terça-feira, 6 de agosto de 2024

5 perguntas e respostas sobre caso de boxeadora argelina no centro de debate sobre gênero

A peso meio-médio Imane Khelif, da Argélia, uma das duas boxeadoras envolvidas em uma polêmica sobre gênero na Olimpíada de Paris-2024, garantiu ao menos a medalha de bronze ao avançar para as semifinais no sábado (3/8).

Além dela, Lin Yu-ting, peso-pena de Taiwan, também assegurou pelo menos a medalha de bronze ao vencer sua oponente nas quartas de final no domingo (4/8).

Ambas foram autorizadas a competir nos Jogos Olímpicos, apesar de terem sido desqualificadas do Campeonato Mundial do ano passado por não atenderem aos requisitos de elegibilidade de gênero.

A semifinal de Khelif será contra a tailandesa Janjaem Suwannapheng na terça-feira (6/8), enquanto Lin enfrentará a turca Esra Yildiz Kahraman na quarta-feira (7/8).

A argelina virou o centro das atenções de uma polêmica sobre gênero quando derrotou a italiana Angela Carini nas oitavas de final.

A luta terminou em 46 segundos após o abandono por parte de Carini, com críticas ao Comitê Olímpico Internacional (COI) por permitir a inscrição de uma boxeadora que antes foi considerada incapaz de atender aos critérios de elegibilidade de gênero.

Carini disse que encerrou a luta para "preservar sua vida", mas depois pediu desculpas à oponente argelina por não apertar sua mão ao fim da luta.

"Sinto muito pela minha adversária também. Se o COI disse que ela pode lutar, eu respeito essa decisão", afirmou Carini.

Carini lamentou não ter cumprimentado Khelif depois da luta.

"Não era algo que eu pretendia fazer", disse Carini. "Na verdade, quero pedir desculpas a ela e a todos os outros. Fiquei com raiva porque minhas Olimpíadas viraram fumaça."

Ela acrescentou que, se encontrasse Khelif novamente, a "abraçaria".

Já Khelif, após sua vitória, disse: "Estou aqui pelo ouro — luto com todo mundo."

A Associação Internacional de Boxe (IBA), que antes foi a organizadora do boxe olímpico, tem feito críticas à decisão do COI de permitir que as duas atletas competissem.

A seguir, a BBC esclarece algumas questões sobre o assunto.

·        1 - Qual sexo consta na certidão de nascimento de Khelif? Ela nasceu biologicamente masculina ou feminina?

Khelif sempre competiu na divisão feminina e é reconhecida pelo COI Internacional como uma atleta feminina.

"A boxeadora argelina nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher, lutou boxe como mulher, tem um passaporte feminino", disse o porta-voz do COI, Mark Adams, na sexta-feira.

"Este não é um caso envolvendo transgênero. Houve alguma confusão de que, de alguma forma, seria um homem lutando contra uma mulher. Este não é o caso. Sobre isso, há consenso, cientificamente: este não é um homem lutando contra uma mulher."

Khelif falou sobre sua experiência de crescer como uma menina na Argélia e o preconceito que enfrentou jogando futebol ao lado de meninos.

"Não deixe que os obstáculos entrem em seu caminho, resista a quaisquer obstáculos e supere-os", disse ela em março de 2024. "Meu sonho é ganhar uma medalha de ouro."

"Se eu ganhar, mães e pais poderão ver até onde seus filhos podem ir. Eu particularmente quero inspirar meninas e crianças que são desfavorecidas na Argélia."

Não há nenhuma indicação de que Khelif não se identifique como mulher.

·        2 - Como é a carreira dela no boxe até o momento?

Khelif luta boxe há oito anos.

A argelina fez sua estreia no cenário amador mundial aos 19 anos, quando ficou em 17º lugar no Campeonato Mundial de 2018. Um ano depois, Khelif ficou em 19º no Campeonato Mundial Feminino de Boxe.

Ela fez sua estreia olímpica nos Jogos de 2020 em Tóquio. Lutando na divisão leve de 60 kg, Khelif foi derrotada por 5 a 0 nas quartas de final pela medalhista de ouro da Irlanda, Kellie Harrington.

