Asma: 10 coisas que você precisa saber para conviver melhor com a
doença
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)
e a Rede Global de Asma, até 334 milhões de pessoas podem estar sofrendo de
asma em todo o mundo. No Brasil, o SUS registrou 1,3 milhão de atendimentos a
pacientes com asma na Atenção Primária à Saúde.
O Mnistério da Saúde brasileiro estima que 23,2% da
população viva com a doença, e a incidência varia de 19,8% a 24,9% entre as
regiões do país.
Em entrevista a Ousmane Badiane, jornalista do
serviço africando da BBC, o médico Ali Baddredine, pneumologista baseado na
capital senegalesa, Dakar, esclarece as causas, os sintomas e as dicas para
conviver melhor com a asma.
• O que
é a asma?
A asma é uma doença respiratória crônica
caracterizada por dificuldades respiratórias e 'chiado' no peito.
Ela é causada pela inflamação e contração dos
músculos ao redor das vias respiratórias, tornando a respiração mais difícil. A
asma não tem cura, mas pode ser controlada.
"Na verdade, a asma é uma doença inflamatória
crônica das vias aéreas inferiores, ou seja, brônquicas, que é definida pela
presença de sintomas respiratórios. Além da dificuldade respiratória e do
chiado, ela também pode se manifestar como tosse seca ou sensação de aperto no
peito", explica Baddredine.
De acordo com o especialista, os sintomas variam ao
longo do tempo e em intensidade.
"Geralmente, eles são mais frequentes à noite
ou de manhã cedo", complementa.
• Quais
são os fatores desencadeadores ou agravantes?
Vários fatores podem desencadear ou agravar os
sintomas da asma. A predisposição genética à alergia combinada com fatores
ambientais externos são frequentemente gatilhos para crises da doença.
A inalação de vapores irritativos ou fumaça pode
causar desconforto respiratório ou uma crise em uma pessoa com asma.
Algumas fumaças são particularmente prejudiciais,
como a fumaça do tabaco, que contém muitas substâncias irritantes que podem
agravar a inflamação das vias aéreas e desencadear uma crise de asma.
A exposição prolongada a substâncias alergênicas,
como pólen, ácaros, poeira, pelos de animais, mofo, aerossóis domésticos,
solventes e certos perfumes, também pode desencadear uma crise de asma.
"É importante saber que a asma é uma doença
multifatorial em que vários fatores estão envolvidos nas manifestações. Há um
componente genética, mesmo que a asma não seja sempre hereditária. E há
principalmente fatores ambientais, como infecções virais, poluição do ar e
exposição a alérgenos."
• Quais
são as conexões entre as mudanças climáticas e a asma?
As pessoas que sofrem de asma estão entre as mais
vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, que afetam a saúde
respiratória das pessoas em risco de várias maneiras.
Elas influenciam a saúde das vias respiratórias,
uma vez que os pulmões estão diretamente expostos ao mundo exterior e são os
primeiros a enfrentar todo tipo de irritação.
De acordo com especialistas, as crises de asma são
frequentemente desencadeadas por poluentes e alérgenos, como pólen, emissões de
escapamento (poluição do tráfego), poluição do ar (como a causada por incêndios
florestais), ondas de calor, incêndios florestais, tempestades de poeira,
inundações e aumento da umidade.
"Todos esses elementos causam uma
hiperreatividade porque as vias aéreas dos asmáticos são hiper-reativas, o que
as torna sensíveis a esses fatores agressivos que afetam a mucosa brônquica, e
a reação subsequente é o broncoespasmo ou tosse devido a diferentes fenômenos
inflamatórios", adverte Baddredine.
• Quais
são as pessoas em risco de desenvolver asma?
A asma afeta pessoas de todas as idades, mas é mais
comum em indivíduos mais jovens. Embora fatores genéticos contribuam, a
transmissão da asma dos pais para os filhos não é sistemática.
