sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Asma: 10 coisas que você precisa saber para conviver melhor com a doença

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Rede Global de Asma, até 334 milhões de pessoas podem estar sofrendo de asma em todo o mundo. No Brasil, o SUS registrou 1,3 milhão de atendimentos a pacientes com asma na Atenção Primária à Saúde.

O Mnistério da Saúde brasileiro estima que 23,2% da população viva com a doença, e a incidência varia de 19,8% a 24,9% entre as regiões do país.

Em entrevista a Ousmane Badiane, jornalista do serviço africando da BBC, o médico Ali Baddredine, pneumologista baseado na capital senegalesa, Dakar, esclarece as causas, os sintomas e as dicas para conviver melhor com a asma.

•        O que é a asma?

A asma é uma doença respiratória crônica caracterizada por dificuldades respiratórias e 'chiado' no peito.

Ela é causada pela inflamação e contração dos músculos ao redor das vias respiratórias, tornando a respiração mais difícil. A asma não tem cura, mas pode ser controlada.

"Na verdade, a asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas inferiores, ou seja, brônquicas, que é definida pela presença de sintomas respiratórios. Além da dificuldade respiratória e do chiado, ela também pode se manifestar como tosse seca ou sensação de aperto no peito", explica Baddredine.

De acordo com o especialista, os sintomas variam ao longo do tempo e em intensidade.

"Geralmente, eles são mais frequentes à noite ou de manhã cedo", complementa.

•        Quais são os fatores desencadeadores ou agravantes?

Vários fatores podem desencadear ou agravar os sintomas da asma. A predisposição genética à alergia combinada com fatores ambientais externos são frequentemente gatilhos para crises da doença.

A inalação de vapores irritativos ou fumaça pode causar desconforto respiratório ou uma crise em uma pessoa com asma.

Algumas fumaças são particularmente prejudiciais, como a fumaça do tabaco, que contém muitas substâncias irritantes que podem agravar a inflamação das vias aéreas e desencadear uma crise de asma.

A exposição prolongada a substâncias alergênicas, como pólen, ácaros, poeira, pelos de animais, mofo, aerossóis domésticos, solventes e certos perfumes, também pode desencadear uma crise de asma.

"É importante saber que a asma é uma doença multifatorial em que vários fatores estão envolvidos nas manifestações. Há um componente genética, mesmo que a asma não seja sempre hereditária. E há principalmente fatores ambientais, como infecções virais, poluição do ar e exposição a alérgenos."

•        Quais são as conexões entre as mudanças climáticas e a asma?

As pessoas que sofrem de asma estão entre as mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, que afetam a saúde respiratória das pessoas em risco de várias maneiras.

Elas influenciam a saúde das vias respiratórias, uma vez que os pulmões estão diretamente expostos ao mundo exterior e são os primeiros a enfrentar todo tipo de irritação.

De acordo com especialistas, as crises de asma são frequentemente desencadeadas por poluentes e alérgenos, como pólen, emissões de escapamento (poluição do tráfego), poluição do ar (como a causada por incêndios florestais), ondas de calor, incêndios florestais, tempestades de poeira, inundações e aumento da umidade.

"Todos esses elementos causam uma hiperreatividade porque as vias aéreas dos asmáticos são hiper-reativas, o que as torna sensíveis a esses fatores agressivos que afetam a mucosa brônquica, e a reação subsequente é o broncoespasmo ou tosse devido a diferentes fenômenos inflamatórios", adverte Baddredine.

•        Quais são as pessoas em risco de desenvolver asma?

A asma afeta pessoas de todas as idades, mas é mais comum em indivíduos mais jovens. Embora fatores genéticos contribuam, a transmissão da asma dos pais para os filhos não é sistemática.

Embora não exista um perfil típico de pessoas que podem desenvolver asma, algumas pessoas têm maior probabilidade de desenvolvê-la.

Isso inclui pessoas com histórico familiar de asma, rinite alérgica ou eczema, nascidos prematuramente, crianças que tiveram infecções respiratórias graves e frequentes (pneumonia, infecção por rinovírus, vírus sincicial respiratório, etc.), pessoas com obesidade, aquelas que foram expostas por longos períodos à fumaça passiva e à poluição do ar, e aquelas com refluxo gastroesofágico.

Segundo o médico Ali Baddredine, não podemos falar propriamente de pessoas em risco, porque não é uma doença influenciada por fatores específicos, então não podemos falar de risco à priori.

"É verdade que quando bebês têm infecções virais repetidas, isso pode favorecer o que chamamos de hiperreatividade brônquica, tornando-os propensos a asma. Mas não podemos falar claramente de uma população em risco. Não é como, por exemplo, a hipertensão arterial, que está ligada a indivíduos desnutridos, com consumo excessivo de sal e produtos que podem causar hipertensão."

•        Qual é a diferença entre asma e sinusite?

A sinusite crônica está frequentemente associada à asma, mas, ao contrário da asma, que afeta os pulmões, a sinusite afeta os seios nasais. Ela está presente na maioria dos pacientes com sintomas de asma.

