Brasil agora é 'principal adversário' da expansão do BRICS, segundo
fontes
O Brasil é o principal adversário da expansão da
aliança do BRICS, relata a Reuters, citando três representantes não
identificados do governo brasileiro.
Segundo a agência, o Brasil está preocupado que a
aliança perca credibilidade se outros países forem admitidos.
"Uma expansão poderia transformar o bloco em
outra coisa. A posição do Brasil tem se preocupado com a coesão do grupo e a
preservação do nosso espaço em um grupo de países importantes", disse uma
autoridade brasileira, que pediu para não ser identificada.
Assim, de acordo com fontes, o governo do Brasil
argumentará que qualquer expansão deve ser gradual para manter o equilíbrio
regional e a primazia dos cinco membros permanentes.
Além disso, uma autoridade acrescentou que novos
membros podem ser aceitos como países parceiros participando de cúpulas sem se
tornarem participantes plenos, como em outras organizações internacionais.
"O Brasil vai ter que ceder em algum momento
porque somos realistas e não é da nossa natureza bloquear as coisas. Mas não
será bom para nós", disse o funcionário.
Como o professor associado do Departamento de
Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, Oliver Stuenkel, disse, no
passado o Brasil se sentiu confortável, permitindo que a Índia ocupasse uma
posição de liderança na oposição à expansão. No entanto, segundo ele, a Índia
parece ter suavizado sua resistência.
De acordo com Stuenkel, a Indonésia é uma forte
candidata ao BRICS, dados a sua força regional, o papel crescente na economia
mundial e a ausência de controvérsia global. Enquanto incluir o Irã, a
Venezuela ou a Arábia Saudita mudaria a dinâmica do grupo e tornaria mais
difícil para países como o Brasil manterem influência, acrescentou.
Anteriormente, a Bloomberg relatou, citando autoridades
familiarizadas com a situação, que a Índia e o Brasil se opõem ao pedido da
China para a rápida expansão do grupo BRICS e querem usar a cúpula na África do
Sul para discutir possíveis países observadores adicionais.
Em maio, o Kremlin, ao ser perguntado como a Rússia
vê a possibilidade de expansão do BRICS, afirmou que: "Ao longo do ano
passado, um número crescente de países tem mostrado grande interesse neste
formato, e mais e mais países têm indicado sua intenção de se concentrar em
conectividade, um tópico para discussão entre os membros deste formato, que
será feito."
<><> Lula diz que G7 está ultrapassado
e que 'nem Putin nem Zelensky' estão prontos para paz
Presidente participou de coletiva de imprensa no
Planalto esta manhã e concedeu diversas declarações, entre elas, defendeu a
ampliação do BRICS citando Arábia Saudita e Emirados Árabes; criticou o
Conselho de Segurança da ONU e disse que G7 "nem deveria existir".
Nesta manhã (2) durante o evento Café da Manhã com
Correspondentes Internacionais no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva disse que que o papel do Brasil em relação ao conflito
Rússia-Ucrânia é buscar uma proposta de paz junto a outros países, mas ponderou
que nenhum dos dois países estão dispostos a discutir a paz e ainda estão
pensando em quem "vai ganhar".
"O Brasil está naquele rol de países que está
procurando um caminho para que se possa usar a palavra paz. Por enquanto a
gente não tem ouvido nem de Zelensky nem do Putin a ideia de que nós vamos
parar e vamos negociar. Por enquanto os dois estão naquela fase 'eu vou ganhar,
eu vou ganhar'. Nem Putin nem Zelenskiy estão prontos. Enquanto isso, as
pessoas estão morrendo", afirmou o mandatário segundo a Reuters.
O mandatário também criticou a suposta falta de
ação do Conselho de Segurança da ONU na mediação do conflito, uma vez que se a
discussão "tivesse sido levada a sério e, se o Conselho de Segurança da
ONU se comportasse como uma governança global, que respeitasse o coletivo dos
países mundiais" o confronto não estaria acontecendo.
"O Conselho de Segurança da ONU não funcionou.
Os Estados Unidos invadiram o Iraque, a França e o Reino Unido invadiram a
Líbia, agora a Rússia. E todos têm poder de veto", afirmou.
