Lula tenta justificar acordo com partidos bolsonaristas do Centrão
O presidente Lula (PT) defendeu hoje a entrada de
mais partidos do centrão no governo, o que deve acontecer nas próximas semanas,
mas afirmou que “não é o partido que escolhe o ministério”, em recado aos
interessados.
No programa “Conversa com o Presidente”, Lula
afirmou que “é normal” tentar ” arrumar um lugar” para acoplar partidos que
queiram participar do governo. O presidente fez uma retrospectiva sobre o
surgimento do “centrão” no anos 1980, mas disse não conversar com uma
“organização”, mas com partidos.
Na última semana, o governo confirmou a entrada de
PP e Republicanos na Esplanada, só não confirmaram os ministérios. Lula
referendou o movimento, mas negou ter prometido alguma pasta específica e
lembrou que “quem indica ministro é o presidente da República.”
Eu não quero conversar com o centrão enquanto
organização. Eu quero conversar com o PP, quero conversar com o Republicanos,
quero conversar com o PSD, quero conversar com o União Brasil. É assim que a
gente conversa. E é normal que, se esses partidos quiserem apoiar a gente, eles
queiram participar do governo, e você tentar arrumar um lugar para colocar para
dar tranquilidade ao governo nas votações que nós precisamos para melhorar
aprimorar o funcionamento do Brasil.”
Lula, no “Conversa com o Presidente”
O ministro Alexandre Padilha (Relações
Institucionais) recebeu hoje os deputados cotados embarcar no governo: André
Fufuca (PP-MA), líder do partido na Câmara, e Sílvio Costa Filho, o Silvinho
(Republicanos-PE). O objetivo da gestão é tentar rearrumar a Esplanada para
conseguir maior estabilidade nas votações do Congresso.
Lula disse ainda que tem tratado dessas mudanças
com as lideranças do Congresso, incluindo os presidentes da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Lira foi um dos responsáveis
diretos pela troca do Ministério do Turismo e pela entrada do PP no governo,
embora o partido siga se considerando “independente”.
Em qualquer lugar do mundo, você faz acordos, mas
aqui no Brasil tudo é [tratado como] ‘é dando que se recebe’. Eu trato isso com
mais clareza, com mais simpatia. Eu converso com deputado, converso com
senador. Mandei um projeto de lei, ele não é obrigado a concordar. Ele pode
propor mudança –às vezes pode melhorar, às vezes pode piorar. Se piorar, eu
veto. Se melhorar, fica.” - Lula
Em recado ao centrão, Lula afirmou, no entanto, que
“quem indica ministro é o presidente”, e não os partidos que escolhem aonde vão
ingressar.
Nas conversas, o PP deixou claro que precisa de uma
pasta robusta para conseguir a maioria dos seus quase 50 deputados. Após
negativa de entrega do Ministério da Saúde, o partido tem insistido na pasta do
Desenvolvimento Social, de Wellington Dias (PT), responsável pelo Bolsa
Família.
O Republicanos também negocia o que conseguiria em
prol dos seus 41 deputados. O partido queria Esportes, mas ouviu outra negativa
de Lula —pelo menos por ora.
É direito das pessoas quererem fazer acontecer e
falarem: ‘olha, estou afim de participar do governo’. Para participar do
governo você pode ter um ministério. Agora, não é o partido que quer vir para o
governo que escolhe o ministério. Quem escolhe o ministério é o presidente da
República.”- Lula
Em uma defesa do papel do PT na articulação
política, Lula fez uma metáfora futebolística, comparando o partido ao
Flamengo. O PT é, hoje, o partido com maior número de filiados do Brasil e um
dos maiores partidos de esquerda do mundo.
As pessoas não podem tratar o PT como se fosse um
partido insignificante. É o partido mais organizado e mais forte desse país.
Também é o mais alvo de crítica de todo mundo, quem não é petista é contra
petista. É que nem o Flamengo é contra o Flamengo, quem não é Flamengo é
incapaz reconhecer quando o Flamengo joga bem.” - Lula
O presidente voltou a criticar os envolvidos na
agressão contra Moraes e o filho do ministro no aeroporto de Roma. Na semana
passada, Lula já havia dito que os acusados são “animais selvagens”.
