BRICS:
transição de aliança econômica a força política cristaliza 15 anos do grupo,
dizem analistas
O
ano era 2009 e, à época, sequer se imaginava uma grande coalizão geopolítica
que viria nos anos seguintes. Neste domingo (16), celebra-se o 15º aniversário
da primeira reunião de cúpula do BRICS, ocorrida em Ekaterinburgo, na Rússia.
Desde
então, o grupo, composto originalmente por Brasil, Rússia, Índia e China,
posteriormente com a adesão da África do Sul, e cuja expansão abrange Arábia
Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã, tem se consolidado como
uma importante aliança econômica e política no cenário global.
Giovana
Branco, mestre em relações internacionais pela Universidade Estadual de São
Paulo (UNESP) e pesquisadora de política externa russa, explica aos jornalistas
Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, que a ideia inicial do
grupo era fornecer apoio econômico para países em desenvolvimento.
Desta
forma, evitaria a dependência de instituições como o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial, "controladas pelos países do Norte
Global".
Nos
primeiros anos, o BRICS era visto como um grupo com forte coesão econômica, mas
com pouca unidade política.
Branco
observa que, recentemente, isso tem mudado.
"Cada
vez mais, os países do BRICS se formam como uma coalizão política, unindo-se em
processos de votação internacional e em pautas comuns que se distanciam das
tradições ocidentais."
Expandir
o grupo é um tema efervescente, com muitos países manifestando interesse em se
juntar ao BRICS. A pesquisadora afirma que mais de 40 países estão atualmente
interessados.
No
entanto, ela também apontou as dificuldades que essa expansão pode trazer.
"À medida que o conglomerado de países aumenta, fica mais difícil alinhar
interesses, embora o foco primordial continue sendo econômico."
Especificamente
sobre a possível entrada de Tailândia e Turquia, Branco entende que traria um
afastamento das influências tradicionais dos EUA nessas regiões.
"A
Turquia, membro da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], tem uma
relação dúbia com os países ocidentais, e a Tailândia também se posiciona de
forma independente das potências tradicionais."
·
O que motiva a expansão do BRICS?
O
professor de relações internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de
Capitais (IBMEC), José Niemeyer, relata que inicialmente era cético em relação
ao BRICS, mas mudou sua visão ao longo dos anos.
"O
BRICS, principalmente com Rússia e China, que hoje confrontam os Estados
Unidos, seus aliados e a OTAN [...] acabaram ganhando muita importância nos
últimos sete anos."
No
começo, ele não via uma conexão geopolítica clara entre os membros do grupo
devido à distância geográfica entre os países. Mas ele passou a enxergar o
BRICS não como um bloco de integração tradicional, como o Mercosul ou a União
Europeia, mas como "um lugar de discussão, preparação de projetos e
criação de alternativas estratégicas".
"Caminhamos
para uma ordem internacional muito fluida. A China também está cada vez se
posicionando na esfera econômica, mas também se preparando na esfera militar.
Talvez o BRICS esteja recebendo mais países a fim de que eles possam ter alguma
interlocução entre si para poder, inclusive, com intuito de trazer mais
equilíbrio, mais harmonia ao sistema internacional nestes tempos de muita pouca
harmonia."
·
Quais são os benefícios do BRICS?
Em
termos de benefícios, a China é apontada como o maior ganhador dentro do BRICS.
"A China promove a expansão do grupo e se consolida como uma liderança
importante dos países do Sul Global", afirma Branco.
A
Rússia também se beneficia em um contexto de contraposição ocidental. Brasil,
Índia e África do Sul também colhem frutos econômicos e de desenvolvimento,
mas, para a pesquisadora, China e Rússia são vistas como os principais
beneficiários.
Branco
vê a desdolarização como uma proposta de médio a longo prazo, destacando que
"os mercados ainda são muito dependentes do dólar", ainda que haja um
objetivo geopolítico de se utilizar outras moedas.
O
porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, alertou anteriormente sobre os desafios da
expansão rápida do BRICS, enfatizando a necessidade de critérios claros para
novos membros. Branco explica que, "se qualquer interessado for incluído,
o grupo pode perder suas características originais de ser uma aliança de
potências emergentes".
Ela
sugere que o aprofundamento das alianças econômicas e políticas é essencial
para enfrentar um cenário global de desglobalização. Segundo ela,
"aprofundar essas alianças em termos econômicos, mas também em termos
políticos" é vital para beneficiar todos os membros do grupo.
