sábado, 24 de novembro de 2012

SERIA PEDIR MUITO?



Não dá para entender o ufanismo de alguns, ao afirmarem que estamos acabando com a miséria e na primeira calamidade, os Institutos Médicos Legais se vêem à volta com amontoados de mortos, as famílias começam a procurar os desaparecidos e a defesa civil contar os milhares de desabrigados.
Neste momento aparece a realidade nua e crua, apesar das autoridades insistirem em negar, porém, verão que a maioria dos envolvidos são pessoas que não tem onde morar ou foram se abrigar em áreas de risco, pois foi esta a única opção que lhe deram.
Ora, é muito fácil para o gestor público omisso e irresponsável culpar as condições climáticas ou mesmo transferi-la para as famílias que sem opção foram residir em áreas de riscos, não acha? O difícil é assumirem a responsabilidade pela omissão em nada fazerem para modificar a situação, uma vez que as intempéries são fatos que tem ocorrido todos os anos, não se tratando de algo raro, são previsíveis.
São situações que tem se repetido anos após anos, mudando apenas sua intensidade, em locais repetidos e a cada tragédia tem levado a vida de várias pessoas e deixado milhares de famílias desabrigadas.
Fatos como as enchentes em São Paulo há décadas vem se repetindo, e que tem feito o poder público paulista para solucionar?  E no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia, entre outros?
Pergunta-se: os problemas não têm ocorrido anualmente, sempre no mesmo período? O que tem feito os  dirigentes, para de forma planejada e organizada encontrar uma saída para situação?
Como sempre nada, pois se não são incompetentes então são mal intencionados, se assim não o fossem, já se teria encontrado uma saída.
Claro, esta situação normalmente ocorre em bairros pobres. Nos das elites os problemas são rapidamente equacionados e para eles nunca falta recursos.
Quando falamos das calamidades, também queremos incluir as secas cíclicas que tem ocorrido no sul e no nordeste do Brasil, sem que os governantes de plantão se dignem a apresentar soluções que não só minimizem os seus efeitos, mas que sejam dadas as condições das famílias de enfrentá-las.
Exemplos de irresponsabilidades praticadas existem as mãos cheias, só que os governantes de hoje, para se eximirem da culpa, preferem transferir a responsabilidade para o passado, transferindo a sua omissão para aqueles que já se foram.
Quer um exemplo? A catástrofe que ocorreu no Rio de Janeiro e que arrasou a região serrana era do conhecimento do governo carioca da possibilidade de vir a ocorrer, desde novembro de 2008, através de estudos técnicos, que apontava o risco de deslizamentos de terras naquela área.
Porém, mesmo com estudos em mãos, o que o governo fez para proteger aquela população? Nada, exceto, depois do fato ocorrido, jogar a culpa nos governos passados. Muito fácil, mas o crime cometido  fica impune.
É mais fácil jogar a culpa no passado ou na natureza do que assumir a responsabilidade, mesmo tendo em mãos pareceres técnicos que aponte para o problema. Culpar o passado é fácil, até porque muitos daqueles do passado já não tem como responder e outros, por acordos ou adesões encontram-se bem aquinhoados na atual administração e não irá desagradar o chefe com desmentidos ou defesas.
Culpar a natureza é muita cara de pau, até porque esta não tem como se defender e, transferir para as famílias pobres é chover no molhado.
Mas o que deixa indignado, é ver a imprensa que dá tanto espaço aos políticos, não aproveitar o momento, para transformar a situação em uma peça de investigação jornalística e ir a fundo para ver de quem é realmente a culpa, que com certeza não será dos pobres ou da natureza.
Ao jogar a culpa nas famílias pobres pelas tragédias, é querer tripudiar com a inteligência do povo brasileiro. É simplesmente fugir das suas responsabilidades.
Senão vejamos: dados divulgados pelo Ministério das Cidades, mostra que existem 10 milhões de moradias em condições precárias. Se conseguiram identificar a situação então sabe onde estão localizadas.
