quarta-feira, 26 de julho de 2023

Lula tenta justificar acordo com partidos bolsonaristas do Centrão

O presidente Lula (PT) defendeu hoje a entrada de mais partidos do centrão no governo, o que deve acontecer nas próximas semanas, mas afirmou que “não é o partido que escolhe o ministério”, em recado aos interessados.

No programa “Conversa com o Presidente”, Lula afirmou que “é normal” tentar ” arrumar um lugar” para acoplar partidos que queiram participar do governo. O presidente fez uma retrospectiva sobre o surgimento do “centrão” no anos 1980, mas disse não conversar com uma “organização”, mas com partidos.

Na última semana, o governo confirmou a entrada de PP e Republicanos na Esplanada, só não confirmaram os ministérios. Lula referendou o movimento, mas negou ter prometido alguma pasta específica e lembrou que “quem indica ministro é o presidente da República.”

Eu não quero conversar com o centrão enquanto organização. Eu quero conversar com o PP, quero conversar com o Republicanos, quero conversar com o PSD, quero conversar com o União Brasil. É assim que a gente conversa. E é normal que, se esses partidos quiserem apoiar a gente, eles queiram participar do governo, e você tentar arrumar um lugar para colocar para dar tranquilidade ao governo nas votações que nós precisamos para melhorar aprimorar o funcionamento do Brasil.”

Lula, no “Conversa com o Presidente”

O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) recebeu hoje os deputados cotados embarcar no governo: André Fufuca (PP-MA), líder do partido na Câmara, e Sílvio Costa Filho, o Silvinho (Republicanos-PE). O objetivo da gestão é tentar rearrumar a Esplanada para conseguir maior estabilidade nas votações do Congresso.

Lula disse ainda que tem tratado dessas mudanças com as lideranças do Congresso, incluindo os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Lira foi um dos responsáveis diretos pela troca do Ministério do Turismo e pela entrada do PP no governo, embora o partido siga se considerando “independente”.

Em qualquer lugar do mundo, você faz acordos, mas aqui no Brasil tudo é [tratado como] ‘é dando que se recebe’. Eu trato isso com mais clareza, com mais simpatia. Eu converso com deputado, converso com senador. Mandei um projeto de lei, ele não é obrigado a concordar. Ele pode propor mudança –às vezes pode melhorar, às vezes pode piorar. Se piorar, eu veto. Se melhorar, fica.” - Lula

Em recado ao centrão, Lula afirmou, no entanto, que “quem indica ministro é o presidente”, e não os partidos que escolhem aonde vão ingressar.

Nas conversas, o PP deixou claro que precisa de uma pasta robusta para conseguir a maioria dos seus quase 50 deputados. Após negativa de entrega do Ministério da Saúde, o partido tem insistido na pasta do Desenvolvimento Social, de Wellington Dias (PT), responsável pelo Bolsa Família.

O Republicanos também negocia o que conseguiria em prol dos seus 41 deputados. O partido queria Esportes, mas ouviu outra negativa de Lula —pelo menos por ora.

É direito das pessoas quererem fazer acontecer e falarem: ‘olha, estou afim de participar do governo’. Para participar do governo você pode ter um ministério. Agora, não é o partido que quer vir para o governo que escolhe o ministério. Quem escolhe o ministério é o presidente da República.”- Lula

Em uma defesa do papel do PT na articulação política, Lula fez uma metáfora futebolística, comparando o partido ao Flamengo. O PT é, hoje, o partido com maior número de filiados do Brasil e um dos maiores partidos de esquerda do mundo.

As pessoas não podem tratar o PT como se fosse um partido insignificante. É o partido mais organizado e mais forte desse país. Também é o mais alvo de crítica de todo mundo, quem não é petista é contra petista. É que nem o Flamengo é contra o Flamengo, quem não é Flamengo é incapaz reconhecer quando o Flamengo joga bem.” - Lula

O presidente voltou a criticar os envolvidos na agressão contra Moraes e o filho do ministro no aeroporto de Roma. Na semana passada, Lula já havia dito que os acusados são “animais selvagens”.

É um canalha, porque precisava ao menos ser educado. O ministro [Moraes] estava com a mulher, com o filho. Porque, se vale a moda desse cidadão que vai xingar um ministro que votou uma coisa que ele não gosta, os ministros não terão mais sossego no Brasil. Vai ter que ser secreto para que ninguém saiba como o ministro votou. Não é normal. Eu tenho 77 anos, fiz oposição 50 e nunca xinguei uma pessoa no aeroporto.” – Lula

<><> Com Centrão, governo Lula pode ter base de 374 deputados e 59 senadores

Com apoio dos parlamentares do Centrão após realizar possíveis trocas nos comandos dos ministérios, o governo Lula poderia passar a ter uma base de 374 deputados federais.

Ao todo, a Câmara tem 513. Já no Senado Federal, o governo poderia passar a ter apoio de 59 entre os 81 membros da Casa.

A projeção foi apontada pela consultoria Arko Advice a partir dos planos do governo para uma reforma ministerial.

Atualmente, a estimativa do governo sobre a “base ampliada” é de 284 deputados e 49 senadores. Considerando a bancada eleita, que são os partidos que integram a chapa de Lula diretamente, há, atualmente, aproximadamente 121 deputados e 12 senadores.

A Arko Advice também estimou o apoio ao governo na Câmara dos Deputados durante o primeiro semestre dos últimos governos. Em 2003, Lula teve 63,74% de apoio. No segundo mandato dele, em 2007, 54,20%.

Já o primeiro governo Dilma, em 2011, teve apoio de 54,10%. No segundo mandato de Dilma, que começou em 2015, o apoio caiu para 46,13% na Câmara. Ela sofreria o impeachment um ano depois.

No primeiro semestre de Bolsonaro, o apoio foi de 58,29%. E, agora, no primeiro semestre do terceiro mandato de Lula, o apoio dele na casa legislativa foi de 57,06%.

<><> Centrão nomeará mulheres para Caixa e Funasa

Em negociação paralela à reforma ministerial desenhada para acomodar PP e Republicanos no governo, os partidos do Centrão deverão apresentar nomes de mulheres para ocupar outros cargos relevantes do Executivo, como a Caixa Econômica Federal e a Fundação Nacional da Saúde (Funasa). A preferência por indicações de nomes do sexo feminino atende a um pedido do próprio Palácio do Planalto, num momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido pressionado por aliados a não reduzir o número de brasileiras em cadeiras de destaque na máquina pública.

Com as tratativas em curso, o bloco tenta emplacar na presidência do banco estatal a ex-deputada Margarete Coelho (PP-PI), que é próxima ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ela substituiria outra mulher, Rita Serrano, ligada ao PT. Atual diretora de administração e finanças do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Margarete já atuou como advogada de Lira e também foi vice-governadora do Piauí na gestão de Wellington Dias (PT), hoje ministro do Desenvolvimento Social. Na conjuntura atual, porém, o PP local é adversário de Dias no estado, com a liderança do senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro de Jair Bolsonaro.

Já em relação à Funasa, há a intenção de que a presidência também fique com uma mulher, de preferência, que já tenha trabalhado no órgão. Até agora, porém, não há um nome de consenso a ser indicado ao posto. Virgínia Velloso, que foi superintendente da Funasa na Paraíba e é mãe do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e da senadora Daniella Ribeiro (PSD-PB), é citada por uma ala do PP como cotada.

O órgão ainda passa por uma reestruturação, e não há definição sobre o tamanho do seu orçamento e a qual ministério ficará vinculado. Por isso, a escolha seguirá sendo debatida.

Há uma preocupação do governo em compensar eventuais saídas de ministras, que podem perder o cargo para abrir espaço aos deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA). Com a escolha de Celso Sabino para o Ministério do Turismo no lugar de Daniela Carneiro, o governo já aumentou a desigualdade na Esplanada: são 10 mulheres entre 37 pastas.

— Lula sempre defendeu valorizar e fortalecer a presença de mulheres, desde o início do governo, e certamente isso sempre será considerado ao longo de qualquer reorganização do governo — disse ao GLOBO o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Inicialmente o nome apresentado pelo PP para comandar a Caixa era o de Gilberto Occhi, que foi ministro nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer e já comandou o banco. Diante da pressão de setores do governo para não reduzir a representatividade feminina, sobretudo da primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, houve uma mudança de postura.

