Moisés Mendes: Depois de Braga Netto, falta o elo empresarial do
bolsonarismo
Se for compartimentada, a estrutura do bolsonarismo
estará bem representada pelos personagens alcançados até agora pelo sistema de
Justiça. Mas está faltando, além do núcleo dos grandes chefes, um elo decisivo
para o desmonte das bases do fascismo pós-2018.
Os instrumentadores, os operadores, os ajudadores,
os prestativos, os financiadores dos níveis intermediários, os manés e os
terroristas. Todos têm representantes enquadrados.
Já foram presos, muitos foram indiciados e já há
condenados a até 17 anos de cadeia, quase todos por envolvimento com o golpe
tabajara de 8 de janeiro.
Braga Netto, condenado pelo TSE e tornado
inelegível, não foi alcançado por participação no golpismo, mas pelo uso ilegal
da estrutura de Estado para propaganda de campanha no 7 de setembro.
O que importa é que chegaram nele. Foi tornado
inelegível, está avariado e teve o projeto político adiado e possivelmente
destruído.
Braga Netto é o primeiro general punido pela
proximidade com Bolsonaro e pelo protagonismo no esquema de poder militar que
tutelava o tenente.
Agora, falta pegar o elo empresarial. Não o elo dos
financiadores de ônibus, lanches e banheiros químicos dos acampamentos de
Brasília que prepararam a invasão.
Não o ‘financiador’ preso na semana passada e que
se apresentava em vídeos, apesar de ser civil, como se fosse militar. Não os
laranjas usados por grandes empresários para ratear o dinheiro graúdo,
fracionar os cachês e passar adiante aos manés.
Não são esses manezinhos a base da estrutura
empresarial golpista de Bolsonaro. Não são os Zés das Couves de Sorocaba os que
movimentaram frotas de caminhões para o bloqueio de estradas.
Não estão entre esses financiadores de mirréis os
que vinham patrocinando o gabinete do ódio, desde a disseminação de mensagens
em massa da eleição de 2018.
Esses do dinheirinho são tico-ticos dos viveiros
bolsonaristas. Falta pegar os periquitos de grande porte, e Alexandre de Moraes
sabe quem são eles.
Falta chegar em quem conseguiu levar mais de 5 mil
manés para os acampamentos na Capitania dos Portos de Itajaí. Uma turba que
transformou em imundície fétida uma área nobre da cidade.
Falta enquadrar o cara do dinheiro que esteve com
Bolsonaro até a eleição e depois se recolheu. Alguns saltaram fora, abandonaram
o sujeito e agora acenam para Lula, mas não deixaram de ser golpistas.
Esse é o elo ainda impune, mesmo que sob
investigação. Pegaram a base operacional do golpe, mas não pegaram ainda a
turma do lastro financeiro e ideológico, que deu sustentação às ações de massa
da extrema direita, analógicas e virtuais, principalmente nas médias e pequenas
cidades do sudeste para baixo.
Ainda estão impunes os patrocinadores e operadores
da tentativa de parar o país com as estradas bloqueadas. Não são apenas os
caminhoneiros avulsos, são donos de frotas de caminhões de grandes empresas.
Não há um indiciado entre eles, um só. Continua
intacto o elo do dono do dinheiro na máquina bolsonarista, desde a formação das
milícias digitais profissionais acionadas para a propagação de ódio, violência
e fake news, mais de quatro anos antes do 8 de janeiro.
• O
cargo de R$ 11 mil da filha de Braga Netto na Prefeitura do Rio
A filha do general Walter Braga Netto, Isabella
Oasse de Moraes Âncora Braga Netto, recebe R$ 11 mil da Prefeitura do Rio para
fazer a comunicação do vice-prefeito Nilton Caldeira, do mesmo partido do pai.
Braga Netto articulou pessoalmente com o
vice-prefeito do Rio de Janeiro a nomeação de sua filha.
