Se superar desmatamento, Floresta Amazônica pode ganhar 15 mil ha até
2050 e contribuir para atenuar crise climática
Floresta Amazônica pode aumentar em mais de 15 mil hectares no Brasil,
até 2050, caso a execução de programas para controle do desmatamento e combate
a queimadas, aliada a uma intensa fiscalização governamental, continue. Os
avanços com a conservação do bioma florestal têm o potencial de gerar
benefícios sociais de mais de 21 milhões de dólares, considerando a captura e a
estocagem de carbono realizadas pela vegetação e as estimativas do custo social
do carbono.
Os dados foram levantados por pesquisadores que se basearam na dinâmica
de uso e ocupação do solo na Floresta Amazônica, no estado do Tocantins, entre
2000 e 2020, e, por meio da metodologia de avaliação biofísica e econômica da
dinâmica do carbono, simularam o estoque de carbono em 2050. Os resultados
estão publicados no periódico Sustainable Production and Consumption, da
Science Direct.
O estoque de carbono representa a quantidade do elemento químico
retirada da atmosfera e mantida em florestas e oceanos, principalmente na
biomassa dos vegetais e no solo. Esse processo faz parte do ciclo do carbono,
permitindo sua reciclagem e mantendo-o em circulação entre os seres vivos.
Contudo, quando há um desequilíbrio no ciclo do carbono, com emissões maiores
do que a capacidade de captura pelos reservatórios, por exemplo, ocorre um
aumento da sua concentração na atmosfera.
“Esse aumento da concentração de carbono na atmosfera é considerado o
principal culpado pelas mudanças climáticas. Dessa maneira, o ciclo do carbono
é responsável pela relativa estabilidade climática e pelo bem-estar humano”,
explica à Ciência UFPR um dos autores do artigo, Junior Ruiz Garcia, professor
do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e
coordenador do Grupo de Estudos em MacroEconomia Ecológica (Gemaeco).
Segundo ele, a relativa estabilidade climática é um dos componentes
básicos para a vida e, portanto, para a sociedade e para a produção de bens e
serviços.
“Nesse sentido, a perda da relativa estabilidade climática, em função do
aumento da concentração de carbono na atmosfera, pode gerar efeitos negativos
sobre as atividades econômicas, inclusive levar à morte precoce de pessoas e
animais”.
Por isso, os valores econômicos do estoque de carbono são uma forma de
expressar sua importância para a sociedade em valores monetários.
Para calcular esse custo, realiza-se uma estimativa (em unidades
monetárias) decorrente da emissão de uma tonelada adicional de dióxido de
carbono (CO2) pelas atividades humanas sobre o bem-estar humano e o
ecossistema.
“É uma forma de dar valor econômico aos efeitos das mudanças climáticas
para a sociedade. O custo social representa os danos causados às propriedades,
redução da produtividade do trabalho ou da renda das famílias por cada tonelada
adicional de emissões de dióxido de carbono”, esclarece Milton Marques
Fernandes, professor de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Sergipe
(UFS), também envolvido na pesquisa.
• Agricultura e outras
práticas humanas alteram a dinâmica de estocagem de carbono
O Tocantins é um dos estados brasileiros mais impactados pelos incêndios
florestais, com mais de 225 mil focos de queimada registrados de 1998 a 2016.
Tais incêndios levaram a alterações na dinâmica de uso e ocupação do solo,
incluindo a perda direta de vegetação, o que contribuiu para mudanças no
estoque de carbono.
Mas outros fatores, como a expansão agrícola, a construção de estradas,
a implementação de projetos hidrelétricos e de mineração e o comércio ilegal de
madeira também desempenham um papel crucial na condução destas mudanças. O
desmatamento contínuo na Amazônia levou ao aumento das emissões de gases de
efeito estufa e impactou os estoques de carbono e sua capacidade de sequestro.
Só em 2020, as mudanças na dinâmica do uso do solo pela agricultura
foram responsáveis pela emissão de 998 milhões de toneladas de CO2, tornando o
setor a maior fonte de emissões brutas de gases de efeito estufa do Brasil,
representando 46% do total nacional naquele ano. Na prática, essas mudanças na
ocupação do solo significam a conversão de áreas de floresta e de cerrado em
pastagens para uso pecuário.
Cada tipo de ecossistema tem diferentes compartimentos de estoque de
carbono.
“No estudo, adotamos quatro compartimentos: estoque de carbono no solo,
nas raízes, na biomassa morta e na biomassa viva. Neste contexto, as vegetações
do cerrado, as florestas e as pastagens apresentam diferentes quantidades de
estoque de carbono em cada compartimento. As pastagens têm a menor estocagem de
carbono, pois apresentam apenas dois compartimentos, as raízes e o solo. Já as
florestas possuem os quatro compartimentos e maior estoque total que as
pastagens”, afirma Fernandes.
Assim, quando ocorre a conversão da Floresta Amazônica para pastagem,
por exemplo, existe uma maior emissão de CO2 para a atmosfera e uma menor
capacidade de sequestro de carbono pelas pastagens.
• Há esperança apesar dos
desmatamentos e das queimadas
Entretanto, o estudo mostrou que a floresta pode estar em processo de
regeneração no Tocantins. O aumento na formação florestal relatado no artigo se
deve à maior fiscalização dos órgãos governamentais e à execução de projetos
nacionais e estaduais de combate às queimadas e ao desmatamento.
