quinta-feira, 3 de agosto de 2023

PF prende 'hacker da Vaza Jato' e faz buscas em endereços de Carla Zambelli

A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira (2) o hacker Walter Delgatti Neto, conhecido por ter dado origem à chamada "Vaza Jato" ao invadir telefones de autoridades envolvidas com a operação Lava Jato.

A PF também cumpre mandados de busca e apreensão contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), no apartamento e no gabinete. A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

O g1 e a GloboNews tentam contato com a defesa da parlamentar. O advogado de Walter Delgatti Neto confirmou a prisão ao blog e que ele está preso em Araraquara, no interior de São Paulo. A defesa disse que não teve acesso a decisão e que só autoriza depoimento do cliente se também estiver presente.

Oficialmente, a Polícia Federal divulgou que há cinco mandados de busca e apreensão (três no DF, dois no SP) e um mandado de prisão preventiva.

Na ação, a PF tenta obter mais informações sobre a inserção de alvarás de soltura e mandados de prisão falsos no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões.

Os documentos forjados incluíam um mandado de prisão falso contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. No ofício, havia inclusive a frase "faz o L" – um dos slogans da campanha eleitoral mais recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Os crimes apurados ocorreram entre os dias 4 e 6 de janeiro de 2023, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ e, possivelmente, de outros tribunais do Brasil, 11 alvarás de soltura de indivíduos presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso em desfavor do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes", diz material da Polícia Federal.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, comentou a operação em uma rede social.

"Em prosseguimento às ações em defesa da Constituição e da ordem jurídica, a Polícia Federal está cumprindo mandados judiciais relativos a invasões ou tentativas de invasões de sistemas informatizados do Poder Judiciário da União, no contexto dos ataques às instituições", escreveu.

•        A operação da PF

A operação desta quarta foi chamada de 3FA. Segundo a PF, o nome faz referência à "autenticação de dois fatores (2FA), método de segurança de gerenciamento de identidade e acesso que exige duas formas de identificação para acessar recursos e dados".

O nome se refere ao fato de os mandados falsos de prisão e soltura terem sido inseridos nos bancos de dados do Judiciário Federal após invasão dos sistemas, com o uso de credenciais falsas obtidas de forma ilícita.

Segundo as investigações, após invadirem o sistema, o grupo passou a ter acesso remoto aos bancos de dados. Esse acesso foi interrompido após a descoberta, e medidas foram tomadas para evitar novas invasões.

Ainda de acordo com a PF, os fatos investigados "configuram, em tese, os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica".

•        Terceira prisão de Delgatti

Walter Delgatti havia sido preso em julho de 2019, durante a Operação Spoofing, que desarticulou uma "organização criminosa que praticava crimes cibernéticos", segundo a Polícia Federal.

As investigações apontaram que o grupo acessou contas do aplicativo de mensagens Telegram usadas por autoridades.

Em setembro de 2020, o hacker passou a responder pela invasão em liberdade, usando tornozeleira eletrônica e sob algumas restrições – entre elas, a proibição de usar a internet.

Em junho deste ano, no entanto, Delgatti foi preso novamente por descumprir medidas judiciais, como informou o blog. Ele afirmou à PF que cuidava das redes sociais e do site de Zambelli, desrespeitando a condição para a liberdade provisória.

A Justiça novamente autorizou a soltura de Delgatti em 10 de julho, e o hacker voltou a usar tornozeleira eletrônica.

•        Delgatti e Carla Zambelli

A prisão anterior de Delgatti preocupou o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que teme um eventual acordo de delação premiada.

O hacker já revelou ter sido levado por Zambelli para um encontro com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, em agosto de 2022, em meio à campanha eleitoral.

Na ocasião, o núcleo bolsonarista quis saber detalhes do sistema de urnas eletrônicas.

Desde então, o hacker não saiu do núcleo bolsonarista, e foi parar na mira da PF por outro motivo: a invasão dos sistemas do CNJ para inclusão de um falso mandado de prisão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), contra si mesmo.

Bolsonaristas temem que o hacker envolva Carla Zambelli no episódio da invasão do CNJ. Ela diz não ter conhecimento das declarações de Delgatti sobre o episódio.

 

       Moraes mandou PF apreender passaporte, armas e objetos acima de R$ 10 mil de Zambelli

 

Na decisão em que autorizou a operação da Polícia Federal desta quarta-feira (2) contra a deputada Carla Zambelli (PL-SP), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, entre outras medidas, a apreensão do passaporte, armas e bens acima de R$ 10 mil cuja origem não seja comprovadamente legal.

A TV Globo apurou detalhes do despacho do ministro, que foi assinado nesta terça-feira (1º). Nesta quarta, a PF prendeu o hacker Walter Delgatti Neto, da "Vaza Jato", e fez buscas e apreensões em endereços de Carla Zambelli, como o gabinete parlamentar e o apartamento funcional dela.