No entanto, o presidente acrescentou que Lula que o
Brasil "vai continuar tentando buscar a paz" para que na hora
"que as pessoas se cansarem de guerra e quiserem o aconchego para parar a
guerra, nós vamos ter um grupo de países dispostos a conversar com eles e
apresentar uma solução".
Ainda durante coletiva de imprensa, Lula disse que
o grupo G7 de economias avançadas não deveria mais existir desde a criação do
grupo maior, o G20, de economias líderes e emergentes: "Espero de uma vez
por todas que as pessoas vejam que discutir política no G7 está ultrapassado.
Depois do G20 nem deveria existir o G7", disse.
Sobre a expansão do BRICS, o presidente afirmou que
o grupo de economias emergentes do bloco deveria permitir novos membros
"desde que cumpram os requisitos".
"Acho extremamente importante a entrada da
Arábia Saudita no BRICS [e] a entrada dos Emirados Árabes Unidos, se quiserem.
A Argentina também", afirmou.
No âmbito do BRICS, Lula ressaltou o papel do Novo
Banco de Desenvolvimento, o qual deveria ser mais generoso que o Fundo
Monetário Internacional: "O banco existe para ajudar a salvar países e não
para ajudar a afundar países, que é o que o FMI costuma fazer", disse.
·
Cúpula na Arábia Saudita
Também na tarde de hoje (2), o assessor
presidencial para assuntos internacionais da presidência, Celso Amorim,
participará de uma videoconferência organizada pela Arábia Saudita para tentar
dar seguimento a uma primeira reunião, realizada na Dinamarca, sobre a paz na
Ucrânia, mas Amorim afirmou que as expectativas são pequenas.
O ex-chanceler explicou que a reunião na Dinamarca
não avançou porque havia uma expectativa de Kiev de que se chegasse a um
consenso sobre a sua própria proposta de paz.
"A nossa visão e de outros países é que para
se chegar a paz é preciso ter diálogo. E diálogo não pode ser consigo mesmo
[...][a cúpula na Arábia Saudita] é uma continuação, mas o próprio convite que
nos foi enviado é para um diálogo aberto, sem presumir que vá haver conclusões
oficiais", disse Amorim citado pelo UOL.
O assessor também destacou que "é importante
esse diálogo porque cada vez fica mais claro que só haverá paz quando todos
acharem possível e interessante. Por exemplo, não se pode deixar de fora as
preocupações de segurança da Rússia, elas são reais. Se o objetivo for derrotar
a Rússia é uma outra estratégia", afirmou Amorim.
A cúpula medida pelos sauditas acontecerá na cidade
de Jidá nos dias 5 e 6 de agosto.
Ø Kremlin nega que esteja discutindo a criação de uma organização que não
seja o BRICS
A criação de uma organização com maior número de
integrantes, além do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do
Sul), não está em discussão, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
"No momento não está sendo falado", disse
Peskov a repórteres quando perguntado se a criação de outra organização além do
BRICS estava sendo discutida.
O porta-voz observou que a expansão do grupo está
sendo discutida em nível de especialistas.
"Quanto ao interesse demonstrado por muitos
outros países [em ingressar no grupo], de uma forma ou de outra isso se
concretizará no formato bilateral, e os contatos com esses países continuarão
dentro do BRICS", disse Peskov.
O porta-voz presidencial acrescentou que o processo
de expansão do grupo depende sobretudo da posição dos Estados-membros e requer
muito tempo.
O grupo BRICS é uma associação econômico-comercial
intergovernamental informal de cinco países em rápido desenvolvimento, onde o
objetivo de desenvolver o diálogo e a cooperação multilateral é definido.
O BRICS reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África
do Sul. Entre os países que também se inscreveram para ingressar no bloco estão
Arábia Saudita, Argélia, Argentina, Bolívia, Indonésia, Irã, Turquia,
Bangladesh e Egito. O grupo BRICS representa mais de 20% do produto interno
bruto (PIB) global e 42% da população mundial.
A próxima cúpula do BRICS vai ser realizada de 22 a
24 de agosto na cidade sul-africana de Joanesburgo e vai contar com a presença
dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, da China, Xi Jinping, e
da África do Sul, Cyril Ramaphosa, do primeiro-ministro da Índia, Narendra
Modi, e do chanceler da Rússia, Sergei Lavrov.