Agora pergunto: o que tem feito os nossos gestores em fomentar ações e políticas públicas para minorar estas condições de precariedade? Pelo que se sabe e se tem conhecimento, nada ou quase nada. Ficam sempre a espera de uma nova calamidade, para justificar a gastança e o desvio dos recursos públicos, em proveito próprio.
Ninguém procura morar em condições precárias ou em áreas de riscos, pelo espírito de aventura ou por querer aparecer para a sociedade como heróis, são as condições que lhe deram que o fizeram ou o forçaram a buscar estes locais, pois são os únicos que lhe restam.
Ou alguém em sã consciência acha que a pessoa procura construir um barraco em uma  área de risco, levando mulher e filhos, apenas pelo simples fato de gostar de aventura? Ora isto é uma piada de mau gosto. Estas são as condições  e as oportunidades que lhes são dadas.
Esta tem sido a dura realidade que estas famílias têm que enfrentar, apesar dos discursos bonitos.
São pessoas desempregadas, muitas sem educação, que vivem basicamente da renda da bolsa família, ou quando conseguem trabalho se sujeitam a receberem salário inferior ao mínimo necessário para a subsistência sua e de sua família. São pessoas que vivem na miséria, em estado de penúria, e ainda vem os nossos governantes culpá-las? É muita maldade.
Apenas para que sirva de analise, vejamos alguns dados de fundamental importância e cujas informações são inquestionáveis: no Brasil temos cerca de 30 milhões de pessoas  que sobrevivem com menos de R$ 150,00 por mês, sendo que deste total cerca de 12 milhões vivem com R$ 70,00. Acrescido a este 30 milhões, temos mais cerca de 40 milhões de trabalhadores e ou aposentados que percebem um salário mínimo. Desta forma, temos 70 milhões de pessoas e ou famílias, que conseguem sobreviver com até um salário mínimo.
Se acrescentarmos as crianças e adolescentes, mais os desempregados então chegarão a uma população próxima dos 130 milhões de pessoas no País, que sobrevivem com esta renda.
Então, será este o tipo de populismo a que querem se referir alguns dirigentes? Será que com este rendimento, estariam dadas as condições para que as pessoas possam residir em locais que não lhes traga algum risco?
Está na hora dos nossos dirigentes públicos de assumirem a responsabilidade pela sua omissão.
Quando será que teremos governantes que reconhecerá que apesar de estarmos em um País rico, porém, conscientemente pagamos um dos piores salários ao trabalhador brasileiro? Quando será que teremos governantes que em lugar de jogar a culpa para os antecessores, chamará a responsabilidade para si e buscará encontrar as soluções para os problemas estruturais? Quando será que teremos gestores públicos que em lugar de culpar os pobres ou o populismo praticado por alguns, irá ter a coragem de assumir publicamente que a culpa está na superexploraçao a que está submetido o trabalhador e na ganância insaciável de nossa elite empresarial, com o aval do Poder Público, cuja sede pelo lucro tem transformado o trabalhador brasileiro em escravos?
Seria pedir muito à classe dirigente deste País que continua deitado em berço esplêndido?


sábado, 17 de novembro de 2012

CORRUPÇÃO NÃO É EXCLUSIVIDADE NOSSA. MAS IMPUNIDADE, SIM.



A corrupção em nosso país tem feito história e exemplos não tem faltado principalmente no meio político e, este cancro só tem crescido devido à falta de cumprimento e de execução da lei, que tem deixado os envolvidos impunes. 
Antes acusávamos o longo período da ditadura militar onde tudo era proibido desde comentar, denunciar ou exigir a apuração dos  atos de corrupção.
Mas, desde a década de 80, vivemos sob o manto da ‘democracia’, onde já se passaram três décadas e, teoricamente, nos é permitido denunciar, cobrar providências e pedir punição dos corruptos.