Ela então se tornou a primeira boxeadora argelina a ganhar uma medalha no Campeonato Mundial, ficando com a prata em 2022 após perder a final para a irlandesa Amy Broadhurst, que agora representa a Grã-Bretanha.

Em seguida, Khelif venceu o Campeonato Africano de 2022 e os Jogos do Mediterrâneo de 2022.

Em 2023, ela ganhou o ouro nos Jogos Árabes na divisão de 66 kg e garantiu sua vaga nos Jogos de 2024 ao derrotar Alcinda Panguana, de Moçambique, na final do torneio de qualificação para as Olimpíadas Africanas no Senegal.

Até o momento, Khelif lutou 51 vezes em sua carreira, vencendo 42 e perdendo nove. Seis dessas vitórias foram por nocaute.

·        3 - Por que a vitória de Khelif contra Carini foi controversa?

A vitória de Khelif gerou controvérsia e críticas após Carini perder em apenas 46 segundos de luta.

A boxeadora italiana disse ter abandonado a luta para "preservar sua vida". Depois, pediu desculpas à oponente.

Muitas das críticas decorrem da desqualificação de Khelif no Campeonato Mundial de 2023 em Nova Déli, Índia.

Ela falhou em um teste de elegibilidade de gênero conduzido pela Associação Internacional de Boxe (IBA) horas antes de seu confronto pela medalha de ouro contra a chinesa Yang Liu.

A argelina inicialmente apelou da decisão ao Tribunal Arbitral do Esporte, mas depois desistiu da apelação durante o processo.

A IBA, chefiada pela Rússia, disse que Khelif "não atendeu aos critérios de elegibilidade para participar da competição feminina, conforme definido e disposto nos regulamentos da IBA".

De acordo com os regulamentos da IBA: "Os boxeadores competirão contra boxeadores do mesmo gênero, ou seja, mulheres contra mulheres e homens contra homens, conforme as definições dessas regras".

A IBA define uma mulher ou menina como "um indivíduo com cromossomos XX" e homens ou meninos como "um indivíduo com cromossomos XY".

A IBA negou que os níveis de testosterona de Khelif tenham sido testados.

Em uma entrevista com o editor de esportes da BBC, Dan Roan, na quinta-feira, o presidente-executivo da IBA, Chris Roberts, disse que cromossomos XY foram encontrados nos testes de Imane Khelif e de Lin Yu-ting.

Mas Roberts disse que havia "diferentes questões envolvidas nisso" e, portanto, o órgão não poderia se comprometer a definir Khelif como "biologicamente masculino".

O COI levantou dúvidas sobre a precisão dos testes.

"Não sabemos qual era o protocolo, não sabemos se o teste foi preciso, não sabemos se devemos acreditar no teste", disse o porta-voz do COI.

"Há uma diferença entre um teste ser realizado e aceitarmos a precisão ou mesmo o protocolo do teste".

A BBC, até o momento, não conseguiu determinar em que consistiam os testes de elegibilidade.

·        4 - O que mudou na regulamentação e governança do boxe olímpico desde a decisão da IBA?

Ao contrário dos Jogos anteriores, o boxe nas Olimpíadas de Tóquio foi organizado pelo COI, e não pela IBA.

O COI suspendeu a IBA em 2019 devido a preocupações com suas finanças, governança, ética, arbitragem e julgamento.

Por não ter cumprido as reformas exigidas estabelecidas pelo COI, a IBA foi destituída de seu status como órgão regulador mundial do esporte em 2023.

Essa decisão foi mantida em abril de 2024 pelo Tribunal Arbitral do Esporte após um recurso.

A decisão do COI de destituir a IBA de seu status ocorreu quatro meses após o órgão desqualificar Khelif e Lin Yu-ting do Campeonato Mundial de 2023.

Em 2021, o COI lançou uma campanha sobre "Justiça, Inclusão e Não Discriminação com Base na Identidade de Gênero e Variações Sexuais".

O documento estabelece dez princípios - não regras - para os órgãos nacionais seguirem ao selecionar atletas para os Jogos.

