sábado, 15 de junho de 2024

Putin condiciona paz na Ucrânia a entrega de territórios

O presidente russo, Vladimir Putin, apresentou nesta sexta-feira (14/06) suas condições para negociar a paz com a Ucrânia: a retirada de tropas de quatro regiões parcialmente ocupadas por Moscou e a desistência, por Kiev, da ascensão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

"As tropas ucranianas precisam ser completamente retiradas das regiões da República Popular de Donetsk, República Popular de Luhansk, Kherson e Zaporíjia", disse Putin. As áreas foram anexadas em setembro de 2022. 

Uma terceira condição apresentada pelo presidente russo é a extinção de todas as sanções financeiras impostas pelo Ocidente – intensificadas pela decisão desta semana do G7 de usar os juros de fundos russos congelados como garantia para um empréstimo de 50 bilhões de dólares (R$ 268,4 bilhões)à Ucrânia.

·        A reação da Ucrânia

Falando a uma emissora de TV italiana Sky TG24, às margens do encontro do G7, na Apúlia, o presidente ucraniano Volodimir Zelenski disse não acreditar que Putin vá parar a guerra, mesmo se a Ucrânia atendesse às demandas que ele apresentou.

"Hitler fez a mesma coisa quando disse: 'Dê-me um pedaço da Tchecoslováquia e vamos pôr fim a tudo isso'", lembrou, comparando o "ultimato" de Putin às ações do líder nazista alemão Adolf Hitler. "São mentiras."

O conselheiro de Zelenski Mykhailo Podolyak reagiu à proposta chamando-a de "ofensiva ao senso comum". Segundo ele, não é uma tentativa séria de negociar a paz e é irrelevante para qualquer negociação.

"Não há nenhuma novidade nisso, nenhuma proposta real de paz e nenhum desejo de acabar com a guerra. Mas há um desejo de não pagar por essa guerra e continuá-la em novos formatos. É tudo uma completa farsa", escreveu Podolyak no X (antigo Twitter).

O Ministério do Exterior ucraniano tachou de "absurdo" Putin se apresentar como "pacificador" tendo "planejado, preparado e executado, junto com seus cúmplices, a maior agressão armada na Europa desde a Segunda Guerra Mundial".

·        Ucrânia vai apresentar plano para a paz

O anúncio de Putin vem às vésperas de uma conferência para a paz a ser realizada neste fim de semana na Suíça, com a presença de mais de 90 países, para a qual o líder russo não foi convidado. No evento se analisarão soluções para o fim do conflito na Ucrânia.

Devido à ausência de Putin na conferência, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que está na Europa para o encontro do G7, se recusou a participar pessoalmente. Em vez disso, o Brasil enviará sua embaixadora em Berna. A China adotou a mesma postura.

Lula insiste que a base do evento tem que ser um projeto selado entre Brasil e China, e que prevê a participação do Kremlin nas negociações de paz.

Zelenski tem um plano de paz de dez pontos que prevê a retirada total de tropas russas do território ucraniano internacionalmente reconhecido – inclusive a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014 –, bem como a criação de um tribunal especial para a investigação de crimes de guerra.

Apesar de a Ucrânia ainda ter amplo apoio internacional, suas tropas estão sob pressão, em razão de um novo ataque terrestre na região nordeste de Kharkiv.

·        Como aliados da Ucrânia reagiram à proposta de Putin

Os Estados Unidos e a Otan rejeitaram a proposta de cessar-fogo de Putin. Para o presidente da Otan, Jens Stoltenberg, ela não foi feita "de boa-fé", já que Moscou espera "que os ucranianos desistam de significativamente mais terras do que a Rússia conseguiu ocupar até agora".

O secretário americano de Defesa, Lloyd Austin, exigiu que Putin se retire do pais vizinho": "Putin ocupou ilegalmente território ucraniano soberano. Ele não está em posição de ditar à Ucrânia o que deve fazer para alcançar a paz."

¨      Recusa à proposta de paz russa vai agravar deterioração de Kiev no campo de batalha, aponta analista

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialista enfatiza que a recusa de Kiev aos termos de Moscou para negociar o fim do conflito agrava a situação das forças ucranianas no front, piora a posição de Kiev na mesa de negociação e coloca pressão sobre a cúpula para a paz na Ucrânia.

Em conversa com a liderança do Ministério das Relações Exteriores da Rússia nesta sexta-feira (14), o presidente russo, Vladimir Putin, apresentou as condições de Moscou para iniciar negociações de paz com a Ucrânia.

