terça-feira, 27 de junho de 2023

Chefe do Grupo Wagner quebra silêncio e diz que ‘não queríamos derrubar o governo' Putin

Na primeira manifestação após o fim de um motim, o líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, disse, nesta segunda-feira (26), que a marcha em direção a Moscou, abortada após negociação com o governo russo, não tinha por objetivo derrubar o governo de Vladimir Putin, presidente da Rússia.

"O objetivo da marcha era evitar a destruição do 'Wagner' e responsabilizar os funcionários que, por meio de suas ações não profissionais, cometeram um grande número de erros", disse o paramilitar em uma mensagem de áudio de 11 minutos, divulgada pelo Telegram.

Prigozhin afirmou ainda que recuou para "evitar um derramamento de sangue de soldados russos".

Desde o fim da mobilização não se sabe a localização exata de Prigozhin. O acordo feito com o governo russo previa que ele viveria em exílio em Belarus.

·         O que causou a rebelião?

Há meses, Prigozhin vinha tendo desentendimentos com o Ministério da Defesa russo por conta da falta de armas e suprimentos de guerra para suas tropas.

A relação entre o chefe da organização paramilitar e o governo russo estremeceu ainda mais após um suposto ataque da Rússia contra acampamentos do grupo, que teria matado diversos integrantes do Wagner.

No início do mês, o Ministério da Defesa da Rússia disse que tropas voluntárias e grupos militares privados seriam obrigados a assinar um contrato com o governo. A medida não agradou os membros do Wagner.

Na última sexta-feira, depois de meses de cobranças e críticas ao Ministério da Defesa russo, Prigozhin decidiu subir o tom e chama a versão do Kremlin para a guerra na Ucrânia de "mentiras inventadas". O líder também acusou o ministro da pasta, Serguei Shoigu, de ter ludibriado Putin para a guerra.

"O Ministério da Defesa está tentando enganar a sociedade e o presidente e nos contar uma história sobre como houve uma agressão louca da Ucrânia e que eles planejavam nos atacar com toda a Otan (...) A guerra era necessária ... para que Shoigu pudesse obter uma segunda medalha (...) A guerra não era necessária para desmilitarizar ou desnazificar a Ucrânia (o principal argumento de Putin à época da invasão)."

·         Acordo com o Ministério da Defesa

Na mensagem divulgada por Prigozhin nesta segunda-feira, o líder do grupo Wagner afirma que nenhum dos seus homens concordou com o acordo previsto.

O russo disse ainda que sua marcha para a capital Moscou revelou diversos problemas na segurança do território russo.

·         Participação de Belarus

Segundo a rede britânica BBC, o líder do grupo Wagner disse na mensagem de 11 minutos que o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko teria ajudado na negociação: "(...) ele estendeu a mão e se ofereceu para encontrar maneiras de Wagner continuar seu trabalho legalmente".

Já o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, informou que as negociações foram facilitadas após a participação de Lukashenko, que conhece Prigozhin há mais de 20 anos.

Ainda segundo Peskov, os esforços ajudaram a resolver a situação sem o aumento das tensões e sem derramamento de sangue.

·         Fim do "regime antiterrorista" em Moscou

O prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, disse nesta segunda-feira que estava cancelando o regime antiterrorista imposto na cidade durante a rebelião do grupo Wagner.

Sobyanin fez o anúncio em um comunicado publicado no aplicativo de mensagens Telegram na segunda-feira.

A mídia russa citou os escritórios locais do Serviço Federal de Segurança (FSB) dizendo que regimes semelhantes foram cancelados nas regiões de Voronezh e Moscou.

Separadamente, o Comitê Nacional Antiterrorismo da Rússia disse que a situação no país era "estável".

¨       Prigozhin, líder do Grupo Wagner, usa martelo como ferramenta de tortura e poder

Um motim iniciado nos últimos dias na Rússia chamou a atenção para o Grupo Wagner, uma milícia mercenária contratada pelo governo Vladimir Putin para agir em diversas frentes de batalha. O Fantástico mostrou a história desse grupo que movimenta milhões e deu detalhes da ascensão de seu líder, o empreendedor Yevgeny Prigozhin.

Nos últimos anos, as acusações de extermínio, tortura e estupros coletivos praticados pelos mercenários são cada vez mais frequentes e uma ferramenta em especial é utilizada pelos seguidores de Prigozhin para amedrontar seus inimigos: o martelo.

O primeiro registro é de 2017, na Síria: um soldado do exército de Bashar Al-Assad, acusado de tentar fugir, foi punido a marteladas.