A associação frequente de asma e sinusite se deve ao fato de que as pessoas com asma alérgica têm um risco maior de desenvolver sinusite devido à maior sensibilidade de sua mucosa respiratória.

"A sinusite é, na verdade, uma inflamação das vias aéreas superiores, e os seios nasais são específicos, mas há uma correlação. Existe uma semelhança entre a mucosa nasossinusal e brônquica. Nem todas as asmas estão associadas a sinusite, mas quando você tem sinusite, é importante tratá-la, porque a longo prazo, como é a mesma mucosa, a inflamação pode se espalhar das vias aéreas superiores para as inferiores, brônquicas, e se transformar em asma", descreve o especialista.

•        Como tratar a asma?

É importante entender que a melhor abordagem para o tratamento da asma é a prevenção, que começa com a educação do paciente. Para evitar crises de asma, é desaconselhável para os pacientes fumarem ou frequentarem locais com fumaça, se expor a fatores que podem desencadear ou agravar a doença, e usar produtos irritantes para as vias respiratórias, como tintas, colas e produtos de limpeza.

Se a evitação dos fatores desencadeantes não for suficiente para manter um controle adequado dos sintomas, é recomendado que as pessoas com asma utilizem corticosteroides inalados, que tratam a inflamação persistente das vias respiratórias.

"Como mencionamos, a asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, o que significa que é necessário considerar um tratamento de base e um acompanhamento regular. Antes de tudo, é importante educar o paciente."

A educação do paciente, segundo o especialista, envolve conscientizá-lo sobre a doença, como prevenir as crises, que são episódios de piora e exacerbação da doença.

"Você tem asmas latentes, que não se manifestam o tempo todo, asmas leves, intermitentes em períodos estáveis, sem nenhum sintoma. No entanto, esses indivíduos precisam de acompanhamento regular com um pneumologista e de exames funcionais que permitem quantificar a asma e ajustar o tratamento de base e classificá-lo", afirma Ali Baddredine.

•        É possível que uma pessoa com asma pratique esportes?

É possível conciliar a doença com a prática regular de atividades esportivas. O esporte contribui para a aquisição de um bom condicionamento muscular e melhora o gerenciamento do estresse em pessoas com asma.

"O esporte é uma das pedras angulares do tratamento. Existem atletas e campeões que têm asma; a chave está em gerenciar bem a asma. Além disso, os medicamentos para a asma não são considerados substâncias dopantes", observa Baddredine.

A natação, a hidroginástica, o ciclismo e a caminhada em ritmo acelerado são benéficos para pessoas com asma. No entanto, a corrida, especialmente a corrida de resistência, e especialmente em condições de frio, pode desencadear crises de asma. Para evitá-las, a pessoa com asma deve usar um broncodilatador 10 a 15 minutos antes da corrida e fazer um aquecimento adequado.

As atividades físicas devem ser personalizadas e adaptadas de acordo com a idade e a capacidade respiratória do paciente. Pessoas com sintomas de asma devem consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer atividade esportiva.

•        A asma pode ser fatal?

"Sim, a asma pode ser benigna, mas uma crise pode levar o paciente à morte", aponta o pneumologista.

Existem crises agudas graves de asma, que são espontaneamente graves e requerem a internação do paciente em uma unidade de terapia intensiva.

"Muitas vezes, isso acontece com pessoas que interromperam o tratamento sem orientação médica e que estão passando por um contexto psicológico específico, porque as crises graves de asma também têm uma componente psicogênica, especialmente entre adolescentes e jovens."

Além disso, diz o especialista apesar de todas as opções terapêuticas disponíveis, não podemos esquecer que às vezes há erros de diagnóstico e superdiagnóstico de asma.

Segundo ele, alguns pacientes podem morrer do chamado de "asma equivalente", especialmente os idosos que têm o chamado "asma cardíaca pseudo-asma". Às vezes, diz-se que eles morreram de asma, quando na verdade morreram de outra doença que se assemelha à asma, especialmente entre os idosos", alerta Baddredine.

A asma pode ser uma doença grave, mas com o tratamento adequado, é possível controlá-la.

Uma asma mal controlada pode causar sintomas irreversíveis e levar a uma crise ou insuficiência respiratória potencialmente fatal. Durante uma crise, a abertura das vias respiratórias é reduzida devido a uma reação inflamatória significativa e à contração dos músculos das paredes das vias respiratórias.

A respiração normal se torna quase impossível para o paciente. Embora as crises possam ser eficazmente controladas com medicamentos, elas são potencialmente perigosas, especialmente em pessoas vulneráveis, como crianças pequenas, idosos ou aqueles com infecções respiratórias.

•        Como viver bem com a asma?

Viver com a asma é um desafio, mas não é impossível, desde que algumas regras diárias sejam seguidas. Adotar um estilo de vida saudável, evitar fatores desencadeantes e seguir o tratamento adequado permite controlar a doença e levar uma vida plena e ativa, praticamente sem sintomas.

