segunda-feira, 17 de junho de 2024

Guerra em Gaza: quão livre é o debate na academia alemã?

Filiada ao Partido Liberal Democrático (FDP), a ministra alemã da Educação, Bettina Stark-Watzinger, diz considerar a liberdade um bem valioso, o fundamento de tudo: "Da forma como vivemos em nosso país, da nossa democracia, nosso Estado de Direito e nosso bem-estar."

A declaração foi dada recentemente por ocasião do Ano da Ciência, a poucos dias das celebrações dos 75 anos da Constituição alemã, festejados em 23 de maio.

Desafiando a imagem de liberal de Stark-Watzinger, uma carta assinada por mais de 1,2 mil pesquisadores acusa a ministra de abuso de poder e intimidação, e de atacar a tão incensada liberdade – acadêmica, ainda por cima. Por causa disso, o grupo exige a saída dela do cargo.

·        Contexto

No início de maio, um acampamento em solidariedade aos palestinos erguido no campus da Universidade Livre de Berlim (FU Berlin) foi desfeito pela polícia. Os estudantes protestavam contra a ação das forças israelenses na Faixa de Gaza e chegaram a tentar invadir salas e auditórios da universidade.

Antes do despejo ocorrer, algumas centenas de professores publicaram uma carta aberta em que se opunham à ação da polícia. Sem se solidarizar com as demandas do grupo, os docentes apenas defenderam o direito ao protesto pacífico – algo que, na visão deles, também inclui a ocupação da universidade.

·        Dúvidas sobre constitucionalidade de ação da ministra

A carta despertou a indignação de Stark-Watzinger. Em entrevista a um jornal alemão, ela questionou se os apoiadores da carta agiam em desacordo com a Constituição. Posteriormente, descobriu-se que a ministra foi além: ela pediu à pasta que analisasse a possibilidade de cortar verbas de financiamento dos professores.

O caso estremeceu a política e a academia. Perplexos, muitos se perguntavam como era possível que justamente uma política liberal pudesse questionar o direito à livre expressão de opinião.

Um deles é Thomas Jarzombek, deputado e porta-voz da bancada conservadora dos partidos CDU/CSUno Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, para assuntos relacionados a política educacional e de pesquisa. Jarzombek diz se perguntar "até que ponto a ação da própria ministra é constitucional".

Para o presidente da Conferência Alemã de Reitores Universitários, Walter Rosenthal, é possível que pessoas tenham opiniões diferentes sobre coisas que são ditas, mas querer associar isso à "financiabilidade" de uma pesquisa é uma violação da liberdade da ciência.

·        Impactos sobre a reputação da Alemanha entre cientistas

Em uma nova carta de protesto, assinada por mais de 1,2 mil docentes – desta vez também de outros países –, Stark-Watzinger foi acusada de tentar intimidar os acadêmicos.

"O exame repressivo de pesquisadores que tornam pública sua posição crítica em relação a decisões políticas é algo conhecido em regimes autoritários", afirmam os signatários.

Segundo eles, apenas a impressão de que a livre discussão na sociedade está sendo reprimida já basta para prejudicar a reputação da Alemanha como destino internacional de pesquisadores.

Entre os autores da carta estão intelectuais famosos na Alemanha, como o pesquisador da democracia Wolfgang Merkel, a filósofa Rahel Jaeggi, o sociólogo Hartmut Rosa e a tradutora e professora Susan Bernofsky, da Universidade de Columbia (EUA).

Bernofsky acompanhou protestos semelhantes em abril na universidade dela, em Nova York, e criticou a ação da polícia. "Estou horrorizada com as tentativas na Alemanha e nos EUA de reprimir e silenciar declarações pró-palestinos. Isso é uma violação da liberdade acadêmica e do direito à liberdade de expressão", diz à DW.

Bernofsky, que diz ser judia, afirma que os protestos de estudantes nos EUA foram regularmente difamados como antissemitas na imprensa americana.

·        Protestos no mundo todo contra a guerra em Gaza

Protestos contra a guerra que Israel trava contra o Hamas na Faixa de Gaza não são uma exclusividade dos ambientes universitários alemães ou americanos. Já faz alguns meses que ocupações e atos vêm ocorrendo em universidades por toda a Europa, na Austrália e no México.

