domingo, 26 de fevereiro de 2017

A alegoria do turbante no Carnaval de racismo. Por Joanna Burigo

“É Carnaval, é a doce ilusão, é promessa de vida no meu coração.”

Assim começa um dos mais conhecidos sambas-enredo da Mangueira, de 1992, quando a escola homenageou Jobim. Mas o tema deste texto não é Tom, nem a Estação Primeira ou sequer o Carnaval, e se menciono a efeméride é tão somente por oportunismo sazonal, como metalinguagem a partir da qual viso direcionar este argumento.
Alegorias, no contexto carnavalesco, são representações feitas por meio de adereços ou ornamentações que servem para ilustrar os enredos das escolas de samba.
Em 2007, o tema da Unidos da Tijuca foi fotografia, e um dos carros alegóricos da escola trazia a figura de um diabo, que certos povos acreditam ser ladrão de almas fotografadas.
O carro pegou fogo em pleno desfile das campeãs daquele ano, e a interpretação supersticiosa do incêndio sugere que foi a representação do diabo o que gerou o inferno temporário.
Mas nem o fogo assegura que o diabo representado seja de fato um diabo, e não deixa de ser uma coincidência irônica que a falha mecânica que o causou tenha acontecido justamente naquele carro. Se o incêndio tivesse ocorrido em qualquer outro, a interpretação supersticiosa talvez nem existisse, visto que o que a engendrou foi o signo “diabo”.
Escrevi sobre este fato para exemplificar a separação que existe entre um objeto real, material e concreto, sua existência e usos enquanto signo, e os significados atrelados a tudo isso. No caso do diabo, excepcionalmente, não posso afirmar que ele exista real, material e concretamente; mas é facilmente constatável que diabos existem como signos, visto que representações diabólicas abundam.
Estes signos – meras imagens do diabo – evocam desde a presença do mal até indiferença pura e simples, dependendo das interpretações de quem os vê. O diabo pode ou não existir, mas não está em questão a existência de signos o representando, nem que eles servem de alegorias para um sem-fim de interpretações distintas, seja almas roubadas, piromania ou danação eterna.
Na lógica e na linguística, alegorias são figuras da retórica, dispositivos cuja função é possibilitar que uma coisa denote outra. Alegorias podem ser entendidas como signos que transmitem significados outros que não o literal, ou original, atribuídos a ele.
Assim, podemos pensar em alegorias como a utilização de certos signos enquanto símbolos de significados para aquém e além de significações preexistentes.
Venho ensaiando versões deste mesmo texto desde o começo do mês, quando uma altercação entre amigas me pôs a pensar nas formas com que estruturas sociais afetam as relações de foro íntimo, onde opressão e sofrimento são frequentemente disputados como se fossem equivalentes (geralmente por quem não passa por experiências da opressão em debate).
É fácil conceber que desafetos entre amigos não necessariamente se deem a partir de um ato descaradamente opressor. Mas eles acontecem bastante, e bastante por conta de ruídos interpretativos em relação aos signos que carregam os significados referentes à opressão em debate.
Estes signos são frequentemente trazidos para discussões como alegorias da opressão em debate. Estas alegorias não são a opressão em si, mas sim exemplos da miríade de formas com que ela se apresenta para quem não tem escolha a não ser lidar com ela.
Logo depois disso o que pegou fogo foi a Internet, com discussões sobre um turbante. As altercações produzidas online sobre o tema me instigaram ainda mais a pensar sobre as formas com que certos signos viram alegorias para disputas que se dão a partir de não equivalências sobre seus significados – por vezes resistência a opressões estruturais; por outras, direitos individuais.
Tanto na altercação privada entre amigas quanto na pública, minha impressão é que desafetos foram causados porque os debates estavam acontecendo em “frequências” diferentes. Os significados dos signos que serviram como alegoria para ilustrar a opressão, e assim situar o debate, eram diferentes para as partes envolvidas.
A opressão não é a alegoria; a alegoria ilustra a opressão. Infelizmente as opressões estruturais e estruturantes da sociedade também estruturam nossos pensamentos e modos de ação. Isso acaba por fazer com que os significados de certos signos alegóricos de uma opressão específica não sejam compartilhados de formas equânimes entre as pessoas que sofrem e as que não sofrem com ela.
Acredito que quem não sofre uma opressão estrutural específica deve fazer maior esforço para compreender os significados dos signos que servem como alegoria para que quem dela sofra possa melhor explica-la. Esse esforço pode ser feito por meio de uma atitude – que, ao que tudo indica, parece ser menos simples do que é: a escuta.