Mas, o que temos visto pelos atos do dia-a-dia, parece que em vez de diminuir, a corrupção só tem aumentado em todos os níveis da administração pública. A situação chegou a tal ponto, que tem sido tema frequente nos meios  comunicação.
Nomes como Paulo Maluf, Fernando Collor, Palocci, José Sarney, Jader Barbalho, Anthony Garotinho entre tantos outros, nos traz tristes lembranças sobre a corrupção no Brasil. E tem sido triste ver esses homens posarem de gente bem e de pessoas honestas, chegando ao extremo de querer da aula e exemplo de correção.
Apesar de aparentemente vivermos em um caminho sem volta, existem medidas e atitudes que poderia combater com eficácia e eficiência a corrupção no Brasil, desde que a sociedade se conscientizasse de que se ela não estiver organizada, comprometida e envolvida dificilmente iremos banir de vez essas práticas, que só tem prejudicado o País, principalmente a população pobre.
Apesar da corrupção ser considerada uma prática corriqueira das elites dirigentes, porém, não é uma exclusividade sua, sendo praticada por todos, cuja criatividade, em nosso País, são praticamente inesgotáveis envolvendo problemas estruturais, sociais e pessoais, diante de uma sociedade passiva, que permite ver se instalar a mais nociva e perversa da ação política – a corrupção -, que deteriora as próprias estruturas.
A corrupção impune chegou a tal ponto, que há quem ouse afirmar que um terço do que é arrecadado no país escorre pelos ralos da corrupção.
Se esta afirmativa for verdadeira, então podemos dizer que um terço do PIB nacional vai para o bolso dos corruptos.
Diante disso, a população ver faltar recursos para que tenhamos  uma sociedade mais assistida pelo poder público, com a oferta de uma educação e serviços de saúde de qualidade, por exemplo.
Mais afinal, o que é corrupção, tão cantada em versos e prosa em todos os recantos do País?
Para responder, iremos direto ao assunto, sem rodeios. 
Corrupção política é o ato praticado pelo homem político, que busca aproveitar-se e apropriar-se do que é da sociedade, em benefício próprio. Na linguagem popular, corrupção significa roubar o que é do povo.
Portanto, não há nenhuma diferença entre o assaltante de banco e o político corrupto. 
A única diferença é que se  o primeiro for pego, ele será punido pela justiça, já o segundo.... Para eles não há justiça. 
E cientes da sua impunidade, os nossos dirigentes o fazem abertamente, sem qualquer escrúpulo.
E este mal que atacou as nossas instituições, faz com que caminhemos em passos vagos. Apesar do País arrecadar trilhões de reais por ano, temos uma perversa distribuição de renda e uma péssima oferta dos serviços públicos, fruto da roubalheira, sem que o Estado, através dos dirigentes, tome qualquer medida visando não só extirpar este mal, mas, também, obrigar que os recursos roubados retornem aos cofres públicos. 
Até parece que o Estado brasileiro apoia estes trambiqueiros.
Diante de tanta corrupção que assola o País de norte a sul e de leste a oeste, não há como deixar de se indignar, principalmente por estarmos conscientes que o dinheiro desviado pelos corruptos, não nos tira apenas a dignidade, mas também a merenda do estudante da escola pública, o medicamento do homem pobre e os serviços públicos de qualidade para a sociedade.
Com a corrupção, ganha o corrupto e perde a maioria da população, que vê a falta de investimentos em educação e em saúde, por exemplo. 
Enquanto a mídia vive a noticiar fraudes dos governos, dos políticos e das empresas, a educação sofre por falta de recursos; a saúde enfrenta dificuldades com a falta de medicamentos, de leitos e médicos; a segurança pública é punida, com a sociedade assistindo seus jovens entregues às drogas e a criminalidade e as autoridades nos enganando dizendo estarem fazendo o necessário para melhorar os serviços públicos prestados à sociedade.
Vivemos hoje em um País, que as palavras política, corrupção e superfaturamento viraram sinônimos. Todos os dias lemos inúmeras matérias que abordam sobre os desvios de verbas públicas, de superfaturamento de obras além de tantos outras  falcatruas praticadas pelos políticos, os quais deveriam usar o poder para ajudar a população.