O COI disse que "apoia a participação de qualquer atleta que tenha se qualificado e cumprido os critérios de elegibilidade para competir nos Jogos Olímpicos, conforme estabelecido por sua IF [Federação Internacional]. O COI não discriminará um atleta que tenha se qualificado por meio de sua IF, com base em sua identidade de gênero e/ou características sexuais".

·        5 - Quais testes são realizados no boxe?

Em 2019, o COI delegou a responsabilidade pela organização e gestão do controle de doping nas Olimpíadas à Agência Internacional de Testes (ITA).

O COI disse que adotou uma "política de tolerância zero" para qualquer pessoa encontrada usando ou fornecendo produtos de doping.

Os testes incluem determinar os níveis de testosterona de um atleta, mas não se reduzem a isso.

"Há muitas mulheres com níveis mais altos de testosterona do que os homens", disse o presidente-executivo da IBA, Roberts.

"Portanto, a ideia de que um teste de testosterona é a bala de prata não é verdade."

·        O que as pessoas têm dito

# "É importante poder competir em igualdade de condições e, do meu ponto de vista, não foi uma disputa equilibrada", - Primeira-ministra italiana Giorgia Meloni.

# "Acho que isso prejudicou o boxe olímpico em um momento crucial em que seu futuro ainda está sendo discutido. É um desastre absoluto", Steve Bunce, comentarista do 5 Live

# "Se você tem um boxeador que supera em muito a força de outro com base em critérios de elegibilidade e testes, isso sugere que essa pessoa não é adequada para estar na categoria feminina da competição", Chris Roberts, CEO da IBA

# "Eu recomendaria que tentássemos tirar a guerra cultural disso e realmente abordássemos as questões e as pessoas e pensássemos sobre as pessoas envolvidas e o dano real que está sendo causado pela desinformação", Mark Adams, porta-voz do COI.

# "Foi uma exibição incrivelmente desconfortável pelos 46 segundos que durou e sei que há muita preocupação em relação às competidoras sobre se estamos encontrando o equilíbrio certo não apenas no boxe, mas também em outros esportes", disse Lisa Nandy, Secretária de Estado da Cultura, Mídia e Esporte do Reino Unido.

¨      Lutadora argelina sobre polêmica: "Sou mulher e continuarei mulher"

A lutadora de boxe Imane Khelif falou, pela primeira vez, sobre a polêmica em relação ao seu gênero nas Olimpíadas de Paris-2024. Em declaração dada após vencer a húngara Anna Luca Hamori, no sábado (3/8), Imane afirmou ser mulher. 

“Quero dizer ao mundo inteiro que sou mulher e continuarei mulher. Eu dedico esta medalha ao mundo e a todos os árabes. E digo a vocês, vida longa à Argélia”, pontuou Imane. 

As redes sociais e alguns veículos de imprensa do mundo colocaram em pauta o gênero de Imane na quinta-feira (1º/8), após a argelina vencer a italina Angela Carini, que desistiu da luta após 46 segundos. 

A polêmica de gênero se baseou em um teste feito por Imane em 2023, para participar do Mundial de Boxe. A Associação Internacional de Boxe (IBA, em inglês), organizadora do evento, desclassificou a argelina por não passar em um “teste de gênero” feito pela instituição. Outra boxeadora também foi reprovada e também compete em Paris-2024: trata-se da taiwanesa Lin Yu-ting.

Não há explicação da IBA sobre como o teste é feito. A instituição diz que o método é “confidencial” e se limitou a dizer que Imane tem “vantagens comparadas com as outras competidoras”. 

O Comitê Olímpico Internacional (COI) falou sobre o assunto e disse que um teste de testosterona não é o ideal para comprovar o gênero de um atleta. 

“O teste de testosterona não é um teste perfeito. Muitas mulheres podem ter níveis de testosterona iguais ou semelhantes aos dos homens, embora ainda sejam mulheres", disse Mark Adams, porta-voz do COI, sobre o episódio de Imane e Lin Yu-ting. 

Além disso, o COI afirmou que a IBA não é mais um órgão reconhecido como competente pelo comitê desde 2023. O motivo é que a IBA apresentou falhas recorrentes relacionadas à integridade e transparência da associação. A instituição chegou a ser acusada de manipulação de resultados e corrupção. 