Não é a primeira vez que o turbante, objeto do vestuário cujo signo tem múltiplos significados oriundos de diversos tempos e culturas, serviu de alegoria para discussões acerca de apropriação cultural e lugar de fala – e também sobre privilégios, violências, ditames, proibições, moralismo e as armadilhas da linguagem e do inconsciente.
Em respeito à leitora e às pessoas que tratam destes temas com mais propriedade e competência do que eu, este texto não se debruça em nenhum deles, e serve apenas como registro de observações das formas com que estes conceitos foram disputados a partir do turbante como alegoria.
Formas estas que foram amplamente discutidas em detrimento da significação da alegoria do turbante, nesta discussão, por parte daquelas para quem ele tem fortes significados políticos e sacrossantos, que era: racismo.
Outro exemplo – e este também um item de indumentária usado como alegoria para debates acirrados na internet, quando uma opressão estrutural foi confundida com direitos individuais – foi o caso do shortinho.
Em 2016 alunas de uma escola particular de Porto Alegre fizeram uma petição pelo direito ao uso de shorts em sala de aula. Na época o fato foi vastamente discutido com ignorância, empáfia e viés moralizante, afinal escola não é lugar para contendas sobre comprimento de roupas.
O que parece ter escapado – ou jamais entrado? – na mente de vários comentaristas era que a petição das gurias denunciava os dois pesos e duas medidas com que proibições acerca de roupas afetam a liberdade dependendo do gênero das pessoas.
Para muita gente, roupas curtas são signos que significam disponibilidade sexual. O feminismo sustenta que o único signo que significa disponibilidade sexual é o consentimento. O debate, portanto, nunca foi sobre o shortinho, mas sim sobre o que ele representa.
O shortinho da petição serviu como alegoria para a discussão sobre a autonomia de vestir o que quiser sem abrir precedentes para violência sexual. O turbante, de alegoria para a discussão sobre a autonomia de usar o que quiser sem abrir precedentes para violência racial.
É difícil imaginar que quem não sofre violência sexual por causa de certas roupas vá fazer um manifesto pelo direito de usa-las. Ainda assim, um manifesto pelo direito de usar turbantes por parte de quem não sofre violência racial por causa dele foi estrela de discussões online no mês de fevereiro.
Um factoide gerado no Facebook por uma mulher branca foi rapidamente captado por um veículo da grande mídia, hegemonicamente branca, e promoveu discussões ocas, porém não inócuas, entre muita gente branca.
A ficção de mulheres negras interpelando uma mulher branca para exigir que esta removesse o adereço – que usava por conta do tratamento para sua leucemia nada ficcional – na internet tomou caráter de verdade absoluta, e abriu comportas para uma verdadeira enxurrada de posições racistas – e pior: por parte de gente que, além de nem usar turbantes, sabe muito pouco sobre seus significados.
Racismo e machismo são parecidos no seu caráter estrutural. Onde há homens, há disparidade de gênero em detrimento das mulheres. Onde há brancos, há disparidade racial em detrimento dos negros. É incontestável que a sociedade é machista e racista, e pouca gente não admite isso. Por que então insistimos tanto em disputar o que é ou não racismo e machismo justamente com as pessoas que sofrem racismo e machismo?
Reclamar de críticas estruturais a partir da própria interpretação, sem entender nem a crítica nem a estrutura, faz parecer que o que as pessoas não admitem é quando apontamos o machismo e o racismo delas.
Aceitar que podemos ser machistas ou racistas não é sabotar as lutas feministas e antirracistas, mas sim reconhecer que estas opressões estruturais são formativas, e que somente podemos escapar da nossa condição de perpetuadores delas se as enxergarmos.
Para conseguir entender, é preciso estar disposto a ouvir. Para aprender, é preciso considerar que há algo a ser ensinado. Quando se trata de um conhecimento que não se tem, procura-se quem detenha aquele conhecimento. Quando se trata de uma experiência que não se tem, busca-se quem tenha aquela experiência.
No caso do feminismo e da luta antirracista, é impressionante a velocidade com que se deslegitima tanto quem tem a experiência quanto quem tem o conhecimento sobre estas opressões – mesmo quando uma mesma pessoa congrega as duas coisas, o que não é raro.
Passado o “carnaval” de racismo feito em cima do turbante como alegoria, fica esperança de que a promessa que guardo no coração, de maior entendimento acerca de opressões estruturais a partir do conhecimento que existe sobre o tema, não seja apenas doce ilusão.