Bernofsky diz que ela e outros colegas temem que a política esteja tentando controlar as instituições de ensino superior.

Perguntado sobre o assunto, o gabinete da ministra Stark-Watzinger afirma em nota que submeteu a carta aberta dos professores da FU Berlin contrários ao despejo do acampamento a um "exame legal interno", mas que constatou que o "conteúdo estava coberto pelo direito à liberdade de expressão".

Com isso, segundo a pasta, não há mais o que discutir sobre eventuais consequências do ato do ministério, já que "o corte de verbas em reação à carta aberta" não era uma opção a ser debatida pela chefia a partir desse ponto.

Stark-Watzinger ainda deve uma resposta sobre a reputação da Alemanha perante a comunidade internacional acadêmica. Quando esse momento chegar, ela não poderá se esquivar da pergunta sobre qual é a concepção dela de liberdade acadêmica.

¨      Milhares saem às ruas em Tel Aviv exigir de Netanyahu um cessar-fogo com o Hamas 

Ato contou com a participação de familiares de reféns levados para a Faixa de Gaza e de israelenses mortos nos ataques de 7 de outubro.

Dezenas de milhares de israelenses foram às ruas de Tel Aviv neste sábado (15) em protesto contra a gestão do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e pela libertação dos reféns levados pelo grupo Hamas para a Faixa de Gaza.

No ato, parentes de pessoas que foram mortas nos ataques do dia 7 de outubro se juntaram aos familiares dos reféns do lado de fora do quartel-general militar israelense em Tel Aviv para pressionar Netanyahu a concordar com um cessar-fogo como parte de um acordo com o Hamas para libertação de reféns. Imagens circularam nas redes sociais mostrando uma grande adesão ao ato.

Segundo informou o jornal israelense Haaretz, um dos reféns libertados pelo Hamas, Andrey Kozlov, discursou na praça do Museu, que passou a ser chamada de Praça dos Reféns, após se tornar um local de peregrinação de familiares de reféns.

"Para os reféns que ainda estão em Gaza, há uma decisão, apenas uma, é um acordo entre Israel e o Hamas", disse Kozlov.

Rotem Calderon, filho do refém Ofer Calderon, também proferiu um discurso na manifestação.

"Me recuso a viver em um mundo cheio de morte. Me recuso a viver em um país com um governo que nos manda viver nas fronteiras e nos sacrificar nas guerras, apenas para nos abandonar. Me recuso a viver sem meu pai. Meus companheiros israelenses, devemos acordar e lutar pelo que importa. Vamos garantir um acordo que preencha o vazio em todos os nossos corações, um acordo que trará nossos entes queridos para casa", disse Calderon.

Eyal Eshel, que perdeu a filha, Roni, uma militar das Forças Armadas de Israel (FDI), nos ataques de 7 de outubro, disse que "é responsabilidade de Netanyahu afirmar claramente que vai encerrar essa guerra em troca da libertação dos reféns".

Os organizadores do ato pretendem realizar novos protestos ao longo da próxima semana, também com participação de familiares de reféns.

 

¨      Biden terá de provar que seu desejo por cessar-fogo em Gaza não é eleitoreiro, diz Erdogan

Presidente turco diz que seu homólogo americano está passando por um "teste de sinceridade" ao comentar a resolução por um cessar-fogo no enclave, elaborada pelos EUA e aprovada no Conselho de Segurança da ONU.

O presidente dos EUA, Joe Biden, terá de provar que seu posicionamento em relação ao cessar-fogo na Faixa de Gaza não é meramente um investimento eleitoral, mas sim um desejo sincero de resolver o problema.

É o que declarou o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, em coletava a jornalistas na Itália, após a cúpula do G7, na qual comentou a resolução elaborada pelos EUA sobre o tema recentemente aprovada no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU).

"Uma resolução do Conselho de Segurança da ONU é um passo, mas não é suficiente. Sabemos quantas decisões do Conselho no papel são ignoradas por Israel. Biden está agora passando por teste de sinceridade", disse Erdogan.

O presidente turco acrescentou que "os EUA estão preocupados com a crescente arrogância", embora o governo Biden "não tenha expressado abertamente o seu descontentamento".

