domingo, 28 de maio de 2023

Clubes e atletas estão calados sobre a máfia das apostas

Dia sim e outro também, surgem novos jogadores suspeitos de participar do esquema de manipulação de resultados. O Ministério Público de Goiás, responsável pelas investigações, não para de surpreender a sociedade com as suas denúncias.

Acrescente-se a isto uma Comissão Parlamentar de Inquérito, instalada na Câmara dos Deputados, para ajudar na apuração dos fatos.

O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, instado a se pronunciar sobre o assunto, foi um tanto ou quanto escorregadio:

 “Não é acusação de um dirigente, não é de um presidente de clube, não é de um árbitro. Isso está sendo de atletas. A CBF espera que tenha um rigor de quem está fazendo as apurações. A CBF não tem poder de polícia e Justiça”, disse Ednaldo, descartando a possibilidade de, por exemplo, suspender qualquer competição por conta das comprovadas manipulações.

Da parte dos jogadores dos grandes clubes, poucas vozes foram ouvidas sobre o escândalo. Veja quem se posicionou:

•        Everton Ribeiro:

“Estou muito triste, a gente luta tanto para chegar nessa posição, sonhos de muitas crianças, somos exemplos… O futebol é um esporte muito inclusivo, com responsabilidade. Precisamos cuidar do nosso futebol, ter responsabilidade do que a gente faz. Triste. Espero que a gente possa sair daqui com ensinamentos e ver o caminho certo a seguir”, disse o flamenguista.

•        Edu:

O cruzeirense, hoje emprestado ao Dibba, dos Emirados Árabes, foi as redes sociais falar sobre o assunto. Segundo ele, é uma vergonha para os jogadores tudo isso que está acontecendo:

 “Vários querendo uma oportunidade e vagabundo jogando a carreira no lixo! Respeitem e aproveitem a oportunidade que Deus nos deu! Vergonha pra nós tudo isso que tá acontecendo, pouco papo!”, postou o jogador.

•        Ronaldo Fenômeno:

Enquanto a maioria dos cartolas prefere ficar calada, Ronaldo Fenômeno, dono do Cruzeiro, mostrou a sua indignação em postagem nas redes sociais, afirmando que “não poderia deixar de me posicionar, cex-jogador, acionista de dois clubes e entusiasta do futebol, é claro que me entristece muito ver a história do esporte ser manchada dessa forma”, disse Ronaldo.

•        Silêncio preocupante

O silêncio dos clubes e jogadores em relação à questão da manipulação de resultados é um tema que tem gerado preocupação e questionamentos por parte dos torcedores e da sociedade como um todo. A manipulação de resultados é uma prática ilegal e prejudicial ao esporte, que compromete a integridade das competições e a confiança dos fãs.

Em resumo, com essas raras exceções, predomina quase um silêncio dos clubes e jogadores sobre a questão da manipulação de resultados. E este é um problema que requer atenção e ação por parte de todos os envolvidos no futebol.

É necessário criar um ambiente seguro e confiável para denúncias, além de fortalecer os mecanismos de combate a essas práticas ilegais.

       STJD suspende jogadores por suspeita de manipulação

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) suspendeu, nesta sexta-feira (26/5), cinco jogadores de futebol acusados de envolvimento em suposto esquema de manipulação de resultados de jogos com casas de aposta. A suspensão ocorre de maneira preventiva e vale pelo prazo de 30 dias.

Dessa forma, ficam suspensos os seguintes atletas:

•        Allan Godói dos Santos, atleta à época da ocorrência dos fatos vinculados ao time paranaense Operário;

•        Paulo Sérgio Marques Corrêa, atleta à época vinculado ao time paranaense Operário;

•        André Luiz Guimarães Siqueira júnior (André Queixo), atleta à época vinculado ao time paulista Ituano;

•        Mateus da Silva Duarte (Mateusinho), atleta à época vinculado ao time mato-grossense Cuiabá;

•        Ygor de Oliveira Ferrera (Ygor Catatau), atleta à época vinculado ao time maranhense Sampaio Correa.