Ø Japão envia chanceler à África para cortejar parceiros da Rússia e
marcar presença do G7
De olho na parceria entre países africanos e
Moscou, ministro das Relações Exteriores do Japão, Yoshimasa Hayashi, iniciou
uma turnê pela África. A viagem do chanceler também visa angariar apoio para
reviver o acordo de grãos do mar Negro.
Hayashi iniciou sua turnê que contará com visitas à
África do Sul, Uganda e Etiópia. Na segunda-feira (1º), se reuniu com a colega
sul-africana, Naledi Pandor, e fez uma ligação de cortesia ao presidente
sul-africano Cyril Ramaphosa enquanto estiver no país.
Como presidente do G7, o Japão vê a viagem de
Hayashi como uma chance de defender as prioridades diplomáticas do grupo.
Com uma população e economia em expansão, a África
é considerada a última fronteira de crescimento e ganha influência no cenário
internacional. Tóquio e o restante do G7 se preocupam, então, com o aumento de
influência da Rússia na região, afirma a mídia.
Em julho, a Rússia suspendeu o acordo que permitia
à Ucrânia exportar trigo e outros grãos pelo mar Negro. O fim do acordo gerou
preocupação entre os africanos, que dependem fortemente dos grãos russos e
ucranianos.
Na semana passada, na cidade de São Petersburgo,
aconteceu a Segunda Cúpula África-Rússia, a qual foi um sucesso. Muitos acordos
foram assinados e a parceria russa-africana se fortaleceu. Dezessete países
africanos participaram, incluindo os três que estão na rota do chanceler japonês.
Entretanto, na sexta-feira (29), Putin prometeu
fornecer aos países da África "grãos e outros produtos alimentícios,
inclusive gratuitamente", sinalizando que a Rússia compensaria as
interrupções nos embarques da Ucrânia, além de ter prometido estudar uma outra
rota para que o produto chegue ao continente africano.
Muitos países africanos não acolheram o pedido de
sanções econômicas contra Moscou pelo Ocidente. Enquanto isso, a China investiu
pesadamente na África por meio de sua iniciativa de construção de
infraestrutura da Nova Rota da Seda, enquanto a Marinha chinesa e a África do
Sul realizaram exercícios navais conjuntos em fevereiro.
Todo esse cenário reforça a turnê do chanceler
japonês, que tem como prioridade tentar reavivar o acordo de grãos, mas ao
mesmo tempo corteja esses países para marcar presença dentro dos conceitos
estipulados pelo G7.
Ø Conectar o rublo digital a outras moedas vai criar alternativas ao
SWIFT e ao dólar, diz analista
O grande potencial para criar um sistema monetário global
não centrado no Ocidente está no foco do crescente movimento em direção às
moedas digitais do banco central, como o rublo digital da Rússia, lançado na
terça-feira (1º), disse um especialista à Sputnik.
A lei que cria o rublo digital foi recentemente
aprovada pelo Kremlin e começou a ser implementada. É uma terceira forma da
moeda nacional russa, ao lado de notas bancárias impressas e cartões bancários
não monetários. Apesar de algumas semelhanças superficiais com uma criptomoeda,
o respaldo do Estado ao rublo digital lhe dá a estabilidade e a legitimidade
que faltam em outras moedas digitais altamente não regulamentadas.
Na terça-feira (1º), as transferências B2B (de
empresa para empresa) se tornaram a primeira parte do novo formato de moeda a
ser lançado.
O consultor de gestão da Dezan Shira &
Associates em Moscou, Paul Goncharoff, disse à Sputnik que as moedas digitais
do banco central (CBDC, na sigla em inglês) têm muitas das vantagens de outras
moedas digitais, mas sem muitas de suas desvantagens.
Isso inclui "transações rápidas e custos de
transação mais baixos a uma taxa de 0,3%, com o benefício de serem garantidos
pelo Banco Central. Ao contrário das criptomoedas, a CBDC funciona inteiramente
dentro do sistema financeiro estabelecido, o que a torna sistêmica e favorável
ao governo, em vez de possivelmente perturbadora", explicou ele.
