PL,
partido de Bolsonaro e Valdemar, pode ser extinto após descobertas da PF
As
descobertas que vieram à tona a partir da megaoperação deflagrada pela Polícia
Federal (PF) na quinta-feira (8), que mirou Jair Bolsonaro, militares e
ex-assessores por, supostamente, integrarem uma organização criminosa que
articulou a tentativa - sem sucesso - de um golpe de Estado no país, podem
desaguar na extinção do Partido Liberal (PL), legenda do ex-presidente e de
outros investigados por participação na intentona golpista.
Isso
porque, baseado no despacho do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação, destacando trechos da
investigação da PF que indicam que estruturas e recursos financeiros do PL
foram utilizados para a discussão do plano golpista, o senador Humberto Costa
(PT-PE) acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) para que a legenda seja
investigada e seu registro seja cassado por envolvimento com atividade
criminosa.
Segundo a
PF, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, preso durante a busca e apreensão
por porte ilegal de arma de foto, foi o "principal fiador" dos
questionamentos que sua sigla fez com relação à lisura do processo eleitoral de
2022 e, consequentemente, das articulações golpistas.
Além
disso, os investigadores apontam que a estrutura do PL foi utilizada para
reuniões entre Bolsonaro, militares e assessores para discutir a dinâmica do
golpe, que tinha como objetivo manter o ex-presidente no poder em detrimento da
vitória eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em outubro de 2022.
Nas
palavras do ministro Alexandre de Moraes, o PL foi utilizado no financiamento
de uma "estrutura de apoio as narrativas que alegavam supostas fraudes às
urnas eletrônicas, de modo a legitimar as manifestações que ocorriam em frentes
as instalações militares".
O
magistrado destaca, ainda, que a PF conseguiu estabelecer, nas
investigações, "intrínseca relação
entre núcleo jurídico da organização criminosa responsável pelas minutas
golpistas e o Partido Liberal, na pessoa de seu dirigente máximo, VALDEMAR
COSTA NETO”.
• Partido pode ser extinto
Na
representação encaminhada à PGR para investigar o Partido Liberal, o senador
Humberto Costa afirma ser "preocupante, inconstitucional, ilegal e
criminoso que a referida agremiação política tenha se utilizado, em tese, de
recursos do fundo partidário para fins de financiamento de atividades
delituosas, passando ao largo de toda a legislação nacional eleitoral, com
evidente ataque à nossa democracia e promovendo o financiamento de atos que
buscavam a abolição violenta do Estado Democrático de Direito".
"Ao
final, se comprovados os ilícitos e atos criminosos eventualmente praticados
pelo Partido Liberal, consubstanciando-se em financiamento de atividades
ilegais e criminosas com o objetivo de promover a invalidação da eleição do
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a prática criminosa de abolição
violenta do Estado Democrático de Direito, seja proposta, perante o Tribunal
Superior Eleitoral, a competente Ação de Cassação de Registro Eleitoral do
Partido Liberal, nos exatos termos da Lei n° 9096/95.", solicita o
senador.
Em
entrevista à Fórum, o advogado eleitoralista Luiz Eduardo Peccinin, membro da
Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), explicou que
"tanto a Constituição quanto a Lei dos Partidos estabelecem que o respeito
ao regime democrático, à soberania nacional e aos direitos fundamentais são
compromissos fundamentais dos partidos políticos no sistema eleitoral
brasileiro".
De acordo
com Peccinin, "se isso não for respeitado no estatuto da agremiação, a
Justiça Eleitoral sequer permitirá sua criação". O advogado destaca que,
caso seja comprovado o envolvimento do PL com a tentativa de golpe, a legenda
pode, sim ter seu registro cassado.
"Consequentemente,
a lei também prevê a possibilidade de cassação do registro de um partido que
atue contra esses fundamentos, desde que isso fique comprovado. É preciso,
ainda, separar a conduta programática do partido da de seus filiados. Assim, se
for demonstrado que qualquer partido utilizou seus recursos e estrutura para,
de modo concreto, sistemático e com gravidade, atuar para a abolição do regime
democrático, o registo pode ser cassado".
Pimenta detona Bolsonaro: "Além de
golpista é um grande covarde"
Neste
sábado (10), o ministro-chefe da Secretária de Comunicação Social do governo
Lula Paulo Pimenta fez uma postagem no X, antigo Twitter, detonando o
ex-presidente Jair Bolsonaro.
O chefe da pasta comentou a recente reunião do
ex-presidente com seus ministros divulgada pela Polícia Federal nesta
sexta-feira (9) e foi claro ao dizer que Bolsonaro é um "grande
covarde".
