O “WHATSAPP DA
ABIN” E O DÉFICIT COGNITIVO DA FOLHA
E
temos mais uma manchete sensacionalista da Folha, fruto de uma mescla explosiva
de déficit cognitivo, irresponsabilidade e desonestidade jornalística.
Vamos
lá: a manchete diz que os
“Alertas do 8/1 foram enviados pelo whatsapp e Abin defende o mecanismo”.
As
mensagens “vazadas” para a Folha, como já vimos, não constituíram nenhum alerta
sério. Os bolsonaristas vinham promovendo badernas desde o o final do segundo
turno das eleições presidenciais, e suas ameaças vem de longe. De maneira que
um alerta de que haveria algum “risco” de bagunça bolsonarista não significa
nada. O que diferencia um alerta de outro é o tom, a ênfase. Alerta vermelho,
alerta amarelo, alerta laranja.
É
claro que havia risco de bagunça bolsonarista. Isso tanto o governo federal
quanto o do DF sabiam, tanto que havia esquema de segurança especial da
Polícia Militar, com barreiras e tudo. O alerta que deveria ser feito,
portanto, não era da existência de risco de que bolsonaristas tivessem intenção
de bagunçar, e sim que a PM do Distrito Federal estivesse mancomunada com os
terroristas.
O
único alerta eficaz da Abin deveria ser nos seguintes termos: há risco de
ataque terrorista às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro e as forças de
segurança do Distrito Federal não oferecem confiabilidade, a começar pelo chefe
da Secretaria, Anderson Torres.
Ou
então assim: Anderson Torres, secretário de segurança do DF, é um terrorista,
subordinado a um outro terrorista, chamado Jair Bolsonaro, e ambos estão
dispostos, por omissão administrativa e conivência, no caso de Torres, e por
omissão política e cumplicidade criminosa, no caso de Bolsonaro, a fomentar
atos terroristas e golpistas contra a república no dia 8 de janeiro.
A
desonestidade da Folha é tão grande, que uma das reportagens diz que houve,
sim, “alerta” sobre omissão das forças de segurança, mas apenas “MINUTOS ANTES”
da invasão. É muita cara de pau. É como se um órgão de inteligência dos EUA se
gabasse que avisou o governo americano sobre os ataques do 11 de setembro, 3
segundos antes do segundo avião se chocar contra o World Trade Center.
Não
sou especialista em contra-inteligência, mas tenho bom senso, e estaria
contente que os serviços de inteligência do meu país também o tivessem.
Reitero:
um alerta decente, eficaz, sério, NÃO se limitaria a avisar sobre riscos de
bagunça bolsonarista. Esse não era o perigo.
O
ataque não veio apenas dos bolsonaristas. O ataque também se materializou pela
omissão e conivência das forças de segurança do Distrito Federal, comandadas
por Anderson Torres, que além de terem seu efetivo reduzido pela metade
exatamente no 8 de janeiro (conforme revelado há pouco pelo coronel da PM-DF na
CPI em curso na Assembléia do DF), ainda abriram espaço para que os terroristas
passassem as barreiras.
Além
do mais, um alerta dado MINUTOS ANTES do ataque acontecer é palhaçada, porque
não adianta nada.
Sobre
o whatsapp, é um meio de comunicação muito rápido e eficiente, mas é óbvio que
um fato dessa gravidade não pode se limitar a uma mensagem num grupo.
Novamente
apelo ao bom senso. Imagine que sua mulher entrou em trabalho de parto, e
começou a sofrer dores. O que você faz? Manda uma mensagem num grupo de
whatsapp, ou LIGA para a médica?
Há
um outro ponto: a reportagem diz que a Abin “defende mecanismo”. Mais um
problema que mescla déficit cognitivo e desonestidade, porque o problema não é
o uso do whatsapp, mas a gravidade do alerta, a identidade de quem recebeu a
mensagem, e a confirmação do feedback do receptor.
<<<
Um trecho da matéria da Folha ajuda a entender a superficialidade e inutilidade
do alerta:
O
relatório da Abin afirma que o grupo era composto por representantes do GSI, PF
(Polícia Federal), PRF (Polícia Rodoviária Federal), DINT/SEOPI/MJSP (Diretoria
de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da
Justiça), PM/DF (Polícia Militar do Distrito Federal), PC/DF (Polícia Civil do
Distrito Federal) e SSI/DF (Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de
Segurança Pública do Distrito Federal).
Ou
seja, todo mundo recebeu, incluindo a Secretaria de Segurança do Distrito
Federal.
Pela
Constituição, o órgão responsável pela segurança da Esplanada dos Ministérios,
desde muitos anos, é a Secretaria de Segurança do DF.
Se
o órgão recebeu os “alertas”, então o governo federal não deveria se preocupar,
porque isso significaria que a Esplanada estaria garantida pela Polícia
Militar. Bem, o que vimos foi que a PM, após os alertas, reduziu pela metade o
efetivo, e exatamente no dia 8 de janeiro.
A
única narrativa honesta, portanto, e infelizmente não tem sido essa a abordagem
semiótica da Folha, é que os alertas da Abin implicam ainda mais gravemente a
Secretaria de Segurança do DF e seu responsável, Anderson Torres.
Outro
ponto importante nessa história seria saber que pessoas exatamente estavam no
grupo de whastapp. Sim, porque não basta dizer que havia gente do GSI ou do
Ministério da Justiça. É preciso investigar exatamente quem estava no grupo.
Eram remanescentes do governo anterior? E, sobretudo, houve algum
feedback? Qual era o nível de interação desse grupo? Apenas a Abin podia
falar, ou seja, apenas ela era administradora do grupo, e outros podiam apenas
ouvir? Ou outros também podiam interagir?
A
mídia brasileira precisa ser mais responsável. Ela não pode tratar o 8 de
janeiro isoladamente. Os atos terroristas desse dia foram a sequência de uma
série de ataques à democracia deflagrados, inicialmente, por discursos do
ex-presidente Jair Bolsonaro.
Foram
inúmeras as vezes em que o ex-presidente acusou o sistema eleitoral brasileiro
de fraude. Inúmeras, desde 2021. Falou em entrevistas. Falou em lives. Falou no
cercadinho. Chegou a convocar embaixadores do mundo inteiro para dizer a eles.
Após
a divulgação do resultado eleitoral, Bolsonaro jamais deu uma declaração
aceitando o resultado, como todos os candidatos derrotados tinham feito anteriormente.
E não fez isso sequer após ver seus seguidores fazendo bloqueios terroristas
nas estradas.
Jair
Bolsonaro é, portanto, o mentor intelectual do 8 de janeiro. Toda a narrativa
midiática que use estratégias semióticas que ignorem esse fato principal, e que
publiquem manchetes sensacionalistas que alimentem conspirações terraplanistas
do bolsonarismo, deve ser severamente denunciada como cúmplice do golpismo!
Ø
Relatório
da Abin sobre tentativa de golpe é um amontoado de mensagens de WhatsApp
Uma
das "armas" que bolsonaristas pretendem usar na CPMI dos Atos
Golpistas para
tentar comprovar a narrativa falaciosa de que teria sido o próprio governo Lula
que armou o levante antidemocrático de 8 de janeiro é um suposto relatório
da Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) alertando o Ministério da Justiça e o Gabinete
de Segurança Institucional (GSI) sobre a movimentação de apoiadores de Jair
Bolsonaro.
O
tal relatório, entretanto, se
trata na verdade de um amontoado de mensagens de WhatsApp enviadas
aos dois órgãos do governo entre os dias 6 e 8 de janeiro. São avisos
totalmente superficiais que dão conta apenas da possibilidade de bolsonaristas
encamparem atos violentos. Em
momento algum a Abin trata sobre o planejamento de um golpe de Estado e
nem mesmo de invasão às sedes dos Três Poderes.
Essas
mensagens foram obtidas e divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo na última
quarta-feira (27). Antes disso, o Blog
do Rovai já havia adiantado que os tais alertas "antecipavam uma
baderna, mas nunca uma tentativa de golpe".
Em
nota, o Ministério da Justiça informou que "nenhum dos dirigentes da nova gestão do ministério foi convidado a
adentrar grupo de WhatsApp gerenciado pela Abin para receber relatórios sobre
golpistas e criminosos que atuaram no dia 8 de janeiro".
<<<< Confira abaixo a íntegra das
mensagens
·
6.jan.23, às 19h40
Perspectiva
de adesão às manifestações contra o resultado da eleição em Brasília permanece
baixa. Contudo, há risco de ações violentas contra edifícios públicos e
autoridades. Destaca-se a convocação de caravanas para o deslocamento de
manifestantes com acesso a armas e a intenção manifesta de invadir o Congresso
Nacional
·
7.jan.23, às 10h30
Há
registro de chegada no QG do Exército de 18 ônibus de outros estados para
participar de manifestações. Mantêm-se convocações para ações violentas e
tentativas de ocupações de prédios públicos. Desde a madrugada de hoje,
caminhões tanque que transportam combustível não acessam a distribuidora de
combustíveis anexa à refinaria (REVAP) de São José dos Campos-SP. Há presença
de manifestantes autointitulados "patriotas" no local
·
7.jan.23, às 12h00
Conforme
a ANTT, houve aumento do número de fretamentos de ônibus com destino a Brasília
para este final de semana. Há um total de 105 ônibus, com cerca de 3.900
passageiros. Mantêm-se convocações para ações violentas
·
8.jan.23, às 08h53
Cerca
de 100 ônibus chegaram a Brasília para os atos previstos na Esplanada dos
Ministérios
·
8.jan.23, às 10h00
Em
Brasília, continua chegada de manifestantes no QG do Exército, em fluxo menor
que o registrado ontem. Houve incremento no número de barracas, com estruturas
maiores. Permanecem convocações e incitações para deslocamento até a Esplanada
dos Ministérios, ocupações de prédios públicos e ações violentas. Em votação,
decidiram que a marcha só iniciará quando todas as caravanas chegarem
·
8.jan.23, às 12h05
Deslocamento
dos manifestantes para a Esplanada está previsto para as 13h00. Ânimo pacífico
no momento, mas há relatos de pessoas que se dizem armadas
·
8.jan.23, às 13h00
Identificado
discurso radical de vândalo com perfil já conhecido e ânimo exaltado
·
8.jan.23, às 13h40
Iniciado
o deslocamento para a Esplanada. Há discursos inflamados com pessoas pintando o
rosto com [sic] se fossem para um combate. Há entre manifestantes relatos de
que as forças de segurança não irão confrontá-los
·
8.jan.23, às 14h30
Frente
da marcha alcançou a primeira barreira policial na via que passa ao lado da
Catedral. Já há manifestantes em frente ao Congresso Nacional. Efetivos da PM
encontram-se no local. Alguns manifestantes estão montando barracas na
Esplanada dos Ministérios e artefatos potencialmente perigosos foram deixados
no gramado
·
8.jan.23, às 14h45
Em
Brasília, marcha chegou em frente ao Congresso Nacional e manifestantes
romperam a barreira policial. Grupo encontra-se na rampa do prédio
Fonte:
Por Miguel do Rosário, em O Cafezinho/Fórum
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