Ângela
Carrato: Tudo o que aconteceu no RS serve de alerta para o Brasil
A
mídia corporativa, essa que trabalha 24 horas por dia contra o Brasil e a maioria
do povo brasileiro, continua batendo na tecla de que o caos e a tragédia no Rio
Grande do Sul se devem “ao excepcional volume de chuvas” que caiu sobre a
região.
Ao
culpar a natureza e falar em tragédia, quando a responsabilidade cabe aos
deuses e não aos homens, essa mídia procura inocentar os seus queridinhos de
sempre.
O
governador Eduardo Leite, do PSDB, por exemplo, mesmo tendo alterado 500 itens
do Código Ambiental do Estado, para “deixar a boiada passar”, é apresentado
como “vítima”.
O
mesmo acontece com o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, do MDB, cuja
administração, sabendo dos riscos, não deu manutenção nos diques e nas máquinas
que poderiam ter evitado a inundação da parte baixa da cidade.
Essa
mesma mídia dá o tom para as redes sociais ao tentar criar problemas para o
governo Lula, que vem lutando, por todas as formas e meios, para diminuir o
sofrimento da população gaúcha e iniciar, o mais rápido possível, a
reconstrução do Estado. Obra que obviamente vai durar meses e anos.
Para
quem tem olhos para ver e não se deixa iludir por essa mídia e suas parceiras,
as redes sociais, o que aconteceu no Rio Grande do Sul deve servir de alerta
para os demais estados brasileiros, em especial Minas Gerais.
Sem
qualquer excesso de chuvas, há nove anos Minas Gerais viveu um verdadeiro caos,
que se estendeu até o oceano Atlântico, destruindo a bacia do Rio Doce e grande
parte do Espírito Santo.
Quem
se lembra do rompimento da barragem do Fundão, no distrito de Bento Rodrigues,
em Mariana, responsabilidade das mineradoras Vale (após ser privatizada),
Samarco e BHP Billiton?
Neste
crime humano e ambiental, morreram 17 pessoas, centenas perderam tudo (casas,
plantações e animais) e o meio ambiente no Brasil foi alvo da maior destruição
de sua história.
Até
hoje essas mineradoras não foram devidamente responsabilizadas pelo crime e a
mídia corporativa local e nacional continua tratando o assunto como “acidente”,
“tragédia” ou “desastre”.
No
dia 7 de maio, a Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou, na Justiça Federal
de Belo Horizonte, pedido de cumprimento provisório de sentença para obrigar
estas mineradoras a pagar a quantia de R$ 79,6 bilhões, pelos danos que
causaram.
O
prazo termina nesta terça-feira (21/5), mas é curioso observar como a mídia vem
desconhecendo o assunto e, sobretudo, a relação existente entre a impunidade
destas mineradoras e o caos vivido pelos gaúchos.
Como
se o crime da Vale, da Samarco e da BHP Billiton não fosse suficiente, menos de
quatro anos depois a mesma Vale voltou a destruir Minas Gerais e a matar 270
pessoas.
Estou
me referindo ao rompimento da barragem de rejeitos do Córrego do Feijão, em
Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A
mídia continua caladinha também sobre o assunto, especialmente depois que
recebeu muito dinheiro em forma de publicidade para falar que a Vale estava
“revitalizando” a região e o governador bolsonarista e de extrema-direita,
Romeu Zema (Novo), se valeu destas indenizações para fazer politicagem.
Uma
das explicações para a reeleição de Zema no primeiro turno foi a distribuição
que fez dos recursos que deveriam ser destinados somente à região de Brumadinho
a todos os municípios de Minas Gerais.
Qual
prefeito não adoraria receber uma grana extra para fazer “melhorias em sua
cidade” e, de quebra, se tornar cabo-eleitoral do governador?
O
mais grave nisso tudo é que a ação de Zema, nitidamente favorável às
mineradoras, o auxílio para os prefeitos e as polpudas verbas publicitárias que
a mídia recebeu tiraram de cena o duplo crime cometido pela Vale.
