas, reduzir a super lotação das prisões e manter a boa relação com o
Judiciário e o Congresso.
Na
avaliação de especialistas em segurança pública, o enfrentamento das
organizações é a prioridade número 1.
A guerra
das facções no Rio de Janeiro deixou a situação fora de controle e está
afetando a popularidade do governo.
A política
prisional é tema delicado e importante para a esquerda e os apoiadores de Lula,
mas que enfrenta resistências da direita. Lewandowski foi um dos principais
responsáveis por implementar as audiências de custódia no país.
No campo
politico, o ministro sela a aproximação do governo Lula com o Supremo Tribunal
Federal, já que é egresso da corte, e deve ter uma relação mais tranquila com a
oposição, porque parte muito menos para o enfrentamento do que Flavio Dino.
·
Quem é Ricardo Lewandowski
Enrique Ricardo Lewandowski tem
75 anos e é natural da cidade do Rio de Janeiro. Formou-se em ciências
políticas e sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo
(FESPSP) em 1971. Dois anos mais tarde, graduou-se em ciências jurídicas e
sociais pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (FDSBC).
É mestre
(1980), doutor (1982) e livre-docente em direito de Estado pela Faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo (1994). Obteve ainda o título de Master of
Arts, na área de relações internacionais, pela Fletcher School of Law and
Diplomacy, da Tufts University, nos Estados Unidos.
Lewandowski
exerceu a advocacia entre 1974 e 1990, tendo sido conselheiro da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo entre 1989 e 1990. Ele ocupou também os
cargos de Secretário de Governo e de Assuntos Jurídicos de São Bernardo do
Campo – entre 1984 e 1988 – e também de presidente da Empresa Metropolitana de
Planejamento da Grande São Paulo (Emplasa) no biênio 1988-1989.
O novo
ministro da Justiça ingressou na magistratura como juiz do Tribunal de Alçada
Criminal do Estado de São Paulo, pelo Quinto Constitucional da classe dos
advogados (1990 a 1997). Foi promovido desembargador do Tribunal de Justiça de
São Paulo (TJ-SP), por merecimento, onde integrou, sucessivamente, a Seção de
Direito Privado, a Seção de Direito Público e o Órgão Especial (1997 a 2006).
Foi eleito e exerceu o cargo de vice-presidente da Associação dos Magistrados
Brasileiros (AMB) entre 1993 e 1995.
Em 2006,
foi indicado ao STF por Lula para substituir o ministro Carlos Velloso, cargo
que ocupou até abril de 2023. No Supremo, Lewandowski foi revisor da Ação Penal
470, popularmente conhecida como “Mensalão”. Exerceu a Presidência da Corte
entre os anos de 2014 e 2016, tendo inclusive liderado o julgamento do
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff no Senado Federal.
Foi também
ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre 2006 e 2012, presidindo a
Corte de 2010 a 2012, ocasião em que coordenou as eleições presidenciais de
2010, nas quais defendeu a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa.
Ø
Lula diz que Lewandowski não precisa ter
compromisso com membros levados por Dino
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quinta-feira (1º), que o novo ministro da
Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, não precisa ter compromisso com membros levados pelo
ex-ministro Flávio Dino para a pasta. A declaração foi feita durante a cerimônia posse de Lewandowski no Palácio do Planalto.
“Presidente
não dá palpite no time que o ministro está montando. O presidente discute com o
ministro, ele pode mudar discutindo com o ministro. Eu chamei o Lewandowski e
disse: ‘Companheiro, a sua equipe é você quem monta. Você não tem compromisso
com ninguém que está lá do Flávio Dino. O seu compromisso é montar a sua
equipe, porque a partir da montagem é que você vai responder pela glória dos
acertos e pelo sofrimento dos erros que cometer'”, disse Lula.
Em
seguida, Lula pontuou que Dino “não seria o que foi se não tivesse uma equipe
competente”.
“Não é em
qualquer momento histórico que uma nação tem o direito de entregar à Suprema
Corte uma pessoa da qualidade de Flávio Dino. E não é em qualquer momento
histórico que uma nação pode entregar para ser ministro da Justiça um homem da
qualidade de Lewandowski”, acrescentou Lula.
Dias após dizer que o governo não manda na
Polícia Federal (PF), Lula reiterou o recado e apontou que sua
gestão não quer interferir na política de segurança pública dos estados.
“Ninguém
persegue ninguém. A Polícia Federal não persegue ninguém. O governo federal não
quer se intrometer na política de segurança nos estados. O que queremos é
construir com os governadores dos estados as parcerias necessárias para que a
gente possa ajudar a combater um crime que eu não chamo de pequeno”, disse Lula
em referência ao crime organizado.
Fonte: CNN
Brasil
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