Como a
China usa pandas para ter influência internacional
A
diplomacia dos pandas está de volta aos holofotes.
No
fim de maio, foi anunciado que um casal de pandas será enviado ao Zoológico
Nacional, em Washington.
O
jornal Folha de São Paulo também noticiou que o governo chinês ofereceu dois
pandas ao Brasil, possivelmente para o zoológico de São Paulo, para comemorar
os 50 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre o governo
brasileiro e a China comunista.
Mas,
afinal, o que significa a diplomacia dos pandas e por que pode ser tão
importante?
Apenas
dois meses depois de o presidente dos EUA, Richard Nixon, ter feito a sua
viagem histórica à China em 1972, pondo fim a mais de duas décadas de tensão
entre os dois países, um par de pandas de 18 meses chegou aos Estados Unidos
como presente. Enviados pelo primeiro-ministro Zhou Enlai, representaram o mais
recente uso da diplomacia dos pandas na China.
Uma
prática que remonta à dinastia Tang, que governou de 618 a 907 d.C., a
diplomacia dos pandas – ou o envio de pandas como presentes diplomáticos –
parece estar em jogo mais uma vez em 2024.
Na
semana passada, a Associação de Conservação da Vida Selvagem da China anunciou
que finalizou acordos para emprestar alguns dos adoráveis pandas gigantes da
China a zoológicos na Espanha e nos Estados Unidos, de acordo com a Agência de
Notícias Xinhua, a organização oficial de notícias da China.
"Instituições
chinesas relevantes assinaram acordos com o Zoológico de Madrid, na Espanha, e
o Zoológico de San Diego, nos Estados Unidos, sobre uma nova rodada de
cooperação internacional na proteção de pandas gigantes", disse Mao Ning,
porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, durante coletiva de
imprensa, de acordo com a Reuters.
A
notícia surge após a China recolher três pandas gigantes no Zoológico Nacional
em Washington D.C. no ano passado e um outro que vivia no Zoológico de Memphis,
no Tennessee – movimentos que deixaram apenas quatro pandas nos Estados Unidos
(todos no zoológico de Atlanta, na Geórgia).
Na
mesma linha, dois pandas gigantes que viviam desde 2011 no Reino Unido, no
Zoológico de Edimburgo, foram recolhidos em 2023.
Essas
decisões ocorreram em um momento em que as relações entre Pequim e o Ocidente
estavam em um terreno difícil. A China e os EUA, por exemplo, enfrentavam
alguns desafios de segurança, humanitários e econômicos particularmente tensos,
de acordo com um artigo sobre diplomacia animal de Barbara K. Bodine, da
Universidade de Georgetown, ilustre professora de diplomacia e diretora do
Instituto para o Estudo da Diplomacia de Georgetown.
A
renovada agitação da diplomacia panda pode ser parte da busca da China pelo
“soft power” (o seu poder brando), explica Susan Brownell, professora do
departamento de história da Universidade de Missouri e membro do Comitê
Nacional de Relações EUA-China, que trabalha para promover a compreensão e a
cooperação entre os dois países.
Com
os diplomatas panda fazendo as malas, um novo capítulo de diplomacia fofinha
pode estar começando.
• A história da diplomacia panda
Embora
a chegada de Hsing-Hsin e Ling-Ling aos Estados Unidos em 1972 durante a
administração Nixon esteja entre os exemplos mais conhecidos da diplomacia
panda, certamente não é o primeiro caso do tipo.
Em
1941, dois pandas foram enviados aos Estados Unidos pouco antes de o país
entrar na Segunda Guerra Mundial – eles foram amplamente vistos como um
presente de “agradecimento” da China.
Durante
a cerimônia de anúncio do presente, Chiang Kai-shek disse que os pandas eram
uma forma de agradecer “aos amigos americanos da China por aliviarem o
sofrimento do nosso povo e curarem as nossas feridas”.
Mais
tarde, durante a década de 1950, o presidente Mao era conhecido por enviar
pandas como presentes aos aliados comunistas do país, que incluíam a Coreia do
Norte e a União Soviética.
Mais
recentemente, após o desaparecimento do voo 370 da Malaysian Airlines em Março
de 2014, que prejudicou as relações entre a China e a Malásia, a chegada de
dois dos adorados pandas da China naquele mesmo ano à Malásia foi vista como
uma oferta de paz.
Quanto
ao que os pandas podem significar hoje, Brownell sugere um esforço por parte da
China para emular o que os distingue dos Estados Unidos no cenário mundial.
“Eles sabem muito bem que a sua crescente força econômica e militar é vista
como uma ameaça, particularmente pela liderança política dos EUA”, explicou
Brownell.
“Eles
também entendem que um grande fator [da influência dos EUA] no mundo vem do
apelo de seus produtos culturais, sejam filmes de Hollywood ou estrelas da
NBA”.
“O
uso dos adoráveis pandas, bem como a promoção estatal dos esportes olímpicos,
faz parte do esforço (da China) para desenvolver esse tipo de apelo e
influência no mundo”, acrescentou Brownell.
• San Diego se prepara para novos
pandas
Deixando
de lado as implicações políticas e diplomáticas, o Zoológico de San Diego está
se preparando ansiosamente para a chegada de um novo conjunto de pandas
gigantes.
O
habitat que abrigou os últimos pandas, que foram devolvidos à China em 2019
depois de mais de 20 anos no zoológico, está sendo preparado e renovado para a
grande chegada.
“Estamos
dobrando o tamanho do habitat original e renovando outro habitat próximo e eles
se conectarão”, disse Greg Vicino, vice-presidente de cuidados com a vida
selvagem do Zoológico de San Diego.
A
última vez que o zoológico acolheu pandas da China foi em um programa
bem-sucedido – tanto em termos dos esforços de conservação dos pandas como das
relações que foram construídas com colegas chineses.
O
zoológico foi o lar de pandas gigantes de 1996 até sua partida em 2019 e
durante esse período nasceram um total de seis pandas. Bai Yun e Shi Shi deram
à luz o primeiro filhote de panda a sobreviver em cativeiro nos Estados Unidos
e, mais tarde, Bi Yung e Gao Gao deram à luz mais cinco filhotes.
Houve
também um conjunto substancial de pesquisas publicadas e uma conexão genuína
construída entre conservacionistas em San Diego e na China.
“Havia
um fluxo constante [entre San Diego e a China] de pesquisadores, cientistas e
estudantes de pós-graduação vindo e indo para cá”, disse Vicino. “Essa
colaboração – quando você olha a lista de publicações resultantes disso – é
impressionante. Foi uma grande vitória para a conservação.”
E,
em última análise, diz Vicino, a conservação se resume a relacionamentos.
“Posso dizer por experiência própria, tendo trabalhado nessa área há mais de 20
anos, que ingenuamente pensei que a conservação era uma questão de salvar
habitats e espécies. Mas descobri imediatamente que se tratava de formar
relacionamentos.”
Ele
brinca que a diplomacia é algo que “deixará para os profissionais” e
acrescenta: “Trata-se realmente de um contato individual entre verdadeiros
conservacionistas de diferentes países”.
Embora
ainda não esteja claro quando exatamente os novos pandas chegarão a San Diego,
há quem diga que o zoológico poderá receber descendentes de seus residentes
anteriores, Bi Yung e Gao Gao.
Se
for esse o caso, Vicino diz que seria uma forma adequada para San Diego
continuar os seus esforços de conservação dessa espécie.
“Seria
realmente ótimo para nós podermos fechar o círculo nesse legado”, afirmou
Vicino.
Fonte:
BBC News Mundo
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