"As vozes públicas nas universidades americanas, nas ruas, entre estudantes e reitores mostram que uma certa transformação começou. E isso preocupa seriamente Israel", acrescentou.

Erdogan enfatizou que o reconhecimento do Estado palestino pelos membros do CSNU pode mudar o clima de violência no Oriente Médio, culpou a ONU pelos entraves à resolução do conflito entre Israel e o Hamas, e afirmou que se a organização deseja restaurar sua reputação, esta é uma "excelente oportunidade".

"Ao deter Israel, você não só trará a paz a Gaza, mas também colocará fim aos ataques israelenses ao sistema da ONU, ao direito internacional e aos direitos humanos. Essa responsabilidade recai, em primeiro lugar, sobre os ombros dos membros do Conselho de Segurança da ONU. Se não queremos que a ONU se torne algo semelhante à Liga das Nações, devemos garantir isso", sublinhou.

¨      Aliados de Israel, EUA sancionam 'grupo extremista' do país por obstruir ajuda humanitária a Gaza

O Departamento de Estado dos EUA anunciou, em comunicado emitido nesta sexta-feira (14), que sancionará o "grupo extremista" israelense Tzav 9 por obstruir a distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

"O Departamento de Estado designa hoje que o Tzav 9, um violento grupo extremista israelense, está bloqueando, assediando e danificando comboios que transportam assistência humanitária vital para civis palestinos em Gaza", diz o comunicado.

Há meses que o Tzav 9 tenta impedir a entrega de assistência humanitária a Gaza, incluindo o bloqueio agressivo de estradas ao longo da rota entre a Jordânia e o enclave palestino, argumenta o ministério.

Washington recordou de um incidente ocorrido em 13 de maio, no qual o Tzav 9 saqueou e incendiou dois caminhões perto da cidade palestina de Hebron. Da mesma forma, enfatizou que o governo israelense é responsável por garantir a segurança dos comboios humanitários que transitam pelo país e pela Cisjordânia.

Os EUA têm sido um dos principais parceiros israelenses na incursão em Gaza, fornecendo apoio financeiro e militar ao esforço de guerra do país hebreu. Washington, inclusive, é contrário às acusações feitas pela Corte Internacional de Justiça (CIJ) e rejeitou ser um genocídio a atuação de Israel na Palestina.

¨      Alto-mar força EUA a rebocar cais de Gaza para Israel, diz Exército americano

O Comando Central dos EUA (CENTCOM, na sigla em inglês) anunciou nesta sexta-feira (14) que o píer temporário na Faixa de Gaza será removido e rebocado de volta para Ashdod, Israel, devido à alta expectativa do mar.

A medida visa garantir a segurança dos militares e evitar danos estruturais ao píer, que já foi afetado anteriormente por condições climáticas adversas. "A segurança dos militares é prioridade máxima, e a realocação temporária do píer evitará danos estruturais causados pelo aumento do estado do mar", afirmou o órgão em comunicado.

"Hoje, devido ao alto-mar esperado, o cais temporário será removido de sua posição ancorada em Gaza e rebocado de volta para Ashdod, Israel," informou o CENTCOM nesta sexta-feira.

A decisão de mover o píer foi considerada necessária para assegurar a continuidade da entrega de ajuda humanitária no futuro. "A decisão de realocar temporariamente o píer não foi tomada de ânimo leve, mas é necessária para garantir que o píer temporário possa continuar a entregar ajuda no futuro."

O plano é ancorar novamente o cais na costa de Gaza assim que as condições climáticas permitirem.

O píer temporário, construído pelo Exército dos EUA, iniciou suas operações recentemente, mas foi danificado pelo mau tempo no fim de maio, apenas duas semanas após começar a operar. O CENTCOM teve de desmontar temporariamente o píer para realizar reparos.

Vale ressaltar que o conflito no enclave palestino se intensificou em 7 de outubro de 2023, quando o grupo armado Hamas atacou Israel e matou mais de 1 mil pessoas. Em resposta, as Forças de Defesa de Israel (FDI) deram início ao revide, que já matou mais de 30 mil palestinos.

 

Fonte: Deutsche Welle/Sputnik Brasil

 

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