A PF investiga a inserção de alvarás de soltura e mandados de prisão falsos no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (BNMP).

Entre outras medidas contra a deputada, Moraes determinou:

•        a apreensão de armas, munições, computadores, tablets, celulares e outros dispositivos eletrônicos, e passaporte;

•        busca e apreensão em carros eventualmente encontrados nos endereços da deputada e nos armários de garagem;

•        apreensão de dinheiro e bens (joias, veículos, obras de arte e outros objetos) em valores superiores a R$ 10 mil, desde que não comprovada cabalmente, no local dos fatos, a origem licita.

>>>> Quebras de sigilo

Moraes também determinou as quebras dos sigilos bancários, no período de junho de 2022 a junho de 2023, de Carla Zambelli e Walter Delgatti Neto. E também da empresa em nome do hacker, a Delgatti Desenvolvimento de Sistemas.

O ministro também ordenou a quebra de sigilo bancário, no mesmo período, de Jean Hernani Guimarães Vilela, assessor da deputada na Câmara dos Deputados, e de Renan Cesar Silva Goulart, ex-assessor de Carla Zambelli.

Moraes determinou ainda a quebra de sigilo bancário, de junho de 2022 a junho de 2023, de Thiago Eliezer Martins Santos, hacker que também esteve envolvido na "Vaza Jato".

•        O que dizem os envolvidos

Em nota, a defesa de Walter Delgatti Neto confirmou a prisão do hacker, disse que "não teve acesso à decisão" e que ele está detido na Polícia Federal em Araraquara (SP).

A defesa de Carla Zambelli divulgou nota em que confirma as buscas e nega irregularidades da deputada. Leia abaixo:

"A deputada federal Carla Zambelli confirma a realização de mandados de busca e apreensão em seus endereços nesta quarta-feira. A medida foi recebida com surpresa, porque a Deputada peticionou, através de seu advogado constituído, o Dr. Daniel Bialski, colocando-se à disposição para prestar todas informações necessárias e em nenhum momento a parlamentar deixou de cooperar com as autoridades. Respeita-se a decisão judicial, contudo, refuta-se a suspeita que tenha participado de qualquer ato ilícito. Por fim, a Deputada Carla Zambelli aguardará, com tranquilidade, o desfecho das investigações e a demonstração de sua inocência."

 

       Zambelli nega irregularidades e diz que pagamentos a hacker são referentes a serviços em site

 

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) negou nesta quarta-feira (2) que tenha cometido irregularidades e afirmou que pagamentos feitos ao hacker Walter Delgatti Neto, da "Vaza Jato", são referentes a serviços que ela contratou para o seu site.

Mais cedo, nesta quarta, a Polícia Federal prendeu Delgatti e fez buscas e apreensões em endereços de Carla Zambelli, inclusive no gabinete parlamentar e no apartamento funcional em que mora.

A PF investiga a inserção de alvarás de soltura e mandados de prisão falsos no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões.

Segundo Delgatti, os serviços ilegais teriam sido solicitados por Carla Zambelli, com a intenção de levantar dúvidas sobre sistemas da justiça (veja mais detalhes aqui). A PF afirma que Delgatti recebeu pelo menos R$ 13,5 mil de assessores da parlamentar.

"Como eu poderia ter pedido uma fraude nas eleições no mês de novembro depois de ela ter acontecido? Os fatos não batem. O que eu tinha subcontratado através dele [Delgatti] foi a ligação das redes sociais minhas através do meu site. Ele não conseguiu fazer. Teve a tentativa de trabalhar com ele [Delgatti], mas não deu certo", afirmou Carla Zambelli.

•        Reunião do hacker com Bolsonaro

Em entrevista na Câmara dos Deputados, Zambelli também confirmou que se reuniu com Delgatti e com o então presidente Jair Bolsonaro, no ano passado. Segundo ela, no encontro, Bolsonaro teria questionado ao hacker se as urnas eletrônicas são confiáveis. Delgatti teria respondido negativamente.

"Ele [Delgatti] queria conhecer o presidente [Bolsonaro]. Como ele se dizia um esperto em tecnologia, o presidente queria perguntar pra ele se as urnas eram confiáveis, e ele [Delgatti] disse que não", relatou Zambelli.

Segundo a colunista do g1 Camila Bomfim, em depoimento à Polícia Federal, Delgatti afirmou que se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no Palácio da Alvorada, para tratar do sistema das urnas eletrônicas. A reunião teria ocorrido em agosto de 2022.

Segundo Delgatti Neto, no encontro intermediado por Zambelli, Bolsonaro teria perguntado se Delgatti conseguiria invadir as urnas eletrônicas se estivesse munido do código-fonte dos equipamentos. O hacker disse aos investigadores, no entanto, que "isso não foi adiante".