Embora não exista um perfil típico de pessoas que
podem desenvolver asma, algumas pessoas têm maior probabilidade de desenvolvê-la.
Isso inclui pessoas com histórico familiar de asma,
rinite alérgica ou eczema, nascidos prematuramente, crianças que tiveram
infecções respiratórias graves e frequentes (pneumonia, infecção por rinovírus,
vírus sincicial respiratório, etc.), pessoas com obesidade, aquelas que foram
expostas por longos períodos à fumaça passiva e à poluição do ar, e aquelas com
refluxo gastroesofágico.
Segundo o médico Ali Baddredine, não podemos falar
propriamente de pessoas em risco, porque não é uma doença influenciada por
fatores específicos, então não podemos falar de risco à priori.
"É verdade que quando bebês têm infecções
virais repetidas, isso pode favorecer o que chamamos de hiperreatividade
brônquica, tornando-os propensos a asma. Mas não podemos falar claramente de
uma população em risco. Não é como, por exemplo, a hipertensão arterial, que
está ligada a indivíduos desnutridos, com consumo excessivo de sal e produtos
que podem causar hipertensão."
• Qual
é a diferença entre asma e sinusite?
A sinusite crônica está frequentemente associada à
asma, mas, ao contrário da asma, que afeta os pulmões, a sinusite afeta os
seios nasais. Ela está presente na maioria dos pacientes com sintomas de asma.
A associação frequente de asma e sinusite se deve
ao fato de que as pessoas com asma alérgica têm um risco maior de desenvolver
sinusite devido à maior sensibilidade de sua mucosa respiratória.
"A sinusite é, na verdade, uma inflamação das
vias aéreas superiores, e os seios nasais são específicos, mas há uma
correlação. Existe uma semelhança entre a mucosa nasossinusal e brônquica. Nem
todas as asmas estão associadas a sinusite, mas quando você tem sinusite, é
importante tratá-la, porque a longo prazo, como é a mesma mucosa, a inflamação
pode se espalhar das vias aéreas superiores para as inferiores, brônquicas, e
se transformar em asma", descreve o especialista.
• Como
tratar a asma?
É importante entender que a melhor abordagem para o
tratamento da asma é a prevenção, que começa com a educação do paciente. Para
evitar crises de asma, é desaconselhável para os pacientes fumarem ou
frequentarem locais com fumaça, se expor a fatores que podem desencadear ou
agravar a doença, e usar produtos irritantes para as vias respiratórias, como
tintas, colas e produtos de limpeza.
Se a evitação dos fatores desencadeantes não for
suficiente para manter um controle adequado dos sintomas, é recomendado que as
pessoas com asma utilizem corticosteroides inalados, que tratam a inflamação
persistente das vias respiratórias.
"Como mencionamos, a asma é uma doença
inflamatória crônica das vias aéreas, o que significa que é necessário
considerar um tratamento de base e um acompanhamento regular. Antes de tudo, é
importante educar o paciente."
A educação do paciente, segundo o especialista, envolve
conscientizá-lo sobre a doença, como prevenir as crises, que são episódios de
piora e exacerbação da doença.
"Você tem asmas latentes, que não se
manifestam o tempo todo, asmas leves, intermitentes em períodos estáveis, sem
nenhum sintoma. No entanto, esses indivíduos precisam de acompanhamento regular
com um pneumologista e de exames funcionais que permitem quantificar a asma e
ajustar o tratamento de base e classificá-lo", afirma Ali Baddredine.
• É
possível que uma pessoa com asma pratique esportes?
É possível conciliar a doença com a prática regular
de atividades esportivas. O esporte contribui para a aquisição de um bom
condicionamento muscular e melhora o gerenciamento do estresse em pessoas com
asma.
"O esporte é uma das pedras angulares do tratamento.
Existem atletas e campeões que têm asma; a chave está em gerenciar bem a asma.
Além disso, os medicamentos para a asma não são considerados substâncias
dopantes", observa Baddredine.