 

•        O que se sabe sobre a polêmica de gênero com boxeadoras nas Olimpíadas

O boxe feminino nas Olimpíadas de Paris 2024 está envolvido em uma polêmica sobre a elegibilidade de duas atletas.

A argelina Imane Khelif, de 25 anos, e a taiwanesa Lin Yu-ting, de 28 anos, já garantiram pelo menos a medalha de bronze, mas ambas foram desqualificadas do Campeonato Mundial do ano passado.

A Associação Internacional de Boxe (IBA), que supervisionou o evento de 2023, afirmou que as boxeadoras falharam nos testes de elegibilidade de gênero.

Na próxima segunda-feira (5/8), a IBA realizará uma coletiva de imprensa para explicar detalhadamente os motivos das desqualificações.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) expressou dúvidas sobre a confiabilidade dos testes e sugeriu que a situação pode ser uma "guerra cultural às vezes politicamente motivada".

Em junho de 2023, o COI retirou da IBA seu status de órgão dirigente mundial do esporte devido a preocupações com sua administração.

A seguir, perguntas e respostas sobre o caso.

•        O que é a IBA?

A IBA (Associação Internacional do Boxe, na sua sigla em inglês), anteriormente conhecida como AIBA, foi formada em 1946 como um órgão de governança mundial para o boxe amador.

O COI reconheceu a IBA como a entidade dirigente do esporte até 2019.

•        Por que o COI parou de reconhecer a IBA?

Em 2019, o COI suspendeu a IBA devido a problemas de governança e alegações de corrupção.

Isso levou à ameaça de exclusão do boxe dos Jogos Olímpicos a partir de 2028.

•        Quais foram as preocupações com a IBA?

Em 2018, a IBA baniu o ex-presidente CK Wu e o ex-diretor executivo Ho Kim por "negligência grave e má gestão financeira".

Wu, que havia liderado a IBA por 11 anos, foi suspenso provisoriamente em outubro de 2017 e substituído por Gafur Rakhimov, descrito pelo Departamento do Tesouro dos EUA como "um dos principais criminosos do Uzbequistão".

Em 2020, Umar Kremlev, da Rússia, foi eleito presidente.

Em 2022, uma investigação independente revelou uma "cultura histórica de manipulação de combates" e outras questões sérias de governança e ética.

•        Quem é o atual presidente da IBA, Umar Kremlev?

Kremlev, com laços próximos ao Kremlin e apoio do gigante energético russo Gazprom, foi reeleito em maio de 2022 sem oposição.

No entanto, o Tribunal Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês) posteriormente concluiu que Boris van der Vorst, um candidato rival, foi impedido injustamente de se candidatar, mas a proposta de nova eleição foi rejeitada pelos delegados da IBA.

O COI expressou "grande preocupação" com a situação.

•        Qual foi o contexto do Campeonato Mundial de Boxe da IBA em 2023?

O Campeonato Mundial de 2023 ocorreu em dois países: o evento feminino foi realizado na Índia em março e o masculino no Uzbequistão em abril e maio.

Dezenove países, incluindo Grã-Bretanha e EUA, boicotaram os eventos após a IBA permitir que boxeadores russos e bielorrussos competissem sob suas bandeiras, contrariando a orientação do COI após a invasão da Ucrânia.

Kremlev criticou severamente os boicotes.

•        O que aconteceu com Khelif e Lin nos Mundiais de 2023?

No Campeonato Mundial de 2023, Khelif competiu na categoria meio-médio e Lin na categoria peso-pena.

Horas antes de disputar a medalha de ouro contra a chinesa Yang Liu, a IBA disse que Khelif havia sido reprovada no teste de elegibilidade de gênero.

Khelif havia derrotado Janjaem Suwannapheng, da Tailândia, na semifinal, Navbakhor Khamidova, do Uzbequistão, nas quartas de final, e Azalia Amineva, da Rússia, na rodada anterior.

Como resultado da desqualificação de Khelif, a russa Amineva, de 21 anos, teve a única derrota em sua carreira de 22 lutas removida de seu currículo.

