Em ‘jogo casado’ com Lira, bancada evangélica acena com recuo em
projeto antiaborto
Em
um jogo casado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a bancada
evangélica indicou que irá recuar do discurso em favor de uma votação rápida do
projeto que equipara o aborto ao crime de homicídio.
A
tendência, segundo relataram ao blog fontes próximas às negociações, já está
consolidada nos bastidores e deve ser referendada na reunião de líderes
prevista para ocorrer amanhã.
Em
um aceno à ala conservadora da Câmara, Lira amarrou o acordo que permitiu
aprovar a urgência do texto. O movimento teve aval inclusive de partidos de
esquerda, entre eles o PT, como informou o blog na semana passada. Mas Lira
comprometeu-se a jogar para frente a apreciação do mérito.
Se
tudo correr como previsto, o assunto deve ir para a gaveta pelo menos até
depois das eleições.
Aprovada
com aval velado do governo, a urgência do projeto provocou forte repercussão na
base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De
início, líderes do governo e do PT se mantiveram em silêncio sobre o assunto,
embalados pelo acordo selado com Lira. Mas, diante das fortes críticas ao
texto, se viram obrigados a se manifestar contra a proposta.
• Após reação das ruas, oposição diz
não ter compromisso com PL do aborto
"Eles
acharam que estava tudo dominado, que ia ser uma semana de impor vexame ao
governo, erraram na dose, perderam a mão e conseguiram, sozinhos, acordar as
ruas".
A
avaliação é de um dos líderes de Lula e peça central na articulação política do
governo sobre a decisão da bancada evangélica e do presidente da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL), de usar um projeto que, na prática, impõe a mulheres estupradas
que engravidem e abortem, como hoje permite a lei, pena mais grave que a
imposta ao estuprador.
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A oposição sentiu
Uma
das principais vozes do PP, o partido de Lira, o senador Ciro Nogueira (PP-PI),
presidente da sigla, diz que nem ele, nem Lira, têm qualquer compromisso com o
mérito da proposta. "O acordo, o gesto para a bancada evangélica, era
apenas o de votar a urgência. Apenas isso. Não há qualquer acordo sobre o
mérito (conteúdo) da proposta."
O
pedido de urgência acontece para que projetos de lei sejam incluídos na pauta
do plenário sem que passe por comissões. A expectativa, normalmente, é que o
texto seja votado de forma mais rápida, mas isso não é obrigatório.
A
reação das mulheres, que foram às ruas em diversas capitais do país ao longo
dos últimos dias, o desgaste midiático e a reação das redes dividiram inclusive
a bancada evangélica e líderes religiosos em todo o país.
Falas
de líderes religiosos, pastores, inclusive, contra o PL ganharam as redes
sociais e expuseram as fraturas causadas pelo tema.
No
grupo mais próximo a Lira, a avaliação é a de que o deputado Sóstenes
Cavalcanti (PL-RJ) um dos autores da proposta, pode ter garantido "umas
três eleições" em seu nicho, mas acabou expondo a oposição a um desgaste
inédito desde o 8 de janeiro de 2023.
• Deputados avaliam que não há ambiente
para votar
Deputados
contrários ao PL do aborto afirmam acreditar que o único avanço na tramitação
da proposta deve ser a escolha de uma relatora para projeto.
Na
avaliação deles, não há ambiente para votação, e as conversas sobre a relatoria
da proposta estão acontecendo nesta semana.
Não
há ainda um nome mais cotado, mas o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), autor
da proposta, quer conversar com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
sobre a indicação.
A
repercussão negativa vai evitar a votação, pelo menos, por enquanto. A votação
da urgência não passou de um gesto que Lira fez aos conservadores pra se manter
influente e capitanear a escolha do sucessor pra presidência da Câmara.
Com
os protestos do fim de semana e o engajamento nas redes sociais, muitos
deputados desembarcaram da ideia de levar adiante o PL do aborto.
Em
outra frente, o PSOL pediu a retirada do projeto por considerá-lo
inconstitucional. O argumento é que o PL do aborto fere vários artigos da
constituição, como os que tratam de:
• direito à vida, igualdade e não
discriminação
• vedação de tortura
• tratamento desumano e degradante
• direito a saúde e acesso universal e
igualitário aos serviços de saúde
• Lira recua e afirma que lei sobre
aborto não será descumprida
Se
não fosse o recuo do presidente da Câmara, Arthur Lira, causado pela pressao da
opinião pública, entraria na ordem do dia das votações um projeto totalmente
absurdo que estabelecia pena de prião maior para mulher, vítima de estupro, e
que faz o aborto, do que para o próprio criminoso. Reportagem de O Globo
assinala que se permanecesse o projeto original, esse fato colocaria o Brasil
na contramão do mundo.
Arthur
Lira minimizou nesta quinta-feira a aprovação da urgência do projeto que trata
do aborto e disse que é o relator quem dará “o tom” do texto final. “O
sentimento da casa não é para avançar para liberação do aborto e também não é
para descumprir os casos que já são permitidos hoje em lei”, disse ele em
entrevista coletiva à imprensa. O Projeto de Lei 1904 quer colocar um teto de
22 semanas na realização de qualquer procedimento de aborto em casos de estupro
no Brasil. O objetivo da proposição é equiparar a punição para o aborto à
reclusão prevista em caso de homicídio simples.