A primeira é que as Forças Armadas ucranianas retirem suas tropas da República Popular de Donetsk (RPD), da República Popular de Lugansk (RPL) e das regiões de Zaporozhie e Kherson, todos esses territórios liberados pela Rússia. A segunda é que Kiev adote um status de neutralidade e de território livre de armas nucleares, e comunique à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) o abandono dos planos de adesão à aliança.

"Assim que Kiev declarar a prontidão para tal decisão e iniciar uma retirada real das tropas dessas regiões, e também notificar oficialmente o abandono dos planos de adesão à OTAN, o nosso lado imediatamente, literalmente no mesmo minuto, seguirá a ordem de cessar-fogo e iniciará negociações. Repito, faremos isso imediatamente", disse o presidente russo.

Putin enfatizou a disponibilidade de Moscou para o diálogo, disse que a Rússia está consciente da sua responsabilidade em relação à estabilidade global e que se o Ocidente e Kiev rejeitarem a proposta, será deles a responsabilidade sobre o derramamento de sangue no conflito.

Posteriormente, Mikhail Podolyak, conselheiro do chefe de gabinete de Vladimir Zelensky, afirmou que Kiev rejeita os termos propostos e que a iniciativa de Putin alegadamente não possui "uma real proposta de paz". O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, também sinalizou a rejeição da aliança à proposta, assim como o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin.

Em entrevista à Sputnik Brasil, Pérsio Glória de Paula, especialista do Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), da Escola de Guerra Naval (EGN), aponta que a proposta de Putin mantém a coerência com os objetivos listados pelo líder russo desde o início do conflito ucraniano e ressalta que, com a rejeição, Kiev perde a chance de negociar antes de atingir a exaustão de suas capacidades militares.

Apesar disso, de acordo com ele, é improvável que a Ucrânia e seus aliados aceitem os termos de Moscou, "pelo menos no curto prazo". O especialista explica que as novas sanções impostas à Rússia recentemente pelos países ocidentais, além das promessas de novos pacotes de ajuda financeira e militar para Kiev, indicam a indisposição de Kiev e do Ocidente para o diálogo.

"A grande questão nesse curto prazo agora foram as escaladas não só retóricas do conflito — como a gente viu nos últimos meses, com alguns propondo uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, o presidente francês propondo o envio de tropas [à Ucrânia] —, mas também as escaladas concretas, como a permissão do uso de armamentos ocidentais em ataques dentro da Rússia, e a remoção das restrições de envio de armas a batalhões neonazistas ucranianos. Isso tudo são escaladas problemáticas do conflito que indicam que, no curto prazo, ainda é complicado estabelecer uma base para um diálogo de paz, para um cessar-fogo", explica o especialista.

Ele sublinha que a manutenção do conflito vai agravar a situação de Kiev, sobretudo em um momento em que "há uma clara deterioração das posições ucranianas no campo de batalha".

"Isso é evidente pelos avanços russos, pelos ganhos territoriais contínuos que a Rússia obteve nos últimos meses. E também [cabe] ressaltar as perdas ucranianas de equipamento, de pessoal, uma situação em que a Ucrânia já depende praticamente por completo do Ocidente para repor os equipamentos, e tem realizado ondas de mobilização cada vez mais pesadas, com faixas etárias cada vez menores. Então isso tem gerado um desgaste significativo para a Ucrânia, que no futuro pode até piorar a posição ucraniana na mesa de negociação."

De Paula acrescenta que a situação da Ucrânia no campo de batalha "acaba reverberando também no apoio internacional à Ucrânia, já que há um crescente ceticismo quanto às capacidades ucranianas de reverter esse quadro por vias militares".

"Há uma preocupação de que a situação da Ucrânia venha a se deteriorar. E aí se questiona a utilidade e a finalidade de novos pacotes de auxílio financeiro e militar e gera-se uma certa pressão, sim, para se engatar um diálogo de paz agora, pelo menos um cessar-fogo, em um momento em que a posição ucraniana ainda não está totalmente deteriorada ou em que o país ainda não chegou à exaustão [das capacidades militares], já que em um futuro próximo a Rússia pode obter mais ganhos e, consequentemente, uma posição melhor na mesa de negociações."

Proposta russa coloca pressão na cúpula de Zelensky na Suíça

De Paula afirma que a proposta de Putin coloca certa pressão na cúpula na Ucrânia, que ocorrerá na Suíça, por conta de dois fatores.

"O primeiro é pela própria composição da cúpula, em que há, claro, a presença de países ocidentais e da Ucrânia, mas há uma ausência de lideranças do Sul Global e, claro, a ausência da própria Rússia, uma das partes do conflito. Então se questiona a finalidade e a eficácia de uma cúpula em que não se contemplam todos os lados envolvidos", afirma o especialista.