As constantes e continuadas denúncias de desvio das verbas, divulgadas pela imprensa diariamente, até parece ser uma coisa orquestrada. De tão repetidas, fazem com que a indignação dos cidadãos diminua a cada dia e, sem ser pressionados pela sociedade, os corruptos se sentem fortalecidos e encontram métodos para se livrar das acusações. Para isso bancam os melhores advogados.
Enquanto a sociedade não tomar consciência de que a corrupção produz pobreza e impede o desenvolvimento do país, ela não irá se mobilizar e se indignar para dar um basta. Ela não irá pressionar o Judiciário a agir contra esses ladrões de colarinho, paletó, calça e sapato branco. Chega dos presídios ser apenas locais para abrigar Pobre, Preto e Prostituta.
Apesar de que, após a os envolvidos no Mensalão do PT serem apenados pelo STF, o ministro da Justiça, a quem cabe  a responsabilidade  da administração penitenciária do País, afirma que os nossos presídios degradam o ser humano e que, ele preferia morrer a ir para lá, cujo modelo remontam a idade média. Quando só eram os três P’s que o utilizavam, ninguém havia observado esta situação de degradação, muito pelo contrário. Mas todos sabemos o sentido das suas palavras.

 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Salvador: uma cidade oposicionista



O segundo turno das eleições seguramente servirá para analisarmos a conformação dos blocos políticos que se movimentam na cidade de Salvador, suas contradições, e a ocupação da cena política por um sujeito coletivo de caráter indefinido: as massas fatigadas pelo comportamento errático dos pólos governistas, que praticam conluios e disputas momentâneas.
Salvador, marcadamente oposicionista no começo da década de 80 do século passado, elegeu, em 1982, uma grande bancada de vereadores, fazendo o enfrentamento ao carlismo e ao prefeito biônico da época. Salvador era um baluarte da mudança, que tinha a oposição do imenso interior baiano, que havia acabado de eleger o representante da ditadura, o indicado do líder político, ACM.
Em 1986, nas eleições para governador, Salvador lideraria a luta oposicionista do Estado, elegendo Waldir Pires. O campo oposicionista, já havia tido um grande reforço com a eleição de Mário Kestész, um desafeto de ACM, em 1985. Consolidava-se, assim, um projeto de oposição, agora na gerência do aparato de Estado. No entanto, em terras baianas, a ação de “cooptação” não guarda respeito ao que se pensa do ponto de vista político-ideológico. Os novos aliados vêm para garantir maiorias e, sendo assim, Waldir Pires governou com o mesmo bloco do poder.
Em 1988, as massas oposicionistas, na contramão dos acertos sem princípios, escolheram Fernando José, a voz do rádio, o comunicador que a todos satisfazia sem precisar dizer o que pensava sobre o poder local.
Novos acertos fatiaram o bloco que saíra coeso da ditadura militar. Tivemos várias posições naquele momento: Waldir Pires, comunistas, o campo da frente democrática e ex-carlistas, ficaram com Virgildásio de Senna.  ACM, sobreviventes da Arena, aliados de Sarney e congêres, com Manoel Castro. O prefeito Mário Késtesz, segmentos de negócios (Pedro Irujo) e o fisiologismo da pequena política, com o vitorioso. E o PT, sem qualquer influência no processo, apenas querendo marcar posição para se consolidar à esquerda.
O governo Waldir Pires, conformou-se em um projeto sem substância política, indefinido ideologicamente e frágil do ponto de vista da gerência do aparato de Estado; foi assim identificado pelas massas, que cerrou fileiras, em toda a Bahia, ao lado do modelo conservador de operar e gestar a política e, novamente, liderado por uma Salvador oposicionista, votou em ACM.