 

       Asma atinge mais mulheres: o que falta ciência esclarecer

 

A principal característica da asma - doença inflamatória crônica das vias aéreas - é a dificuldade de respirar quando a pessoa é exposta a agentes alergênicos, que vão desde alimentos específicos até mudanças bruscas no clima e contato com resíduos como pólen ou poeira.

Há, também, fatores genéticos, entre os quais se destacam o histórico familiar de asma ou rinite e obesidade. Mas por que ela atinge mais mulheres?

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE (2019), mais de 8 milhões de brasileiros com 18 anos de idade ou mais receberam o diagnóstico de asma. A maioria deles, 5,1 milhões, são mulheres, contra 3,2 milhões de homens.

Para quem sofre com a doença, os sintomas mais comuns são tosse frequente, prolongada, geralmente durante a noite, nem sempre com catarro; chiado, cansaço, opressão no peito com dificuldade para respirar.

Nos casos mais graves, a doença pode causar episódios debilitantes. Foi o caso da galesa Lisa Hall: diagnosticada com asma logo após ter seu filho, ela se preocupou se estaria bem o suficiente para cuidar dele.

Cerca de 180 mil mulheres no País de Gales têm asma, e dados sugerem que o quadro mata duas vezes mais mulheres do que homens. Uma instituição de caridade do país de Lisa afirmou que as mulheres estavam sendo deixadas de lado pela ciência, consierando a falta de pesquisas sobre as ligações entre as alterações hormonais e a asma.

Quase 70% das pessoas que morreram de asma no país entre 2016 e 2020 eram mulheres, de acordo com os dados oficiais do país.

Em um novo relatório, a instituição de caridade Asthma + Lung UK disse que é necessário um investimento urgente em pesquisa, alegando que as desigualdades e a falta de pesquisa estão deixando as mulheres "presas em um ciclo de entrar e sair do hospital e, em alguns casos, perder a vida".  

Lisa tinha 28 anos quando foi diagnosticada com asma, pouco depois de ter seu filho, e disse que precisava não apenas se ajustar a ser mãe, mas "tinha esse novo diagnóstico para fazer malabarismos".

"Eu não gostaria que uma nova mãe ou qualquer outra mulher ou menina experimentasse a mesma coisa que eu", disse ela. "Precisamos entender melhor como a asma afeta as mulheres para que possamos encontrar novos tratamentos que devolvam a vida de pessoas como eu."

Tendo passado os últimos 13 anos vivendo com a doença, Lisa está preocupada com o que pode acontecer se sua asma piorar.

A cientista biomédica disse que notou que sua asma piorou antes e durante a menstruação. Muitas vezes a condição fazia com que ela precisasse de um esforço enorme para respirar.

"Acho que, para algumas pessoas, falar sobre seu ciclo menstrual é bastante tabu, então ajudaria se isso fosse pensado mais em um nível médico, de forma que as perguntas possam ser levantadas do lado do profissional médico, em vez de vir do paciente", disse Lisa.

"Isso poderia abrir caminhos de discussão e opções de tratamento potencialmente melhores para mulheres e meninas que se encontram em uma posição semelhante", acrescentou.

Na infância, a asma é mais prevalente e grave em meninos. No entanto, após a puberdade, a situação se inverte, e a asma torna-se mais comum e mais forte entre as mulheres. Pesquisadores acreditam que isso acontece em parte pela presença dos hormônios femininos, que se tornam mais presentes no organismo durante essa fase da vida, mas ainda faltam pesquisas para definir uma relação clara.

As taxas de internações hospitalares no País de Gales por asma são semelhantes por sexo no início da adolescência, mas são quase três vezes maiores em mulheres do que em homens com idades entre 20 e 49 anos, de acordo com análise da pesquisa Asthma + Lung UK.

O estudo diz que as mulheres continuam a ser tema secundário quando se trata de financiamento de pesquisa e que é necessário um grande investimento para analisar as diferenças relacionadas ao sexo na asma.

•        'Lacunas no conhecimento deixam mulheres excluídas'

Sara Woolnough, executiva-chefe da Asthma + Lung UK, apontou: "As lacunas em nosso conhecimento estão falhando com as mulheres, deixando-as lutando com sintomas debilitantes da asma, presas em um ciclo de entrar e sair do hospital e, em alguns casos, perdendo suas vidas.  

"Precisamos urgentemente de mais investimentos em pesquisa nessa área para que possamos encontrar novos tratamentos e usar melhor os tratamentos existentes para ajudar milhões de mulheres e salvar vidas."

Um porta-voz do governo galês disse: "Esperamos que as mulheres afetadas pela asma sejam apoiadas pelo sistema público de saúde de acordo com a prática clínica recomendada. Isso inclui o fornecimento de planos de cuidados individualizados que reflitam as diferentes necessidades dos pacientes."

"Qualquer evidência emergente sobre as causas de doenças mais graves entre as mulheres precisaria ser considerada pelas organizações de definição de diretrizes e, quando necessário, incorporada à prática clínica recomendada".

 

Fonte: Por Ousmane Badiane, journaliste BBC Afrique/BBC News

 

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