A natação, a hidroginástica, o ciclismo e a
caminhada em ritmo acelerado são benéficos para pessoas com asma. No entanto, a
corrida, especialmente a corrida de resistência, e especialmente em condições
de frio, pode desencadear crises de asma. Para evitá-las, a pessoa com asma
deve usar um broncodilatador 10 a 15 minutos antes da corrida e fazer um
aquecimento adequado.
As atividades físicas devem ser personalizadas e
adaptadas de acordo com a idade e a capacidade respiratória do paciente.
Pessoas com sintomas de asma devem consultar um profissional de saúde antes de
iniciar qualquer atividade esportiva.
• A
asma pode ser fatal?
"Sim, a asma pode ser benigna, mas uma crise
pode levar o paciente à morte", aponta o pneumologista.
Existem crises agudas graves de asma, que são
espontaneamente graves e requerem a internação do paciente em uma unidade de
terapia intensiva.
"Muitas vezes, isso acontece com pessoas que
interromperam o tratamento sem orientação médica e que estão passando por um
contexto psicológico específico, porque as crises graves de asma também têm uma
componente psicogênica, especialmente entre adolescentes e jovens."
Além disso, diz o especialista apesar de todas as
opções terapêuticas disponíveis, não podemos esquecer que às vezes há erros de
diagnóstico e superdiagnóstico de asma.
Segundo ele, alguns pacientes podem morrer do
chamado de "asma equivalente", especialmente os idosos que têm o
chamado "asma cardíaca pseudo-asma". Às vezes, diz-se que eles
morreram de asma, quando na verdade morreram de outra doença que se assemelha à
asma, especialmente entre os idosos", alerta Baddredine.
A asma pode ser uma doença grave, mas com o
tratamento adequado, é possível controlá-la.
Uma asma mal controlada pode causar sintomas
irreversíveis e levar a uma crise ou insuficiência respiratória potencialmente
fatal. Durante uma crise, a abertura das vias respiratórias é reduzida devido a
uma reação inflamatória significativa e à contração dos músculos das paredes
das vias respiratórias.
A respiração normal se torna quase impossível para
o paciente. Embora as crises possam ser eficazmente controladas com
medicamentos, elas são potencialmente perigosas, especialmente em pessoas
vulneráveis, como crianças pequenas, idosos ou aqueles com infecções
respiratórias.
• Como
viver bem com a asma?
Viver com a asma é um desafio, mas não é
impossível, desde que algumas regras diárias sejam seguidas. Adotar um estilo
de vida saudável, evitar fatores desencadeantes e seguir o tratamento adequado
permite controlar a doença e levar uma vida plena e ativa, praticamente sem
sintomas.
Asma
atinge mais mulheres: o que falta ciência esclarecer
A principal característica da asma - doença
inflamatória crônica das vias aéreas - é a dificuldade de respirar quando a
pessoa é exposta a agentes alergênicos, que vão desde alimentos específicos até
mudanças bruscas no clima e contato com resíduos como pólen ou poeira.
Há, também, fatores genéticos, entre os quais se
destacam o histórico familiar de asma ou rinite e obesidade. Mas por que ela
atinge mais mulheres?
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE
(2019), mais de 8 milhões de brasileiros com 18 anos de idade ou mais receberam
o diagnóstico de asma. A maioria deles, 5,1 milhões, são mulheres, contra 3,2
milhões de homens.
Para quem sofre com a doença, os sintomas mais
comuns são tosse frequente, prolongada, geralmente durante a noite, nem sempre
com catarro; chiado, cansaço, opressão no peito com dificuldade para respirar.
Nos casos mais graves, a doença pode causar
episódios debilitantes. Foi o caso da galesa Lisa Hall: diagnosticada com asma
logo após ter seu filho, ela se preocupou se estaria bem o suficiente para
cuidar dele.
Cerca de 180 mil mulheres no País de Gales têm
asma, e dados sugerem que o quadro mata duas vezes mais mulheres do que homens.