A velha política retornou ao governo. Rearticulou o bloco no poder e partiu para reafirmar o consórcio do empresariado local, no controle do Estado. Exercitando a truculência como forma de mediação, a velha política consolidou um “jeito de governar”, de triste memória para a Bahia.
Nas eleições de 1992, pautada pelas lutas nacionais, a oposição encontrou ressonância para as suas palavras nas massas insatisfeitas com o poder local: a gestão de Fernando José havia sido um caos e o governo do Estado assistiu de camarote. A pauta nacional, as contradições do grupo carlista e o caos em Salvador fizeram com que o aceno da oposição encontrasse na subjetividade das massas soteropolitanas, um forte alento que levou ao governo Lídice da Mata.
O cerco do governo ACM a gestão de Lídice, a incapacidade da administração municipal de romper, via articulação política e social, esse cerco, levou a derrota das forças contraditórias ao carlismo em Salvador, em 1996. Novamente as massas, pautadas pelo caráter despolitizado da alternância, votavam enquanto oposição no projeto que feria gravemente os interesses populares. No campo da esquerda não sobressaía nenhuma perspectiva de poder: nem na social democracia tardia, representada pelo PT, muito menos no espólio pessedista representado por Waldir Pires, comunistas e variantes do centro democrático.
As contradições do capitalismo, a fadiga das massas com o projeto conservador representado por FHC e seus aliados, o avanço das lutas sociais, a esperança dos trabalhadores na possibilidade de um futuro melhor e a capitulação da social democracia tardia (PT) aos ditames da ordem, permitiram o surgimento de uma política que movimentava o alicerce oposicionista de Salvador. E assim ocorreu: a cidade votou em João Henrique e em Wagner.
A gestão de João Henrique avançou para o caos gerencial, e a população tem sido penalizada. Ao lado desta questão, temos um governo estadual que age de forma errática do ponto de vista político, quando pauta-se pela acumulação de aliados, sem observar as contradições desses grupos e personagens no processo político e social; sendo incapaz de compreender a subjetividade dos subalternos diante da crise em que se encontra a cidadania soteropolitana.  O PT, partido chefe da coalizão no governo, faz uma articulação política conservadora, típica do presidencialismo de coalizão, onde o mais importante é colocar ao seu lado parlamentares e grupos políticos custeados pela pequena política. Afastando-se da sua base social originária, e agindo de forma truculenta no processo de relação com os lutadores sociais: seja no setor público ou forçando no setor privado, o apassivamento daqueles que reivindicam melhorias.
Que fazer diante de uma força política que aposta, em tão curto período, em aliados tão contraditórios e diferenciados? O PT apoiou João Henrique, participou do governo, saiu do governo, disse que aceitaria o apoio do prefeito, atacou o prefeito. O deputado Pelegrino, há muito se afastou da base social de onde falava, operando no campo dos interesses policlassistas. Sem entender o sinal que as massas oposicionistas lançavam reiteradamente, continuava a política de somar apoios sem olhar para o que representavam esses grupos e políticos. Nesse cenário, as massas oposicionistas souberam fazer o seu tradicional discernimento: votaram naquele que entendeu o sinal de alerta.
Com a eleição de ACM Neto, não muda o bloco no poder na gestão municipal, apenas vai ser dirigido por um segmento mais à direita do espectro político.
Os programas que disputaram a prefeitura se pautaram no atendimento ao interesse de consumo manifestado pelo cliente. Sendo assim, o povo escolheu um projeto que entendeu o seu desejo de alternância, por mais conservadora que seja. Por outro lado, se afirma, com pequenas diferenciações, uma política e dois partidos. O povo novamente perdeu, mas continua oposicionista.


