quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Brasil agora é 'principal adversário' da expansão do BRICS, segundo fontes

O Brasil é o principal adversário da expansão da aliança do BRICS, relata a Reuters, citando três representantes não identificados do governo brasileiro.

Segundo a agência, o Brasil está preocupado que a aliança perca credibilidade se outros países forem admitidos.

"Uma expansão poderia transformar o bloco em outra coisa. A posição do Brasil tem se preocupado com a coesão do grupo e a preservação do nosso espaço em um grupo de países importantes", disse uma autoridade brasileira, que pediu para não ser identificada.

Assim, de acordo com fontes, o governo do Brasil argumentará que qualquer expansão deve ser gradual para manter o equilíbrio regional e a primazia dos cinco membros permanentes.

Além disso, uma autoridade acrescentou que novos membros podem ser aceitos como países parceiros participando de cúpulas sem se tornarem participantes plenos, como em outras organizações internacionais.

"O Brasil vai ter que ceder em algum momento porque somos realistas e não é da nossa natureza bloquear as coisas. Mas não será bom para nós", disse o funcionário.

Como o professor associado do Departamento de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, Oliver Stuenkel, disse, no passado o Brasil se sentiu confortável, permitindo que a Índia ocupasse uma posição de liderança na oposição à expansão. No entanto, segundo ele, a Índia parece ter suavizado sua resistência.

De acordo com Stuenkel, a Indonésia é uma forte candidata ao BRICS, dados a sua força regional, o papel crescente na economia mundial e a ausência de controvérsia global. Enquanto incluir o Irã, a Venezuela ou a Arábia Saudita mudaria a dinâmica do grupo e tornaria mais difícil para países como o Brasil manterem influência, acrescentou.

Anteriormente, a Bloomberg relatou, citando autoridades familiarizadas com a situação, que a Índia e o Brasil se opõem ao pedido da China para a rápida expansão do grupo BRICS e querem usar a cúpula na África do Sul para discutir possíveis países observadores adicionais.

Em maio, o Kremlin, ao ser perguntado como a Rússia vê a possibilidade de expansão do BRICS, afirmou que: "Ao longo do ano passado, um número crescente de países tem mostrado grande interesse neste formato, e mais e mais países têm indicado sua intenção de se concentrar em conectividade, um tópico para discussão entre os membros deste formato, que será feito."

<><> Lula diz que G7 está ultrapassado e que 'nem Putin nem Zelensky' estão prontos para paz

Presidente participou de coletiva de imprensa no Planalto esta manhã e concedeu diversas declarações, entre elas, defendeu a ampliação do BRICS citando Arábia Saudita e Emirados Árabes; criticou o Conselho de Segurança da ONU e disse que G7 "nem deveria existir".

Nesta manhã (2) durante o evento Café da Manhã com Correspondentes Internacionais no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que que o papel do Brasil em relação ao conflito Rússia-Ucrânia é buscar uma proposta de paz junto a outros países, mas ponderou que nenhum dos dois países estão dispostos a discutir a paz e ainda estão pensando em quem "vai ganhar".

"O Brasil está naquele rol de países que está procurando um caminho para que se possa usar a palavra paz. Por enquanto a gente não tem ouvido nem de Zelensky nem do Putin a ideia de que nós vamos parar e vamos negociar. Por enquanto os dois estão naquela fase 'eu vou ganhar, eu vou ganhar'. Nem Putin nem Zelenskiy estão prontos. Enquanto isso, as pessoas estão morrendo", afirmou o mandatário segundo a Reuters.

O mandatário também criticou a suposta falta de ação do Conselho de Segurança da ONU na mediação do conflito, uma vez que se a discussão "tivesse sido levada a sério e, se o Conselho de Segurança da ONU se comportasse como uma governança global, que respeitasse o coletivo dos países mundiais" o confronto não estaria acontecendo.

"O Conselho de Segurança da ONU não funcionou. Os Estados Unidos invadiram o Iraque, a França e o Reino Unido invadiram a Líbia, agora a Rússia. E todos têm poder de veto", afirmou.