Aliás,
a própria Justiça local acabou também deixando de lado o assunto. Tanto que é a
AGU no governo Lula que está cobrando das mineradoras pelos danos que causaram.
Bolsonaro,
seu ministro da Economia, Paulo Guedes, e o próprio Zema apostavam que o
assunto iria cair no esquecimento e tudo ficaria como dantes, com as
mineradoras mandando e desmandando.
É
aí que entra o caos no Rio Grande do Sul para denunciar os crimes cometidos por
maus administradores, pela ganância da extrema-direita e dos defensores do
neoliberalismo, que só pensam em lucro e que se dane o meio ambiente.
A
tragédia em que vivem os gaúchos é fruto disso. Eles caíram no canto da sereia
e aceitaram que todo o seu território fosse ocupado por plantações de soja e de
arroz, além da criação de gado.
Matas,
vegetações de encostas e ao longo dos rios e cursos d’água foram destruídas. Já
em Porto Alegre e cidades de porte médio, a especulação imobiliária comandou o
processo.
Deu
no que deu.
Na
segunda-feira (13/5), o lamentável silêncio sobre o que pode voltar a acontecer
em Minas Gerais com a atuação criminosa das mineradoras foi interrompido pela
denúncia da deputada federal Duda Salabert (PDT), através de vídeo gravado por
ela e veiculado em suas redes sociais.
De
noite, ela subiu até a Serra do Curral, cartão-postal de Belo Horizonte, e
flagrou dezenas de caminhões retirando, criminosamente, minério de ferro do
local.
O
governo Zema não sabia? A prefeitura de Belo Horizonte não sabia? A mídia não
sabia?
Como
a deputada anunciou que iria, como fez, protocolar denúncia junto à Polícia
Federal, pedindo que esse crime seja apurado, ficou muito feio para os
responsáveis locais continuarem ignorando o assunto.
Tanto
que no dia seguinte um dos veículos da mídia corporativa local deu chamada de
capa para o fato de “a tragédia no Sul evidenciar risco para as barragens em
Minas Gerais”.
Uma
Audiência Pública na Assembleia Legislativa voltou a abordar o fato de que o
Estado está completamente exposto, pois existem 350 barragens de mineração, a
maior concentração do país, e elas se tornariam verdadeiras bombas caso se
verifique qualquer problema climático mais grave.
É
importante frisar que sem qualquer catástrofe, duas barragens já se romperam e
pelo menos outras três são consideradas em situação de “de risco máximo”.
Some-se
a isso que ainda há no território mineiro 38 reservatórios construídos por
métodos inadequados e eles já deveriam ter sido desativados. Acordos entre o
poder público local e as mineradoras prorrogaram este prazo para 2035!
Como
se esses não fossem fatos suficientes para tirar o sono de quem vive em Minas
Gerais, mais uma bomba aguarda a população de Belo Horizonte e da Região
Metropolitana.
A
mineradora Vale, sempre ela, quer extrair minério na Serra do Gandarela, uma
das áreas mais lindas e de flora e fauna preservadas próxima à capital. Lá
estão também nascentes, riachos e rios que garantem o abastecimento de água dos
mais de cinco milhões de habitantes da região.
O
tal projeto, que recebe o nome de Apolo – seria sarcasmo batizar projetos
destrutivos com belos nomes gregos? – propõe um “novo conceito em mineração”,
mas a conversa não cola a não ser para os negacionistas, os bolsonaristas, a
extrema-direita e a turma do Zema.
Tanto
que este projeto já deveria ter sido descartado. E não foi. A Vale vem fazendo
o possível para seduzir as populações locais com “oferta de empregos” para ver
se consegue aliados para mais essa sua sanha destrutiva, pautada pela ganância
e pelo lucro.