A crueldade é uma estratégia incentivada pelo chefe. Em vídeo que se espalhou pelas redes sociais em 2022, um mercenário que tentou abandonar o Grupo Wagner é espancado com a mesma marreta usada no vídeo da Síria.

Em janeiro, no campo de treinamento onde o grupo Wagner começou, Yevgeny Prigozhin abertamente reforçou que o martelo é uma marca dos seus métodos.

"Eu trouxe uma arma de presente aos instrutores. Quero um treinamento intensivo para que todo mundo use isso aqui", diz ele ao abrir uma caixa com um enorme martelo dentro.

·         Virada na guerra

Até fevereiro de 2022 o poder de Prigozhin não chamava a atenção do público, mas isso mudou quando Putin enviou tropas para a invasão da Ucrânia e encontrou uma forte resistência, apoiada por países europeus e pelos Estados Unidos.

Ao ver que a guerra poderia se prolongar, Prigozhin mudou de postura e passou a visitar penitenciárias para recrutar mercenários. Mas com as crescentes mortes na linha de frente, o empresário foi percebendo que sua milícia era indispensável na guerra e ficou mais ousado. Foi então que mirou no Ministro de Defesa da Rússia.

"Quando o ministro diz que não vai fornecer munição ou mandar as forças aéreas para apoiar o Grupo Wagner, isso equivale a traição", disse Prigozhin.

O líder do Grupo Wagner também começou a ser filmado no campo de batalha, ao contrário de Putin e seus ministros.

Enquanto milhares de combatentes do grupo morrem no campo de batalha, Prigozhin negocia os serviços de seus mercenários em países da África e, em troca, vai acumulando direito de explorar minas de ouro e outros minérios.

 

Ø  Rebelião fracassada deixa mais dúvidas do que certezas

 

O motim instantâneo e fracassado perpetrado no fim de semana pelo chefe do grupo de mercenários Wagner desviou para a Rússia o foco das atenções da guerra que se desenrola na vizinha Ucrânia e acrescentou mais dúvidas do que certezas ao maior desafio imposto a Vladimir Putin nas últimas duas décadas.

Ainda é cedo para decretar o enfraquecimento do líder russo ou a morte política de Yevgeny Prigozhin e seu bando. O Kremlin tentou recompor o clima de normalidade no palco da guerra, divulgando nesta segunda-feira imagens do ministro da Defesa, Sergei Shoigu, em ação diante das tropas russas, após ser execrado publicamente por Prigozhin como incompetente e corrupto.

Numa primeira análise, ele está a salvo e legitimado pelo Kremlin como o senhor da guerra na Ucrânia. Mas até quando e a que preço o desgastado Shoigu conseguirá manter o respeito diante de seus subordinados?

Prigozhin, líder do Grupo Wagner, usa martelo como ferramenta de tortura e poder

O comandante dos mercenários, que, pela interpretação do discurso raivoso de Putin, teria um fim impiedoso, como traidor da pátria, aparentemente acabou ganhando um refresco, com a declaração de um exílio em Belarus.

Este suposto acordo teria sido negociado pelo autocrata Alexander Lukashenko, que vem desempenhando o papel de capacho de Putin, mas ganhou relevância, emergindo como mediador na crise entre o Kremlin e os mercenários. A ascensão de um pária externo na solução do confronto interno representa mais uma humilhação para o líder russo.

Há quase três décadas no comando de Belarus, ele ostenta o título de último ditador da Europa. Para sobreviver, sufoca internamente os opositores e dá apoio logístico à guerra que seu aliado maior orquestra na Ucrânia. Portanto, o salvo-conduto apresentado por Lukashenko a Prigozhin não tem credibilidade.

Não ficou claro o destino da tropa de amotinados, que avançava em direção a Moscou. A anistia, com a volta para a frente de batalha na Ucrânia, e a sua integração ao Exército, como defendeu anteriormente o ministro Shoigu, representariam mais um indício de que a frente russa não pode prescindir do bando de mercenários renegados.

Se a rebelião forjada pelo chefe do grupo Wagner terminou abruptamente, a questão agora é saber o quanto ela durará para o presidente russo. Muito se especulou sobre o enfraquecimento de Putin, equiparado a um “pato manco” pela inoperância no turbulento fim de semana. Tratando-se de Putin e seus antecedentes, seria mais prudente prever um contra-ataque para restaurar a posição de homem-forte da Rússia.

 

Ø  Grupo Wagner: um negócio milionário na Rússia

 

Nos últimos dias, a Rússia tem vivido uma crise militar provocada pelo desentendimento do Grupo Wagner, uma milícia mercenária, e o governo de Vladimir Putin. São cerca de 40 mil homens atuando na linha de frente da invasão à Ucrânia e especialistas indicam que se não fossem essa força, a Rússia dificilmente conseguiria se manter tanto tempo em uma guerra.