Ainda não está definido quais ministérios serão comandados por Fufuca e Costa Filho. Para viabilizar a nomeação, a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, e a dos Esportes, Ana Moser, podem ter que sair do governo ou serem remanejadas para outras áreas. Há também a possibilidade de Esther Dweck (Gestão) ou Cida Gonçalves (Mulheres) serem rifadas.

Nesta segunda-feira, no Palácio do Planalto, Luciana Santos disse que ninguém do governo a chamou para falar sobre substituição:

— Estamos trabalhando tranquilamente. O que estou fazendo é trabalhar 24 horas para tocar a agenda da Ciência e Tecnologia que está pujante. Até o momento, o presidente Lula e nenhum interlocutor do governo chegaram até mim para falar sobre esse assunto.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, já manifestou preocupação sobre a participação feminina na Esplanada.

— Se porventura tiver uma mudança ministerial, vamos torcer para que sejam colocadas mulheres. O importante é a proporcionalidade, a representação de mulheres — disse.

Para reforçar a importância da representação das mulheres, Lula, Janja e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, posaram para uma foto ao lado das ministras enquanto assistiam à estreia da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo feminina da Fifa.

•        Cota feminina em xeque

Nísia Trindade: Responsável por um dos maiores orçamentos da Esplanada, a ministra da Saúde entrou na mira do Centrão. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, a blindou no cargo.

Rita Serrano: A presidente da Caixa vem sendo bombardeada inclusive por petistas. Recentemente ela desagradou Lula ao anunciar a cobrança de taxa nas operações para Pix de empresas.

Luciana Santos: O Palácio do Planalto estuda remanejar a ministra da Ciência e Tecnologia para abrir espaço para o PP e o Republicanos no governo. Luciana Santos é filiada ao PCdoB.

Ana Moser: O Ministério do Esporte é cobiçado pelo Republicanos e o favorito para ocupá-lo é o deputado Silvio Costa Filho (PE). Lula teria garantido a Ana Moser, no entanto, sua sua permanência na pasta.

 

       Lula supera intrigas e apoia Silvio Almeida

 

O lançamento da “Caravana dos Direitos Humanos”, protejo no qual Silvio Almeida visitará presídios brasileiros e unidades do sistema socioeducativo de todo Brasil a partir do próximo mês, distensionou a relação entre o ministro e o presidente Lula.

Almeida vinha sendo alvo de fogo amigo de colegas de Esplanada que atribuíram à pasta de Direitos Humanos uma suposta falta de ação sobre denúncias de maus tratos no sistema carcerário. O problema, no entanto, é mais amplo e necessita da atuação de outros ministérios do governo.

Nos últimos dias, Lula fez gestos ao ministro. Partiu do presidente o convite para que Almeida comparecesse à posse da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo (SP), no domingo. Em seu discurso no evento, Lula afagou o ministro e contou à plateia que seu pai foi ex-goleiro do Corinthians Barbosinha.

Pessoas próximas a Lula que acompanharam a agenda relataram que o presidente e o ministro sentaram-se próximos um do outro durante almoço e que demonstraram “entrosamento”.

Há algumas semanas, Lula chegou a fazer críticas, em reservado, sobre a atuação de Almeida, destacando a expectativa de que ele tivesse mais ações junto à população que está na ponta, como os presidiários.

Com isso, integrantes do Palácio do Planalto viram espaço para tentar colocar a pasta dos Direitos Humanos na reforma ministerial que busca abrir espaço para o centrão. Como informou a coluna, parte do governo defendia que Almeida fosse realocado para um órgão internacional de prestígio e sua cadeira ficasse vaga para entrar na nova composição do governo.

Pesam contra esse plano, a reaproximação de Lula com o ministro e a simbologia que Silvio Almeida carrega. Professor e advogado, ele é tido como um dos quadros mais preparados e representativos do governo Lula.

Um dos focos da caravana que o ministro inicia em agosto é ajudar Estados e atores locais a enfrentar violações de direitos humanos como tortura, precarização das prisões, alto índices de morte violenta e prisões ilegais.

 

Fonte: UOL/O Globo

 

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