É um canalha, porque precisava ao menos ser
educado. O ministro [Moraes] estava com a mulher, com o filho. Porque, se vale
a moda desse cidadão que vai xingar um ministro que votou uma coisa que ele não
gosta, os ministros não terão mais sossego no Brasil. Vai ter que ser secreto
para que ninguém saiba como o ministro votou. Não é normal. Eu tenho 77 anos,
fiz oposição 50 e nunca xinguei uma pessoa no aeroporto.” – Lula
<><> Com Centrão, governo Lula pode ter
base de 374 deputados e 59 senadores
Com apoio dos parlamentares do Centrão após
realizar possíveis trocas nos comandos dos ministérios, o governo Lula poderia
passar a ter uma base de 374 deputados federais.
Ao todo, a Câmara tem 513. Já no Senado Federal, o
governo poderia passar a ter apoio de 59 entre os 81 membros da Casa.
A projeção foi apontada pela consultoria Arko
Advice a partir dos planos do governo para uma reforma ministerial.
Atualmente, a estimativa do governo sobre a “base
ampliada” é de 284 deputados e 49 senadores. Considerando a bancada eleita, que
são os partidos que integram a chapa de Lula diretamente, há, atualmente,
aproximadamente 121 deputados e 12 senadores.
A Arko Advice também estimou o apoio ao governo na
Câmara dos Deputados durante o primeiro semestre dos últimos governos. Em 2003,
Lula teve 63,74% de apoio. No segundo mandato dele, em 2007, 54,20%.
Já o primeiro governo Dilma, em 2011, teve apoio de
54,10%. No segundo mandato de Dilma, que começou em 2015, o apoio caiu para
46,13% na Câmara. Ela sofreria o impeachment um ano depois.
No primeiro semestre de Bolsonaro, o apoio foi de
58,29%. E, agora, no primeiro semestre do terceiro mandato de Lula, o apoio
dele na casa legislativa foi de 57,06%.
<><> Centrão nomeará mulheres para
Caixa e Funasa
Em negociação paralela à reforma ministerial
desenhada para acomodar PP e Republicanos no governo, os partidos do Centrão
deverão apresentar nomes de mulheres para ocupar outros cargos relevantes do
Executivo, como a Caixa Econômica Federal e a Fundação Nacional da Saúde
(Funasa). A preferência por indicações de nomes do sexo feminino atende a um
pedido do próprio Palácio do Planalto, num momento em que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva tem sido pressionado por aliados a não reduzir o número de
brasileiras em cadeiras de destaque na máquina pública.
Com as tratativas em curso, o bloco tenta emplacar
na presidência do banco estatal a ex-deputada Margarete Coelho (PP-PI), que é
próxima ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ela substituiria outra
mulher, Rita Serrano, ligada ao PT. Atual diretora de administração e finanças
do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Margarete
já atuou como advogada de Lira e também foi vice-governadora do Piauí na gestão
de Wellington Dias (PT), hoje ministro do Desenvolvimento Social. Na conjuntura
atual, porém, o PP local é adversário de Dias no estado, com a liderança do
senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro de Jair Bolsonaro.
Já em relação à Funasa, há a intenção de que a
presidência também fique com uma mulher, de preferência, que já tenha
trabalhado no órgão. Até agora, porém, não há um nome de consenso a ser
indicado ao posto. Virgínia Velloso, que foi superintendente da Funasa na
Paraíba e é mãe do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e da senadora Daniella
Ribeiro (PSD-PB), é citada por uma ala do PP como cotada.
O órgão ainda passa por uma reestruturação, e não
há definição sobre o tamanho do seu orçamento e a qual ministério ficará
vinculado. Por isso, a escolha seguirá sendo debatida.
Há uma preocupação do governo em compensar eventuais
saídas de ministras, que podem perder o cargo para abrir espaço aos deputados
Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA). Com a escolha de
Celso Sabino para o Ministério do Turismo no lugar de Daniela Carneiro, o
governo já aumentou a desigualdade na Esplanada: são 10 mulheres entre 37
pastas.
— Lula sempre defendeu valorizar e fortalecer a
presença de mulheres, desde o início do governo, e certamente isso sempre será
considerado ao longo de qualquer reorganização do governo — disse ao GLOBO o
ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Inicialmente o nome apresentado pelo PP para
comandar a Caixa era o de Gilberto Occhi, que foi ministro nos governos Dilma
Rousseff e Michel Temer e já comandou o banco. Diante da pressão de setores do
governo para não reduzir a representatividade feminina, sobretudo da
primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, houve uma mudança de postura.
Ainda não está definido quais ministérios serão
comandados por Fufuca e Costa Filho. Para viabilizar a nomeação, a ministra da
Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, e a dos Esportes, Ana Moser, podem ter
que sair do governo ou serem remanejadas para outras áreas. Há também a
possibilidade de Esther Dweck (Gestão) ou Cida Gonçalves (Mulheres) serem
rifadas.
Nesta segunda-feira, no Palácio do Planalto,
Luciana Santos disse que ninguém do governo a chamou para falar sobre
substituição:
— Estamos trabalhando tranquilamente. O que estou
fazendo é trabalhar 24 horas para tocar a agenda da Ciência e Tecnologia que
está pujante. Até o momento, o presidente Lula e nenhum interlocutor do governo
chegaram até mim para falar sobre esse assunto.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, já
manifestou preocupação sobre a participação feminina na Esplanada.
— Se porventura tiver uma mudança ministerial,
vamos torcer para que sejam colocadas mulheres. O importante é a
proporcionalidade, a representação de mulheres — disse.
Para reforçar a importância da representação das
mulheres, Lula, Janja e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, posaram para uma
foto ao lado das ministras enquanto assistiam à estreia da seleção brasileira
de futebol na Copa do Mundo feminina da Fifa.
• Cota
feminina em xeque
Nísia Trindade: Responsável por um dos maiores
orçamentos da Esplanada, a ministra da Saúde entrou na mira do Centrão. O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, a blindou no cargo.
Rita Serrano: A presidente da Caixa vem sendo
bombardeada inclusive por petistas. Recentemente ela desagradou Lula ao
anunciar a cobrança de taxa nas operações para Pix de empresas.
Luciana Santos: O Palácio do Planalto estuda
remanejar a ministra da Ciência e Tecnologia para abrir espaço para o PP e o
Republicanos no governo. Luciana Santos é filiada ao PCdoB.
Ana Moser: O Ministério do Esporte é cobiçado pelo
Republicanos e o favorito para ocupá-lo é o deputado Silvio Costa Filho (PE).
Lula teria garantido a Ana Moser, no entanto, sua sua permanência na pasta.
Lula
supera intrigas e apoia Silvio Almeida
O lançamento da “Caravana dos Direitos Humanos”,
protejo no qual Silvio Almeida visitará presídios brasileiros e unidades do
sistema socioeducativo de todo Brasil a partir do próximo mês, distensionou a
relação entre o ministro e o presidente Lula.
Almeida vinha sendo alvo de fogo amigo de colegas
de Esplanada que atribuíram à pasta de Direitos Humanos uma suposta falta de
ação sobre denúncias de maus tratos no sistema carcerário. O problema, no
entanto, é mais amplo e necessita da atuação de outros ministérios do governo.
Nos últimos dias, Lula fez gestos ao ministro.
Partiu do presidente o convite para que Almeida comparecesse à posse da nova
diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo (SP), no
domingo. Em seu discurso no evento, Lula afagou o ministro e contou à plateia
que seu pai foi ex-goleiro do Corinthians Barbosinha.
Pessoas próximas a Lula que acompanharam a agenda
relataram que o presidente e o ministro sentaram-se próximos um do outro
durante almoço e que demonstraram “entrosamento”.
Há algumas semanas, Lula chegou a fazer críticas,
em reservado, sobre a atuação de Almeida, destacando a expectativa de que ele
tivesse mais ações junto à população que está na ponta, como os presidiários.
Com isso, integrantes do Palácio do Planalto viram
espaço para tentar colocar a pasta dos Direitos Humanos na reforma ministerial
que busca abrir espaço para o centrão. Como informou a coluna, parte do governo
defendia que Almeida fosse realocado para um órgão internacional de prestígio e
sua cadeira ficasse vaga para entrar na nova composição do governo.
Pesam contra esse plano, a reaproximação de Lula
com o ministro e a simbologia que Silvio Almeida carrega. Professor e advogado,
ele é tido como um dos quadros mais preparados e representativos do governo
Lula.
Um dos focos da caravana que o ministro inicia em
agosto é ajudar Estados e atores locais a enfrentar violações de direitos
humanos como tortura, precarização das prisões, alto índices de morte violenta
e prisões ilegais.
Fonte: UOL/O Globo
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