O surgimento do grupo nos leva até 2015, quando um acampamento foi montado na região de Krasnodar, no oeste da Rússia, ao lado da base da unidade de Inteligência do Exército Russo.

"Eram umas poucas barracas do lado de fora de um quartel, mas foi chegando mais gente. Um soldado chamando o outro... Essa foi a origem do Grupo Wagner", conta Alexander Zlotev, ex-mercenário russo que desertou e hoje vive em Paris.

Em documentário inédito sobre o grupo, ele explica que chegou à cidade de Luhansk, no leste ucraniano, sem que fosse militar, mas com armas fornecidas pelo exército da Rússia. Essa participação de nacionalistas armados foi decisiva para que duas regiões da Ucrânia declarassem a independência: Luhansk e Donetsk. Uma grande vitória para Putin.

O acampamento de 2015 em pouco tempo já era formado por centenas de homens. Entre eles Marat Gabidoulline, também um ex-mercenário refugiado na França.

"Eu fiz parte do Grupo Wagner de 2015 a 2019. Até 1993 eu servia à Aeronáutica, mas eu fui preso por assassinato e peguei três anos de prisão. Com isso, não dava para voltar a ser militar, até que um amigo me falou desse grupo se formando num acampamento. Eles não ligavam para minha ficha criminal. E eu poderia voltar a usar armas com uma espécie de respaldo oficial, sabe?", conta o russo.

·         As cabeças do Grupo Wagner

O líder dos mercenários foi escolhido dentro da inteligência russa: Dmitri Utkin, que já usava o codinome Wagner. Em uma de suas raras fotos, é possível ver uma de suas tatuagens com o símbolo da SS, a unidade paramilitar nazista. De acordo com Alexander Zlotev, Utkin sempre defendeu a supremacia branca.

Se Utkin é o executor, o estrategista é o ainda mais poderoso Yevgeny Prigozhin. Um empreendedor que já foi dono de restaurantes e fechou contrato para fornecer alimentação para o exército e escolas da Rússia. Assim, de empresário local, acabou se tornando um milionário que sabia se aproveitar do acesso ao poder.

Com essa formação, o Grupo Wagner começou a ganhar impulso em 2015, na guerra da Síria. Putin decidiu apoiar o ditador Bashar Al-Assad contra rebeldes e milícias islâmicas e o Grupo Wagner atuou na linha de frente com 1.500 mercenários.

Se de um lado Putin demonstrava força militar, do outro Prigozhin negociava com Bashar Al-Assad 25% dos lucros na exploração do petróleo sírio.

"Para entender o Grupo Wagner, é preciso enxergar que o objetivo é comercial. Os mercenários de vêm na frente e por trás vêm os negócios, que podem ser mineração, construção civil ou hotelaria", diz Gabidoulline.

FBI acusa Prigozhin de estar envolvido na divulgação de fake news que tiveram influência na eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos e no plebiscito Brexit, no Reino Unido.

·         Virada na guerra

Até fevereiro de 2022 o poder de Prigozhin não chamava a atenção do público, mas isso mudou quando Putin enviou tropas para a invasão da Ucrânia e encontrou uma forte resistência, apoiada por países europeus e pelos Estados Unidos.

Ao ver que a guerra poderia se prolongar, Prigozhin mudou de postura e passou a visitar penitenciárias para recrutar mercenários. Mas com as crescentes mortes na linha de frente, o empresário foi percebendo que sua milícia era indispensável na guerra e ficou mais ousado. Foi então que mirou no Ministro de Defesa da Rússia.

"Quando o ministro diz que não vai fornecer munição ou mandar as forças aéreas para apoiar o Grupo Wagner, isso equivale a traição", disse Prigozhin.

O líder do Grupo Wagner também começou a ser filmado no campo de batalha, ao contrário de Putin e seus ministros.

Enquanto milhares de combatentes do grupo morrem no campo de batalha, Prigozhin negocia os serviços de seus mercenários em países da África e, em troca, vai acumulando direito de explorar minas de ouro e outros minérios.

As acusações de extermínio, tortura e estupros coletivos provocados pelos mercenários são cada vez mais frequentes e todos sabem que a crueldade é uma das ferramentas utilizadas pelo chefe do grupo.

Na conjuntura atual, o Grupo Wagner ganha força na África e vive incerteza na Ucrânia. Mas o consenso é de que se Putin perder a guerra, o milionário também sai derrotado. E o destino dos dois talvez esteja mais ligado do que eles gostariam.

 

Fonte: g1

 

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