Nomeada em julho deste ano para um cargo especial
na Vice-Prefeitura, Isabella não tem controle de ponto, uma vez que todos os
servidores podem assinar a folha do mês de uma vez só.
Procurado, o vice-prefeito afirmou que Isabella
“vai trabalhar todos os dias”, mas se negou a enviar qualquer comprovação de
que a filha do general de fato cumpra expediente na prefeitura.
PL se
surpreendeu com a condenação de Braga Netto
A condenação do ex-ministro da Defesa, Braga Netto,
pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na última terça-feira (31), deixando-o
inelegível pelos próximos oito anos, pegou de surpresa a direção nacional do
Partido Liberal (PL).
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O partido tinha a expectativa de que Braga Netto
fosse condenado apenas a pagar uma multa, enquanto apenas o ex-presidente Jair
Bolsonaro enfrentasse uma condenação por inelegibilidade. No entanto, o
veredito do TSE impõe um obstáculo à carreira política do ex-ministro até 2030.
Braga Netto, que era visto como o nome predileto do
PL para concorrer à Prefeitura do Rio de Janeiro. Ele estava em ritmo de
pré-campanha e tinha o apoio da cúpula bolsonarista para alavancar a
candidatura.
O ex-ministro se cacifou após ser o interventor na
segurança pública do Rio de Janeiro durante o governo de Michel Temer (MDB).
Porém, ele viu sua reputação abalada ao ser acusado
de ter pessoalmente solicitado a dispensa de licitação para a compra de coletes
à prova de balas destinados ao Rio de Janeiro, sem seguir os preços de mercado.
Essa polêmica decisão gerou um impacto
significativo em sua imagem pública e na sua trajetória política.
Na terça-feira, o TSE condenou o ex-ministro por
abuso de poder econômico e político, além de uso indevido dos meios de
comunicação, pelos pronunciamentos políticos de Bolsonaro nos desfiles de sete
de setembro.
Com a inelegibilidade de Braga Netto, o PL iniciou
a busca por alternativas para a candidatura à prefeitura carioca.
Neste momento, a segunda opção em consideração é
Alexandre Ramagem, que poderia vir a se tornar o novo candidato do partido.
Valdemar Costa Neto, presidente do PL, anunciou que
pretende recorrer da decisão junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Entretanto, internamente, membros do partido
consideram que a reversão da decisão do TSE é um desafio difícil.
A notícia da condenação de Braga Netto também gerou
um sentimento de derrota entre as lideranças bolsonaristas, que viam nele um
importante aliado político.
Há agora uma crescente preocupação de que novas
condenações possam ocorrer nos próximos meses.
Decisão
do TSE aprofunda tensões com militares ao inelegibilizar Braga Netto
A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que
considerou Jair Bolsonaro e Walter Braga Netto culpados por abuso de poder
político e econômico devido à utilização inadequada das celebrações do
Bicentenário da Independência, intensifica as tensões entre a Corte Eleitoral e
os militares, ao tornar inelegível o general que anteriormente apoiou a
campanha do ex-presidente.
Na realidade, o TSE desfez completamente os
objetivos políticos de Braga Neto e o excluiu da cena política até 2030, o que
significa que ele não poderá concorrer à prefeitura do Rio de Janeiro no
próximo ano, nem ao Senado por Minas Gerais, sua terra natal, em 2026. O
general, que atualmente possui 66 anos, só terá a oportunidade de buscar novamente
um cargo eletivo quando completar 73 anos.
De acordo com as informações fornecidas pela equipe
do jornal, a inaptidão do general era considerada uma aposta segura pelos
oponentes de Bolsonaro, mesmo que tenha sido decidida por uma margem estreita
de votos.
Inicialmente, o presidente do TSE, ministro
Alexandre de Moraes, teve a responsabilidade de proferir o voto que
temporariamente desempatou a votação e determinou o destino político de Braga
Netto.