Artigo de autoria de Milton Pinheiro
* Cientista Político e professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

sábado, 10 de novembro de 2012

A ÉTICA PETISTA E SUA DEGENERAÇÃO POLÍTICA: pior que o carlismo



Alguns fatores levaram o projeto petista de assumir o comando da capital baiana, principalmente neste período, onde Salvador vai está bastante visível, não só por ser a sede da copa de 2014, mas pelo que ela representa de peso político para o País, ter sido derrotado,
O partido se apresentou com um discurso vazio, sem muito conteúdo, girando basicamente em torno da necessidade do atrelamento aos governos federal e estadual - como só assim se poderia administrar um Estado ou município, ou seja, teria que ser do PT ou de partidos aliados para as verbas federais serem liberadas -, rotulando o adversário como representante do atraso, sucessor do carlismo.
Procurou através de promessas, apelar para uma distinção entre dois projetos de governo, cuja distinção não passava de retórica eleitoreira, sem qualquer substância ideológica.
Apregoavam o terror anticarlista, esquecendo que em seu palanque, estava rodeada com a mais fina flor do carlismo, transformando assim, na marca da degeneração da ética petista.
Além da degeneração política petista, some-se o abandono pelo PT da bandeira de defensores da ética e da moral na política, assumindo após o mensalão, que tudo não passa de uma questão de cálculo para a manutenção, conquista e ampliação do poder, mesmo ao custo de mentiras e do abandono da verdade.
O anticarlismo foi à bandeira desfraldada durante a campanha e os discursos inflamados em relação ao retorno ao atraso político que o carlismo representa, era gritado por todos os cantos da capital. Esquecendo os petistas, que o seu líder maior, o Lula, contou com o apoio de ACM na Bahia no segundo turno das eleições presidenciais de 2002, quando esse coronel político ainda estava entre nós e mandava e desmandava por aqui.
Tradicionalmente a população baiana sempre esteve ao lado das oposições ao carlismo. Mas entre ser oposição ao grupo liderado por ACM e ser burra, está uma distancia muito grande.
Enquanto o candidato a prefeito e sua trupe bradava contra o carlismo, o governador Jaques Wagner vive rodeado deles, trazendo-os para perto de si, o que havia de mais puro sangue do grupo, figuras exponenciais, como seu vice-governador Otto Alencar, os ex-deputados Clovis Ferraz, Pedro Alcântara, Jairo Carneiro e mais recentemente o ex-senador César Borges que, quando governador, ordenou a ação da Polícia Militar de invasão ao campus da UFBA, cuja truculência Pelegrino e o PT apresentavam em sua propaganda eleitoral, sem, contudo, identificar o seu autor ou mesmo o comandante policial da ação, o qual fora promovido pelo mesmo Wagner.
Todos eles estavam no palanque de Pelegrino. Como criticar o carlismo se ao seu lado estava à fina flor carlista? Para complicar, o maior financiador da sua campanha era a OAS, conhecida no meio político como “Obrigado Amigo Sogro”, pelas obras que conseguia, com quem o candidato petista, dizem, teria negociado apoio para um grande empreendimento imobiliário no futuro.
Aliado a tudo, deve ainda ser considerado o fracasso do governo Wagner em políticas de segurança pública, das negociações com os policiais militares e com professores, somado a promessas não cumpridas.
Quando pensávamos que tínhamos rompido com as amarras do coronelismo, eis que o PT se apresenta com a mesma roupagem, tentando transformar Salvador em mais um dos seus currais, e que os soteropolitanos deviam obediência ao seu "rei".
A ética petista é fundamentada no argumento que, ninguém é ruim se estiver ao seu lado, só quem não presta são os que não estão a eles aliados. Isto tem sido visto ao longo destes anos que o PT está no Poder.
Passada a eleições em Salvador, após derrota do seu candidato à prefeitura, diversos artigos e postagens na internet foram colocadas, onde petistas e aliados, criticavam duramente os eleitores soteropolitanos pela escolha de ACM Neto, afirmando que a população havia apostado em candidatos que representavam o passado.
Ora, não vimos às mesmas análises quando Lula se aliou a Sarney, Renan Calheiros, Collor de Melo e por último a Paulo Maluf,entre outros, no afã de eleger o seu candidato em São Paulo, como um retrocesso, muito pelo contrário, Lula com isto é considerado pelos petistas como grande estrategista.