"Na
realidade o que os vídeos e fatos divulgados demonstram é que Bolsonaro além de
golpista é um grande covarde. Foi ele que comandou a reunião, que exigiu o
discurso golpista de todos, que estimulou as mobilizações contra as urnas
eletrônicas, que mobilizou apoio financeiro para os acampados e depois…
fugiu", disse o ministro.
O chefe da
comunicação do governo ainda deixou claro que Bolsonaro teme assumir sua
liderança na trama golpista, e que é motivo de vergonha para o país.
"Se
escondeu nos EUA e até hoje junto com a famiglia não assume sua
responsabilidade como o líder do golpe. É um covarde patético que envergonha o
exército, o Brasil e até os seus apoiadores que acreditaram nas suas
mentiras", completou Pimenta, eleito como terceiro deputado federal mais
votado do Rio Grande do Sul em 2022.
Há 30 anos Valdemar da Costa Neto foi
'pivô involuntário' de escândalo do governo Itamar
Em 14 de
fevereiro de 1994, o então presidente do Brasil, Itamar Franco (1930-2011),
brincava o carnaval no Rio de Janeiro (RJ). Na ocasião, ele foi fotografado ao
lado da modelo Lilian Ramos, sem calcinha e com uma mini saia, em um camarote
na Marquês de Sapucaí.
Além da
indiscrição do mandatário da República de ter sido flagrado na cena
controversa, chama a atenção, 30 anos depois, a presença de Valdemar da Costa
Neto nesse enredo carnavalesco.
O atual
presidente nacional do Partido Liberal (PL) está neste momento preso
preventivamente por porte de arma sem autorização e pepita de ouro ilegal.
Costa Neto está mergulhado em um dos mais graves fatos políticos brasileiros, a
tentativa de golpe de Estado arquitetada pelo grupo de Jair Bolsonaro, filiado
ao PL.
Há três
décadas, segundo relatos publicados pela imprensa da época, Lilian acabara de
desfilar como destaque da escola Grande Rio e foi levada por Costa Neto, então
deputado federal pelo PL-SP, para conhecer o presidente Itamar Franco.
Entre
conversas íntimas e gestos de afeto, como entrelaçar dedos e abraços, a relação
entre o então presidente e a modelo se tornou o foco de especulações.
A
interação ganhou um novo patamar quando, ao dançar, Lilian atendeu aos pedidos
dos fotógrafos, levantando os braços e revelando que não usava calcinha. Uma
das lentes era a do fotógrafo Marcelo Carnaval, de O Globo, que flagrou a
indiscrição que foi parar na capa do diário carioca.
O momento
de descontração de Itamar e de
indiscrição de Lilian se transformou em uma dor de cabeça para o Planalto com a
publicação da foto com a modelo sem calcinha nas capas dos principais jornais
brasileiros e ficou conhecida como "Crise da Calcinha".
O episódio
desencadeou um debate nacional sobre a conduta e a imagem da presidência, com
críticos argumentando que o episódio era "incompatível com a dignidade, a
honra e o decoro do cargo".
O
incidente chegou a ser considerado um potencial gatilho para um processo de
impeachment, especialmente levando em conta que Itamar Franco havia assumido a
presidência após a renúncia de Fernando Collor, em um contexto já sensível para
a política brasileira.
• Lilian Ramos mora na Itália
A modelo
Lilian Ramos se mudou do Brasil para a Itália há mais de 20 anos. A repercussão
negativa da "Crise da Calcinha" afetou tanto a imagem de Itamar
quanto a da modelo.
Em 2016,
ela relatou ao programa do Gugu Liberato que sua partida foi motivada pelo medo
e pela injustiça de ser julgada por algo que considerava insignificante.
• Costa Neto "pivô involuntário"
da crise da calcinha
Diante da
repercussão da "Crise da Calcinha", em 1994, Costa Neto, "pivô
involuntário" do escândalo, refutou rumores misóginos de que Lilian fosse
garota de programa e defendeu que o interesse da modelo era apenas conhecer o
presidente da República.
Após o
escândalo, Lilian chegou a cogitar a possibilidade de se candidatar a deputada
federal pelo PL, ideia que Costa Neto apoiava. Ele chegou a prever uma
expressiva votação para ela.
No ano
seguinte, em 1995, ao ser questionado sobre retornar ao Carnaval do Rio, Costa
Neto foi categórico ao dizer que "nunca mais" participaria.
Conheça a rede internacional que explica
a pepita de ouro de Valdemar da Costa Neto
Valdemar
Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), sigla do ex-presidente Jair
Bolsonaro, vai ficar preso por tempo indeterminado. A decisão do ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes foi anunciada na sexta-feira
(9).