Com a maioria já estabelecida devido à
inelegibilidade de Braga Netto, o relator do caso, Benedito Gonçalves, revisou
seu voto, que tinha dado na semana anterior, para seguir o entendimento da
maioria, consolidando assim a votação com um placar de 5 a 2 e determinando a
exclusão do general das eleições até 2030.
Essa não é a primeira vez, e com certeza não será a
última, em que Alexandre de Moraes entra em conflito com os militares. O
ministro atua como relator no Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que
investiga a participação de membros das Forças Armadas nos atos
antidemocráticos que resultaram na invasão e no vandalismo na sede dos três
poderes em 8 de janeiro.
Durante as eleições, o presidente do TSE enfrentou
uma disputa de poder com as Forças Armadas, que insistiram na implementação de
várias medidas alegando que isso melhoraria o sistema eleitoral. Após a
conturbada campanha do ano passado, Moraes excluiu os militares de uma comissão
encarregada de supervisionar o processo eleitoral dentro do TSE.
A penalização mais rigorosa imposta a Braga Netto não
foi recomendada nem pelo vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet, nem
estava incluída no voto inicial do relator das ações, ministro Benedito
Gonçalves, que é conhecido pelos seus colegas pela precisão técnica na análise
das condutas dos investigados.
Foi responsabilidade de um dos recém-chegados ao
TSE, o ministro Floriano Azevedo, colocar a questão no centro do debate durante
a sessão na última quinta-feira.
Na terça-feira, os ministros André Ramos Tavares,
Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes seguiram a mesma interpretação de seu colega
e decidiram declarar Braga Netto inelegível, afastando-o das eleições até 2030.
O entendimento do TSE é que, para aplicar a
inelegibilidade a um candidato devido à prática de abuso de poder, é necessário
demonstrar que o político tenha tido envolvimento direto ou indireto nos
eventos considerados abusivos.
Braga Netto esteve presente no desfile militar do
ano passado, em uma motociata e nos discursos de Bolsonaro em trios elétricos
no Rio e em Brasília.
“Houve um planejamento, uma organização desses atos
e a execução no dia 7 de Setembro. A conduta vedada foi amplamente comprovada.
O segundo investigado inclusive era da coordenadoria da campanha, tudo isso
numa linha de sequência muito clara: um ato, depois do outro”, disse Cármen
Lúcia.
Justiça
Militar (corporativista) nega prisão de 6 suspeitos de roubar armas de quartel
A Justiça Militar recusou a prisão de seus
militares suspeitos de colaborarem no furto de 21 metralhadoras do Arsenal de
Guerra, em Barueri, Grande São Paulo . O furto ocorreu em setembro, desde
então, 19 armas já foram encontradas.
Os envolvidos no esquema devem ser enquadrados nos
crimes de furto, peculato, receptação e extravio, e devem ter o inquérito
concluído até dezembro. penas que vão de 1 ano a mais de 30 anos de prisão, se
somadas.
A ideia do Exército é que ainda sejam quebrados
sigilos bancários, telefônicos e das redes sociais dos investigados para tentar
comprovar seus envolvimentos nos crimes.
Com mais provas, o Exército deve pedir uma nova
prisão para os militares acusados de participarem no maior desvio de armas da
história do Exército brasileiro.
O Ministério Público Militar também rechaçou as
prisões, além disso, apura se houve irregularidades durante o
"aquartelamento" da tropa. Os procuradores investigam se houve abusos
durante o impedimento de saída dos militares do quartel.
A medida é prevista pelo Exército em casos
excepcionais, mas a Procuradoria apura se ele foi aplicada de forma legal no
caso do furto das armas.
Segundo a TV Globo, militares chegaram a ter os
celulares confiscados, um cabo também relatou agressões durante investigação.
Os militares suspeitos de praticarem os abusos têm
patentes de soldado, cabo, sargento e tenente, segundo a advogada do cabo,
Patrícia Carvalho.
