O inferno
astral de Bolsonaro e dos bolsonaristas
Em
Astrologia, a expressão “inferno astral” é utilizada para definir uma fase
turbulenta de um indivíduo, a famosa “maré de azar”, em que “tudo dá errado”
(geralmente quando está se aproximando a data de seu aniversário). Embora eu
não acredite nessas coisas, considero que “inferno astral” seja uma boa
definição para caracterizar este início de ano do ex-presidente Jair Bolsonaro
(e consequentemente dos bolsonaristas).
No dia 25
de janeiro, a operação “Vigilância Aproximada”, realizada pela Polícia Federal
(PF), apontou que, durante o governo Bolsonaro, a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) teria beneficiado a família do ex-presidente com
informações privilegiadas e teria sido utilizada para monitorar, ilegalmente,
autoridades, opositores políticos e pessoas envolvidas em investigações.
Duas
semanas depois, outra investida da PF, intitulada Tempus Veritatis (“hora da
verdade”, em latim) trouxe fortes indícios de que Jair Bolsonaro, já antevendo
a vitória eleitoral de seu principal oponente na corrida presidencial,
planejava um golpe de Estado para se manter no poder, ao arrepio da lei. Além
disso, uma medida cautelar determinou que Bolsonaro entregasse seu
passaporte.
Não
bastassem as operações citadas acima, também em um intervalo de duas semanas,
os quatro principais governadores aliados de Bolsonaro – Tarcísio de Freitas
(São Paulo), Claudio Castro (Rio de Janeiro), Ratinho Junior (Paraná) e Romeu
Zema (Minas Gerais) – tiveram amistosos encontros com o presidente Lula (alvo
privilegiado da alteridade negativa do inelegível).
Se este
início de ano não está sendo fácil para o “mito”, o mesmo pode ser dito sobre
seus seguidores. Alguns, inclusive, ficaram “famosos” a partir de vídeos que
viralizaram na internet.
Em uma
padaria de Barueri, na Grande São Paulo, dois bolsonaristas discutiram sobre o
uso de laptops no estabelecimento, quase chegando às vias de fato. Dias depois,
também numa panificadora paulista, a empresária Jaqueline Santos Ludovico foi
flagrada insultando e agredindo fisicamente um casal de homossexuais. No
repertório de xingamentos, clássicos do léxico bolsonarista: “mimimi”, “eu sou
de família tradicional” e “os valores estão sendo invertidos”. A moça, que em
outras oportunidades já foi acusada de extorsão e ameaças, agora está sob
investigação da Polícia Civil de São Paulo.
Por fim,
no Rio de Janeiro, a câmera de um smartphone registrou a moradora de um prédio
que impediu um entregador negro de usar o elevador social (a mulher será
chamada para prestar depoimento e o caso está sendo investigado como injúria
por preconceito).
Lembrando
a famosa Lei de Murphy, em que nada é tão ruim que não possa piorar, o
astrólogo João Bidu, ao “mapear” os próximos passos de Bolsonaro de acordo com
os astros, concluiu que Saturno, regente do ano de 2024, será o principal
responsável pela continuidade do inferno astral do ex-presidente (coincidência
ou não, seu aniversário é no próximo mês).
Portanto,
mesmo o mais cético entre os céticos, doravante, vai acreditar em Astrologia e
torcer para que os astros sigam seus cursos, sem maiores problemas. Quem sabe a
prisão seja o grand finale do inferno astral de Jair Bolsonaro? Que Saturno não
nos decepcione!
Bolsonaro solta a mão de Heleno na trama
do golpe
Em
entrevista à Record nesta sexta-feira (9), o ex-presidente da República
investigado por tentativa de golpe de estado Jair Bolsonaro afirmou que a
operação de inteligência e o uso da Abin para se infiltrar no processo
eleitoral de 2022 foi uma ideia do ex-ministro do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), o general da reserva Augusto Heleno.
Durante a
fatídica reunião de ministérios vazada em que Bolsonaro e seus comparsas
planejaram e aventaram uma tentativa de golpe de estado, Heleno confessou que
estava em contato com o diretor da Abin para se infiltrar e utilizar a agência
de inteligência com fins eleitorais.
"Dois
pontos para tocar aqui, presidente. Primeiro, o problema da inteligência. Eu já
conversei ontem com o Victor [Felismino Carneiro], novo diretor da Abin, nós
vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados vão fazer",
dispara Heleno na reunião.
"O
problema todo disso é se vazar qualquer coisa. Muita gente se conhece nesse
meio. Se houver qualquer acusação de infiltração desse elemento da Abin em
qualquer um dos lados...", continuou o militar.
Bolsonaro
se justificou afirmando que isso era ideia do general. "Agora, em dado
momento, o Heleno falou que ia seguir os dois lados, se inteirar dos dois
lados. É o trabalho da inteligência dele, que eu não tinha participação
nenhuma. As inteligências, eu raramente usava as inteligências que nós temos,
das Forças Armadas, a própria Abin, a Polícia Federal, e eu não vejo nada de
mais naquilo", disse ao Jornal da Record.
"O
Heleno queria se estender sobre o assunto e eu falei que era cortar, olha, não
é o caso de ficar entrando em detalhes, aqui vai fazer uma operação,
faça", continuou o presidente.
Na
prática, Bolsonaro jogou o militar para fora de seu barco e tentou transparecer
que o general estava agindo por conta própria e não em favor do golpe de estado
que o beneficiaria.