Uma instituição de caridade do país de Lisa afirmou que as mulheres estavam
sendo deixadas de lado pela ciência, consierando a falta de pesquisas sobre as
ligações entre as alterações hormonais e a asma.
Quase 70% das pessoas que morreram de asma no país
entre 2016 e 2020 eram mulheres, de acordo com os dados oficiais do país.
Em um novo relatório, a instituição de caridade
Asthma + Lung UK disse que é necessário um investimento urgente em pesquisa,
alegando que as desigualdades e a falta de pesquisa estão deixando as mulheres
"presas em um ciclo de entrar e sair do hospital e, em alguns casos,
perder a vida".
Lisa tinha 28 anos quando foi diagnosticada com
asma, pouco depois de ter seu filho, e disse que precisava não apenas se
ajustar a ser mãe, mas "tinha esse novo diagnóstico para fazer
malabarismos".
"Eu não gostaria que uma nova mãe ou qualquer
outra mulher ou menina experimentasse a mesma coisa que eu", disse ela.
"Precisamos entender melhor como a asma afeta as mulheres para que
possamos encontrar novos tratamentos que devolvam a vida de pessoas como
eu."
Tendo passado os últimos 13 anos vivendo com a
doença, Lisa está preocupada com o que pode acontecer se sua asma piorar.
A cientista biomédica disse que notou que sua asma
piorou antes e durante a menstruação. Muitas vezes a condição fazia com que ela
precisasse de um esforço enorme para respirar.
"Acho que, para algumas pessoas, falar sobre
seu ciclo menstrual é bastante tabu, então ajudaria se isso fosse pensado mais
em um nível médico, de forma que as perguntas possam ser levantadas do lado do
profissional médico, em vez de vir do paciente", disse Lisa.
"Isso poderia abrir caminhos de discussão e
opções de tratamento potencialmente melhores para mulheres e meninas que se
encontram em uma posição semelhante", acrescentou.
Na infância, a asma é mais prevalente e grave em
meninos. No entanto, após a puberdade, a situação se inverte, e a asma torna-se
mais comum e mais forte entre as mulheres. Pesquisadores acreditam que isso
acontece em parte pela presença dos hormônios femininos, que se tornam mais
presentes no organismo durante essa fase da vida, mas ainda faltam pesquisas
para definir uma relação clara.
As taxas de internações hospitalares no País de
Gales por asma são semelhantes por sexo no início da adolescência, mas são
quase três vezes maiores em mulheres do que em homens com idades entre 20 e 49
anos, de acordo com análise da pesquisa Asthma + Lung UK.
O estudo diz que as mulheres continuam a ser tema
secundário quando se trata de financiamento de pesquisa e que é necessário um
grande investimento para analisar as diferenças relacionadas ao sexo na asma.
• 'Lacunas
no conhecimento deixam mulheres excluídas'
Sara Woolnough, executiva-chefe da Asthma + Lung
UK, apontou: "As lacunas em nosso conhecimento estão falhando com as
mulheres, deixando-as lutando com sintomas debilitantes da asma, presas em um
ciclo de entrar e sair do hospital e, em alguns casos, perdendo suas vidas.
"Precisamos urgentemente de mais investimentos
em pesquisa nessa área para que possamos encontrar novos tratamentos e usar
melhor os tratamentos existentes para ajudar milhões de mulheres e salvar
vidas."
Um porta-voz do governo galês disse:
"Esperamos que as mulheres afetadas pela asma sejam apoiadas pelo sistema
público de saúde de acordo com a prática clínica recomendada. Isso inclui o
fornecimento de planos de cuidados individualizados que reflitam as diferentes
necessidades dos pacientes."
"Qualquer evidência emergente sobre as causas
de doenças mais graves entre as mulheres precisaria ser considerada pelas
organizações de definição de diretrizes e, quando necessário, incorporada à
prática clínica recomendada".
Fonte: Por Ousmane Badiane, journaliste BBC
Afrique/BBC News
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