Restaurantes usam
calor da cozinha para gerar sua própria energia
No
telhado de um Burger King em Malmö, no sul da Suécia, Maggad Khalidy aponta
para uma grande caixa de metal presa a uma "selva" de canos e fios.
Ao
menos do lado de fora, ela está longe de representar uma inovação atraente. Mas
Khalidy, dono da franquia de fast food que administra este restaurante, diz que
economizou o equivalente a US$ 16 mil (R$ 79 mil) por ano nas contas de
aquecimento do local.
A
caixa metálica contém uma nova forma de equipamento de troca de calor chamada
Lepido, que foi desenvolvida por uma startup sueca chamada
Enjay.
A
empresa detectou uma lacuna no mercado: como recuperar a energia dos vapores da
cozinha e usá-la para aquecer outras áreas dentro de restaurantes? Esse novo
mecanismo ajuda a reduzir as contas de energia do negócio e diminui as emissões
de gases poluentes.
"Estávamos
um pouco céticos no começo", diz Khalidy, cuja franquia foi selecionada
para o projeto-piloto inicial da Enjay em 2016. "Mas vimos a economia
gerada, e o retorno do investimento é bastante rápido."
A
Enjay acredita que o produto patenteado é o primeiro no mundo a oferecer uma
recuperação de energia lucrativa a partir dos vapores emitidos na cozinha.
O
Lepido tornou-se comercialmente disponível em 2018 e, desde então, foi
instalado em cerca de 250 franquias do Burger King na Suécia, Noruega e
Dinamarca, bem como em cozinhas de escolas e hotéis nos países nórdicos, além
de Bélgica, Holanda e Luxemburgo.
O
cofundador da Enjay, Nils Lekeberg, diz que um restaurante de tamanho médio
pode reduzir suas contas de aquecimento em até 90% ao ano e baixar a pegada de
carbono anual em 30 toneladas com a Lepido.
Com
a crise global de energia, a Enjay diz que agora está enfrentando um aumento
nos pedidos de donos de restaurantes de outras partes da Europa, além de Canadá
e Estados Unidos — apesar de fazer pouco marketing fora dos países nórdicos.
Os
testes com a nova tecnologia começaram recentemente em vários locais do Reino
Unido, incluindo um Burger King localizado no condado de Hertfordshire. A caixa
metálica também foi instalada em filiais da rede de culinária caribenha Turtle
Bay, nas proximidades de Manchester, e no restaurante Brindleyplace, em
Birmingham.
Matt
Mansfield, gerente da Turtle Bay no Reino Unido, diz que ficou
"impressionado" com o conceito, depois de ver os resultados dos
testes de Enjay na Suécia. "Estávamos procurando maneiras de reduzir
nossos custos e nos tornarmos mais sustentáveis, e essa tecnologia estava na vanguarda
disso."
Sistemas
que transferem calor de uma parte de um edifício para outra já são comuns em
muitas indústrias, mas recuperar a energia de cozinhas industriais é um
desafio, explica Arne Speerfork, professor especializado em termodinâmica na
Universidade de Tecnologia de Hamburgo, na Alemanha.
Isso
porque o ar quente das cozinhas está cheio de gordura e de partículas de
fuligem que grudam na superfície das tecnologias tradicionais de troca de
calor, o que dificulta a recuperação dessa energia.
Como
resultado, o ar quente produzido durante os processos de cozimento geralmente é
expelido diretamente dos edifícios do restaurante para o ambiente externo.
A
tecnologia da Enjay é maior do que os trocadores de calor convencionais e foi
projetada para que as partículas de gordura e fuligem passem pelas bobinas de
metal sem grudar nelas, diz Speerfork.
O
ar quente pode então ser bombeado por tubos que transportam água fria, que
então se aquece e pode ser usada para esquentar outras partes de um edifício.
"Isso
com certeza pode ser eficaz", avalia Speerfork. O especialista entende,
porém, que o preço do produto provavelmente será um desafio para os
proprietários de restaurantes pequenos e independentes.
O
custo médio de compra e instalação de um trocador de calor Lepido é de cerca de
US$ 30 mil (R$ 150 mil).
No
entanto, Nils Lekeberg, da Enjay, argumenta que a maioria das empresas deve
recuperar esse dinheiro em um ou dois anos.
No
centro da cidade de Malmö, Orestis Georgiadis, de 56 anos, está aquecendo carne
de porco em uma churrasqueira para fazer lanches similares a kebabs ou
shawarmas num restaurante familiar que ele administra há 13 anos.
Ele
está muito interessado em instalar novas tecnologias para economizar energia,
ajudar a cortar custos e limitar as emissões de carbono de seu negócio. Mas
Georgiadis diz que não poderia pagar "de jeito nenhum" por uma
tecnologia como Lepido sem um empréstimo do banco ou apoio do Estado sueco.
Além
de aquecer sua churrasqueira, ele precisa de energia para manter os fornos de
pizza ligados o dia todo, alimentar uma máquina de lavar louça de tamanho
industrial e armazenar alimentos em seus oito freezers e geladeiras. Pagar as
contas de aquecimento e eletricidade foi uma luta no ano passado, especialmente
porque os preços dos alimentos na Suécia também estão no nível mais alto desde
a década de 1950.
Georgiadis
precisou até desligar o aquecimento do salão principal do estabelecimento para
economizar dinheiro, o que deixou seu restaurante "quase morto"
depois das 20h da noite durante os meses de inverno.
Ele
diz que as coisas estão melhorando devido às temperaturas mais amenas da
recém-chegada primavera, mas não está convencido de que conseguirá manter o
restaurante aberto se as despesas continuarem tão altas. "Se tivermos esses
preços por mais um ano, acho que não vou sobreviver."
Speerfork
argumenta que a recuperação de calor dos vapores da cozinha pode se tornar um
mercado mais competitivo e "sólido" no futuro se os altos preços da
energia persistirem.
"Quanto
mais alto fica o preço da energia, mais interessante é investir em tecnologias
mais caras para recuperação de calor", diz.
Atualmente,
a principal competição de Enjay é uma pequena empresa britânica de quatro
pessoas chamada Dext. Ela colaborou com a rede de restaurantes Nando's e com a
Universidade Sheffield Hallam para desenvolver um produto que troca energia e
tem uma função semelhante para capturar o calor "desperdiçado" das
saídas de ar da cozinha.
Fonte:
Por Maddy Savage, da BBC News em Estocolmo
Nenhum comentário:
Postar um comentário