O Tribunal Superior Eleitoral, autoridades e especialistas em segurança cibernética afirmam que as urnas são seguras e de que não há evidências de fraudes no sistema eleitoral.

•        Depoimento de Delgatti

A prisão do hacker e a busca contra Zambelli acontecem depois do depoimento que Delgatti deu à PF em junho deste ano. Entre as declarações estão:

•        Que ele encontrou com Zambelli em setembro de 2022, às vésperas da eleição, em um posto de gasolina e que ela pediu que ele invadisse a urna eletrônica ou qualquer sistema da Justiça brasileira. Segundo ele, a intenção dela era mostrar a fragilidade dos sistemas;

•        Que ele chegou a tentar invadir a urna, mas que o código fonte não estava conectado a um computador em rede e, por isso, não conseguiu;

•        Que ele retornou à Zambelli que não tinha tido sucesso e que ela pediu que ele invadisse o celular e e-mail do ministro Alexandre de Moraes para tentar conversas comprometedoras. Ele disse que já tinha acessado o e-mail de Moraes em 2019 e não havia encontrado nada;

•        Que conseguiu ter acesso ao sistema do CNJ e que foi ele quem deu a ideia de emitir um mandado de prisão em desfavor de Moraes, como sendo emitido por ele mesmo. Disse à PF que ao contar isso à Zambelli, ela enviou a ele um texto para publicar, mas que o português estava ruim. Que após fazer os ajustes, emitiu o mandado incluindo o bloqueio de bens no mesmo montante da multa aplicada ao PL.

•        Que foi levado por Zambelli para um encontro com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, em agosto de 2022.

 

       Assessores de Carla Zambelli repassaram ao menos R$ 13,5 mil a Walter Delgatti, diz PF

 

A Polícia Federal afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o hacker Walter Delgatti Neto, conhecido por ter dado origem à operação "Vaza Jato", recebeu pelo menos R$ 13,5 mil de assessores da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).

O valor foi revelado na manhã desta quarta pela jornalista Malu Gaspar, do jornal "O Globo". A TV Globo também acessou as informações.

Segundo as informações enviadas pela PF ao STF, o hacker recebeu dois pagamentos:

•        um, de R$ 10,5 mil, realizado pelo assessor Renan Goulart;

•        e outro, de R$ 3 mil, transferido por Jean Guimarães Vilela.

No sistema de pessoal da Câmara dos Deputados, consta que Renan Goulart foi secretário parlamentar de Carla Zambelli em 2019. Desde maio, é assessor do deputado estadual Bruno Zambelli (PL-SP), irmão de Carla.

Já Jean Vilela foi contratado por Carla Zambelli em 2023 e segue atuando no gabinete da deputada.

 

       PL já trabalha com cenário de cassação de Carla Zambelli

 

O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, já trabalha com um cenário de cassação do mandato da deputada Carla Zambelli (PL-SP). E não fará nenhum esforço para defender a parlamentar, alvo de uma operação da Polícia Federal nesta quarta-feira (02), que cumpriu mandados de busca e apreensão.

A parlamentar já tem um inquérito aberto na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, solicitado pelo PSB. O partido acusa a deputada de quebra de decoro parlamentar, por ter xingado e constrangido o deputado Duarte Jr. (PSB-MA) durante audiência com o ministro da Justiça, Flávio Dino.

A avaliação é que a operação de hoje complica ainda mais a situação de Carla Zambelli. Segundo a cúpula do PL, a parlamentar perdeu apoio entre seus colegas desde o ano passado, quando, na reta final da eleição presidencial, perseguiu um jornalista com arma em punho.

Bolsonaro diz que perdeu votos com o episódio. Os documentos da operação desta quarta podem engrossar o inquérito contra Zambelli na Câmara dos Deputados.

A operação da PF prendeu ainda o hacker da "Vaza Jato", Walter Delgatti, que já vinha negociando uma delação premiada.

Ele foi o responsável por inserir no sistema informatizado do Conselho Nacional de Justiça um falso mandado de prisão contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. Delgatti já teria admitido que foi o responsável pela inclusão do documento e que agiu a pedido da deputada.

A eventual delação dele preocupa bolsonaristas. No ano passado, a deputada Carla Zambelli levou Delgatti, responsável por invadir telefones de autoridades envolvidas na Lava Jato, para uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro e também com o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto. Ele teria dito que conseguiria invadir o sistema do TSE e alterar o resultado da eleição.

Agora, em uma delação, pode revelar exatamente o conteúdo da conversa com Bolsonaro, quanto teria recebido da deputada Carla Zambelli e os serviços ilegais que teria praticado a pedido da parlamentar.

 

Fonte: g1

 

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