Segundo o especialista, a proposta de Putin sinaliza que Moscou tem disponibilidade para o diálogo, o que mostra que existem condições para alcançar a paz por vias diplomáticas, com a participação de outros atores e mediadores neutros.

De Paula diz que o Ocidente também dever ser considerado uma parte beligerante do conflito, "já que participa indiretamente, e algumas vezes até diretamente, com o fornecimento de inteligência e armamentos".

Ele afirma ainda que um novo formato abriria margem para a participação de outros atores relevantes no sistema internacional.

"Especialmente aqueles do Sul Global. E aí destacam-se as iniciativas do Brasil e da China para uma mediação desse conflito, coisas que não têm sido contempladas nesse formato da cúpula proposta na Suíça", conclui.

¨      Kremlin duvida que paz na Ucrânia seja discutida durante conferência na Suíça

Para o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a cúpula sobre a Ucrânia que vai acontecer neste fim de semana na Suíça não vai tratar de questões relativas à paz na região. Enquanto Rússia sequer foi convidada para participar das discussões, países como China e Brasil defendem a convocação de uma nova conferência com Moscou e Kiev.

Também nesta sexta-feira (14), o presidente russo Vladimir Putin anunciou uma proposta de paz para a Ucrânia em meio à realização do encontro na Suíça, explicou Peskov. Para a Rússia, é crucial alcançar os objetivos da operação militar especial, mas é preferível que seja realizado através de negociações de paz.

O porta-voz também declarou que a ilegitimidade de Vladimir Zelensky na condução do governo ucraniano não é um obstáculo para Moscou e Kiev conversarem sobre o plano de Putin.

Na opinião de Peskov, agora Kiev tem efetivamente uma oportunidade de "cessar as hostilidades e passar para um arranjo pacífico" do conflito.

Putin já foi informado sobre a reação da Ucrânia e do Ocidente à sua iniciativa de paz e a qualificou como "bastante previsível", acrescentou o porta-voz. Peskov também declarou que o Ocidente quer "continuar lutando até o último ucraniano".

Por fim, o porta-voz russo lamentou que "o duplo padrão esteja se tornando um atributo integral da posição do Ocidente".

A proposta apresenta pelo presidente Putin prevê um cessar-fogo imediato e o início de conversações de paz com a Ucrânia que consiste em quatro condições indispensáveis.

Com isso, o líder russo condicionou a paz à retirada das tropas de Kiev dos novos territórios da Rússia (as repúblicas de Donetsk e Lugansk e as províncias de Kherson e Zaporozhi), além da rejeição pela Ucrânia dos planos de integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Outros pontos indicados são "um status neutro, não alinhado e não nuclear da Ucrânia" e o fim de todas as sanções ocidentais contra a Rússia.

¨      Rússia pode estar por trás de pico de tensão entre Coreias

Tensões na fronteira são um fato da vida na península coreana, mas analistas alertam que a atual sequência de incidentes – tiroteios na zona desmilitarizada, balões transportando propaganda tanto para o Norte quanto para o Sul e uma retórica mais agressiva de Pyongyang – parece "diferente" e mais alarmante do que o normal.

Alguns interpretam o momento como um aviso do ditador norte-coreano, Kim Jong Un, de que abandonou qualquer pretensão de cooperar com o Sul. Outros dizem que ele está tocando o tambor da guerra para distrair seu povo faminto e insatisfeito.

Mas há outra explicação, muito mais preocupante: a mais recente escalada pode ser um sinal de que Kim finalmente conseguiu o apoio inacondicional da Rússia e está confiante de que o presidente russo, Vladimir Putin, o apoiaria militarmente caso fosse necessário.

Por isso, Kim se permitiria ultrapassar as linhas vermelhas que mantiveram os dois lados sob controle na fronteira desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953. Além disso, analistas temem que até mesmo um pequeno confronto em terra, no mar ou no ar poderia aumentar rapidamente se nenhum dos lados recuar, transformando potencialmente um incidente localizado numa situação muito mais séria.

·        Uma Pyongyang nova e diferente

"Podemos ver claramente uma mudança recente no comportamento da Coreia do Norte, tornando-se mais agressiva", observa Hyun Seung-soo, especialista em relações entre a Coreia do Norte e a Rússia no Korea Institute for National Unification, com sede em Seul.

"Isso se deve à mudança no relacionamento entre Moscou e Pyongyang, com Putin optando pela parceria com a Coreia do Norte, como parte de sua estratégia política global."