• Heleno admite em reunião secreta
ilegalidade do 'esquema' na Abin: "O problema é se vazar"
Na reunião
ministerial secreta articulada por Jair Bolsonaro em 5 de julho de 2022 para
discutir a dinâmica do golpe de Estado que pretendia encampar, o então chefe do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, admitiu que
utilizaria a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionar a campanha
do então candidato à presidência naquele ano e que viria a vencer o pleito, o
atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A reunião
em questão foi gravada em vídeo que estava com o ex-ajudante de ordens Mauro
Cid, e se tornou a principal prova da Polícia Federal (PF) para deflagrar a
megaoperação Tempus Veritatis, nesta quinta-feira (8), que mirou Bolsonaro,
militares - incluindo o próprio Heleno -, ex-assessores e outros
"cabeças" da articulação golpista, que tinha por objetivo manter o
ex-presidente no poder mesmo diante de uma derrota eleitoral.
O vídeo da
reunião, cujo sigilo foi retirado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal (STF), nesta sexta-feira (9), além de Bolsonaro cobrar apoio
golpista diante de sua iminente derrota eleitoral, Heleno aparece falando em
"virar a mesa" e sugerindo colocar infiltrados da Abin na campanha de
Lula para espionar os adversários. Ele chega a admitir a ilegalidade do
"esquema", em suas próprias palavras, ao fazer o alerta de que o
plano não poderia ser vazado.
"Dois
pontos para tocar aqui, presidente. Primeiro, o problema da inteligência. Eu já
conversei ontem com o Victor [Felismino Carneiro], novo diretor da Abin, nós
vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados vão fazer",
dispara Heleno.
"O
problema todo disso é se vazar qualquer coisa. Muita gente se conhece nesse
meio. Se houver qualquer acusação de infiltração desse elemento da Abin em
qualquer um dos lados...", prossegue o general.
O ex-chefe
do GSI chegou a ser interrompido por Bolsonaro, que temia que alguma informação
sensível sobre o plano golpista fosse vazada.
"General,
eu peço que o senhor não fale por favor. Peço que o senhor não prossiga mais na
sua observação, não prossiga na sua observação. Se a gente começar a falar 'não
vazar', esquece. Pode vazar. Então a gente conversa particular na nossa sala sobre
esse assunto", pontuou o ex-presidente.
Depois,
Heleno ainda falou sobre "virar a mesa" antes mesmo das eleições.
"O
segundo ponto é que não tem VAR nas eleições. Não vai ter segunda chamada na
eleição, não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que
ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das
eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições. Depois das eleições,
será muito difícil que tenhamos alguma nova perspectiva".
• Fórum antecipou golpismo de Heleno
Desde 13
de dezembro de 2022, um dia após a diplomação de Lula no TSE e do primeiro
ataque do que genericamente era chamado de “bolsonaristas” contra a capital
federal, que terminou a noite com ônibus e carros incendiados, vias fechadas e
depredadas e uma tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, a Fórum já
vinha denunciando, por meio de informações disponibilizadas por um servidor da
PF lotado dentro do Palácio do Planalto, que o GSI e seu então chefe, o general
Augusto Heleno, tinham responsabilidade na organização dos ataques, que se
intensificariam na véspera de Natal, quando um caminhão com 60 mil litros de
querosene quase explodiu o aeroporto de Brasília, e por fim no trágico 8 de
janeiro de 2023.
Em seus
depoimentos na CPI da Câmara Distrital do DF e na CPMI do Congresso Nacional,
Heleno foi questionado inúmeras vezes sobre sua participação na tramoia
golpista, mas sempre negou, inclusive atacando a Fórum e o repórter autor das
matérias que o denunciavam, afirmando nunca ter se envolvido nesse tema e
fazendo acusações de prática de mau jornalismo. Com as investigações da PF e o
inquérito remetido ao STF, a participação do general da reserva no episódio
apenas se confirma.
PF descobre agenda de General Heleno com
plano golpista anotado à mão
A Polícia
Federal encontrou durante busca e apreensão na casa do general da reserva Augusto Heleno uma agenda com anotações sobre
o plano de golpe de Estado criado em 2022. A informação foi divulgada pelo O
Globo.
Nesta
quinta-feira (8), o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)
foi alvo de uma busca e apreensão no âmbito da Operação Tempus Veritatis.
Além da
reunião em que Heleno sugere um tentativa de golpe de estado antes das eleições
de 2022 para garantir Bolsonaro no poder, uma nova evidência de sua
participação na agenda golpista do antigo governo foi encontrada pelos
federais.
Segundo os
investigadores, a agenda tem anotações com planejamento para o golpe que
converge com outros documentos da conspiração bolsonarista, incluindo o
discurso pós-golpe encontrado no escritório de Jair Bolsonaro na sede do PL.
O general
genial deixou todas as evidências anotadas, com os temas golpistas registrados
em papel pelo ex-ministro que comandava a inteligência brasileira.
Constam no
bilhete a redução dos poderes de Alexandre de Moraes com um parecer da
Advocacia Geral da União.
Novos
documentos também foram encontrados na casa do ex-ministro da Justiça Anderson
Torres, o homem que guardou uma minuta de golpe de Estado descoberta no ano
passado.
Desde
dezembro do ano de 2022, a Fórum tem ouvido fontes que relatam a participação
fulcral do General Augusto Heleno nas movimentações golpistas pós-eleições.
Além
disso, Heleno também é investigado no âmbito da investigação da Abin Paralela,
e, segundo a PF, ele também teria sugerido o uso de agentes da Abin para
interferência nas últimas eleições.
Fonte:
Fórum
Nenhum comentário:
Postar um comentário