terça-feira, 18 de junho de 2024

Em meio a tensões globais, gastos com armas nucleares sobem

A Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (Ican) afirmou nesta segunda-feira (17/06) que os nove Estados com armas nucleares (Rússia, Estados Unidos, França, Índia, China, Israel, Reino Unido, Paquistão e Coreia do Norte) gastaram um total combinado de 91,4 bilhões de dólares em seus arsenais em 2023, um aumento de 13% em relação ao ano anterior.

O grupo de ativistas com sede em Genebra, que em 2017 ganhou o Prêmio Nobel da Paz, disse que os números mostram um aumento de 10,7 bilhões de dólares nos gastos globais com armas nucleares entre 2022 e 2023, com os Estados Unidos respondendo por 80% desse aumento. A participação dos EUA nos gastos totais, de 51,5 bilhões de dólares, é maior do que a de todos os outros países com armas nucleares juntos.

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O segundo país que mais gastou foi a China, com 11,8 bilhões de dólares, e a Rússia foi o terceiro, com 8,3 bilhões de dólares. "Todo esse dinheiro não está melhorando a segurança global, mas ameaçando as pessoas, onde quer que elas vivam", disse a coordenadora de políticas e pesquisas da Ican, Alicia Sanders-Zakre.

Os Estados Unidos e a Rússia possuem, juntos, 90% das armas nucleares do mundo.

·        "Uma das épocas mais perigosas da história"

Esses nove Estados com armas nucleares continuam modernizando seu arsenal e em 2023 até mesmo aumentaram sua dependência delas como forma de dissuasão, afirmou separadamente, também nesta segunda-feira, o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz (Sipri), de Estocolmo.

"Vivemos uma das épocas mais perigosas da história da humanidade", alertou o diretor do Sipri, Dan Smith. "Estamos à beira do abismo, e é hora de as grandes potências darem um passo atrás e refletirem sobre o assunto. De preferência, em conjunto", sublinhou.

Em janeiro, das 12.121 ogivas nucleares existentes no mundo, 9.585 estavam preparadas para uma possível utilização. Destas, 3.904 foram implantadas em mísseis e aeronaves, sessenta a mais do que há um ano, e cerca de 2.100 estavam em estado de "alerta operacional elevado" para mísseis balísticos, a quase totalidade delas pertencentes à Rússia e aos Estados Unidos.

Porém, pela primeira vez, o Sipri considerou que também a China possui "algumas ogivas em alerta operacional elevado", ou seja, prontas para serem utilizadas de imediato.

·        Muitas fontes de instabilidade

"Não temos visto as armas nucleares desempenharem um papel tão importante nas relações internacionais desde a Guerra Fria", disse o diretor do programa de armas de destruição em massa do Sipri, Wilfred Wan. Ele acrescentou que essa tendência vai continuar e provavelmente se acelerar nos próximos anos.

Embora "o número total de ogivas nucleares continue diminuindo, à medida que as armas da era da Guerra Fria são progressivamente desmanteladas", assiste-se a um aumento do número de ogivas nucleares operacionais, ano após ano, por parte das potências nucleares, lamentou o diretor do instituto sueco de pesquisas.

Segundo o Sipri, são muitas as fontes globais de instabilidade e tensão: rivalidades políticas, desigualdades econômicas e problemas ambientais.

Em fevereiro de 2023, a Rússia anunciou a suspensão da sua participação no Novo Tratado Start – "o último tratado de controle que restringe o poder nuclear estratégico da Rússia e dos Estados Unidos", segundo Smith.

No início deste mês, a Rússia e Belarus lançaram um segundo estágio de exercícios destinados a treinar suas tropas com armas nucleares táticas, parte dos esforços do Kremlin para desencorajar o Ocidente a aumentar seu apoio à Ucrânia.

¨      EUA bateram recorde e aumentaram em 18% os gastos com armas nucleares em 2023

Os Estados Unidos aumentaram no ano passado os gastos com armas nucleares em 18%, que é a taxa mais alta entre todos os nove países que possuem armas nucleares, informou nesta segunda-feira (17) a Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ICAN, na sigla em inglês).

"[Em 2023] todos os países aumentaram o valor gasto em armas nucleares. Os Estados Unidos tiveram o maior aumento, quase 18%. Os Estados Unidos gastaram mais do que todos os outros Estados com armas nucleares combinados, em US$ 51,5 bilhões [cerca de R$ 278,5 bilhões]. A China superou a Rússia como o segundo país que mais gasta, com US$ 11,9 bilhões [aproximadamente R$ 64,3 bilhões], e a Rússia ficou em terceiro, gastando US$ 8,3 bilhões [mais de R$ 44,8 bilhões]", afirmou a ICAN em relatório, acrescentando que o Reino Unido também aumentou significativamente os seus gastos nucleares pelo segundo ano consecutivo.