"A defesa recebeu as informações sobre as
agressões do próprio cabo, e que outros também teriam sido agredidos pelo mesmo
Capitão, segundo o cabo", informa trecho do comunicado enviado à
reportagem pela advogada.
Dentre os seis militares suspeitos de envolvimento
do furto, somente o cabo não está trabalhando atualmente no Arsenal de Guerra
em Barueri. Após faltar dois dias no trabalho, ele apresentou um atestado
psiquiátrico particular em 27 de outubro, quando foi ao quartel com sua
advogada. Atualmente está de licença médica de sete dias.
Ao todo, 13 metralhadoras antiaéreas calibre .50 e
oito metralhadoras calibre 7,62 furtadas do quartel. Digitais do cabo foram
encontradas nas armas, que estavam armazenadas em uma sala que ele não deveria
ter acesso.
O Inquérito Policial Militar (IPM) segue sob
sigilo. Nesta quarta, durante coletiva de imprensa, o Comando Militar do
Sudeste (CMSE) não comentou os pedidos de prisões preventivas.
"Nenhum militar foi preso preventivamente até
agora. Há apenas 19 prisões administrativas. Não há pressa para pedir prisões
preventivas e isso é uma estratégia de quem conduz o inquérito civil militar,
que tem 40 dias para ser concluído, podendo ser prorrogado por mais 20",
disse o general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado Maior do CMSE, aos
jornalistas.
General
investigado por fraude foi 25 vezes ao Planalto durante gestão Bolsonaro
Novas informações revelaram que o general da
reserva Paulo Assis, investigado sob suspeita de envolvimento em fraudes
durante a intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, visitou o Palácio
do Planalto 25 vezes durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
entre 2019 e 2022, levantando preocupações sobre sua possível interferência em
favor da empresa norte-americana CTU Security.
A “Operação Perfídia”, que investiga a compra de
coletes balísticos no gabinete de intervenção liderado pelo General da Reserva
Walter Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro, também investiga a suposta
participação de Assis no esquema – ele é suspeito de usar o nome de Braga Netto
para favorecer a CTU Security (empresa responsável pelo fornecimento dos coletes
durante a intervenção).
A investigação revelou que o Gabinete de
Intervenção emitiu uma carta de crédito de R$ 35,9 milhões para a CTU, mas a
empresa nunca entregou os coletes, pelo fato de o contrato ter sido suspenso
devido a suspeitas na documentação da companhia.
Cerca de seis dias após a suspensão do contrato,
Assis foi ao Palácio do Planalto com destino à Secretaria de Controle Interno
da Secretaria-Geral da Presidência.
No dia seguinte, os irmãos Glauco e Gláucio Guerra,
representantes da empresa norte-americana, voltaram a conversar sobre a atuação
do general da reserva.
Glauco afirmou ao irmão que o general lhe disse ter
falado com o parecerista do caso, Jorge Antônio Menezes, o questionando sobre a
necessidade de conversar com o então vice-presidente Hamilton Mourão, o então
presidente Bolsonaro ou o então ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni.
“Ele [Menezes]: ‘Não, não, general. Espera até
sexta. E graças a Deus o senhor veio aqui, que eu estava inclinado em dar um
parecer negativo’. Palavras do general para mim. E obviamente ele não vai
mentir. Ele esteve lá”, disse Glauco ao irmão.
Assis retornou à Secretaria de Controle Interno na
manhã do dia 13 de dezembro, onde ficou, segundo os registros do GSI, por 18
minutos. No mesmo dia, ele enviou mensagens a Glauco informando sobre a visita,
segundo o relatório da PF.
As conversas sobre as tentativas de reativar o
contrato se encerram em março de 2020, com a chegada da pandemia do novo
coronavírus no Brasil.
Questionado sobre o esquema, Assis não respondeu às
tentativas de contato, Braga Netto, por sua vez, se defendeu afirmando que os
contratos seguiram a lei brasileira.
Fonte: DCM/iG/O Cafezinho
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