Brasil
ruma para cumprir meta de corte de emissões, em meio ao debate
"modesto" x "realista"
A
meta brasileira de reduzir pela metade as emissões líquidas de gases estufa em
2025, um compromisso internacional firmado no ambiente das Organização das
Nações Unidas (ONU), é uma missão perfeitamente possível, de acordo com a
evolução dos dados dos últimos anos. Se mantida a trajetória de diminuição do
desmatamento apenas na Amazônia, uma redução extra de 33% no biênio 2024-2025
será suficiente, calcula o Sistema de Estimativas de Emissões e
Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG),
vinculado ao Observatório do Clima.
A
última medição disponível do SEEG indicou que, em 2022, as emissões líquidas do
Brasil totalizaram 1,7 bilhão de toneladas de CO2 equivalente, um patamar
próximo da ambição da NDC brasileira de chegar a 1,32 bilhão anual até o final
do ano de 2025, uma redução de 48,4% na comparação com 2005.
A
Contribuição Nacional Determinada (NDC, na sigla internacional) brasileira,
atualizada em 2023, usa como referência o ano de 2005, quando o país emitiu na
atmosfera 2,56 bilhões de toneladas de CO2 equivalente, de acordo com dados
oficiais. As emissões líquidas descontam do cálculo as remoções de carbono
desempenhadas por florestas secundárias, unidades de conservação e terras
indígenas.
O
desmatamento da Amazônia contribui com metade (49%) das emissões líquidas do
Brasil, e conquistar a meta de desmatamento zero colocada pelo governo Lula
garantiria não só o cumprimento da NDC como a chance de superá-la
confortavelmente, daí as críticas sobre a “falta de ambição” do compromisso
climático assumido pelo Brasil.
A
pergunta é por que o Brasil não tem metas mais ambiciosas para 2030. É muito
fácil o governo cumprir a NDC, é só manter a queda do desmatamento no ritmo que
está ocorrendo, cumpre 2025 facilmente e 2030 mais facilmente ainda, se
acreditarmos na promessa de desmatamento zero em todos os biomas, como o
presidente prometeu. — Claudio Angelo, diretor de comunicação e política
climática do Observatório do Clima
·
Ritmo do desmatamento
Em
novembro, a ONU constatou que
os compromissos atuais colocam o mundo no caminho de um aquecimento de 2,5°C a
2,9°C até 2100, acima do limite de 2ºC fixado no Acordo de Paris para o fim do
século. Em 2025, uma nova rodada de atualização das NDCs está prevista, e também a publicação de relatórios de transparência sobre emissões.
O
Ministério do Meio Ambiente enviou nota ao Um Só Planeta onde reforça que com a “retomada da governança ambiental e
das ações de fiscalização”, houve redução de 49,8% da área sob alertas de
desmatamento na Amazônia em 2023 na comparação com 2022, segundo o sistema
Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que monitora
queimadas usando imagens de satélite.
De
janeiro a maio, a área sob alertas de desmatamento na Amazônia teve redução de
40,5% em relação ao mesmo período de 2023, informou a pasta, o que mantém a
trajetória relativamente tranquila para garantir a redução de 33% projetada
pelo SEEG.
De
acordo com dados do sistema, zerando-se as emissões por desmatamento na
Amazônia e mantendo-se a emissão constante no restante do setor de uso da terra
e nos outros setores da economia, o país passaria a emitir cerca de 905 milhões
de toneladas de CO2 equivalente em 2030, valor 25% menor do que os 1,2 bilhão
de toneladas da NDC. Eliminando o desmatamento nos outros biomas brasileiros, como o Cerrado, tema atual de preocupação do governo e da sociedade, as emissões líquidas nacionais passariam
pouco mais da metade (57%) da meta da NDC para 2030, o que permitiria, em tese,
dobrar a aposta de redução.
Apesar
de uma situação aparentemente confortável, o Brasi precisa ainda, de fato,
cumprir seus compromissos. "Estamos falando de uma meta de 50% de redução,
não é um número pequeno. Por ali [no poder] passam muitos governos, uns mais
prós outros menos em relação a como deve ser combatido o desmatamento na
Amazônia, então não é uma meta simples", avalia Felipe Bittencourt, CEO da
consultoria especializada em carbono WayCarbon.
Antes
de criticar, vamos cumprir? No ideal, no sonho, claro que a gente poderia falar
de números muito maiores de redução, mas estamos conseguindo fazer o beabá,
descarbonizar o Brasil na velocidade que precisa? O mundo está conseguindo?
Não. Então, vamos dar um exemplo para o mundo e mostrar que a gente está
levando o tema a sério. O Brasil só tem a ganhar com isso.
—
Felipe Bittencourt, CEO da consultoria especializada em carbono WayCarbon
O
ministério destaca ainda que o governo federal trabalha na atualização do Plano
Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), em “fase final de
atualização”. O objetivo é restaurar 12 milhões de hectares de áreas degradadas
no país, uma linha de ação hoje não contabilizada no abatimento de emissões do
Brasil.
O
SEEG reporta essas remoções, que vêm crescendo ano a ano. Em 2022, o balanço de
carbono no solo brasileiro resultou em uma remoção líquida estimada de 154
milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Fonte:
Por Marco Britto, para Um Só Planeta
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