Estudo:
Adolescente retraído socialmente tem maior chance de pensar em suicídio
Se um adolescente
não está participando do jogo de futebol da escola, não está passeando com os
amigos ou está muito ausente de outras dinâmicas sociais, é fácil atribuir
essas escolhas à angústia do período da adolescência. Mas você deve prestar
mais atenção, pois o isolamento social pode sinalizar que algo mais profundo
está acontecendo. É o que aponta um novo estudo publicado na última
quinta-feira (25) na revista JAMA Network Open.
De acordo
com a pesquisa, ser socialmente retraído e sentir desconforto físicos na
pré-adolescência está associado a um maior risco de ter pensamentos suicidas
aos 16 anos.
Em todo o
mundo, 10% a 20% dos adolescentes têm pensamentos suicidas, e o suicídio é uma
das principais causas de morte entre essa população, destacando a necessidade
de reforços de prevenção.
As taxas
de tentativas de suicídio e mortes por suicídio entre crianças e jovens adultos
nos Estados Unidos também têm aumentado nos últimos anos, de acordo com os
Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.
Até onde
os autores sabem, “estudos anteriores sobre pensamentos suicidas focaram
principalmente em uma categoria de sintomas psicopatológicos, como depressão,
ansiedade e sintomas psicóticos”, disse Shuntaro Ando, autor principal do
estudo e professor associado do departamento de neuropsiquiatria da
Universidade de Tóquio.
Mas o
presente estudo examinou as associações entre a trajetória de longo prazo de
múltiplas categorias de sintomas psicológicos e comportamentais e pensamentos
suicidas.
Os autores
analisaram adolescentes envolvidos no estudo Tokyo Teen Cohort, que examinou o
desenvolvimento mental e físico desses jovens durante a adolescência desde
2012. Os 2.780 participantes deste estudo nasceram entre 2002 e 2004 e seus
pais responderam questionários sobre os sintomas mentais e comportamentais de
seus filhos aos 10, 12 e 16 anos.
Esses
sintomas estavam nas categorias de retraimento social, “queixas somáticas”,
ansiedade ou depressão, problemas sociais, problemas cognitivos, problemas de
atenção, comportamento delinquente e comportamento agressivo.
As queixas
somáticas referem-se a sintomas físicos sem causa médica conhecida, como dores
de cabeça, náuseas, problemas de pele, problemas de visão ou dores de estômago.
Ter
pensamentos suicidas foi definido respondendo “sim” ou “de certa forma sim” à
pergunta: “Você atualmente acha que não deveria estar vivo?”
Os
participantes que experimentaram isolamento social e sintomas somáticos durante
a adolescência tinham cerca de duas a três vezes mais probabilidade de ter
pensamentos suicidas aos 16 anos, descobriu o estudo.
As
descobertas correspondem ao que John Duffy, um psicólogo de Chicago que não
esteve envolvido no estudo, viu em sua prática.
“Ou seja,
os adolescentes com quem trabalhei que são socialmente retraídos e apresentam
sintomas somáticos – ansiedade, em particular – no início da adolescência têm
um risco muito maior de ideação suicida no meio e no final da adolescência”,
acrescentou Duffy, autor de “Rescuing Our Sons” (Resgatando Nossos Filhos, em
tradução livre). “Isso é inegavelmente
verdade e um argumento muito forte para uma intervenção precoce.”
O estudo
também é útil para pais e profissionais de saúde mental, pois confirma mais
fatores de risco para o suicídio entre adolescentes, de acordo com Christopher
Willard, professor associado de psiquiatria na Harvard Medical School em Boston
(EUA) e autor de “Growing Up Mindful” (Crescendo Consciente, em tradução
livre). Willard não estava envolvido no estudo.
• Explicando as descobertas
Os autores
reconhecem algumas limitações importantes no trabalho, incluindo a falta de
informação sobre genética e experiências adversas na infância. Além disso, os
sintomas psicológicos e comportamentais foram relatados pelos cuidadores e não
pelos próprios adolescentes.
Mas a
ligação entre o retraimento social e os pensamentos suicidas pode ser explicada
pela “perda de ligações sociais protetoras”, segundo o estudo.
“Como
seres humanos, estamos preparados para a conexão social”, disse Willard.
“Quando é neutro ou positivo, nos eleva, ajuda a nossa saúde mental, nos ajuda
a ter algo pelo que viver. Isso nos dá perspectiva.” Ter uma rede de apoio pode
fazer com que os problemas de saúde mental pareçam mais controláveis,
acrescentou.
A falta
destas coisas pode por vezes influenciar a forma como as crianças se sentem em
relação a si próprias à medida que o cérebro se desenvolve numa idade precoce,
resultando numa perspectiva negativa que persiste ao longo do tempo.
Quanto à
associação entre sintomas somáticos e pensamentos suicidas, o sofrimento
psicológico pode se manifestar fisicamente, especialmente em “culturas que
inibem a expressão emocional”, disseram os autores.
Em sua
prática, Duffy descobriu que os achados são especialmente verdadeiros entre
meninos e homens jovens, disse ele. “Acho que isso se deve em grande parte ao
fato de que as meninas são imbuídas desde cedo de uma linguagem rica e
emocional que os meninos continuam carecendo até hoje.”
A hipótese
cultural também é relevante entre as crianças negras, que tendem a apresentar
mais sintomas somáticos do que as crianças brancas, disse Willard – “então [o
estudo] pode nos ajudar a identificar ainda melhor grupos de crianças carentes
e negligenciados que estão realmente sofrendo e em risco”, finalizou.
• O que os pais e responsáveis podem fazer
O
afastamento social por opção é normalmente mais preocupante do que o
afastamento devido à exclusão de outras crianças, disse Willard.
Mas não
interprete o afastamento deles como um ponto de preocupação, pois isso é normal
em termos de desenvolvimento e eles podem substituir os familiares por mais
tempo com os colegas.
Familiares
e tutores também não devem presumir “que os sintomas de abstinência não são um
problema porque a criança sempre foi tímida e prefere ficar sozinha”, disse
Ando.
Mas se os
filhos disserem que estão saindo com amigos, mas for constatado que não é o
caso, isso pode significar que eles não apenas estão socialmente retraídos, mas
também têm vergonha de falar sobre o assunto. Um professor ou supervisor pode
ser capaz de lhe dar uma pista sobre esse comportamento, bem como ajudar o
adolescente a se envolver mais socialmente.
Se os
adolescentes estão isolados por causa de outras crianças, é interessante
promover atividades fora da escola, sugeriu Willard.
“Se você
ouvir muitas reclamações sobre dores, isso não significa que seu filho seja
suicida”, disse Willard. “Mas você pode querer perguntar um pouco sobre como
eles estão se sentindo em geral, se eles têm coisas pelas quais estão ansiosos
e assim por diante.”
Quando se
trata de saber se seu filho é suicida, fique atento a sintomas como alterações
extremas de humor, desesperança, doação de pertences preciosos ou obsessão pela
morte.
Buscar
ajuda profissional precocemente como uma abordagem preventiva para questões
mais profundas posteriormente é importante, disse Duffy.
Entenda a Síndrome de Truman, em que
pessoas acreditam viver em um reality show
Imagine
viver uma vida em que todas as pessoas ao seu redor são atores, a cidade onde
vive é um grande cenário e tudo o que acontece no seu entorno está
milimetricamente filmado e controlado por outras pessoas. Tudo o que você vive
não passa de um reality show.
A história
parece familiar, né?! Esse é o enredo do filme “O Show de Truman”, lançado em
1998 e estrelado por Jim Carrey. Também é algo semelhante ao que vemos em
reality shows de confinamento, como no BBB (Big Brother Brasil).
Inclusive,
o assunto ganhou notoriedade após Vanessa Lopes, ex-participante do reality,
ter gerado perplexidade ao sugerir que seus colegas eram atores colocados no
programa para a manipularem. Alguns internautas acharam a teoria da sister
semelhante ao enredo da ficção.
Porém,
para algumas pessoas, a sensação de estar sendo gravado não é mera fantasia. O
termo “Síndrome de Truman” foi usado pela primeira vez em 2008 pelo psiquiatra
Joel e o neurofilósofo Ian Gold.
Em um
estudo, os irmãos descreveram uma série de pacientes que apresentam delírios
nos quais eram participantes de um reality show que transmitia sua vida diária
para o entretenimento de outras pessoas – assim como aconteceu com o personagem
de Carrey e como acontece na dinâmica do BBB.
O que é
síndrome de Truman?
Segundo
Alexandre Valença, psiquiatra forense da ABP (Associação Brasileira de
Psiquiatria), a Síndrome de Truman é uma condição clínica na qual uma pessoa
pensa estar imersa em um espetáculo onde ela é a protagonista.
“Através
de um delírio, a pessoa pensa que sua vida é um reality show e que está sendo
vista por todos através de câmeras”, explica o especialista à CNN. “Quem sofre
com o delírio tem a sensação de que existe um diretor fora do campo de visão,
como se ele estivesse guiando o indivíduo em todas as cenas de sua vida”,
completa.
A Síndrome
de Truman não é reconhecida como uma síndrome de fato por entidades médicas.
Mas, apesar disso, pode estar relacionada a outros transtornos psiquiátricos,
como:
• Transtorno de ansiedade generalizada;
• Transtorno de personalidade;
• Esquizofrenia;
• Transtorno bipolar;
• Transtorno de Borderline.
“A
condição pode ser um sintoma inicial de esquizofrenia, mas também pode
acontecer no transtorno bipolar, principalmente em quadros que são acompanhados
de sintomas psicóticos, como delírios e alucinações, além de poder estar
associado a transtorno psicótico induzido por abuso de substâncias, como
cocaína e anfetamina”, completa Alexandre.
O
diagnóstico do transtorno que pode estar relacionado aos sinais de Síndrome de
Truman deve ser feito por um médico psiquiatra. Também é esse o profissional
que irá prescrever o melhor tratamento, que pode incluir medicação, terapia
cognitiva-comportamental e terapia ocupacional.
• Como a síndrome de Truman se manifesta?
A Síndrome
de Truman pode se manifestar de maneira física e emocional. “Isso pode
acontecer de maneira sutil ou mais intensa. Muitas vezes, o indivíduo pode
começar a ficar irritadiço, tenso ou até mesmo com mal-estar físico, com
sintomas como dor no peito, falta de ar e insônia”, afirma Ivan Ho, psiquiatra
na Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo, à CNN.
Em relação
aos sintomas psicóticos, a pessoa com um quadro de Síndrome de Truman pode ter
ideais de perseguição, delírios, alucinações auditivas e visuais e ter
sentimentos de grandeza.
“Ela
enxerga e ouve algo que ninguém mais vê ou escuta, pode achar que é muito
importante e que, por isso, está sendo gravada”, diz o psquiatra.
• Quais são os fatores de risco?
Entre os
principais fatores de risco para o desenvolvimento de sintomas da Síndrome de
Truman é ter transtornos psiquiátricos relacionados. Além disso, a
pré-disposição genética também é um fator associado a doenças psiquiátricas.
“Nós
sabemos que transtornos como a esquizofrenia e o transtorno bipolar têm
componentes genéticos importantes para o seu desenvolvimento. Além disso, ter
vivido situações de abuso e negligência na infância também podem ser fatores de
risco”, explica Alexandre.
Além
disso, o uso excessivo de redes sociais também pode desencadear sintomas de
delírio semelhantes aos da Síndrome de Truman, na visão dos especialistas.
“O mundo
atual, com as redes sociais, impacta a saúde mental da maioria das pessoas,
podendo, sim, desencadear ou agravar o sofrimento mental”, afirma Ivo Ho.
Fonte: CNN
Brasil
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