Esperar
que o governo Zema rompa a parceria com as mineradoras é acreditar em fadas e
duendes.
Esperar
que a mídia denuncie tais conluios é querer muito, especialmente quando se sabe
que há uma espécie de rodízio entre os veículos locais.
Num
determinado momento um denuncia a mineração, enquanto os demais ficam calados.
Depois a fila anda e assim todos eles saem ganhand$.
A
população de Minas Gerais, no entanto, tem uma excelente oportunidade para
evitar que o estado continue sendo espoliado pelas mineradoras e que o caos se
abata novamente sobre ela.
Basta,
nas eleições municipais deste ano, varrer do mapa todo vereador ou prefeito que
priorize essas empresas e seus interesses pessoais em detrimento da maioria da
população.
Sei
que alguns vão argumentar que “a mineração é uma atividade econômica
fundamental e que sem ela milhares de pessoas perderiam sua fonte de renda”.
Lamentavelmente
tem sido assim. Aliás, Tiradentes e os inconfidentes, no século XVIII, já
denunciavam a exploração do ouro e a sobra de buracos e da pobreza para nós.
Não
mudou praticamente nada!
Passou
da hora de Minas Gerais alterar o seu perfil econômico, pois não é possível se
falar em desenvolvimento com tamanha exploração.
A
mineração não pode continuar sendo um destino que só traz miséria, destruição e
morte. Claro que uns poucos espertalhões sempre lucraram muito com isso e
querem seguir assim.
Por
isso, as eleições municipais são o momento privilegiado para cada cidadã e cada
cidadão cobrar dos candidatos suas propostas para gerar desenvolvimento,
emprego e renda para a população. Elas existem e exemplos não faltam.
Por
que não investir no imenso potencial turístico de Minas Gerais?
Por
que não investir em indústrias de ponta como a farmacêutica?
Por
que Zema preferiu quase fechar o Instituto René Rachou (a Fiocruz mineira)
durante a pandemia ao invés de investir para que produzisse vacinas?
Por
que não investir em polos tecnológicos como chegou a acontecer no Sul de Minas?
Onde
estão os prefeitos e vereadores destas regiões que nada falam, nada
reivindicam, nada fazem?
Em
Belo Horizonte, o pente fino dos eleitores precisa ser mais cuidadoso ainda. A
Câmara Municipal, com três ou quatro exceções de praxe, é um balcão de negócios
para a especulação imobiliária e os interesses neopentecostais.
A
Prefeitura de Belo Horizonte investe muito em publicidade, mas, na prática faz
pouco.
Não
era para a PBH, que diz estar trabalhando para prevenir tragédias, já ter
solicitado o tombamento das Serras do Curral e do Gandarela?
Os
ensinamentos que vem do Sul são muitos. Se depender da extrema-direita
bolsonarista e seus aliados em todo o país e, em especial em Minas Gerais, eles
continuarão ignorando o que aconteceu e criando as condições para que novos
crimes, rebatizados como “tragédias climáticas” se repitam.
Cabe
a cada um de nós evitar que isso aconteça.
P.S.
A ira com que a mídia corporativa brasileira recebeu a indicação da engenheira
Magda Chambriard para presidir a Petrobras é sinal de que o presidente Lula
acertou.
A
observação do currículo da indicada deixa claro que ela tem postura bem
diferente de Jean Paul Prates, que jogava para a plateia e, sobretudo, para o
mercado, mas efetivamente fez quase nada.
Os
preços dos combustíveis continuam altos e o protagonismo da Petrobras na
retomada do desenvolvimento nacional ainda não saiu do papel.
Lula
quer que a empresa reassuma refinarias que foram criminosamente privatizadas
por Bolsonaro, quer que a Petrobras encomende navios petroleiros aos estaleiros
nacionais e invista em empresas de fertilizantes e de gás em várias regiões do
país.
Está
explicado o desespero dessa mídia cuja sede é em Washington.
Fonte:
Viomundo
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