De
toda forma, Branco entende que o BRICS mudou significativamente a dinâmica
global, dando voz a países que antes não tinham grande influência. “Foi uma das
primeiras vezes que vimos países em desenvolvimento sendo classificados como
potências emergentes.”
A
presença de China e Rússia no BRICS é um fator crucial, para Niemeyer,
ressaltando a ligação geoestratégica poderosa — o que inclui Pequim reconstruir
a rota da Seda e a inclusão de Moscou em seus planos logísticos.
Para
ele, com a maior institucionalização do BRICS, os países-membros conseguiram
projetar uma imagem de força, com logística e infraestrutura, apoiada por seus
grandes Produtos Internos Brutos (PIBs) e mercados consumidores, indo além de
apenas um fórum de discussão.
A
desdolarização é um dos principais objetivos do grupo, visando reduzir a
dependência global desta moeda e, consequentemente, o poder relativo dos EUA.
"[O
BRICS] pensa em uma maneira de substituir o dólar."
¨
'Declínio evidenciado
na cúpula do G7' amplia caminho ao 'G2 de Rússia e China', diz especialista
O
G7 realizou a sua cúpula na Itália não só com uma liderança enfraquecida, mas
"obsoleta e em declínio", sem qualquer autoridade moral, pelas suas
ações em relação à guerra na Faixa de Gaza, disseram analistas consultados pela
Sputnik.
Para
o doutor colombiano em Ciência Política, formado pela Universidade de Toulouse,
Jaramillo Jassir, os membros do grupo de países mais industrializados do mundo,
especialmente os Estados Unidos, chegaram à cúpula em um "mau
momento", uma vez que Washington "tem sido demasiado tolerante com as
violações sistemáticas de Israel" em relação às decisões do Conselho de
Segurança da ONU, do Corte Internacional de Justiça (CIJ) e até muito crítico
do Tribunal Penal Internacional (TPI).
"Com
o duplo padrão em relação à questão de Gaza e outros casos de violações dos
direitos humanos, como a Líbia, o Iraque ou o Afeganistão [...] vejo como muito
complexo que surja algo do G7 que possa ter impacto", analisou Jassir em
entrevista à Sputnik.
Na
sua resolução, os membros do G7 apoiaram um cessar-fogo imediato no enclave
palestino, a libertação de todos os reféns e um "caminho credível"
para a paz que conduza a uma solução de dois Estados.
No
entanto, para Jassir, é difícil que o grupo recupere a sua legitimidade após a
sua posição sobre a ofensiva militar de Israel, que já custou a vida a mais de
38 mil pessoas, muitas delas mulheres e crianças.
"Estamos
sem dúvida caminhando para uma multipolaridade do G7; é, se quiserem, a melhor
forma para os países mais poderosos, as maiores economias, se agarrarem ao
poder e à hegemonia que têm exercido ininterruptamente desde o pós-guerra, mas
a minha impressão é que está muito enfraquecido, insisto, com a guerra em Gaza,
com a ofensiva israelense, não acredito que a legitimidade do G7 possa ser
restaurada", disse o professor colombiano.
Na
visão de Eduardo Rosales Herrera, internacionalista e acadêmico de Relações
Internacionais da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), o "G7
está em claro declínio".
"A
influência e o poder do G7 diminuíram bastante, entre outras coisas, devido à
ascensão de outros polos de poder, como é evidentemente o caso da China",
disse o especialista em entrevista à Sputnik.
Segundo
o acadêmico, desde a crise econômica de 2008 o Ocidente "já não é o
mesmo" e a partir desse momento inicia-se "uma fase de
enfraquecimento muito pronunciada".
"Devemos
ter em conta que o G7 foi fundado há mais de 50 anos e, francamente, já parece
obsoleto, ultrapassado e já se vê em declínio", analisou.
Para
ilustrar o que Rosales destaca, no passado, o G7 representava perto de 70% do
PIB mundial, hoje, apenas um pouco mais de 40%, o que, de fato, fala de um
declínio na sua importância econômica global.
Além
disso, o especialista ressalta que outro assunto no qual o grupo chega a muitos
acordos, mas dificilmente os cumpre, é em relação à promoção de energia verde
ou a sua intenção de expandi-la, algo que praticamente não sai do papel.