E para que debates futuros não virem folia, que nos perguntemos: como reagimos quando apontam nossos preconceitos?

O mito do 'investidor estrangeiro'. Por André Araújo

Alan Greenspan, o "maestro" do Federal Reserve System por 18 anos, passava horas na banheira lendo estatísticas da economia real: geladeiras, iogurte, pneus, caminhões, pão de hambúrguer, todos dados da vida das pessoas lhe interessam. Tinha especial fixação por telhados, quantos telhados  foram vendidos na semana (nos EUA a construção se faz por conjuntos e não por peças). Era por estes indicadores que Greenspan tirava o pulso da economia que importava. Greenspan, que está com 90 anos, proporcionou o maior período contínuo de prosperidade dos EUA no pós-guerra, embora lhe atribuam culpa da crise de 2008, decorrência exatamente do excesso de confiança nessa prosperidade longa demais.
No Brasil, no oceano de ignorância sobre economia que domina a grande mídia, os únicos indicadores valorizados são os de câmbio e bolsa. Os comentaristas da Globonews são os mais rasos, para eles a economia se resume em câmbio e bolsa e, nesta última, o que interessa é o mítico "investidor estrangeiro". O padrão se repete em outras mídias, como a Jovem Pan, onde sua comentarista só conhece câmbio e bolsa, a economia se resume nisso. Na Globonews o comentarista  Donny di Nuccio, a qualquer observação sobre economia, replica "Ah, mas a bolsa subiu". Pronto, esta é para eles TODA a economia.  Na FOLHA de 19 de fevereiro de 2017, pag. A 23, um artigo "Mercado especula melhor nota do Brasil" mostra  esse viés de considerar o mercado financeiro como único indicador da economia brasileira.
No passado longínquo do início da mídia econômica no Brasil, com o jornal Observador Econômico e Financeiro, a revista BANAS, os temas eram a produção de café, de cana, de aço, de cimento, de tijolos, de telhas, cacau, de sisal, de construção de rodovias, usinas, aeroportos, havia comentaristas especializados em agropecuária, como Mario Mazzei Guimarães, comentava-se com detalhes e atenção a produção de carne e de leite, de tubos de ferro e de concreto para saneamento, de tecidos de algodão, de farinha de trigo. Economia é isso e o Brasil só crescerá quando esses fatores voltarem a ser o centro da economia como foram nos anos, em que o Brasil cresceu e se tornou a 5ª economia do mundo, saindo de um País essencialmente agrícola para um país industrial no pós-guerra.
A partir do Plano Real e com o domínio dos "economistas de mercado" sobre a política econômica, fixou-se que a única coisa que faz andar a economia é a bolsa e, nesta, o "investidor estrangeiro", se ele não aparecer  afunda a economia, se ele trouxer dinheiro para cá, está tudo indo bem na economia  Esse mítico "investidor " é o único que os "economistas de mercado" conhecem, os fundos de investimento estrangeiros tipo BlackRock, Fidelity, Templeton que operam no Brasil via parceiros daqui e com isso garantem empregos para alguns desses "economistas de mercado",  eles são as únicas fontes de informação da mídia conservadora, que é quase toda a imprensa, rádio e tv.
Ao usar exclusivamente essa régua, os comentaristas esquecem da enorme "economia real" do País, onde está o crescimento, o emprego, a produção e o dinamismo do processo que faz as famílias sobreviverem e ter perspectivas de futuro para seus filhos.
Ao comentar câmbio e bolsa, os comentaristas da mídia oficialista tampouco aprofundam a informação. O dólar está caindo quando devia subir? Porque? Onde está a análise? Nunca vi nesses comentaristas qualquer menção ao centro do problema do câmbio, a política cambial do Banco Central, que é a de intervenção "suja" (não declarada)  e que em 2016 foi o motivo central para a derrubada do dólar, a um custo estratosférico, só no primeiro semestre de 2016 os swaps cambiais deram perda de R$ 207 bilhões ao Banco Central, mais que todo o déficit do orçamento federal que os "economistas de mercado" consideram o maior problema do Brasil. Sobre esse custo monumental nunca ouvi um mísero comentário dos jornalistas de economia da grande mídia, em primeiro lugar porque não correlacionam cotação do dólar com política cambial e, em segundo, se conhecem o "background" não convém comentar porque isso seria uma crítica ao Banco Central, que eles respeitam como o Vaticano da moeda, infalível e inatingível.
Não comentam, ou só falam marginalmente, do "carry trade", dinheiro emprestado nos EUA a 2% ao ano e aplicado aqui em títulos do Tesouro a 13%, além do lucro do diferencial de juros. Desde que começou a gestão da atual equipe econômica, esse tipo de especuladores levou para casa também o lucro cambial fantástico, dólar que entra a 3,60 e volta a 3,10 graças à generosidade do Banco Central, mas quem e porque comanda este espetáculo? Aguardam-se análises dos comentaristas da grande imprensa. Muita coisa que circula no mercado por alguma razão a imprensa não reporta e são fatos importantes da economia.
Além da atuação catastrófica do Banco Central para empurrar o dólar para baixo visando "trazer a inflação para o centro da meta" há outro personagem que os comentaristas da Globonews veneram: o "investidor estrangeiro". Quem é ele?
O "investidor estrangeiro" é o mesmo personagem mítico que na Itália devastada pela miséria no imediato pós-guerra via no "turista americano". Nos escombros de Nápoles, um "turista americano" era visto como salvador do almoço do dia. A mesma cafonice impera na fala dos comentaristas ignorantes de hoje. Veem no "investidor estrangeiro" a salvação do Brasil sem realmente saber que é esse Mandrake que é tão reverenciado como fiel da balança da nossa estagnada economia.