Em 2023, os EUA, o Reino Unido, a China, a França, a Índia, Israel, a Coreia do Norte, o Paquistão e a Rússia gastaram um total de US$ 91,4 bilhões (cerca de R$ 494,1 bilhões) no desenvolvimento dos seus arsenais nucleares, o que representa US$ 10,8 bilhões (aproximadamente R$ 58,4 bilhões) ou 13,4% mais do que em 2022, disse também a ICAN.

"Em 2023, 20 empresas que trabalham no desenvolvimento e manutenção de armas nucleares ganharam pelo menos US$ 31 bilhões [cerca de R$ 167,6 bilhões] com esse trabalho. Há pelo menos US$ 335 bilhões [aproximadamente R$ 1,8 trilhão] em contratos de armas nucleares pendentes para estas empresas, alguns dos quais continuaram por mais de uma década. Em 2023, foram concedidos pelo menos US$ 7,9 bilhões [mais de R$ 42,7 bilhões] em novos contratos de armas nucleares", diz o relatório.

A ICAN, uma coligação de organizações da sociedade civil em mais de 100 países, foi fundada em Melbourne, Austrália, em 2007. A coligação promove a adesão ao Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares. Em 2017, recebeu o prêmio Nobel da Paz pelos seus esforços.

¨      EUA estão até 15 anos atrás da China em energia nuclear, diz think tank norte-americano

A China está construindo 27 reatores nucleares, enquanto os EUA não fazem nenhum, e as instalações estão sendo desenvolvidas com alta tecnologia, segundo a Fundação de Tecnologia da Informação e Inovação.

Os Estados Unidos estão até 15 anos atrasados em relação à China no desenvolvimento de energia nuclear de alta tecnologia, segundo um relatório publicado nesta segunda-feira (17).

A China tem 27 reatores nucleares em construção, com prazos médios de cerca de sete anos, tempo muito menor que o de outros países, disse um estudo da Fundação de Tecnologia da Informação e Inovação (ITIF, na sigla em inglês), instituto de pesquisa sediado em Washington, EUA.

"A rápida implantação de usinas nucleares cada vez mais modernas na China produz, ao longo do tempo, economias de escala significativa e efeitos de aprendizado por meio da prática, o que sugere que as empresas chinesas obterão uma vantagem em termos de inovação incremental nesse setor daqui para frente", disse o relatório.

Os EUA têm a maior frota de usinas nucleares do mundo, e a administração do presidente Joe Biden considera a tecnologia como fundamental para conter as mudanças climáticas.

No entanto, apesar da entrada em operação de duas grandes usinas no estado da Geórgia em 2023 e 2024, bilhões de dólares acima do orçamento e atrasadas em anos, não há mais nenhum projeto de  reator nuclear dos EUA em construção. Uma usina de alta tecnologia que havia sido planejada para ser construída em um laboratório dos EUA foi cancelada no ano passado.

O primeiro reator de alta temperatura resfriado a gás de quarta geração do mundo, na Baía Shidao, China, entrou em operação em dezembro de 2023. A Associação de Energia Nuclear da China afirma que o projeto envolveu o desenvolvimento de mais de 2.200 conjuntos de "equipamentos de primeira linha", com 93,4% dos materiais produzidos internamente.

Os bancos estatais da China podem oferecer empréstimos com mínimos de até 1,4%, muito mais baixos do que os disponíveis nas economias ocidentais. O setor de energia nuclear ocidental tem beneficiado de apoio estatal contínuo e de estratégias de localização, que permitiram que a China dominasse também outros setores, como energia renovável e veículos elétricos.

¨      Chefe da OTAN diz que aliança está discutindo colocar ogivas nucleares em prontidão

Os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estão discutindo a possibilidade de implantar mais ogivas nucleares e colocá-las em prontidão de combate como fator de dissuasão.

É o que disse o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, neste domingo (16).

"Não entrarei em detalhes operacionais sobre quantas ogivas nucleares deveriam estar operacionais e quais deveriam ser armazenadas, mas precisamos consultar sobre essas questões. É exatamente isso que estamos fazendo", disse Stoltenberg ao jornal The Telegraph.

·        OTAN aprova plano para acelerar ajuda militar a Kiev

Os ministros da Defesa da OTAN aprovaram na sexta-feira (14) um plano para garantir ajuda e suprimento de treinamento militar da Ucrânia a longo prazo em meio aos avanços das tropas da Rússia, cita a agência norte-americana Associated Press.

A Aliança Atlântica acordou a doação e a reparação de equipamentos, e o treinamento militar para as forças ucranianas "para torná-la à prova de qualquer situação", segundo a ministra da Defesa dos Países Baixos.

Durante uma reunião de ministros da Defesa em Bruxelas, Bélgica, os países ocidentais concentraram seus esforços no Grupo de Contato de Defesa da Ucrânia, administrado pelo Pentágono, um fórum para cerca de 50 países para obter as armas e munições a Kiev.

A iniciativa foi descrita como uma forma de "provar a Trump" o apoio da OTAN à Ucrânia, em referência à preocupação de que o ex-presidente Donald Trump (2017-2021) possa retirar o apoio americano a Kiev caso volte a ser eleito presidente dos EUA em novembro de 2024.