No mesmo Campeonato Mundial de 2023, Lin perdeu a medalha de bronze da IBA.

A IBA disse que as boxeadoras "não cumpriram os critérios de elegibilidade para participar da competição feminina, conforme estabelecido e disposto nos regulamentos da IBA".

•        O que sabemos sobre os testes?

Não se sabe exatamente o que consistiam os testes de elegibilidade, nem como foram supervisionados.

O CEO da IBA, Chris Roberts, afirmou que cromossomos XY masculinos foram encontrados nos dois casos.

Ele disse que havia "diferentes vertentes envolvidas nisso" e, portanto, o órgão não poderia se comprometer a se referir às boxeadoras como "biologicamente masculinas".

O COI levantou dúvidas sobre a precisão e o protocolo dos testes.

"Não sabemos qual foi o protocolo, não sabemos se o teste foi preciso, não sabemos se devemos acreditar no teste", disse o porta-voz do COI, Mark Adams.

"Há uma diferença entre a realização de um teste e se aceitamos a precisão ou mesmo o protocolo do teste."

•        Qual foi a reação do COI e da IBA aos testes de 2023?

Em um comunicado na quinta-feira (1/8), o COI disse que Khelif e Lin foram "vítimas de uma decisão repentina e arbitrária da IBA".

"Perto do final do Campeonato Mundial da IBA em 2023, elas foram repentinamente desclassificadas sem qualquer processo devido", disse o COI.

"Segundo as atas da IBA disponíveis em seu site, essa decisão foi inicialmente tomada somente pelo secretário-geral e CEO da IBA. O conselho da IBA só a ratificou depois e só posteriormente solicitou que um procedimento a ser seguido em casos semelhantes no futuro fosse estabelecido e refletido nos regulamentos da IBA. As atas também dizem que a IBA deve 'estabelecer um procedimento claro sobre testes de gênero'.

"A atual agressão contra essas duas atletas se baseia inteiramente nessa decisão arbitrária, que foi tomada sem nenhum procedimento adequado — especialmente considerando que essas atletas competem em competições de alto nível há muitos anos¬.

"Tal abordagem é contrária à boa governança."

A IBA insistiu que sua decisão era "necessária para manter o nível de justiça e a máxima integridade da competição".

E acrescentou em uma declaração no início desta semana: "As atletas não passaram por um exame de testosterona, mas foram submetidas a um teste separado e reconhecido, no qual os detalhes permanecem confidenciais. Este teste indicou conclusivamente que ambas as atletas não atendiam aos critérios de elegibilidade necessários e foram consideradas como tendo vantagens competitivas sobre outras competidoras femininas."

A IBA disse que Lin não recorreu da decisão da IBA para o CAS, enquanto Khelif retirou o recurso, "tornando assim as decisões juridicamente vinculativas".

•        O que aconteceu com a IBA após o Campeonato Mundial de 2023?

Em junho de 2023, 69 das 70 federações olímpicas votaram para retirar da IBA seu status.

Antes da votação, o presidente do COI, Thomas Bach, disse: "Não temos um problema com o boxe. Não temos um problema com os boxeadores".

"Os boxeadores merecem totalmente ser governados por uma federação internacional com integridade e transparência."

Em resposta, a IBA acusou o COI de cometer um "erro tremendo" e comparou a ação às ações da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

Um comunicado da IBA dizia: "Implementamos com sucesso todas as recomendações descritas pelo COI em seu plano de ação".

"Apesar dos desafios, a IBA continua comprometida com o desenvolvimento do boxe e a organização de torneios oficiais e campeonatos mundiais de boxe no mais alto nível".

"Não podemos ocultar o fato de que a decisão de hoje é catastrófica para o boxe global e contradiz flagrantemente as alegações do COI de agir no melhor interesse do boxe e dos atletas."

O CAS rejeitou um apelo da IBA contra a decisão.

•        Um novo órgão dirigente para o boxe olímpico?

Um novo órgão, World Boxing, foi criado em abril de 2023.