No entanto, o presidente acrescentou que Lula que o Brasil "vai continuar tentando buscar a paz" para que na hora "que as pessoas se cansarem de guerra e quiserem o aconchego para parar a guerra, nós vamos ter um grupo de países dispostos a conversar com eles e apresentar uma solução".

Ainda durante coletiva de imprensa, Lula disse que o grupo G7 de economias avançadas não deveria mais existir desde a criação do grupo maior, o G20, de economias líderes e emergentes: "Espero de uma vez por todas que as pessoas vejam que discutir política no G7 está ultrapassado. Depois do G20 nem deveria existir o G7", disse.

Sobre a expansão do BRICS, o presidente afirmou que o grupo de economias emergentes do bloco deveria permitir novos membros "desde que cumpram os requisitos".

"Acho extremamente importante a entrada da Arábia Saudita no BRICS [e] a entrada dos Emirados Árabes Unidos, se quiserem. A Argentina também", afirmou.

No âmbito do BRICS, Lula ressaltou o papel do Novo Banco de Desenvolvimento, o qual deveria ser mais generoso que o Fundo Monetário Internacional: "O banco existe para ajudar a salvar países e não para ajudar a afundar países, que é o que o FMI costuma fazer", disse.

·         Cúpula na Arábia Saudita

Também na tarde de hoje (2), o assessor presidencial para assuntos internacionais da presidência, Celso Amorim, participará de uma videoconferência organizada pela Arábia Saudita para tentar dar seguimento a uma primeira reunião, realizada na Dinamarca, sobre a paz na Ucrânia, mas Amorim afirmou que as expectativas são pequenas.

O ex-chanceler explicou que a reunião na Dinamarca não avançou porque havia uma expectativa de Kiev de que se chegasse a um consenso sobre a sua própria proposta de paz.

"A nossa visão e de outros países é que para se chegar a paz é preciso ter diálogo. E diálogo não pode ser consigo mesmo [...][a cúpula na Arábia Saudita] é uma continuação, mas o próprio convite que nos foi enviado é para um diálogo aberto, sem presumir que vá haver conclusões oficiais", disse Amorim citado pelo UOL.

O assessor também destacou que "é importante esse diálogo porque cada vez fica mais claro que só haverá paz quando todos acharem possível e interessante. Por exemplo, não se pode deixar de fora as preocupações de segurança da Rússia, elas são reais. Se o objetivo for derrotar a Rússia é uma outra estratégia", afirmou Amorim.

A cúpula medida pelos sauditas acontecerá na cidade de Jidá nos dias 5 e 6 de agosto.

 

Ø  Kremlin nega que esteja discutindo a criação de uma organização que não seja o BRICS

 

A criação de uma organização com maior número de integrantes, além do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), não está em discussão, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

"No momento não está sendo falado", disse Peskov a repórteres quando perguntado se a criação de outra organização além do BRICS estava sendo discutida.

O porta-voz observou que a expansão do grupo está sendo discutida em nível de especialistas.

"Quanto ao interesse demonstrado por muitos outros países [em ingressar no grupo], de uma forma ou de outra isso se concretizará no formato bilateral, e os contatos com esses países continuarão dentro do BRICS", disse Peskov.

O porta-voz presidencial acrescentou que o processo de expansão do grupo depende sobretudo da posição dos Estados-membros e requer muito tempo.

O grupo BRICS é uma associação econômico-comercial intergovernamental informal de cinco países em rápido desenvolvimento, onde o objetivo de desenvolver o diálogo e a cooperação multilateral é definido.

O BRICS reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Entre os países que também se inscreveram para ingressar no bloco estão Arábia Saudita, Argélia, Argentina, Bolívia, Indonésia, Irã, Turquia, Bangladesh e Egito. O grupo BRICS representa mais de 20% do produto interno bruto (PIB) global e 42% da população mundial.

A próxima cúpula do BRICS vai ser realizada de 22 a 24 de agosto na cidade sul-africana de Joanesburgo e vai contar com a presença dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, da China, Xi Jinping, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa, do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e do chanceler da Rússia, Sergei Lavrov.

 

Ø  Japão envia chanceler à África para cortejar parceiros da Rússia e marcar presença do G7

 

De olho na parceria entre países africanos e Moscou, ministro das Relações Exteriores do Japão, Yoshimasa Hayashi, iniciou uma turnê pela África. A viagem do chanceler também visa angariar apoio para reviver o acordo de grãos do mar Negro.

Hayashi iniciou sua turnê que contará com visitas à África do Sul, Uganda e Etiópia. Na segunda-feira (1º), se reuniu com a colega sul-africana, Naledi Pandor, e fez uma ligação de cortesia ao presidente sul-africano Cyril Ramaphosa enquanto estiver no país.

Como presidente do G7, o Japão vê a viagem de Hayashi como uma chance de defender as prioridades diplomáticas do grupo.

Com uma população e economia em expansão, a África é considerada a última fronteira de crescimento e ganha influência no cenário internacional. Tóquio e o restante do G7 se preocupam, então, com o aumento de influência da Rússia na região, afirma a mídia.

Em julho, a Rússia suspendeu o acordo que permitia à Ucrânia exportar trigo e outros grãos pelo mar Negro. O fim do acordo gerou preocupação entre os africanos, que dependem fortemente dos grãos russos e ucranianos.

Na semana passada, na cidade de São Petersburgo, aconteceu a Segunda Cúpula África-Rússia, a qual foi um sucesso. Muitos acordos foram assinados e a parceria russa-africana se fortaleceu. Dezessete países africanos participaram, incluindo os três que estão na rota do chanceler japonês.

Entretanto, na sexta-feira (29), Putin prometeu fornecer aos países da África "grãos e outros produtos alimentícios, inclusive gratuitamente", sinalizando que a Rússia compensaria as interrupções nos embarques da Ucrânia, além de ter prometido estudar uma outra rota para que o produto chegue ao continente africano.

Muitos países africanos não acolheram o pedido de sanções econômicas contra Moscou pelo Ocidente. Enquanto isso, a China investiu pesadamente na África por meio de sua iniciativa de construção de infraestrutura da Nova Rota da Seda, enquanto a Marinha chinesa e a África do Sul realizaram exercícios navais conjuntos em fevereiro.

Todo esse cenário reforça a turnê do chanceler japonês, que tem como prioridade tentar reavivar o acordo de grãos, mas ao mesmo tempo corteja esses países para marcar presença dentro dos conceitos estipulados pelo G7.

 

Ø  Conectar o rublo digital a outras moedas vai criar alternativas ao SWIFT e ao dólar, diz analista

 

O grande potencial para criar um sistema monetário global não centrado no Ocidente está no foco do crescente movimento em direção às moedas digitais do banco central, como o rublo digital da Rússia, lançado na terça-feira (1º), disse um especialista à Sputnik.

A lei que cria o rublo digital foi recentemente aprovada pelo Kremlin e começou a ser implementada. É uma terceira forma da moeda nacional russa, ao lado de notas bancárias impressas e cartões bancários não monetários. Apesar de algumas semelhanças superficiais com uma criptomoeda, o respaldo do Estado ao rublo digital lhe dá a estabilidade e a legitimidade que faltam em outras moedas digitais altamente não regulamentadas.

Na terça-feira (1º), as transferências B2B (de empresa para empresa) se tornaram a primeira parte do novo formato de moeda a ser lançado.

O consultor de gestão da Dezan Shira & Associates em Moscou, Paul Goncharoff, disse à Sputnik que as moedas digitais do banco central (CBDC, na sigla em inglês) têm muitas das vantagens de outras moedas digitais, mas sem muitas de suas desvantagens.

Isso inclui "transações rápidas e custos de transação mais baixos a uma taxa de 0,3%, com o benefício de serem garantidos pelo Banco Central. Ao contrário das criptomoedas, a CBDC funciona inteiramente dentro do sistema financeiro estabelecido, o que a torna sistêmica e favorável ao governo, em vez de possivelmente perturbadora", explicou ele.