¨      Moscou considera última declaração de Stoltenberg sobre armas nucleares escalada de tensão

A última declaração do secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, sobre a possibilidade de colocar em alerta as ogivas nucleares da aliança em um estado de prontidão para o combate é outro exemplo da escalada de tensão, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

"Não é nada mais do que outra escalada de tensão", disse o porta-voz aos repórteres.

Stoltenberg afirmou que os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estão discutindo a possibilidade de implantar mais ogivas nucleares e colocá-las em prontidão para o combate como fator de dissuasão.

Segundo o The Telegraph, a Aliança Atlântica está realizando consultas entre os seus membros para "retirar os mísseis do armazenamento e colocá-los em alerta".

Da mesma forma, em meados de junho, o Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (SIPRI) publicou um relatório no qual assegura que o papel das armas nucleares se tornou mais importante e os governos de diferentes países estão modernizando os seus arsenais à medida que as relações geopolíticas se deterioram.

·        Por que o novo submarino nuclear russo furtivo assusta tanto o Ocidente?

O jornal britânico The Express fez uma descoberta surpreendente nesta semana: entendeu que a Rússia possui armas capazes de causar uma devastação incalculável sobre os seus inimigos.

O que deixou o Express confuso, em seu artigo publicado no sábado (15), foi o K-564 Arkhangelsk, um submarino de mísseis de cruzeiro movido a energia nuclear da classe Yasen-M que recentemente passou por testes no mar e deve entrar em serviço em dezembro.

Embora o jornal tema que este submarino "possa ser indetectável pelos adversários ocidentais" e possa representar uma séria ameaça às "bases militares da OTAN, comboios navais e infraestruturas críticas em terra durante uma crise", ainda falta à mídia saber do que Arkhangelsk é verdadeiramente capaz de fazer.

No início desta semana, surgiram imagens do Arkhangelsk realizando seus primeiros testes na cidade de Severodvinsk, no mar Branco, onde foi construído.

<><> Aqui está tudo o que se sabe sobre o submarino:

# Pode mergulhar até 600 metros de profundidade e tem velocidade máxima de 16 nós na superfície e 31 nós debaixo d'água;

# O submarino tem uma tripulação de 64 pessoas e uma autonomia de cerca de 100 dias, limitada pelas necessidades de alimentação e manutenção;

# O armamento da embarcação inclui tubos de torpedo de 533 milímetros e silos de lançamento verticais para mísseis de cruzeiro antinavio Oniks, mísseis de cruzeiro Kalibr e mísseis de cruzeiro hipersônicos Zircon. Ambos os mísseis Kalibr e Zircon têm capacidade nuclear.

¨      Irã rejeita declaração do G7 que acusou o país de fornecer mísseis balísticos à Rússia

Porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã diz que comunicado emitido pelo G7 tem natureza política e mostra como alguns governos usam de forma tendenciosa mecanismos internacionais para atacar Estados soberanos.

O Irã rejeitou neste domingo (16) as acusações feitas pelo G7 contra o programa nuclear iraniano, lançando dúvidas sobre seus fins pacíficos.

Na sexta-feira (14), líderes do G7 emitiram um comunicado conjunto advertindo Teerã contra seu programa nuclear e afirmando que estariam prontos para aplicar novas medidas contra o Irã caso o país prosseguisse com o suposto fornecimento de misseis balísticos para a Rússia. O comunicado foi emitido em conexão com um relatório do Conselho de Gestores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Em declaração divulgada pela agência iraniana Tasnim, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanaani, rejeitou o conteúdo do comunicado. Ele afirmou que o comunicado do G7 atesta a natureza política do relatório da AIEA e a intenção de seus formuladores, e certamente de alguns governos, de usar de forma tendenciosa mecanismos internacionais contra Estados soberanos.

Sistema de defesa aérea israelense Iron Dome é acionado para interceptar mísseis

"O Irã continuará com a interação construtiva e a cooperação técnica com a AIEA, mas prosseguirá com seus projetos nucleares pacíficos de acordo com o TNP [Tratado de não proliferação de armas nucleares]", disse o porta-voz.

Ele reiterou o papel construtivo do Irã na garantia da estabilidade regional sustentável e acrescentou que "o Irã vai agir de forma decisiva para proteger e defender a sua segurança e interesses nacionais contra qualquer medida imprudente".

Kanaani disse ainda que o principal desafio à garantia dos direitos humanos no mundo atualmente é a "indiferença" e "inação" dos líderes do G7 em relação ao "massacre sistemático" de palestinos pelo governo israelense.

Sobre o conflito ucraniano, Kanaani disse que qualquer tentativa de associar essa crise à cooperação entre Irã e Rússia é calcada absolutamente em interesses políticos.

"É uma pena que certos países recorram a alegações falsas e não comprovadas com motivações políticas para continuar a política inútil e falha de impor sanções contra o Irã. Aconselhamos o G7 a aprender com as lições do passado e a se distanciar do seu passado de políticas destrutivas", disse Kanaani.

 

Fonte: AP/Sputnik Brasil

 

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