Ninguém ousou tecer críticas quando o governador Jaques Wagner optou por governar com antigos aliados do carlismo (PP, PR, PTB, etc.), ou seja, como dizem alguns analistas políticos,  “lulistas genéricos” e “carlistas transgênicos”, mantendo a surrada e velha fórmula clientelista e patrimonialista de governar, para orgulho de Malvadeza I, que lá onde estiver se sentirá orgulhoso dos amigos que aqui deixou.
Aquele sonho de mudanças na política, com o governo Wagner acabou, quando este optou pela continuidade do modelo de governar que a população já estava acostumada a ver, ou seja, descaso com os serviços públicos, principalmente na saúde, educação; criminalização da pobreza; investimento em repressão como política de segurança pública; tratamento autoritário nas diversas reivindicações dos servidores públicos quando em greve; privatizações, etc.
Diante dessa conjuntura, aqueles que sempre lutaram contra o carlismo, como o ex-governador Valdir Pires assiste desolado,  Wagner se cercar de carlistas e adesistas por todos os lados..
Só para recordar: quando Waldir foi governador, enfrentou uma oposição ferrenha, comandada nada mais nada menos que por Antonio Carlos Magalhães e por aqueles que hoje estão ao lado de Wagner. Mesmo com uma oposição ferrenha, Waldir resistiu, sem jamais se socorrer dos adesistas como faz Wagner agora.
Hoje, apenas para lembrar, podemos citar o caso de Otto Alencar, que foi condecorado por Wagner com o título de "o melhor dos carlistas": As chicotadas com que ACM ameaçava dar aos inimigos foram aplicadas sem dó e piedade por Otto Alencar contra Waldir. Àquela época Waldir apanhou de Otto, hoje feito vice-governador de Jaques Wagner, como só ele sabe a dor.
O pior ainda, é ver o ex-deputado Clóvis Ferraz, carlista doente e que agora representa Wagner até em solenidade na Assembleia Legislativa, desfilar como representante de um governo que se diz de esquerda. Este é o quadro que desfila hoje na política baiana, que não deixa de ser desalentador. E ninguém ouve qualquer crítica de parte do PT e dos antigos aliados.
Voltando a derrota em Salvador, o maior cabo eleitoral de ACM Neto, foi o próprio governador Jaques Wagner, o único dos grandes governadores nordestino que não elegeu o seu candidato, fomentando o sentimento e o  nascimento de um antipetismo no Estado, que tende a crescer na mesma proporção em que as pessoas se decepcionam com  a gestão Wagner.
O sentimento hoje, é o de considerar Wagner um governador estranho.
De militante sindicalista se transformou num dos governadores mais apáticos e cruel que pode existir. Deixou de dialogar com o povo, de andar pelas ruas da cidade – aliás, optou por andar de helicóptero -, não visita bairros, nem sequer vai mais às portas das fábricas, onde começou sua trajetória política.
Ao contrário, escolheu Jaques Wagner em conviver com "antigos carlistas", que em um passado recente sempre combateu - como Otto Alencar, Cesar Borges, entre outros já citados a cima -, em lugar de estimular o arejamento e a qualificação do partido, de quadros limitados,
Enquanto vemos surgir lideranças em outros estados nordestinos, transformando os seus governos com a marca do desenvolvimento, da inovação, da transformação na educação do crescimento e de uma gestão bem pensada, na Bahia assiste-se o contrário.
A população baiana cansou da falta de renovação dos quadros petistas e desse esse jogo de comadres onde se revezam os nomes de Wagner, Pelegrino e Pinheiro. Sempre os mesmos, sem que haja qualquer alternância.
Diante da mesmice petista, a tendência, realmente, é pelo ressurgimento do carlismo, até porque a grande maioria do seu quadro, hoje se encontra  lado a lado com Wagner, o qual tem exercido um papel fundamental para o seu retorno, através da cooptação e das alianças espúria em seu governo.