O "investidor estrangeiro" de hoje, adorado pela Globonews, é um fundo especulativo da pior espécie que entra e sai da bolsa e das apostas em juros e índices, é o mais destrutivo tipo, o mais deletério, o mais inútil dos personagens em uma economia em desintegração de seus reais fatores de crescimento, o investimento privado nacional das pequenas e médias empresas que anseiam por crescer e que tem hoje tais limitações que muitas definham e morrem, para essas o BNDES abre linhas de crédito que só uma carta de fiança do Banco Rothschild pode atender em termos de garantia, higidez de balanço e certidões fiscais.
Tampouco chama a atenção a falta do fundamental investimento público, primeira vítima do ajuste fiscal "à outrance" e cuja falta é uma das causas da recessão.
 Fundos abutres e especulativos cujo modelo universal é o padrão Soros (Quantum Fund) são hoje o arroz com feijão da bolsa brasileira, é para eles que se pratica toda política cambial, não é para o exportador de soja, de frango e de carne bovina, o alvo a agradar é o fundo especulativo de Nova York, fundos esses que produziram 49 bilionários na lista da revista FORBES, que vivem exclusivamente de especulação e o Brasil é um dos seus territórios preferidos porque garante saída livre sem questionamentos, o capital entra e sai como um turista do Carnaval carioca. Uma porta rotatória que gira sem parar.
Quando entra o "investidor estrangeiro" fundo especulativo, soltam rojões, mas quando sai "boca fechada", não é noticia. O mercado de câmbio no Brasil é inteiramente livre, entra e sai como e quando quiser, o investimento financeiro pode sair no mesmo dia em que seus donos decidem, bastam cliques de botão de computador. Já o investimento produtivo, em fábricas, não pode sair rápido e fácil, é preciso vender os ativos, fazer caixa para depois remeter, isso leva meses ou anos. Então o investimento produtivo é sólido, é o que interessa ao País, por isso a separação conceitual entre o financeiro e o produtivo é fundamental, nada disso é sequer de leve noticiado e muito menos analisado. A conexão do "sistema" Banco Central + mercado financeiro (uma coisa só) é exclusivo com Wall Street e não com os polos de economia produtiva dos grandes países.
O "investimento direto no Pais" IDP, tratado com tapete vermelho, quem é ele?
Quase todo IDP que chega é para COMPRA de empresas no Brasil, não é para novas fábricas, usinas ou shoppings. A razão? Como a economia está em recessão, causada pela política monetária recessiva do BC, o preço dos ativos no Brasil caiu muito, os empresários nacionais estão vendendo suas empresas e negócios,  além de venda de concessões, privatizações e demais ativos, muitas vezes para pagar dívidas, como os das empreiteiras alvos da Lava Jato, que estão vendendo bens acumulados ao longo de décadas. O BC e seus porta vozes na mídia comemoram essas entradas que têm um efeito econômico perverso, esses IDP serão base futura de remessas de dividendos e lucros, o chamado PASSIVO EXTERNO do País, soma dos IDP mais dívida externa pública e privada mais contratos de leasing que são outra forma de passivo. O estoque registrado no BC já chega perto de  UM TRILHÃO DE DÓLARES, um valor tão grande como o da dívida pública interna, todo esse passivo exige serviço de juros, dividendos, lucros ou parcelas de leasing, uma hipoteca sobre o País que exige cada vez divisas para remessas.
A conta de "serviços" está ficando perigosamente alta e nela estão as remessas de juros, dividendos, leasing e royalties. Em 2016, todo o saldo da balança comercial, US$ 45 bilhões, não foi suficiente para pagar as remessas, ainda faltaram US$ 24 bilhões, que foram cobertos pelas entradas do  investimento direto, mas isso significa vender a casa para pagar o almoço. O IDP entra e forma base de novas remessas futuras e o valor dele é gasto para sempre, estamos trocando ativos do País por despesas que nunca mais voltam, quando entra o IDP tudo é festa mas depois ele serve de motor para novas remessas eternas.
Ao contrário do período pré-Plano Real, o BC não informa ao público, embora sejam números disponíveis para especialistas, qual é o passivo externo, qual é a dívida pública externa e a dívida privada externa do País. NINGUÉM COMENTA esses dados cruciais, muito mais importantes do que quanto gasta turista no exterior no mês, dado de escassa relevância a não ser para mostrar que o dólar está barato demais e está sendo esbanjado nos outlets de Miami.
O que importa são DADOS MACRO do passivo externo, que ninguém comenta e são esses o dados importantes e não números pontuais mensais disto ou daquilo.
A dívida externa pública, que inclui Petrobras, BNDES e Banco do Brasil e as demais estatais, mesmo sem garantia formal, a divida externa de estatal implica em responsabilidade implícita da União, a dívida pública privada também afeta o risco País pois se um grande banco ou corporação privada deixa de pagar um compromisso de imediato acende luz vermelha sobre todo o risco País, hoje a DÍVIDA EXTERNA PRIVADA é considerável, são esses os dados cruciais da economia MACRO e não o que os brazucas gastam em Miami em Janeiro ou o que os estrangeiros gastam aqui no Carnaval, temas muito comentados em toda a mídia como se isso fosse de enorme importância.
E o exemplo dos dólares da China para pagar a compra da CPFL e da ENEL italiana para pagar a compra da CELG,  entradas recentes, não geram um único emprego no Brasil, ao contrário, quem compra geralmente faz um enxugamento no quadro do pessoal. Mais ainda, essas compras exigirão remessas já em 2018, um ativo que até então não gerava gasto externo de divisas, agora passa a ser fonte de remessa.