No documento obtido pelo Metrópoles, o presidente do STJD, José Perdiz de Jesus, atende a pedido da Procuradoria-Geral Desportiva, que apresentou a denúncia e requereu a suspensão preventiva dos atletas pelo período máximo permitido em lei.

 “Os fatos são gravíssimos e repercutem com enormes prejuízos ao desporto nacional, sendo plenamente justificadas as razões que autorizam a medida excepcional de suspensão preventiva de todos os cinco atletas denunciados, acima nominados, pelo prazo máximo de 30 dias, conforme previsto na legislação”, decidiu o presidente do STJD.

A denúncia se embasou no artigo nº 35 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que prevê suspensão preventiva quando a gravidade do ato ou fato infracional a justifique, desde que requerida pela Procuradoria ou quando expressamente determinado por lei ou por este Código.

A decisão do STJD toma como base a suspeita de um combinado para cometimento de penalidades, em uma partida do Sampaio Corrêa contra o Londrina, pela 38ª rodada, da Série B. A suspensão teria se embasado na gravidade dos fatos e na força das provas, uma vez que os jogadores também são suspeitos de atuarem como aliciadores de outros atletas.

Entenda a situação

O aliciamento de jogadores por casas de aposta tem sido investigado pela Operação Penalidade Máxima II, do Ministério Público de Goiás (MPGO). Até o momento, o órgão ministerial denunciou 16 pessoas por fraudes por manipulação de resultados em 13 partidas de futebol: oito do Campeonato Brasileiro da Série A de 2022, um da Série B de 2022 e quatro de campeonatos estaduais realizados em 2023.

MPGO aponta fatos criminosos ocorridos durante as partidas, nas quais jogadores se comprometeram a cometer faltas para receber cartões e a cometer pênaltis. A organização criminosa visava apostar nos resultados e em eventos induzidos, obtendo, assim, elevados ganhos.

 

       Especialistas comparam Operação Penalidade Máxima com Máfia do Apito

 

Esta semana, mostramos aqui na coluna que o modus operandi dessa quadrilha que manipula resultados para se beneficiar com as apostas online não é novidade no mundo do crime.

Algo semelhante já ocupou as manchetes dos meios de comunicação em 2004, num escândalo que ficou conhecido como a Máfia do Apito, em que árbitros recebiam dinheiro para beneficiar apostadores.

De acordo com as investigações, os árbitros envolvidos interferiram nos resultados de pelo menos 11 jogos do Brasileirão, e todos eles foram cancelados e disputados novamente.

A coluna Futebol Etc ouviu especialistas para comparar os dois crimes. O primeiro deles, Felipe Crisafulli, advogado especializado em Direito Desportivo do escritório Ambiel Advogados, entende que “existe algumas semelhanças entre ambos os escândalos. Porém, enquanto há 18 anos eram árbitros fazendo esse trabalho sujo, o esquema atualmente sob investigação e objeto de denúncia do Ministério Público de Goiás envolveu, até onde se tem notícia, apenas jogadores de futebol, ou seja, somente atletas receberam promessas ou vantagens patrimoniais com vista a, de alguma maneira, alterar o resultado das partidas – no caso, receber cartão (amarelo ou vermelho) ou cometer pênaltis”, ressaltou.

Na mesma linha, Fabiano Jantalia, advogado especializado em Direito dos Jogos e sócio-fundador do escritório Jantalia Advogados, disse à coluna que há um ponto em comum, que é o objetivo de obter proveito ilícito das apostas mediante a manipulação de resultados de jogos.

“De certo modo, é possível afirmar que o suposto esquema atual de manipulação é até mais grave do que o da máfia do apito. Primeiro, porque há uma quantidade muito maior de agentes envolvidos. Segundo, porque as acusações recaem sobre jogadores, que são, no final das contas, os principais personagens do jogo. E terceiro porque, justamente por envolver os jogadores, podemos estar diante de algo muito mais disseminado do que se viu no episódio da Máfia doAapito”, destacou Fabiano Jantalia.

•        Sobre punições

Na próxima semana será instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara dos Deputados para tentar encontrar os responsáveis por esse esquema de manipulação. Já há também, por determinação do Ministério da Justiça, o envolvimento da Polícia Federal na investigação das denúncias.

Os dois especialistas ouvidos com exclusividade pela coluna também deram opiniões sobre as possíveis punições que deve ser aplicadas aos corruptos e corruptores.

“As principais sanções seriam nos âmbitos esportivo, trabalhista e criminal. Do ponto de vista esportivo, as punições para os atletas podem se dar de acordo com o art. 243, § 1º (pena: suspensão de 360 a 720 dias e multa de R$ 100,00 a R$ 100.000,00)… A depender da gravidade da infração, a CBF pode solicitar à Fifa a extensão, em âmbito mundial, da sanção imposta. Além disso, se a conduta for praticada por dirigente (o que, por ora, não é o caso na Operação Penalidade Máxima), o clube fica sujeito a multa e, havendo gravidade, pode até mesmo ser excluído da competição, rebaixado, perder pontos ou ter de devolver prêmios já recebidos”, diz o advogado Felipe Crisafulli.

Fabiano Jantalia entende que os apostadores que aliciaram os jogadores podem ser enquadrados pelo Ministério Público no art. 41-D do Estatuto do Torcedor, que tipifica como crime a conduta de “dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva ou evento a ela associado”.

“Já os jogadores podem, em tese, ser enquadrados no art. 41-C do Estatuto do Torcedor, que tipifica a conduta de solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado”, afirma Jantalia.

A pena para ambos os crimes, segundo o especialista, é de reclusão de dois a seis anos.

“Não se pode, no entanto, descartar a possibilidade de que o MP considere que se está diante de uma organização criminosa. Nesse caso, os envolvidos poderiam responder também por esse tipo penal… Quanto aos clubes, não temos até agora nenhum elemento que aponte seu envolvimento no suposto esquema. Pelo contrário: em tese, as informações até aqui divulgadas apontam na direção de que os clubes teriam sido vítimas da conduta de jogadores, podendo ter sofrido não apenas prejuízos esportivos como também prejuízos financeiros”, concluiu o advogado.

 

       Viciado em jogo de azar, atleta apostou 13 vezes contra próprio time

 

Ivan Toney, jogador do Brentford, foi suspenso pela Associação de Futebol da Inglaterra (FA, na sigla em inglês) na última semana após infringir 232 vezes o código de conduta que proíbe atletas de apostarem, no período entre 25 de fevereiro de 2017 e 23 de janeiro de 2021 - cinco temporadas, no total.

Nesta sexta-feira (26), a entidade divulgou a decisão de um comissão reguladora independente sobre o caso, no qual indica que o atacante apostou 13 vezes na derrota de seu próprio time.

Das 232 apostas que Toney admitiu terem sido realizadas, 126 aconteceram em competições que o time do jogador participou naquela temporada - Campeonato Inglês, Copa da Inglaterra e Copa da Liga Inglesa, por exemplo. Destas, 29 foram direcionadas para o clube que o atacante estava inscrito ou emprestado à época.

Das 29 apostas no resultado do jogo, em 16 Toney apostou que seu time venceria. Ele veio a atuar em 11 destas partidas e esteve no banco de reservas em outra ocasião. O caso mais chocante são as 13 apostas restantes, no qual o atacante apostou na derrota do seu próprio time.

Segundo o relatório, Toney realizou 11 apostas em jogos do Newcastle, entre 2017 e 2018, quando ainda tinha vínculo com o clube, mas estava emprestado ao Wigan. Outras duas apostas, que totalizam as 13 que o atacante foi considerado culpado, ocorreram no duelo Wigan x Aston Villa, em 2017, pela segunda divisão do Inglês. A partida terminou com a vitória dos visitantes, resultado que favoreceu o atacante na aposta. Toney ficou fora desta partida.

Ainda há outras 21 apostas, realizadas por Toney, para que ele próprio ou outros jogadores marcassem gols nas partidas em questão. De acordo com a FA, estas, somadas às 29 em resultados dos duelos, foram as consideradas mais graves ao longo da investigação.

"O presente caso não envolve manipulação de resultados. Se fosse, as acusações teriam sido processadas sob disposições diferentes. Não há evidências de que o Sr. Toney tenha feito ou mesmo estivesse em posição de influenciar seu próprio time a perder quando ele fez apostas contra a vitória deles - ele não estava no time ou elegível para jogar no momento, conforme explicado", aponta a decisão da FA.

"A proibição de apostas no futebol pelos participantes (jogadores, treinadores e dirigentes) é necessária para proteger a integridade do jogo e manter a confiança do público no esporte A percepção do impacto das apostas de futebol na integridade do jogo é uma consideração importante ao decidir sobre uma sanção", completou a entidade.

Nos depoimentos de Toney à FA, ele admitiu que utilizou contas de terceiros para realizar as apostas em plataformas na internet No entanto, afirma que não tinha conhecimento da impossibilidade de apostar até 2018, quando defendia o Peterborough. "Vocês (FA) costumavam vir a Peterborough quando eu estava lá para dizer que não podemos apostar no futebol", disse o atacante.

"Eu me recordo de assistir a um vídeo e, naquele momento (no Brentford), eu passei a reconhecer que havia um prolema nas apostas que havia realizado nas partidas de futebol", apontou. Toney também admitiu que mentiu durante as investigações. Em outubro de 2022, afirmou que nunca havia realizado em apostas em partidas de futebol.

•        Vício em apostas

Durante o julgamento, a FA chegou a considerar que Toney fosse suspenso por, no mínimo, 12 meses. Um dos pontos levados em consideração para a redução da pena, atualmente em oito meses de suspensão e multa de 50 mil libras (cerca de R$ 308 mil), foi o fato de que Toney foi diagnosticado com vício compulsivo em jogos de azar.

Philip Hopley, médico e consultor psiquiatra, foi ouvido pela FA e conversou com Toney em duas ocasiões nos últimos meses. Em conclusão, afirmou que o jogador tem um histórico de vício em apostas e é necessário que o atacante busque ajuda profissional para iniciar um tratamento. De acordo com o manifesto, Toney está a disposto a buscar auxílio.

O vício em jogos já é considerado como uma questão de saúde pública no Reino Unido. Recentemente, os clubes do Campeonato Inglês aceitaram retirar de seus uniformes qualquer menção a casas de apostas a partir da temporada 2026/2027.

James Grimes, de 33 anos, é o fundador do The Big Step, cuja finalidade é promover debates para o fim dos patrocínios de casas de apostas no futebol inglês. A ação já conta com o apoio de 30 clubes do futebol inglês. Ao Estadão, revelou que viveu um drama pessoal semelhante ao de Toney com vício em jogos.

"Supõe-se que este (o esporte) seja um lugar que forneça saúde, que fortaleça a comunidade, que forneça segurança, que proporcione diversão. Ele não deveria ser usado para promover algo que sabemos que destrói todas essas coisas", afirma. Na última temporada do Campeonato Inglês, 19 dos clubes tinham acordo com alguma casa de apostas. Oito destes, incluindo o Brentford, estampavam sua marca no patrocínio central do uniforme.

•        Manifestação de Toney e Brentford

Ivan Toney e Brentford se manifestaram nesta sexta-feira (26), após vir a público a decisão completa da FA. Ambos aceitaram a punição. Por meio de suas redes sociais, e o jogador apenas afirmou que "irá se pronunciar em breve, sem filtros".

Já o clube teve uma postura de defender seu atleta, ao citar que, de acordo com a análise, Toney não impactou em nenhum dos eventos que apostou e espera receber o jogador de volta ao elenco ao fim da suspensão.

Toney poderá voltar a treinar com Brentford nos últimos quatro meses de sua suspensão, que se encerra no dia 16 de janeiro de 2024. Ele não é o primeiro jogador de futebol proeminente a ser penalizado por violar as regras do jogo. Em 2017, o ex-meio-campista do Manchester City e do Newcastle, Joey Barton, foi punido por 18 meses em 2017 depois de admitir ter feito 1 260 apostas relacionadas ao futebol durante um período de mais de dez anos.

Nesta temporada, Toney disputou 36 jogos pelo time inglês, com 21 gols e cinco assistências. Ele chegou a ser convocado pela seleção inglesa para as Eliminatórias da Eurocopa, em março.

 

Fonte: Metrópoles/Agencia Estado

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário