Clubes
e atletas estão calados sobre a máfia das apostas
Dia sim e outro também, surgem novos jogadores
suspeitos de participar do esquema de manipulação de resultados. O Ministério
Público de Goiás, responsável pelas investigações, não para de surpreender a
sociedade com as suas denúncias.
Acrescente-se a isto uma Comissão Parlamentar de
Inquérito, instalada na Câmara dos Deputados, para ajudar na apuração dos
fatos.
O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, instado a se
pronunciar sobre o assunto, foi um tanto ou quanto escorregadio:
“Não é
acusação de um dirigente, não é de um presidente de clube, não é de um árbitro.
Isso está sendo de atletas. A CBF espera que tenha um rigor de quem está
fazendo as apurações. A CBF não tem poder de polícia e Justiça”, disse Ednaldo,
descartando a possibilidade de, por exemplo, suspender qualquer competição por
conta das comprovadas manipulações.
Da parte dos jogadores dos grandes clubes, poucas
vozes foram ouvidas sobre o escândalo. Veja quem se posicionou:
• Everton
Ribeiro:
“Estou muito triste, a gente luta tanto para chegar
nessa posição, sonhos de muitas crianças, somos exemplos… O futebol é um
esporte muito inclusivo, com responsabilidade. Precisamos cuidar do nosso
futebol, ter responsabilidade do que a gente faz. Triste. Espero que a gente
possa sair daqui com ensinamentos e ver o caminho certo a seguir”, disse o
flamenguista.
• Edu:
O cruzeirense, hoje emprestado ao Dibba, dos
Emirados Árabes, foi as redes sociais falar sobre o assunto. Segundo ele, é uma
vergonha para os jogadores tudo isso que está acontecendo:
“Vários
querendo uma oportunidade e vagabundo jogando a carreira no lixo! Respeitem e
aproveitem a oportunidade que Deus nos deu! Vergonha pra nós tudo isso que tá
acontecendo, pouco papo!”, postou o jogador.
• Ronaldo
Fenômeno:
Enquanto a maioria dos cartolas prefere ficar
calada, Ronaldo Fenômeno, dono do Cruzeiro, mostrou a sua indignação em
postagem nas redes sociais, afirmando que “não poderia deixar de me posicionar,
cex-jogador, acionista de dois clubes e entusiasta do futebol, é claro que me
entristece muito ver a história do esporte ser manchada dessa forma”, disse
Ronaldo.
• Silêncio
preocupante
O silêncio dos clubes e jogadores em relação à questão
da manipulação de resultados é um tema que tem gerado preocupação e
questionamentos por parte dos torcedores e da sociedade como um todo. A
manipulação de resultados é uma prática ilegal e prejudicial ao esporte, que
compromete a integridade das competições e a confiança dos fãs.
Em resumo, com essas raras exceções, predomina quase
um silêncio dos clubes e jogadores sobre a questão da manipulação de
resultados. E este é um problema que requer atenção e ação por parte de todos
os envolvidos no futebol.
É necessário criar um ambiente seguro e confiável
para denúncias, além de fortalecer os mecanismos de combate a essas práticas
ilegais.
STJD
suspende jogadores por suspeita de manipulação
O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD)
suspendeu, nesta sexta-feira (26/5), cinco jogadores de futebol acusados de
envolvimento em suposto esquema de manipulação de resultados de jogos com casas
de aposta. A suspensão ocorre de maneira preventiva e vale pelo prazo de 30
dias.
Dessa forma, ficam suspensos os seguintes atletas:
• Allan
Godói dos Santos, atleta à época da ocorrência dos fatos vinculados ao time
paranaense Operário;
• Paulo
Sérgio Marques Corrêa, atleta à época vinculado ao time paranaense Operário;
• André
Luiz Guimarães Siqueira júnior (André Queixo), atleta à época vinculado ao time
paulista Ituano;
• Mateus
da Silva Duarte (Mateusinho), atleta à época vinculado ao time mato-grossense
Cuiabá;
• Ygor
de Oliveira Ferrera (Ygor Catatau), atleta à época vinculado ao time maranhense
Sampaio Correa.
No documento obtido pelo Metrópoles, o presidente do
STJD, José Perdiz de Jesus, atende a pedido da Procuradoria-Geral Desportiva,
que apresentou a denúncia e requereu a suspensão preventiva dos atletas pelo
período máximo permitido em lei.
“Os fatos são
gravíssimos e repercutem com enormes prejuízos ao desporto nacional, sendo
plenamente justificadas as razões que autorizam a medida excepcional de
suspensão preventiva de todos os cinco atletas denunciados, acima nominados,
pelo prazo máximo de 30 dias, conforme previsto na legislação”, decidiu o
presidente do STJD.
A denúncia se embasou no artigo nº 35 do Código
Brasileiro de Justiça Desportiva, que prevê suspensão preventiva quando a
gravidade do ato ou fato infracional a justifique, desde que requerida pela
Procuradoria ou quando expressamente determinado por lei ou por este Código.
A decisão do STJD toma como base a suspeita de um
combinado para cometimento de penalidades, em uma partida do Sampaio Corrêa
contra o Londrina, pela 38ª rodada, da Série B. A suspensão teria se embasado
na gravidade dos fatos e na força das provas, uma vez que os jogadores também
são suspeitos de atuarem como aliciadores de outros atletas.
Entenda a situação
O aliciamento de jogadores por casas de aposta tem
sido investigado pela Operação Penalidade Máxima II, do Ministério Público de
Goiás (MPGO). Até o momento, o órgão ministerial denunciou 16 pessoas por
fraudes por manipulação de resultados em 13 partidas de futebol: oito do
Campeonato Brasileiro da Série A de 2022, um da Série B de 2022 e quatro de
campeonatos estaduais realizados em 2023.
MPGO aponta fatos criminosos ocorridos durante as
partidas, nas quais jogadores se comprometeram a cometer faltas para receber
cartões e a cometer pênaltis. A organização criminosa visava apostar nos
resultados e em eventos induzidos, obtendo, assim, elevados ganhos.
Especialistas
comparam Operação Penalidade Máxima com Máfia do Apito
Esta semana, mostramos aqui na coluna que o modus
operandi dessa quadrilha que manipula resultados para se beneficiar com as
apostas online não é novidade no mundo do crime.
Algo semelhante já ocupou as manchetes dos meios de
comunicação em 2004, num escândalo que ficou conhecido como a Máfia do Apito,
em que árbitros recebiam dinheiro para beneficiar apostadores.
De acordo com as investigações, os árbitros
envolvidos interferiram nos resultados de pelo menos 11 jogos do Brasileirão, e
todos eles foram cancelados e disputados novamente.
A coluna Futebol Etc ouviu especialistas para
comparar os dois crimes. O primeiro deles, Felipe Crisafulli, advogado
especializado em Direito Desportivo do escritório Ambiel Advogados, entende que
“existe algumas semelhanças entre ambos os escândalos. Porém, enquanto há 18
anos eram árbitros fazendo esse trabalho sujo, o esquema atualmente sob
investigação e objeto de denúncia do Ministério Público de Goiás envolveu, até
onde se tem notícia, apenas jogadores de futebol, ou seja, somente atletas
receberam promessas ou vantagens patrimoniais com vista a, de alguma maneira, alterar
o resultado das partidas – no caso, receber cartão (amarelo ou vermelho) ou
cometer pênaltis”, ressaltou.
Na mesma linha, Fabiano Jantalia, advogado
especializado em Direito dos Jogos e sócio-fundador do escritório Jantalia
Advogados, disse à coluna que há um ponto em comum, que é o objetivo de obter
proveito ilícito das apostas mediante a manipulação de resultados de jogos.
“De certo modo, é possível afirmar que o suposto
esquema atual de manipulação é até mais grave do que o da máfia do apito. Primeiro,
porque há uma quantidade muito maior de agentes envolvidos. Segundo, porque as
acusações recaem sobre jogadores, que são, no final das contas, os principais
personagens do jogo. E terceiro porque, justamente por envolver os jogadores,
podemos estar diante de algo muito mais disseminado do que se viu no episódio
da Máfia doAapito”, destacou Fabiano Jantalia.
• Sobre
punições
Na próxima semana será instalada uma Comissão
Parlamentar de Inquérito na Câmara dos Deputados para tentar encontrar os responsáveis
por esse esquema de manipulação. Já há também, por determinação do Ministério
da Justiça, o envolvimento da Polícia Federal na investigação das denúncias.
Os dois especialistas ouvidos com exclusividade pela
coluna também deram opiniões sobre as possíveis punições que deve ser aplicadas
aos corruptos e corruptores.
“As principais sanções seriam nos âmbitos esportivo,
trabalhista e criminal. Do ponto de vista esportivo, as punições para os
atletas podem se dar de acordo com o art. 243, § 1º (pena: suspensão de 360 a
720 dias e multa de R$ 100,00 a R$ 100.000,00)… A depender da gravidade da
infração, a CBF pode solicitar à Fifa a extensão, em âmbito mundial, da sanção
imposta. Além disso, se a conduta for praticada por dirigente (o que, por ora,
não é o caso na Operação Penalidade Máxima), o clube fica sujeito a multa e,
havendo gravidade, pode até mesmo ser excluído da competição, rebaixado, perder
pontos ou ter de devolver prêmios já recebidos”, diz o advogado Felipe
Crisafulli.
Fabiano Jantalia entende que os apostadores que
aliciaram os jogadores podem ser enquadrados pelo Ministério Público no art.
41-D do Estatuto do Torcedor, que tipifica como crime a conduta de “dar ou
prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear
o resultado de uma competição desportiva ou evento a ela associado”.
“Já os jogadores podem, em tese, ser enquadrados no
art. 41-C do Estatuto do Torcedor, que tipifica a conduta de solicitar ou
aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial
ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear
o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado”, afirma
Jantalia.
A pena para ambos os crimes, segundo o especialista,
é de reclusão de dois a seis anos.
“Não se pode, no entanto, descartar a possibilidade
de que o MP considere que se está diante de uma organização criminosa. Nesse
caso, os envolvidos poderiam responder também por esse tipo penal… Quanto aos
clubes, não temos até agora nenhum elemento que aponte seu envolvimento no
suposto esquema. Pelo contrário: em tese, as informações até aqui divulgadas
apontam na direção de que os clubes teriam sido vítimas da conduta de
jogadores, podendo ter sofrido não apenas prejuízos esportivos como também
prejuízos financeiros”, concluiu o advogado.
Viciado
em jogo de azar, atleta apostou 13 vezes contra próprio time
Ivan Toney, jogador do Brentford, foi suspenso pela
Associação de Futebol da Inglaterra (FA, na sigla em inglês) na última semana
após infringir 232 vezes o código de conduta que proíbe atletas de apostarem,
no período entre 25 de fevereiro de 2017 e 23 de janeiro de 2021 - cinco
temporadas, no total.
Nesta sexta-feira (26), a entidade divulgou a
decisão de um comissão reguladora independente sobre o caso, no qual indica que
o atacante apostou 13 vezes na derrota de seu próprio time.
Das 232 apostas que Toney admitiu terem sido
realizadas, 126 aconteceram em competições que o time do jogador participou
naquela temporada - Campeonato Inglês, Copa da Inglaterra e Copa da Liga
Inglesa, por exemplo. Destas, 29 foram direcionadas para o clube que o atacante
estava inscrito ou emprestado à época.
Das 29 apostas no resultado do jogo, em 16 Toney
apostou que seu time venceria. Ele veio a atuar em 11 destas partidas e esteve
no banco de reservas em outra ocasião. O caso mais chocante são as 13 apostas
restantes, no qual o atacante apostou na derrota do seu próprio time.
Segundo o relatório, Toney realizou 11 apostas em
jogos do Newcastle, entre 2017 e 2018, quando ainda tinha vínculo com o clube,
mas estava emprestado ao Wigan. Outras duas apostas, que totalizam as 13 que o
atacante foi considerado culpado, ocorreram no duelo Wigan x Aston Villa, em
2017, pela segunda divisão do Inglês. A partida terminou com a vitória dos
visitantes, resultado que favoreceu o atacante na aposta. Toney ficou fora
desta partida.
Ainda há outras 21 apostas, realizadas por Toney,
para que ele próprio ou outros jogadores marcassem gols nas partidas em
questão. De acordo com a FA, estas, somadas às 29 em resultados dos duelos,
foram as consideradas mais graves ao longo da investigação.
"O presente caso não envolve manipulação de
resultados. Se fosse, as acusações teriam sido processadas sob disposições
diferentes. Não há evidências de que o Sr. Toney tenha feito ou mesmo estivesse
em posição de influenciar seu próprio time a perder quando ele fez apostas
contra a vitória deles - ele não estava no time ou elegível para jogar no
momento, conforme explicado", aponta a decisão da FA.
"A proibição de apostas no futebol pelos
participantes (jogadores, treinadores e dirigentes) é necessária para proteger
a integridade do jogo e manter a confiança do público no esporte A percepção do
impacto das apostas de futebol na integridade do jogo é uma consideração
importante ao decidir sobre uma sanção", completou a entidade.
Nos depoimentos de Toney à FA, ele admitiu que
utilizou contas de terceiros para realizar as apostas em plataformas na
internet No entanto, afirma que não tinha conhecimento da impossibilidade de
apostar até 2018, quando defendia o Peterborough. "Vocês (FA) costumavam
vir a Peterborough quando eu estava lá para dizer que não podemos apostar no
futebol", disse o atacante.
"Eu me recordo de assistir a um vídeo e, naquele
momento (no Brentford), eu passei a reconhecer que havia um prolema nas apostas
que havia realizado nas partidas de futebol", apontou. Toney também
admitiu que mentiu durante as investigações. Em outubro de 2022, afirmou que
nunca havia realizado em apostas em partidas de futebol.
• Vício
em apostas
Durante o julgamento, a FA chegou a considerar que
Toney fosse suspenso por, no mínimo, 12 meses. Um dos pontos levados em
consideração para a redução da pena, atualmente em oito meses de suspensão e
multa de 50 mil libras (cerca de R$ 308 mil), foi o fato de que Toney foi
diagnosticado com vício compulsivo em jogos de azar.
Philip Hopley, médico e consultor psiquiatra, foi
ouvido pela FA e conversou com Toney em duas ocasiões nos últimos meses. Em
conclusão, afirmou que o jogador tem um histórico de vício em apostas e é
necessário que o atacante busque ajuda profissional para iniciar um tratamento.
De acordo com o manifesto, Toney está a disposto a buscar auxílio.
O vício em jogos já é considerado como uma questão
de saúde pública no Reino Unido. Recentemente, os clubes do Campeonato Inglês
aceitaram retirar de seus uniformes qualquer menção a casas de apostas a partir
da temporada 2026/2027.
James Grimes, de 33 anos, é o fundador do The Big
Step, cuja finalidade é promover debates para o fim dos patrocínios de casas de
apostas no futebol inglês. A ação já conta com o apoio de 30 clubes do futebol
inglês. Ao Estadão, revelou que viveu um drama pessoal semelhante ao de Toney
com vício em jogos.
"Supõe-se que este (o esporte) seja um lugar
que forneça saúde, que fortaleça a comunidade, que forneça segurança, que
proporcione diversão. Ele não deveria ser usado para promover algo que sabemos
que destrói todas essas coisas", afirma. Na última temporada do Campeonato
Inglês, 19 dos clubes tinham acordo com alguma casa de apostas. Oito destes,
incluindo o Brentford, estampavam sua marca no patrocínio central do uniforme.
• Manifestação
de Toney e Brentford
Ivan Toney e Brentford se manifestaram nesta
sexta-feira (26), após vir a público a decisão completa da FA. Ambos aceitaram
a punição. Por meio de suas redes sociais, e o jogador apenas afirmou que
"irá se pronunciar em breve, sem filtros".
Já o clube teve uma postura de defender seu atleta,
ao citar que, de acordo com a análise, Toney não impactou em nenhum dos eventos
que apostou e espera receber o jogador de volta ao elenco ao fim da suspensão.
Toney poderá voltar a treinar com Brentford nos
últimos quatro meses de sua suspensão, que se encerra no dia 16 de janeiro de 2024.
Ele não é o primeiro jogador de futebol proeminente a ser penalizado por violar
as regras do jogo. Em 2017, o ex-meio-campista do Manchester City e do
Newcastle, Joey Barton, foi punido por 18 meses em 2017 depois de admitir ter
feito 1 260 apostas relacionadas ao futebol durante um período de mais de dez
anos.
Nesta temporada, Toney disputou 36 jogos pelo time
inglês, com 21 gols e cinco assistências. Ele chegou a ser convocado pela
seleção inglesa para as Eliminatórias da Eurocopa, em março.
Fonte: Metrópoles/Agencia Estado
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