Tampouco se informa o RETORNO de capital investido, só o que entra, pode até haver déficit na conta de investimentos do exterior, o que não se explicita para chamar a atenção apenas para a entrada e não para a saída de capital com o intuito de demonstrar a "confiança na política econômica", operação que conta com toda a colaboração da mídia apoiadora da máxima  "o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde". Sem essa visão global não vale nada dizer o que entrou em Janeiro.
Para mostrar a montanha de equívocos que se informa a população, a agência Fitch, uma das três agencias globais de rating, já anunciou que pode rebaixar a nota do Brasil, que já está dois graus abaixo do nivel de investimento, "porque a economia não cresce". Isso é revelador! E não adianta desqualificar as agências, quando deram grau de investimento se soltaram rojões na Av.Faria Lima em SP e na Rua Dias Ferreira no Leblon, catedrais dos "economistas de mercado" e suas gestoras de fortunas, a "turma da bolsa".
A Standard & Poor´s também mantém o viés negativo, não se impressionam com resultados mensais. Com todas as vitórias cantadas em prosa e verso pela mídia mistificadora como porta voz da equipe econômica, as agências não se deixam enganar, "onde está o crescimento?" As agências têm um olhar de longo prazo sobre a estabilidade do País, uma mega recessão com enorme desemprego mostra instabilidade política e social futura ou o BC acha que só tratar da inflação é suficiente?
Todo esse foco no "investidor estrangeiro" quase 100% de fundos e não de empresas da produção é um vício inacreditável da mídia brasileira. Porque não se interessam no crescimento ou fechamento das milhares de médias empresas do interior, são essas que realmente empregam gente, que geram riqueza sólida, que dão lastro à economia e que podem tirar o pais da recessão, não é o fundo BlackRock e nem o fundo Templeton, esses compram ações velhas que acham baratas visando vendê-las daqui a seis meses e levar o lucro de volta, não criam um mísero emprego e nem tem essa vocação.
Boa parte do investimento que entra é especulativo, a economia não cresce, o PIB de 2016 vai registrar queda de, 4,3%, em cima de 3,8% de 2015, não adianta as vanglórias do BC, podem enganar os daqui mas não engana os de fora. O Brasil não cresce por causa da política recessiva do BC, para as agências de rating não adianta nada "a inflação no centro da meta", se outros fatores centrais da economia indicam problemas de maior dificuldade de solução com a retração do PIB e o altíssimo desemprego, maior entre todos os países BRIC.
O que vale é crescimento com ou sem inflação, esse é o valor real do mundo real, fora das planilhas, é o crescimento que atrai capital ótimo e dinamizador, aliado do País a longo prazo.
O investidor que secularmente fez o crescimento brasileiro não é o estrangeiro. O Brasil se desenvolveu realmente de 1930 até 1980, 50 anos, quando o crescimento médio  foi o maior do mundo entre todos os países. O Brasil cresceu pelo seus empreendedores que construíram fábricas, mesmo com inflação e déficits enormes do orçamento federal, nasceram linhas de ônibus interestaduais, fazendas de café, cana, soja, gado, armazéns beneficiadores de grãos, empresas engarrafadoras de gás de cozinha, fábricas de doces, de bebidas, de massas, retíficas de motores, indústrias mecânicas, de material elétrico, fiação e tecelagem de algodão, de seda, cerâmicas, olarias, fábricas de enxadas e arados,  sem falar do imenso parque automotivo,  que inclui tratores, do parque de bens de capital, foi daí que surgiu o crescimento e os empregos do Brasil, de suas grandes empreiteiras que fizeram o maior parque hidroelétrico do mundo, da Petrobras em expansão permanente de 1955 a 1990.
O capital estrangeiro foi sempre subsidiário, importante mas nunca o eixo da economia brasileira, me referindo ao capital de produção, o capital financeiro, esse que a mídia gosta, jamais foi bom para o Brasil, aliás foi um aspirador de dinheiro para fora do Brasil.
Hoje a mídia econômica se esfrega nesse "investidor estrangeiro", roupa dentro da qual se disfarçam também muitos brasileiros que usam pessoas jurídicas de paraísos fiscais para ter maior proteção para seu capital aqui, portanto parte desse "investidor estrangeiro" é brasileiro disfarçado, um fato perfeitamente conhecido do mercado mas que a mídia tradicional jamais menciona, talvez porque alguns de seus personagens se enquadram no modelo.
A coluna econômica da grande imprensa só terá algum valor quando seus comentaristas começarem a falar de tijolos e azulejos, de produção de leite, de venda de pneus e de sapatos, esquecendo a miséria intelectual de "câmbio e bolsa" que vale tanto como palpite de jogo de futebol de 3ª divisão e principalmente quando deixarem de ser meras correias de transmissão de mensagens do boletim Focus e de suas "bocas de varal", os "economistas de mercado" sempre à disposição para entrevistas, do meio dia à meia noite, repetindo os mesmos bordões acríticos e dentro de uma cartilha ensaiada.
Uma nova cruzada do Ministro da Fazenda para se viabilizar como candidato à Presidência em 2018 espalha a noção de que "a recessão acabou" (entrevista de 22/02/2017 na Globonews) o que é um delírio, uma recessão de três anos não acaba em um mês, faltou avisar as 12 milhões de famílias dos desempregados que já podem ir correndo fazer compras de novas Tvs. Uma recessão acaba quando o desemprego cai de 12% para 5% e não há sinal algum de que isso esteja ocorrendo, MERCADO FINANCEIRO não é balizador de começo ou fim de recessão e é esse o único que o Ministro da Fazenda conhece, mas parece que parece que o Ministro está conseguindo convencer alguns jornalistas de que sua fantasia é real, mesmo com os índices de popularidade do Governo em níveis baixíssimos.

O debate de economia no Brasil precisa sair dos blogs corajosos e entrar na mídia tradicional, economia é hoje o fenômeno mais importante da vida da população que tem o direito de ser melhor informada sobre a realidade e não ouvir  narrativas montadas sobre o nada.

Matemo-nos uns aos outros! Por Luiz Ruffato

Após as marchas contra a presidente Dilma Rousseff no ano passado, que resultaram no golpe que a destituiu, o Movimento Brasil Livre (MBL) está convocando a população para uma nova manifestação, no dia 26 de março, desta vez tendo como uma das bandeiras principais o fim do Estatuto do Desarmamento. O Estatuto, em vigor desde dezembro de 2003, praticamente restringe a posse de armas aos integrantes das Forças Armadas, policiais civis, militares, federais e rodoviários federais, agentes de inteligência, agentes e guardas prisionais, auditores fiscais e agentes de segurança privada em serviço. O MBL defende a flexibilização desta lei, possibilitando que qualquer pessoa, em princípio, possa ser proprietária de uma arma de fogo.
O Mapa da Violência 2016, levantamento feito pela Flacso Brasil, concluiu que o Estatuto do Desarmamento evitou a morte de 133.987 pessoas entre 2004 e 2014. A taxa de crescimento de homicídios por arma de fogo, que vinha subindo, em média, 8,1% ao ano entre 1980 e 2003, caiu para 2,2% a partir da entrada em vigor da lei. O argumento de que mais armas em circulação inibiria os criminosos é contestado por especialistas. Daniel Cerqueira, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), citado pelo jornal O Globo, afirma que, após analisar estatísticas do Estado de São Paulo, concluiu que o aumento de 1% no número de armas resulta em crescimento de 2% no número de homicídios. ”A maior difusão de armas gera maior risco para a sociedade”, afirma.
Desde 2012, encontra-se em tramitação na Câmara, o projeto de lei 3722, de autoria do deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), que revoga o Estatuto do Desarmamento. Pela sua proposta, qualquer cidadão poderia andar armado, desde que cumprisse alguns requisitos, como ter mais de 25 anos, comprovar capacidade técnica e aptidão psicológica. O deputado argumenta que seu objetivo é “garantir o direito de legítima defesa”: “Caso as pessoas de bem não estejam treinadas para se proteger, os massacres vão ser cada vez mais comuns”.
O Brasil ostenta hoje, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o triste e vergonhoso título de 11º país no ranking de homicídios do mundo – 32,4 assassinatos por 100 mil habitantes – e o primeiro lugar em números absolutos. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2014 foram mortas 59,6 mil pessoas no Brasil, média de 164 homicídios por dia, ou seja, a cada doze minutos um brasileiro é assassinado. Deste total, 76% foram vítimas de armas de fogo – mesmo proibidas, as armas de fogo tiraram a vida de 45 mil pessoas. E o cenário poderia mostrar-se ainda muito pior: sem o Estatuto do Desarmamento, segundo a pesquisa, o número de homicídios seria 41% maior, o que equivale, portanto, a 22,8 mil vidas poupadas apenas naquele ano.
Então, devemos fazer uma pergunta simples: contra quem as “pessoas de bem” devem se armar para exercer seu “direito de legítima defesa”? O Atlas da Violência 2016 revela que os assassinatos por armas de fogo são seletivos: dependem do grau de instrução e cor da pele do indivíduo. Quase metade dos homens que morrem entre 15 e 29 anos são vítimas de homicídio. Um jovem de 21 anos, idade de pico dos assassinatos, e com menos de sete anos de estudo, tem 16,9 vezes mais chances de ter uma morte violenta do que aquele que chega ao ensino superior. E a possibilidade de jovens negros e pardos morrerem por homicídios são 147% maiores do que o de outros grupos étnicos. O estudo ainda aponta que, entre 2004 e 2014, houve um crescimento de 18,2% de homicídios contra negros e uma diminuição de 14,6% contra brancos. Além disso, levantamento do Anuário de Segurança Pública indica que ao menos oito pessoas morrem todo dia por conta de intervenção policial, somando cerca de três mil óbitos por ano, e as vítimas são sempre as mesmas: jovens moradores das periferias...

Advogar o armamento da população, em um país com esse absurdo perfil de violência, chega a ser irresponsável. É como pregar a inversão do preceito cristão - ao invés de “Amai-vos uns aos outros” assumiremos novo lema: “Matai-vos uns aos outros”.

Padilha inaugura puxadinho dos afastados. Por Tereza Cruvinel

Eliseu Padilha deve inaugurar o ministério paralelo dos afastados por envolvimento com a Lava Jato, um puxadinho protetor anunciado por Temer na semana passada: ministros citados ou investigados serão afastados temporariamente. Demissão, só para os que se tornarem réus, algo que dificilmente acontecerá durante seu mandato. Padilha pediu licença do cargo de ministro-chefe da Casa Civil para fazer uma cirurgia que estaria mesmo programada. Ele jura que volta mas, no curso da licença médica, devem ser divulgadas, pelo menos parcialmente, as delações da Odebrecht.
Padilha, muito provavelmente, passará da licença médica para o afastamento temporário, não retornando ao Planalto. Pelo menos outros quatro ministros devem lhe fazer companhia no puxadinho: Moreira Franco, Gilberto Kassab, Bruno Araujo e Marcos Pereira. As paredes do governo estão começando a rachar e Temer, mais isolado e só, será cada vez mais prisioneiro da coalizão parlamentar que, na ânsia para salvar-se da Lava Jato, já não liga para as aparências nem para o efeito nefasto da imposição de um nome como Osmar Serraglio para o ministério da Justiça.
José Serra pediu demissão do Itamaraty, alegando também motivos de saúde mas, como tem mandato, em vez do puxadinho, desfrutará do aconchego do Senado. Delatores teriam afirmado que ele recebeu R$ 23 milhões da empreiteira para sua campanha de 2010. Um chanceler com hérnia de disco realmente deve sofrer muito. Mas o vaidoso Serra sofreria muito mais se, confirmada sua citação por delatores, tivesse que se submeter ao humilhante afastamento temporário anunciado por Temer. O que ele vem anunciando é um retorno com grande disposição para o ativismo parlamentar. O puxadinho é bom para quem não tem mandato, como Moreira, Kassab e Marcos Pereira. Continuarão recebendo e tendo direito ao foro especial.
Já Padilha anunciou a licença médica horas depois que o melhor amigo de Temer, José Yunes, revelou em depoimento, prestado espontaneamente, ter sido usado como “mula” por Padilha, que em 2014 pediu-lhe para receber um pacote em seu escritório. A entrega foi feita pelo operador de Eduardo Cunha e companhia peemedebista, Lúcio Funaro, hoje preso. Yunes confirmou assim a delação do executivo Claudio Mello Filho, da Odebrecht, de que parte dos 10 milhões pedido à empreiteira por Temer foram entregues no escritório de Yunes.
Eduardo Cunha também havia incluído uma pergunta sobre esta operação de entrega naquela lista de questionamentos a Temer, como testemunha de defesa, vetada por Sérgio Moro. Se Padilha vai mesmo operar a próstata, como garantem os próximos, a cirurgia não vai acontecer durante o carnaval. O pedido de licença médica poderia ter ficado para depois, para quinta-feira, ou para a semana que vem. Padilha, tudo indica, fez uma retirada de emergência, antecipando a licença, antes que subissem os gritos pedindo sua cabeça.
Ao longo desta semana, o governo desgastou-se imensamente. Até mesmo quando ganhou, como na aprovação do nome de Alexandre de Moraes para o STF, ganhou perdendo. A indicação de um preposto acumpliciado com os investigados – como tão simbolicamente revelado pela magistral fotografia de Dida Sampaio, em que Moraes pisca para Edison Lobão durante a sabatina na CCJ do Senado – desnudou moralmente o governo, apequenou Temer, o Senado e o próprio STF. Ao escolher Serraglio para a Justiça, o governo sabia tratar-se de um arqueiro de Eduardo Cunha, para não falar de outros traços do perfil.

Na disputa pela primeira vice-presidência da Câmara, há poucos dias, Serraglio foi derrotado por boa margem de votos por parte da base que não o engole. O vitorioso foi Fabio Ramalho, o mesmo que agora anuncia o rompimento com o governo do grupo do PMDB que defendia um candidato de Minas para o posto. E na base, alastra-se também a rejeição às reforma previdenciária e trabalhista, com a apresentação de emendas modificativas. Com o barco político fazendo tanta água, não há risco de Temer compensar o desgaste com boas notícias na economia. Boas é muita bondade, pois um aumento sazonal na arrecadação e uma redução atrasada na taxa de juros não darão conta da recessão e do desemprego a curto prazo. O que teremos, depois do carnaval, é o aprofundamento das rachaduras nas paredes do governo.

Saída de Serra: depressão e esperança. Por João Paulo Cunha

O recente afastamento de José Serra do governo não eleito por motivos de saúde foi interpretado por alguns analistas como um episódio que carregava também motivações políticas e emocionais. No que diz respeito à saúde pessoal, os votos são de melhoras e de um acompanhamento médico ético e respeitoso. Fora do governo, Serra tem condições de melhorar a saúde, o que é bom. Sem Serra nas relações exteriores, a saúde diplomática do país só tem a ganhar, o que é promissor.
O que passa a ganhar interesse público a partir de agora é a consequência do ato. Ao deixar o Ministério das Relações Exteriores, no qual se esforçou para reduzir a altivez alcançada pelo Brasil nos últimos anos, Serra parece sinalizar para uma fratura no bloco do poder. Mas é sempre bom lembrar que em sua gestão ele imprimiu uma ação menor, sempre submissa aos países ditos centrais e aos interesses do capital internacional em matéria de comércio e exploração das riquezas nacionais. Essa direção não deve se alterar, o que indica motivações pessoais no gesto.
No campo político, a atitude significa uma torção do interesse público às ambições pessoais. Todos sabem que Serra tem anseios maiores e que sua opção desde o início da aventura golpista se dirigia para pastas mais influentes. Não foi um acaso que sua atuação como incentivador do entreguismo das riquezas brasileiras tenha reforçado a dimensão econômica do ministério. Ao mesmo tempo, virava as costas para o caminho trilhado com êxito em direção a um novo concerto multilateral.
A substituição de Serra por outra plumagem do mesmo partido – como também deve ocorrer na pasta da Justiça –, vai consagrando uma divisão de tarefas sórdida. De um lado a ideologia neoliberal extrema dos tucanos dá as cartas, de outro o pragmatismo sem ética do peemedebismo viabiliza o jogo. Todas as ações voltadas para a desmontagem do estado social, para a entrega do patrimônio nacional e para o extermínio das conquistas da Constituição de 1988 não são tiros dados a esmo, mas componentes de um programa antipopular orgânico, jamais bancado pelas urnas.
O sucesso da arquitetura do golpe foi substituir a legitimidade da democracia direta e de seus instrumentos pela composição de uma base parlamentar venal. O que os tucanos tecem em seus ninhos ideológicos, os peemedebistas e acólitos bancam em votações dirigidas. Neste sentido, Temer mantém a postura dúbia de fiador e síndico de um poder que não emana de seus projetos, mas que só se concretiza por meio de sua ação e de sua base de apoio. O parlamento deixa de ser uma casa do diálogo para se configurar como um cartório. Sai a palavra, entra o carimbo.
Mas a renúncia de Serra tem ainda um componente simbólico forte. O ex-chanceler, pelo que noticiaram comentaristas próximos ao poder, estava, além de desgastado fisicamente, padecendo de depressão. Parte vinha da ausência de protagonismo, parte de um real déficit de vitalidade em razão das críticas que se avolumavam em torno de sua atuação. Serra tem motivo para se deprimir. Fez um péssimo trabalho, rebaixou o Brasil no contexto internacional e retirou da diplomacia brasileira a elegância. É bom ficar atento a esse sinal. Os tristes decaem.
O momento por que passa o país, com o risco de naturalização do atraso, tem servido para ampliar a perda de vitalidade dos que se contrapõem ao poder do arbítrio. Pior que a ditadura é a ditadura sem oposição enérgica. Além de restabelecer a força dos argumentos, a defesa de valores e a mobilização popular, cabe aos cidadãos que se identificam na luta contra o poder sem legitimidade, preservar a cota necessária de esperança e, por que não, de alegria. Este não é um desafio menor.

Deixemos a depressão para os inimigos do povo. O futuro precisa ser desenhado na luta ferrenha e destemida. Deve ainda ser provida de força política, mobilização popular e disposição para conhecer melhor a realidade e propor alternativas consequentes de transformação. Interpretar para mudar o mundo. Mas os novos dias devem ser alimentados em doses poderosas pela felicidade do encontro e pela esperança de justiça social. A revolução, como a alegria, é a prova dos nove.