Costa Neto
foi um dos quatro presos durante a megaoperação da Polícia Federal (PF)
deflagrada na quinta-feira (8), a Tempus Veritatis, que investiga a organização
criminosa bolsonarista que arquitetou uma tentativa de golpe de Estado no
Brasil.
O
presidente do PL é o único que, apesar de ser investigado pela intentona
golpista, foi preso por porte ilegal de arma e por possuir uma pepita de ouro
oriunda do garimpo ilegal.
• De onde vem a pepita de ouro de Valdemar
da Costa Neto
O site De
Olho nos Ruralistas revelou, em 2022, os motivos para Costa Neto portar pepita
de ouro e as interações do político com um conjunto de empresários holandeses.
Este grupo
empresarial enfrentou condenações por envolvimento em esquemas de pirâmide
financeira e tráfico internacional de drogas, tendo o presidente do PL como seu
representante no Brasil.
De acordo
com a investigação do site, Costa Neto atua como empresário na Amazônia e
mantém uma rede de conexões inclui vínculos corporativos com Jonivaldo Mota
Campos, um proeminente líder de garimpeiros no Amazonas.
As pepitas
de ouro encontradas pela PF durante o cumprimento de um mandado de busca e
apreensão na casa de Costa Neto estão conectadas com a ampla e insistente
defesa do garimpo ilegal de Bolsonaro durante seu governo.
O garimpo
ilegal está diretamente associado ao comércio ilegal de ouro. O próprio
ex-presidente Bolsonaro já admitiu ter sido garimpeiro anteriormente.
A história
por trás da pepita de ouro de Costa Neto está no dossiê "As Veias
Abertas", documento que esclarece a relação entre determinadas ações
políticas e as ações de Costa Neto relacionadas a ouro de origem ilegal.
• Família de Valdemar da Costa Neto e o
garimpo na Amazônia
Valdemar
Costa Neto, inspirado por seu pai Waldemar, fundou a VCN Mineração em 1996, mas
foi condenado em 2021 por degradar uma área do tamanho de 28 campos de futebol
em São Paulo.
Antes de
seu pai falecer em 2000, transferiu uma propriedade em Itacoatiara para a
empresa. No mesmo ano, vendeu parte da Agropecuária Patauá para a
Reflorestadora Holanda, dirigida por Francisco Jonivaldo Mota Campos, ligado à
Eco Brasil B.V. e apoiador de Bolsonaro.
Sócios da
Reflorestadora foram investigados por tráfico de drogas em 2011, mas não
condenados.
O PL, por
meio de integrantes como o candidato a deputado federal derrotado em 2022
Rodrigo Cataratas, empresário de Roraima, e bolsonarista e participante do
"Movimento Garimpo É Legal", revela conexões com o garimpo ilegal na
Terra Indígena Yanomami.
Cataratas,
que teve helicópteros apreendidos pela PF, se beneficiou de um contrato
governamental durante o governo de Bolsonaro para poços artesianos na área,
mesmo sem ser preso pela Justiça Federal por financiar o garimpo ilegal.
• PL domina Bancada do Garimpo
O garimpo
ilegal, atividade conhecida por seus significativos impactos ambientais, tem
sido central em ações violentas, incluindo homicídios e potenciais genocídios,
direcionados contra comunidades indígenas, como os Yanomami.
No
Congresso Nacional, a defesa dessa atividade ilegal é defendida por
parlamentares bolsonaristas. Em 2022, a Bancada do Garimpo no Congresso
Nacional era composta, pelos deputados federais Antônio Doido (MDB-PA), José
Medeiros (PL-MT), Joaquim Passarinho (PL-PA), Delegado Eder Mauro (PL-PA), Hugo
Leal (PSD-RJ), Silas Câmara (Republicanos-AM), Nicoletti (União-RR), José
Priante (MDB-PA), Euclydes Pettersen (PSC-MG) e Ricardo Salles (PL-SP), este
último ministro do Meio Ambiente durante o governo passado.
Silas
Câmara teve o mandato cassado em janeiro pelo Tribunal Regional Eleitoral
(TRE-AM) do Amazonas, onde Valdemar Costa Neto tem seu sócio garimpeiro.
No Senado,
completam a lista Wilder Morais (PL-GO), Davi Alcolumbre (União-AP), Wellington
Fagundes (PL-MT), Zequinha Marinho (PL-PA), Jaime Bagattoli (PL-RO), que possui
fazenda em terra indígena, e o ex-vice-presidente Hamilton Mourão
(Republicanos-RS).
Em um
vídeo de 2022 produzido pelo De Olho nos Ruralistas, intitulado "A Bancada
do Garimpo", destaca a intersecção entre política da extrema direita e a
prática do garimpo.
Fonte:
Fórum
Nenhum comentário:
Postar um comentário