"Vejo pontos positivos para as empresas ao
usar o rublo CBDC, o que pode não ser tão verdadeiro para transações de pessoa
física para pessoa física [P2P] quando iniciadas entre 2025 e 2027 devido a
problemas de privacidade inerentes. Dito isto, em um nível econômico amplo,
deve ser um passo positivo para simplificar as transações comerciais dentro e,
eventualmente, fora da Federação da Rússia", observou Goncharoff.
O analista acrescentou que integrar a CBDC da
Rússia com os de outros países vai permitir ainda mais que a economia russa
contorne as restrições criadas pelas sanções ocidentais, que incluem o sistema
de transferência eletrônica SWIFT com sede em Bruxelas, cidade que também
abriga a União Europeia (UE) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN).
"Embora inicialmente o rublo CBDC fosse
destinado a acordos dentro da Federação da Rússia e países próximos para
permitir eficiências na execução comercial, pode ser visto como o teste
decisivo da Rússia para expandir ainda mais seu uso de CBDC
internacionalmente", explicou o especialista.
Goncharoff observou que os outros membros do bloco
BRICS (Brasil, Índia, China e África do Sul) também estão desenvolvendo CBDCs
ativamente, portanto, "não deve demorar muito para que ocorra a
interoperabilidade entre os países-membros do BRICS. Essas expressões digitais
dessas moedas devem impulsionar o comércio internacional, ao mesmo tempo em que
fornecem uma alternativa fora do sistema financeiro dominado pelo Ocidente,
centrado no dólar americano e em seu ambiente sancionado de forma
restritiva".
O especialista ressaltou que o representante da
Rússia, quando esteve em Nova Deli recentemente, propôs apenas uma moeda digital
unificada para a Rússia, China e Índia como um começo.
"O objetivo inicial é melhorar o comércio,
cumprindo os regulamentos de cada país e reduzindo a dependência do dólar ou
euro para reduzir os efeitos de sanções internacionais reais ou antecipadas usando
essas moedas fiduciárias. Na agenda do BRICS em agosto na África do Sul estão
as discussões sobre como os membros estão desenvolvendo CBDCs, as vantagens
esperadas das moedas digitais no comércio internacional e nas arenas
financeiras e a potencial polinização cruzada", explicou.
Goncharoff observou que o dólar americano
continuaria a dominar o comércio internacional por algum tempo, mas que
tendências como a interconexão de novas moedas digitais começariam a cavar o
túmulo de velhos sistemas centrados no Ocidente, como o SWIFT.
"Como o presidente Putin disse uma vez,
'costeletas de um lado, moscas do outro'. CBDCs são representações digitais de
moedas estabelecidas. No momento atual, o dólar americano reina supremo para a
maioria dos acordos globais", afirmou Goncharoff.
Para ele, a situação só deve mudar quando o BRICS,
por exemplo, passar a combinar seus respectivos CBDCs nacionais em uma
plataforma interoperacional acordada. Até que isso aconteça, "é improvável
que os CBDCs façam uma mudança significativa no mercado no papel do dólar
americano no curto prazo, a menos que o dólar americano e o Fed [Reserva
Federal dos EUA] dê um tiro no próprio pé".
O especialista acredita que a digitalização de
moedas soberanas, quando acontecer em todo o mundo, deve fazer com que
provedores de serviços como SWIFT acabem desaparecendo em sua forma atual, o
que não deve acontecer por um tempo.
Goncharoff diz que um CBDC em dólares americanos
vai acontecer, que é apenas uma questão de tempo político já que é um tema muito
debatido entre um público bastante preocupado com as novas mudanças no ambiente
financeiro.
"Muitos se opõem [às moedas digitais], pois
veem que o uso de CBDCs reduz a privacidade das informações, especialmente
sobre quem, o quê, onde e por quanto uma empresa ou uma pessoa fez uma
transação? Essencialmente, os mesmos dados são coletados pelos emissores toda
vez que alguém usa um cartão de crédito ou débito. A diferença é que serão
informações centralizadas com o Fed. Dito isto, vai ocorrer, é uma questão de
tempo, e depois de ganhar todos os itens adicionais da legislação",
concluiu.
Fonte: Sputnik Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário