terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Baby Shark: como vídeo de 90 segundos gerou negócio de US$ 400 milhões

Quando Kim Min-seok autorizou, em junho de 2016, a publicação de um clipe de 90 segundos de uma canção infantil, ele não tinha ideia do impacto que teria.

A música se tornou um fenômeno global, com mais de 16 bilhões de visualizações — o vídeo mais visto da história do YouTube.

A canção era a grudenta Baby Shark.

Além de conquistar crianças e irritar adultos ao redor do mundo, a música abriu caminho para que a criadora, a empresa sul-coreana Pinkfong, se tornasse um negócio de mídia avaliado em centenas de milhões de dólares.

"Não esperávamos que se destacasse do nosso outro conteúdo", disse Kim, CEO da Pinkfong, à BBC, do escritório da empresa em Seul (Coreia do Sul). "Mas, olhando para trás, foi um ponto de virada que preparou nossa trajetória global."

Na terça-feira (18/11), essa trajetória levou a Pinkfong ao mercado de ações da Coreia do Sul, onde suas ações subiram mais de 9% na estreia, dando à empresa uma avaliação de mais de US$ 400 milhões (cerca de R$ 2 bilhões).

<><> 'Não esperávamos salário'

Fundada em 2010 como SmartStudy, a empresa produzia conteúdo digital para crianças de até 12 anos.

No início, tinha apenas três funcionários, incluindo Kim e o diretor de tecnologia, Dongwoo Son.

"O escritório era minúsculo, ainda menor que este", lembrou Kim, apontando para a sala de conferência de onde falava.

Era tão pequeno que "nem esperávamos receber salário na época", disse, por meio de um tradutor.

A Pinkfong passou por várias reformulações, incluindo a mudança de foco para crianças pequenas.

A empresa cresceu para cerca de 100 funcionários e passou a priorizar jogos e conteúdos educativos simples. "Foi quando Baby Shark surgiu", explicou Kim.

Desde 2022, a empresa é chamada The Pinkfong Company, nome inspirado em uma raposa alegre e curiosa de um de seus primeiros desenhos.

Hoje, conta com cerca de 340 funcionários, com escritórios em Tóquio (Japão), Xangai (China) e Los Angeles (EUA).

<><> O fenômeno Baby Shark

Acredita-se que Baby Shark tenha surgido nos Estados Unidos nos anos 1970, sendo cantada em acampamentos de verão infantis.

A música, que repete a frase "Baby shark, doo, doo, doo, doo, doo, doo", é "atraente para crianças, embora possa irritar adultos", afirmou Kevin Chew, analista de mídia da Nanyang Technological University (Cingapura).

Kim também reconhece a força da canção.

"É como uma música de K-pop. Muito rápida, ritmada e viciante", disse, acrescentando que a melodia tem efeito "chanting" (de repetição), facilitando a memorização pelas crianças.

O sucesso, porém, não foi imediato. O vídeo só ganhou popularidade quando a coreografia foi apresentada em eventos infantis no Sudeste Asiático.

Clipes de crianças e adultos dançando a música começaram a se espalhar online e o vídeo viralizou.

"Havia uma sensação de festa no escritório", disse Kim, ao acompanhar a escalada de visualizações.

Em novembro de 2020, o clipe tornou-se o mais visto do YouTube.

Nos anos seguintes, gerou cerca de metade da receita da empresa e se tornou plataforma para novos conteúdos e produtos, afirmou o executivo.

Em 2019, a Pinkfong enfrentou um processo ao ser acusada de plagiar um compositor americano.

O Supremo Tribunal da Coreia do Sul rejeitou o caso, depois que a empresa argumentou que sua versão derivava de uma canção folclórica de domínio público.

A vitória, disse Kim, impulsionou a empresa no momento de abrir capital. O pedido de IPO (sigla em inglês para abertura de capital na Bolsa de Valores) havia sido protocolado antes do veredito.

<><> Um sucesso isolado?

Outras franquias da Pinkfong, como Bebefinn e Sealook, crescem rapidamente, mas a empresa precisa provar que não depende apenas de Baby Shark, disse Min Jung Kim, professora de negócios da Korea University (Coreia do Sul).

O público-alvo, acrescentou, é uma vantagem, pois crianças pequenas tendem a assistir repetidamente ao mesmo material.

Kim Min-seok afirma que o negócio pode crescer além de Baby Shark, que hoje representa cerca de um quarto da receita da empresa. Enquanto isso, Bebefinn já responde por cerca de 40% dos ganhos.

Um pai disse à BBC ter sentimentos contraditórios sobre os vídeos da Pinkfong. Saleem Nashef, pai de dois filhos, valoriza o caráter educativo do conteúdo, mas sua esposa considera Baby Shark "estimulante demais para crianças".

Mesmo assim, o vídeo viral é inevitável: a filha do casal, prestes a completar três anos, terá festa de aniversário com tema Baby Shark.

Ainda não está claro se a Pinkfong conseguirá criar outros personagens com apelo comercial semelhante, disse Min, da professora da Korea University.

A empresa arrecadou quase US$ 52 milhões (cerca de R$ 260 milhões) em sua estreia na bolsa e planeja usar o dinheiro para ampliar a linha de filmes e personagens, afirmou Kim, da Pinkfong.