Entre os cinco compromissos, a nova organização afirma que irá "manter o boxe no centro do movimento olímpico" e "garantir que os interesses dos boxeadores sejam priorizados".

Um dos principais objetivos é manter o boxe como esporte olímpico após ter sido provisoriamente excluído dos Jogos de 2028 devido aos problemas da IBA.

No entanto, a organização ainda está em discussões com o COI para obter reconhecimento como o órgão dirigente mundial do esporte.

Ela é apoiada por representantes do Reino Unido, Alemanha, Países Baixos, Nova Zelândia, Filipinas, Suécia e Estados Unidos.

A IBA afirmou anteriormente que "condena fortemente" a criação de uma organização "dissidente", acrescentando que "iniciou uma série de ações para proteger sua autonomia como órgão dirigente oficial mundial".

•        Como o boxe olímpico tem sido governado em meio a tudo isso?

Ao contrário das edições anteriores, o boxe nos Jogos Olímpicos de Tóquio foi organizado pelo COI, e não pela IBA.

Em 2019, o COI delegou a responsabilidade pela organização e gestão do controle de doping nos Jogos Olímpicos à Agência Internacional de Testes (ITA).

O COI afirmou que adotou uma "política de tolerância zero" para qualquer pessoa que for encontrada usando ou fornecendo produtos de doping.

Os testes incluem, mas não se limitam, à determinação dos níveis de testosterona de um atleta.

•        Qual é a posição do COI sobre a elegibilidade para o esporte feminino?

No final de 2021, o COI emitiu novas orientações sobre atletas trans no esporte feminino.

Isso colocou a responsabilidade nas federações individuais para determinar os critérios de elegibilidade em seu esporte.

O framework surgiu após os Jogos de Tóquio 2020, quando a levantadora de peso Laurel Hubbard se tornou a primeira atleta trans a competir nas Olimpíadas em uma categoria de gênero diferente da que nasceu.

Embora o COI tenha afirmado que não deve haver suposições de que um atleta trans tenha automaticamente uma vantagem injusta em eventos femininos, emitiu um documento de 10 pontos que esperava que cada esporte aplicasse antes de Paris 2024.

Desde então, muitos esportes proibiram mulheres trans de participar do esporte feminino, como atletismo, natação e ambos os códigos de rúgbi.

No entanto, as regras foram aplicadas de forma diferente, então há esportes em que mulheres trans ou atletas com Transtornos do Desenvolvimento Sexual (DDS) podem competir.

O boxe é um desses esportes, já que o COI, que tem supervisionado o boxe olímpico, não atualizou as regras de critérios de elegibilidade desde Tóquio 2020.

O COI disse que "apoia a participação de qualquer atleta que tenha se qualificado e atendido aos critérios de elegibilidade para competir nos Jogos Olímpicos, conforme estabelecido por sua IF (federação internacional). O COI não discriminara um atleta que tenha se qualificado por sua IF, com base em sua identidade de gênero e/ou características sexuais."

•        Como os resultados dos testes de Khelif e Lin vieram à tona?

Ambos os casos foram noticiados no ano passado em torno do Campeonato Mundial, embora não amplamente na Europa ou nos EUA devido aos boicotes ao evento.

O COI incluiu os detalhes no portal de informações da mídia antes de Paris 2024, embora isso tenha sido posteriormente removido.

Dada a maior atenção ao esporte feminino e aos atletas trans ou pessoas com DDS, a mídia destacou a afirmação do COI de que atletas que haviam falhado nos testes estavam prestes a competir na divisão feminina.

Desde então, o COI insistiu que as boxeadoras eram "nascidas mulheres e criadas como mulheres", mas a IBA continuou insistindo que seus testes sugerem que a elegibilidade delas para o boxe feminino está em questão.

•        O que vem a seguir?

A IBA realizará uma coletiva de imprensa na segunda-feira para fornecer mais detalhes sobre os testes do Campeonato Mundial de 2023.

Khelif e Lin devem disputar suas lutas de semifinal na terça (6/8) e quarta-feira (7/8), respectivamente, com possibilidade de avançar para conquistar a medalha de ouro.

 

Fonte: BBC News Brasil/Correio Braziliense

 

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