“Apesar de o desmatamento ainda persistir no cerrado, há indícios de que
áreas desmatadas na Floresta Amazônica do estado do Tocantins podem ter sido
abandonadas e, por isso, estão em processo de regeneração, contribuindo para a
captura e estocagem de carbono”, avalia Garcia.
A cobertura florestal tem maior potencial de captura e estocagem de
carbono do que áreas de cerrado, vegetação que oferece outros benefícios para a
sociedade, como abrigar nascentes de rios importantes para o abastecimento de
água.
Supondo que a dinâmica de uso e ocupação da terra observada entre 2000 e
2020 seja mantida até 2050, os pesquisadores detectaram que a cobertura da
Floresta Amazônica pode aumentar em mais de 15 mil hectares, o que
corresponderia à captura e à estocagem de carbono de mais de dois milhões de
toneladas.
“Considerando a estimativa em valores monetários, com base no custo
social do carbono, representaria mais de 56 milhões de dólares. Contudo, em
razão da emissão de carbono resultante da redução na área de cerrado, que é
estimada em 13,5 mil hectares, a contribuição do aumento da cobertura florestal
é menor”, analisa o professor da UFPR. Por isso, na ponta do lápis, os cálculos
geram cerca de 21 milhões de dólares em benefícios sociais.
Fernandes acredita que a estimativa do valor econômico do sequestro de
carbono pela Floresta Amazônica de Tocantins destaca uma oportunidade para
ajudar a financiar ações que podem contribuir para a captura e o armazenamento
de carbono.
“Houve alguns avanços nos últimos anos, como a promulgação da Lei
14.119/21 sobre a política nacional de pagamentos por serviços ambientais, em
2021, e o projeto que regulamenta o mercado brasileiro de redução de emissões
de gases de efeito estufa e de créditos de carbono, em 2023”.
Para os pesquisadores, o desafio é manter a proteção nas áreas de
regeneração. “É crucial monitorar e controlar o desmatamento, pois isso
contribui para a proteção da biodiversidade, para a mitigação das alterações
climáticas, para a preservação dos serviços ecossistêmicos e para a garantia do
desenvolvimento sustentável. Ao abordar ativamente a desflorestação, o ambiente
pode ser salvaguardado, garantindo um futuro melhor para as gerações
vindouras”, concluem.
Por que a Amazônia virou
alvo da disputa entre PCC, CV e mais 20 facções
A Amazônia tem se consolidado como um dos epicentros da atuação do crime
organizado no Brasil. Ao menos 22 facções, como Primeiro Comando da Capital
(PCC), Comando Vermelho (CV) e até organizações estrangeiras, disputam o
controle de rotas em Estados brasileiros da região, segundo relatório divulgado
nesta quinta-feira, 30, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Como reflexo disso, a taxa de mortes violentas intencionais (MVI) por lá
foi de 33,8 para cada 100 mil habitantes no último ano, 45% superior à média
nacional. As disputas entre facções afetam quase um terço da população da
Amazônia (31,1%), o que eleva a percepção de insegurança dos moradores.
Como mostrou o Estadão, comunidades indígenas e quilombolas têm usado
até drones para proteger seus territórios. O espalhamento da violência também
impulsiona crimes ambientais, como o desmatamento e queimadas, que bateram
recorde no Amazonas em outubro.
No ano passado, as mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista
Dom Phillips, no oeste amazonense, chocaram o País. Pesquisadores afirmam,
porém, que não se trata de episódio isolado. O relatório do Fórum será
apresentado na edição deste ano da Cúpula das Nações Unidas Sobre Mudança
Climática, a COP-28, em Dubai.
“Grande parte das dinâmicas observadas na Amazônia estão relacionadas à
localização geográfica estratégica da região”, diz o pesquisador Aiala Colares
Couto, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da
Universidade Estadual do Pará (UEPA).
O Amazonas, afirma, é uma das principais portas de entrada da cocaína
produzida em países como Colômbia, Peru e Bolívia. Já Pará e Amapá são vistos
como locais de passagem, seja para o envio da droga a outros Estados, seja para
a exportação para África, Ásia e Europa, onde a revenda se torna mais rentável.
Hoje, segundo o relatório, entre pelo menos 22 facções em atuação na
Amazônia, há inclusive a presença de organizações estrangeiras, como as frentes
Carolina Ramirez e Acácio Medina, dissidências das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Ainda com essa “internacionalização”, somente o Comando Vermelho,
considerado dominante na região, e o PCC, visto como a maior organização
criminosa do País, estão presentes em todos os Estados.
“Grupos locais que atuavam em Estados no Norte passaram a ingressar no
grupo de São Paulo (PCC) ou do Rio (Comando Vermelho), em alianças que se
estabelecem a partir do sistema prisional”, afirma Couto.
O avanço dessas duas organizações na Amazônia se dá em associação com
facções locais ou em paralelo ao enfraquecimento de outros grupos. Um dos
exemplos desse último caso é a Família do Norte (FDN), do Amazonas, que teve
protagonismo até 2017, quando uma onda de rebeliões em presídios atingiu o
País, mas se enfraqueceu após travar embates com o PCC.
Fonte: Por Jéssica Tokarski, em Ciência UFPR/Agencia Estado
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