O objetivo também é se tornar uma produtora de conteúdo "tech-driven" (orientada por tecnologia), usando padrões de visualização e outros dados para moldar novos projetos.

"Alcançamos o que muitos criadores sempre sonharam", disse Kim.

Agora, a empresa precisa mostrar aos investidores que não é apenas um sucesso isolado.

•        'Baby Shark': 8 curiosidades por trás do vídeo que se tornou o mais visto da história no YouTube

Baby Shark, a canção infantil de melodia viciante que viralizou na internet, tornou-se o vídeo mais assistido no YouTube.

A música já foi tocada 7,04 bilhões de vezes na plataforma, ultrapassando o recordista anterior Despacito, sucesso pop latino do cantor porto-riquenho Luis Fonsi.

Isso significa que, se fosse reproduzida sem parar, Baby Shark poderia ser transmitida continuamente por 30.187 anos.

Estima-se que sua criadora, a empresa sul-coreana Pinkfong, tenha ganhado US$ 5,2 milhões (R$ 30 milhões) apenas com as transmissões no YouTube.

Confira algumas curiosidades por trás desse estrondoso sucesso.

1) Origem antiga

Foram necessários quatro anos para Baby Shark subir ao "pódio" dos vídeos mais assistidos do YouTube, mas a canção é na verdade muito mais antiga, embora sua origem seja alvo de divergências.

Acredita-se que ela tenha se originado nos acampamentos de verão dos Estados Unidos na década de 1970. Outra teoria diz que foi inventada em 1975, quando o filme Tubarão, do cineasta americano Steven Spielberg, se tornou um sucesso de bilheteria em todo o mundo.

2) Diferentes versões

Há um grande número de variações da canção original, incluindo uma versão em que um surfista perde um braço para o tubarão e outra em que o protagonista morre.

Também há versões internacionais — incluindo a francesa Bebe Requin e a alemã Kleiner Hai ('Tubarão Pequeno', em tradução livre para o português), que se tornou um sucesso de pequeno alcance na Europa em 2007.

Mas nenhuma delas conseguiu igualar o êxito da versão de Pinkfong, que foi interpretada pela cantora coreana-americana Hope Segoine, de 10 anos, e enviada para o YouTube em 2015.

3) Refrão viciante e coreografia

O refrão viciante "doo doo doo doo doo doo" e a coreografia se tornaram uma mania na Coreia do Sul, onde bandas populares como Red Velvet, Girls 'Generation e Blackpink começaram a incorporar a canção em seus shows.

Em junho daquele ano, a Pinkfong lançou um segundo vídeo, intitulado Baby Shark Dance, com duas crianças fofas realizando a dança.

A música é um chamariz para crianças, cujo apetite pela repetição sem dúvida a ajudou a subir no ranking dos vídeos mais assistidos do YouTube.

"As canções infantis sempre foram lentas, muito fofas, mas algo que ajudava seus filhos a adormecer — ao contrário de Baby Shark", disse o diretor de marketing da Pinkfong, Jamie Oh, à BBC em 2018.

"O bebê tubarão da Pinkfong é muito moderno e tem uma batida muito brilhante com movimentos de dança divertidos. A animação é muito viva. Nós a chamamos de K-Pop para a próxima geração."

4) Hashtag viral

O clipe da Pinkfong inspirou a criação da hashtag #BabySharkChallenge, mobilizando desde trabalhadores rurais indonésios até estrelas pop Cardi B e Josh Groban.

Isso fez com que a música acabasse se espalhando por todo o mundo.

5) Filme e musical

A Pinkgong informou que está transformando a música em um filme e um musical, e pretende fazer de Baby Shark "outro clássico da música infantil, como Brilha Brilha, Estrelinha", acrescentou Oh.

6) Violação de direito autorais

No ano passado, a controladora da Pinkfong, a também sul-coreana SmartStudy, foi processada pelo compositor infantil Jonathan Wright, que gravou um arranjo semelhante da música em 2011 e alega possuir os direitos autorais da música.

A SmartStudy respondeu que sua versão foi "baseada em uma canção tradicional que passou para o domínio público".

O caso ainda está sendo analisado pela Comissão de Direitos Autorais da Coreia do Sul.

7) Alegação de tortura

No mês passado, a música foi alvo de outra polêmica, quando três funcionários de uma prisão em Oklahoma, nos Estados Unidos, foram acusados de usá-la para punir presidiários.

De acordo com a Justiça americana, cinco prisioneiros foram algemados contra uma parede e forçados a ficar de pé por duas horas enquanto ouviam a repetição de Baby Shark.

A exposição à música colocou "estresse emocional indevido nos presidiários que provavelmente já estavam sofrendo", disse o promotor responsável pelo caso, David Prater.

>>> 8) Acalma bebê durante protesto

Mas a música também teve um uso positivo.

Quando Eliane Jabbour inesperadamente se viu no meio de uma manifestação antigoverno no Líbano, em outubro passado, ela ficou preocupada que o barulho assustasse seu filho de 15 meses, que acabava de acordar de um cochilo no banco do passageiro de seu carro.

Em vez disso, manifestantes circularam o carro dela e cantaram Baby Shark para ajudar a acalmar a criança.

Um vídeo do episódio na capital do Líbano, Beirute — com o bebê olhando com os olhos arregalados para o canto e a dança — viralizou e se tornou um símbolo de esperança em meio aos protestos.

 

Fonte: BBC News

 

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