De acordo com os Estados Unidos e outros governos ocidentais, no contexto desse acordo a Coreia do Norte forneceu à Rússia milhões de projéteis de artilharia e uma quantidade desconhecida de mísseis, empregados na guerra contra a Ucrânia. Tanto Moscou quanto Pyongyang negaram a transferência de armas.

Em troca, acredita-se que a Rússia tenha fornecido combustível para a Coreia do Norte, assim como alimentos urgentemente necessários, e que cientistas russos estejam colaborando no desenvolvimento do arsenal militar do Norte, inclusive com mísseis, satélites e armas nucleares. Se confirmada, essa assistência violaria as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, das quais a Rússia é signatária.

"Concordo plenamente que Kim está mais perigoso agora, por estar confiante de que tem um amigo grande e poderoso na Rússia", estima Hyun. "Ele poderia ver isso como uma chance de tomar ações militares contra o Sul; esse recente comportamento grosseiro é muito perigoso."

·        Balões transportando lixo e dejetos humanos

O súbito aumento da agressão transfronteiriça pode ser atribuído à tentativa fracassada do Norte de lançar um foguete com um satélite em órbita em 27 de maio. O lançamento foi amplamente condenado, inclusive na Coreia do Sul, como uma violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

Pyongyang dobrou a aposta, lançando uma barragem de mísseis balísticos de curto alcance no Mar do Japão e, mais recentemente, milhares de balões de hélio transportando lixo e dejetos humanos através da fronteira com o Sul. Os balões provocaram poucos danos, mas foram tachados de "asquerosos".

Por sua vez, Seul ordenou a reinstalação de vastos sistemas de alto-falantes na fronteira, transmitindo para o Norte mensagens de propaganda anti-Kim.

A escalada do "olho por olho" continuou, com Pyongyang também instalando sistemas de alto-falantes na fronteira e reforçando que não reconhece a fronteira marítima ao largo da costa oeste da península.

A irmã do ditador norte-coreano, Kim Yo Jong, também alertou que o Sul será alvo de uma "nova contra-ação" não especificada, se continuar a transmitir propaganda pela fronteira. No passado, o Norte ameaçou usar artilharia de longo alcance para destruir os alto-falantes. Analistas também sugeriram que ele poderia recorrer a ataques com drones.

·        Norte "parece muito irritado"

No domingo (09/06), a tropa sul-coreana estacionada na zona desmilitarizada (DMZ), que divide a península, disse ter disparado "tiros de advertência" em reação a uma unidade de cerca de 50 soldados do Norte que cruzou a fronteira intercoreana. O Sul minimizou o incidente, sugerindo que os soldados teriam cruzado inadvertidamente a linha divisória mal demarcada.

No entanto, relatos de tiroteios na fronteira geraram preocupação. "Esse confronto parece diferente, mais perigoso do que das vezes anteriores", comenta o ex-diplomata Rah Jong-yil, alto oficial da inteligência sul-coreana: "A tensão parece maior, assim como a possibilidade de conflito."

·        EUA dobram apoio a Seul

Principal aliado do Sul, os Estados Unidos empreenderam uma série de medidas e declarações de alto nível nas últimas semanas para reiterar seu comprometimento com a Coreia do Sul.

Um submarino da Marinha americana esteve atracado num porto local; um bombardeiro B-1, com capacidade nuclear, voou em missão perto da fronteira, acompanhado por caças sul-coreanos, e os EUA estão mantendo vigilância bastante ostensiva dos movimentos no Norte.

Na segunda semana de junho, o embaixador dos EUA em Seul, Philip Goldberg, alertou que os EUA estavam "prontos para qualquer coisa que acontecesse".

Com o aumento das tensões, os analistas estão observando os dois próximos aniversários que, no passado, foram ocasião de reivindicações e contra-reivindicações transfronteiriças.

O 29 de junho marca o aniversário da Segunda Batalha de Yeonpyeong em 2002, quando dois barcos de patrulha norte-coreanos violaram a fronteira do Mar do Oeste, entrando em confronto com navios de guerra do Sul. Seis militares sul-coreanos foram mortos e 18 ficaram feridos, cerca de 13 norte-coreanos foram mortos.

Ainda mais significativo, 25 de junho marca 74 anos desde a eclosão da Guerra da Coreia, que custou cerca de 3 milhões de vidas de combatentes e civis, e de que Seul e Pyongyang ainda se culpam mutuamente.

 

Fonte: Deutsche Welle/Sputnik Brasil

 

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