"Vejo pontos positivos para as empresas ao usar o rublo CBDC, o que pode não ser tão verdadeiro para transações de pessoa física para pessoa física [P2P] quando iniciadas entre 2025 e 2027 devido a problemas de privacidade inerentes. Dito isto, em um nível econômico amplo, deve ser um passo positivo para simplificar as transações comerciais dentro e, eventualmente, fora da Federação da Rússia", observou Goncharoff.

O analista acrescentou que integrar a CBDC da Rússia com os de outros países vai permitir ainda mais que a economia russa contorne as restrições criadas pelas sanções ocidentais, que incluem o sistema de transferência eletrônica SWIFT com sede em Bruxelas, cidade que também abriga a União Europeia (UE) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

"Embora inicialmente o rublo CBDC fosse destinado a acordos dentro da Federação da Rússia e países próximos para permitir eficiências na execução comercial, pode ser visto como o teste decisivo da Rússia para expandir ainda mais seu uso de CBDC internacionalmente", explicou o especialista.

Goncharoff observou que os outros membros do bloco BRICS (Brasil, Índia, China e África do Sul) também estão desenvolvendo CBDCs ativamente, portanto, "não deve demorar muito para que ocorra a interoperabilidade entre os países-membros do BRICS. Essas expressões digitais dessas moedas devem impulsionar o comércio internacional, ao mesmo tempo em que fornecem uma alternativa fora do sistema financeiro dominado pelo Ocidente, centrado no dólar americano e em seu ambiente sancionado de forma restritiva".

O especialista ressaltou que o representante da Rússia, quando esteve em Nova Deli recentemente, propôs apenas uma moeda digital unificada para a Rússia, China e Índia como um começo.

"O objetivo inicial é melhorar o comércio, cumprindo os regulamentos de cada país e reduzindo a dependência do dólar ou euro para reduzir os efeitos de sanções internacionais reais ou antecipadas usando essas moedas fiduciárias. Na agenda do BRICS em agosto na África do Sul estão as discussões sobre como os membros estão desenvolvendo CBDCs, as vantagens esperadas das moedas digitais no comércio internacional e nas arenas financeiras e a potencial polinização cruzada", explicou.

Goncharoff observou que o dólar americano continuaria a dominar o comércio internacional por algum tempo, mas que tendências como a interconexão de novas moedas digitais começariam a cavar o túmulo de velhos sistemas centrados no Ocidente, como o SWIFT.

"Como o presidente Putin disse uma vez, 'costeletas de um lado, moscas do outro'. CBDCs são representações digitais de moedas estabelecidas. No momento atual, o dólar americano reina supremo para a maioria dos acordos globais", afirmou Goncharoff.

Para ele, a situação só deve mudar quando o BRICS, por exemplo, passar a combinar seus respectivos CBDCs nacionais em uma plataforma interoperacional acordada. Até que isso aconteça, "é improvável que os CBDCs façam uma mudança significativa no mercado no papel do dólar americano no curto prazo, a menos que o dólar americano e o Fed [Reserva Federal dos EUA] dê um tiro no próprio pé".

O especialista acredita que a digitalização de moedas soberanas, quando acontecer em todo o mundo, deve fazer com que provedores de serviços como SWIFT acabem desaparecendo em sua forma atual, o que não deve acontecer por um tempo.

Goncharoff diz que um CBDC em dólares americanos vai acontecer, que é apenas uma questão de tempo político já que é um tema muito debatido entre um público bastante preocupado com as novas mudanças no ambiente financeiro.

"Muitos se opõem [às moedas digitais], pois veem que o uso de CBDCs reduz a privacidade das informações, especialmente sobre quem, o quê, onde e por quanto uma empresa ou uma pessoa fez uma transação? Essencialmente, os mesmos dados são coletados pelos emissores toda vez que alguém usa um cartão de crédito ou débito. A diferença é que serão informações centralizadas com o Fed. Dito isto, vai ocorrer, é uma questão de tempo, e depois de ganhar todos os itens adicionais da legislação", concluiu.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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