SITUAÇÕES
Hoje,
o procedimento só é permitido em três situações, os quais são a gestação
decorrente de estupro, o risco à vida da mulher e a anencefalia fetal. Os dois
primeiros estão previstos no Código Penal de 1940 e o último foi permitido via
decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em 2012. Para todos esses cenários,
não há limite da idade gestacional para a realização do procedimento. É
incrível como a capacidade destrutiva pode ser viabilizada num lance
parlamentar. O recuo finalmente salvou a situação e impediu com que o país
caísse na teia do absurdo.
Também
sob pressão da opinião pública, o governo assumiu outra posição, agora
contrária à omissão que marcava o seu comportamento anterior. Lula da Silva
afirmou neste sábadoque considera uma “insanidade” a possibilidade de punir uma
mulher estuprada que comete aborto com uma pena maior do que a aplicada ao
estuprador. Lula deu a declaração ao ser questionado sobre sua posição a
respeito do projeto em análise na Câmara dos Deputados.
“Eu
sou contra o aborto. Entretanto, como o aborto é a realidade, a gente precisa
tratar o aborto como questão de saúde pública. Eu acho que é insanidade alguém
querer punir uma mulher numa pena maior do que o criminoso que fez o estupro. É
no mínimo uma insanidade isso”, disse. Foi a primeira manifestação do
presidente a respeito do mérito do projeto.
• Após desgaste, aliados de Lira vão
defender que aborto saia da pauta
Depois
do desgaste e da pressão da sociedade, aliados do presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira (PP-AL), vão defender que o projeto que equipara aborto
ao crime de homicídio saia da pauta da Casa e o foco passe a ser a
regulamentação da reforma tributária.
Um
amigo de Lira lembra que ele foi alertado que o tema iria provocar polêmica e
desgaste para a Casa, mas ele decidiu cumprir o acordo com a bancada evangélica
e colocar o requerimento de urgência do projeto em votação.
A
decisão deve ser acertada na reunião de líderes desta terça-feira (18), quando
o presidente da Câmara dos Deputados deve pedir um esforço para tentar votar o
principal projeto de regulamentação da reforma tributária aprovado antes do
recesso parlamentar.
O
segundo projeto, que trata do comitê gestor da distribuição dos recursos do
novo sistema tributário, ainda não foi enviado pelo governo Lula, apesar da
promessa de que ele seria encaminhado na semana retrasada. Com isso, esse
segundo tema deve ficar para depois das eleições municipais.
Aliados
de Arthur Lira alertam que a Câmara dos Deputados virou alvo de críticas e
perdeu o discurso de que prioriza os projetos de interesse do país, como a
agenda econômica.
O
principal projeto dessa agenda neste ano é a regulamentação da reforma
tributária, que pouco caminhou até agora dentro da Casa. Em vez disso, acabou
concentrada em temas como aborto e delação premiada, projetos que atendem
grupos de parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
• PL do aborto é inconstitucional e
'desconexo da realidade', diz comissão da OAB
Uma
comissão criada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) considerou
inconstitucional o projeto de lei que equipara o aborto após 22 semanas ao
crime de homicídio, inclusive em casos de estupro.
O
parecer elaborado pela comissão diz que o projeto é "grosseiro" e
"desconexo da realidade".
"O
texto grosseiro e desconexo da realidade expresso no Projeto de Lei 1904/2024,
que tem por escopo a equiparação do aborto de gestação acima de 22 anos ao
homicídio, denota o mais completo distanciamento de seus propositores às
fissuras sociais do Brasil, além de simplesmente ignorar aspectos psicológicos;
particularidades orgânicas, inclusive, acerca da fisiologia corporal da menor
vítima de estupro; da saúde clínica da mulher que corre risco de vida em
prosseguir com a gestação e da saúde mental das mulheres que carregam no ventre
um anencéfalo."
O
documento diz ainda que a criminalização do aborto para além do que já é
previsto na legislação "incidirá de forma absolutamente atroz sobre a
população mais vulnerabilizada, pretas, pobres, de baixa escolaridade, perfil
onde também incide o maior índice de adolescentes grávidas".
Segundo
a presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) da OAB, Silvia
Souza, o texto vai ser submetido aos 81 conselheiros federais nesta
segunda-feira (17).
"As
discussões feitas pelas integrantes da comissão levaram em conta o aspecto
jurídico da proposta. Não debatemos se a OAB deve ser contra ou a favor a
prática do aborto. Discutimos se o projeto é ou não cabível no ordenamento
jurídico brasileiro e a conclusão é que o texto é inconstitucional e
inconvencional. Vamos submeter essa posição ao plenário da Ordem para que todas
as conselheiras e conselheiros federais decidam qual será a posição da
entidade", afirmou Silvia.
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Discussão no Senado
O
Senado Federal agendou para manhã desta segunda-feira (17) uma sessão de
debates a fim de discutir o processo de aborto legal no Brasil.
O
requerimento para realizar o debate foi apresentado um dia depois de o
presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anunciar o tema na
pauta no plenário da Casa. O pedido do debate foi votado, de forma simbólica,
no mesmo dia em que chegou no Senado.
O
pedido foi feito pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE), declaradamente contra o
aborto e que em abril de 2023 ficou conhecido por ter tentado entregar uma
réplica de feto para o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, durante
uma audiência pública no Senado
A
solicitação ainda foi assinada por lideranças do Senado ligadas a base do
governo, MDB e Republicanos, e de oposição, PL e Podemos.
De
acordo com o regimento interno do Senado, as sessões de debates temáticos têm
como fundamento "tratar de tema relevante de interesse nacional".
Fonte:
CNN Brasil/Tribuna da Internet/g1
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