Uma
das resoluções aprovadas na cúpula desta semana foi disponibilizar ao governo
ucraniano US$ 50 bilhões (R$ 268 bilhões) provenientes de ativos russos
congelados em países europeus para enviar uma mensagem inequívoca ao presidente
russo, Vladimir Putin.
Roi
López Rivas, analista político, comentarista e ativista venezuelano, garante
que o que o G7 está "cumprindo a agenda dos Estados Unidos no que diz
respeito à sua política internacional e especialmente no que tem a ver com o
conflito Rússia-Ucrânia".
"Eles
são os principais países aliados dos Estados Unidos no mundo, e obviamente
cumprem os seus pedidos, solicitações ou talvez mandato porque no final se
pensava que talvez os países que são países fortes como estes fossem mais
soberanos, mas realmente o que o que fazem é cumprir uma agenda pró-americana,
e tudo o que ordenarem, sempre cumprirão", afirmou Rivas.
Para
Rosales da UNAM, a questão da Ucrânia foi praticamente a única sobre a qual os
líderes do G7 concordaram, mas para continuar alimentando o conflito militar.
"Isso
continua na lógica da Guerra Fria e longe de tentar buscar o diálogo, o acordo,
a negociação, nada mais é colocar lenha na fogueira. O que teriam que fazer é
tentar encontrar uma solução negociada, o que não é nada difícil, mas
recusam-se a reconhecê-la", afirmou Rosales.
·
Crises internas
Os
analistas consultados concordam que praticamente todos os líderes dos países do
G7 enfrentam graves crises internas nos seus próprios países, com índices de
popularidade que atingem mínimos históricos e com eleições no horizonte em que
os seus partidos políticos não têm a maioria das preferências eleitorais.
Rosales
Herrera, sublinha o caso do chanceler Olaf Scholz, da Alemanha, que vive não só
o avanço dos grupos de extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu,
mas um crescimento econômico baixo.
Também
é o caso do primeiro-ministro britânico Rishi Sunak, o qual, tudo indica que
perderá as eleições de 4 de julho, assim como o caso do presidente francês
Emmanuel Macron, que sofreu um revés com o avanço da extrema direita no
Parlamento Europeu e convocou eleições.
Enquanto
o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e os primeiros-ministros do Japão e
do Canadá, Fumio Kishida e Justin Trudeau, respectivamente, apresentam níveis
de desaprovação que não eram vistos desde o início das respetivas
administrações.
"Estamos
vendo com esses países, que eram os líderes, o avanço substancial da extrema
direita; a situação está se tornando muito, muito complicada […] e é uma
deterioração muito perceptível do G7", Herrera.
Segundo
o analista, as sanções impostas à Rússia, bem como as dirigidas aos produtos
chineses, apenas provocam o fortalecimento e a aproximação entre Moscou e
Pequim, algo que continuará a crescer.
"A
China continua a fortalecer-se com essa aliança com a Rússia e a Rússia também
se fortalece com a sua proximidade com a China; então tudo o que fazem é
consolidar outro G2 à frente do G7. Um G2 que evidentemente, se torna cada vez
mais relevante, mais presença, mais poder. Do lado da China temos um membro
economicamente poderoso e do lado da Rússia temos um membro militarmente
poderoso – não devemos esquecer que é a principal potência mundial em termos de
arsenal nuclear", concluiu o analista.
¨
Biden estava 'pior do
que nunca' na reunião do G7 na Itália, diz mídia
O
presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, esteve "pior do que nunca"
na reunião do G7, na Itália, onde exibiu um comportamento errático e confuso e
perdeu o fio das conversas privadas.
O
que, por sua vez, "envergonhou" os participantes na reunião, disseram
fontes diplomáticas ao New York Post.
Um
assessor de uma delegação disse ao jornal na sexta-feira que os erros públicos
do presidente de 81 anos no primeiro dia da reunião foram
"embaraçosos".
Enquanto
os líderes das democracias "mais ricas" do mundo aplaudiam a
apresentação de paraquedismo, a atenção do presidente dos EUA, de 81 anos, se
desviou visivelmente de onde os outros estavam olhando, pontua a publicação.
O
veículo salientou que Biden pareceu não perceber a ação que acontecia bem na
sua frente enquanto se afastava alguns passos de seus colegas chefes de
governo, se virava para o outro lado e parecia dizer algo a um oficial que
carregava um paraquedas.
Fonte:
Sputnik Brasil
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